segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

NÓS E O POVO HEBREU

Sei que é muita pretensão minha querer – e o que é pior – tentar escrever sobre a saga do povo que o próprio D’us chamou de seu e com o qual, nós, ocidentais no geral e brasileiros no particular, além dos médio-orientais, temos tudo a ver. No entanto, como ousadia é palavra que não está ausente do meu dicionário, vou pelo menos tentar falar sobre um povo, uma nação e uma religião que estão enraizados no mais profundo do nosso ser, senão, vejamos: Nossos nomes próprios são, em grande parte, nomes hebraicos. Exemplos: Gabriel (homem forte de D’us), Rafael (D’us cura), Miguel (soldado de D’us), José Yossef), Maria (Miriã), Simão (obediente), Madalena (Maria Madalena ou Maria de Magdala, Magadã ou Magedan (cidade próxima da margem ocidental do Lago de Tiberíades. A propósito, o nome Israel, tão comum entre nós, significa “O que lutou com Deus” ou “Forte como Deus”. Anteriormente seu nome era Jacó (Jacob), aquele que trabalhou para Labão durante longos 14 anos por causa da bela Raquel (ovelha, ou mansa como uma ovelha), foi patriarca, filho de Isaque (Isaac) e Rebecca, neto de Abraão (Pai de multidões), o que antes foi Abrão (Pai do alto).

Fiquemos por aqui, apenas para citar alguns nomes. Nossas religiões têm tudo a ver com o povo hebreu. O nome foi aportuguesado do hebraico Ivrim ou Ibrim, para denominar os descendentes de Sem, filho de Noé. Muitos, porém, acreditam que hebreu, seria uma denominação advinda da expressão ever ha-nahar que significa “aquele que vem do outro lado do rio”, uma referência ao Rio Eufrates.
Foram eles, os hebreus, que primeiro tiveram a noção de um D’us único, ao contrário de todos os outros povos conhecidos à época, que tinham diversos deuses, incluindo gregos e romanos. Jesus (Yeshuah, em aramaico), um judeu e também arameu, é o nosso referencial sobre tudo o que existe de bom em todo o Universo conhecido. O mesmo D’us de Abraão é o nosso D’us, que também atende pelos nomes de Javeh, Jeovah, Elohim, Adonai ou ainda pelo tetragrama YHWH (ou seja, o Impronunciável) e o príncipe maior da Igreja Católica é Petrus (Pedro, em grego, aquele que antes era Simão, o pescador). Aliás, é bom lembrar que, assim como as igrejas protestantes, as ortodoxas e outras variações do catolicismo, a maronita, são filhas diretas da Igreja Católica Romana, esta também, é filha direta do Judaísmo. Se bem observarmos, veremos que nossa cultura, além da influência helênica, claro, tem muito – ou quase tudo a ver com o grande povo judeu. Aliás, segundo Gräetz, os povos criadores da civilização humana foram exatamente gregos e hebreus. Os helenos foram protagonistas únicos na história dos povos conquistados. Depois de sucumbirem sob as falanges macedônicas e as legiões romanas, impuseram aos vencedores sua enorme cultura que ainda hoje é fonte de conhecimento entre nós. Quanto ao povo hebreu, ao contrário dos gregos, permaneceu vivo em meio a impérios. Só para que se tenha uma pálida ideia de sua determinação em sobreviver num mundo hostil desde sempre, somente Jerusalém (que já teve nomes como (Jebus (dos jebuseus), Salém, Urusalim, Siom, Cidade de Davi, Aelia Capitolina, El Kuds (Santa), Beit el-Makdes (Casa da Santidade), Bet há-Mikdash (Templo), tem conseguido ressurgir das cinzas como se fora uma Phoenix hebreia ao longo dos últimos quatro mil anos a 121 conflitos por seu controle. Ela foi destruída duas vezes, 23 vezes sitiada, 52 vezes atacada e 44 vezes capturada por tribos e exércitos de impérios.
E ainda hoje, rodeado por milhões de inimigos árabes (eles também semitas e ditos descendentes de Ismael), Israel continua a guerrear por uma simples razão: o direito de existir. Ainda que banhada em sangue, milhões de litros de sangue ao longo de sua história, Jerusalém continua sendo a cidade sagrada de três grandes religiões: judaísmo, cristianismo e islamismo. Além disso, ao que tudo indica, o passado, o presente e o futuro da humanidade passam por ali. E por toda Israel, evidentemente. Não à toa que judeus de todo o mundo continuam a dizer todo santo ano na época da Páscoa (Pessach, em hebraico, passagem, em português): “Ano que vem, em Jerusalém). Israel, é portanto, por tudo o que já nos ofereceu, por tudo o que nos oferece e por tudo o que ainda há de nos oferecer, a ponte entre as trevas e a luz.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O CANTO DO CISNE

Deslizou pelas águas plácidas e um véu de tristeza encobriu seus olhos. Sabia que nunca mais veria aquela paisagem de sonho, aquele verde que cobria as margens do lago em que vivera durante tanto tempo. Pensou nas pétalas das flores que se debruçavam sobre o lago, e que caíam, quando chegava o tempo das flores caírem. Se as árvores ficavam menos belas, o lago, em compensação, enchia-se de mil variadas cores que só as flores primaveris têm.

Pensou em quantas primaveras passara ali, e esboçou um sorriso. Pensou nos verões da sua adolescência, quando os hormônios da juventude o levaram a cometer loucuras mil, e pensou que fora um tempo perdido. Tempo bom, era o da quase senectude que finalmente atingira. E pensou que, no inverno da sua existência, apesar de todas as fêmeas que lhe povoaram o caminho da vida, é que tinha encontrado a sua metade, aquela que fazia com que finalmente, após tanto tempo, se sentisse um ser por inteiro, aquela que lhe fora prometida pelos deuses das águas, quando sequer suspeitava, que estava destinado a nascer para reinar, soberano sobre todos os da sua espécie.
E perdido nos pensamentos, que tal qual um filme antigo, rodavam devagar nos olhos da sua imaginação, não a viu deslizar, vinda da outra margem do lago, na sua direção. O filme interrompeu-se para que ele pudesse apreciar na sua plenitude, aquela fêmea de beleza ímpar, que fizera com que o seu coração batesse mais forte, e voltasse a sonhar e a sentir sensações que julgara sepultadas para sempre, no lodo da vida que deixara para trás. Sorriu mais uma vez, mas era um sorriso diferente. Nem Salomão, em toda a sua glória, tivera tesouro mais precioso. Negra e bela, o sol coruscava, quando refletido na plumagem de ébano que lhe recobria o corpo, como se fosse uma rainha de Sabbah mil vezes mais rica e bela.
Foi nesse momento que sentiu no peito, a dor dos que amam demasiado, e sabem que a vida se lhes escapa nas dobras do tempo. E então chorou. Chorou e cantou. As lágrimas, apenas duas pérolas translúcidas, que tombaram dos seus olhos tristes para o lago belo e insensível. O canto, seu último canto, seu canto de morte, ecoou por todo o lago, subiu as serranias próximas e perdeu-se na imensidão dos céus.
Era o sinal para que os deuses abrissem as portas do paraíso, destinado aos cisnes que amaram como só os cisnes podem amar entre todos os seres vivos. Quando finalmente o belo exemplar negro de cisne fêmea chegou até ele, encontrou apenas um corpo branco, como ne-nhum outro cisne branco conseguira ser, desde que o Grande Cisne criara o Universo, sobre o lago que ondulava tristemente, como que movido por uma compaixão inexplicável.
E como era negra, bela e fêmea, pensou distraída e conformada que era destino dos cisnes velhos morrerem, quando era chegado o tempo dos cisnes velhos morrerem. Não sabia que tinha sido ela, em realidade, a coisa mais importante que ocorrera na vida daquele ser majestoso, que fora um dia o rei do lago. Não sabia que os cisnes só cantam uma vez na vida. Exatamente quando sabem que é chegado o momento de partir para nunca mais voltar. Não sabia que tinha sido ela, seu último sonho, sua última quimera, o seu último e verdadeiro amor.
E por não saber, afastou-se dali, deslizando negra, altiva e bela, na direção de um jovem cisne que a esperava do outro lado do lago.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

CURIOSIDADES BÍBLICAS

Não poucos livros têm sido escritos contendo dados interessantes, curiosidades, estatísticas e, pasmem, até mesmo erros de tradução ou de impressão da Bíblia. A primeira curiosidade é que o nome Bíblia não aparece uma única vez na Bíblia. O nome advém do grego Bi-blos, por causa da cidade fenícia de Biblos, um importante centro produtor de rolos de papiros, usados para fazer livros. Com o passar do tempo, o termo passou a significar “livro”. Bíblia é a forma plural (“livros”). A Bíblia, na verdade, é uma coleção de livros. Também é conhecida simplesmente como “o Livro” ou “o Livro dos Livros”.

Um outro fato que chama a atenção é que a Bíblia não diz nada a respeito de qual era a fruta da árvore do conhecimento do bem e do mal, que não devia ser comida por Adão (Adam, em hebraico, palavra que deriva de Adamah, a Terra) e Eva. Uma antiga tradição europeia diz que essa fruta seria a maçã. Em latim, a palavra “malum” significa tanto “maçã” como “mal”, o que pode perfeitamente, ter originado essa tradição.
Surpreendentemente, se bem observarmos, veremos que a palavra “Deus” aparece em todos os livros da Bíblia, exceto em Ester e Cântico dos Cânticos. Por isso, muitos judeus e cristãos argumentavam e, eventualmente ainda podem argumentar que esses livros não fariam parte da Bíblia.
Sabe-se, também que o texto mais antigo do Novo Testamento ainda existente, é um pedaço do Evangelho de João. Escrito em torno de 125 d.C., o fragmento contém partes de João, 18:31, incluindo a pergunta feita pelo quinto procurador da Judéia, o romano Pôncio Pilatos: “Você é o rei dos judeus?
Porém, temos muitos mais fatos bíblicos extremamente curiosos do que podemos apresentar num simples e pequeno texto como este. Por exemplo: a pessoa que é mencionada mais vezes na Bíblia é Davi, cujo nome é citado 1.066 vezes na Nova Tradução da Linguagem de Hoje. O personagem bíblico mais velho é Matusalém, que tinha 969 anos quando morreu, segundo o Gênesis 5:27. E o nome mais comprido da Bíblia é Maer-Salal-Hás-Baz (Isaías, 8:1, que significa “rápido para roubar e ligeiro para saquear”.
O detalhe mais que curioso, é que esse nome foi dado de forma simbólica pelo profeta Isaías a seu filho, para advertir o rei de que se os judeus fizessem um acordo com o Império Assírio, os assírios iriam invadir e tomar tudo o que quisessem.
Finalmente, o livro da Bíblia mais traduzido é o Evangelho de Marcos, talvez porque seja o mais curto dos quatro Evangelhos. Marcos pode ser encontrado em pelo menos 900 línguas.
Muito ainda há para ser conhecido e adequadamente divulgado sobre o que chamamos de fatos e curiosidades bíblicas. Faltam-me, porém, competência, talento e conhecimento para tanto. Mas, se este pequeno texto servir para ajudar pelo menos um leitor a pesquisar sobre esses fascinantes e curiosos episódios, já terá valido a pena este esforço.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

UM MUNDO PERFEITO

Como seria o mundo se cumpríssemos, todos, a lei? Sem discussões, sem arrazoados, sem desculpas, sem alegar desconhecimento? A lei existe? Então que seja cumprida. Só isso, sem tergiversações.

Mas, perguntará o leitor, que leis devemos cumprir, uma vez que existem leis que, se por um lado são legais, por outro, são profundamente injustas? A pergunta é pertinente, pela simples razão de que realmente é assim que acontece. E mais: na sua maioria, dei-xam brechas, aberturas, furos, por onde passam os desonestos da vida, que permanecem impunes, desde que tenham advogado de competência - e preço - máximos, que possam, com habilidade, burlá-las.
Mas, ainda que pareça utopia, existe, sim, a possibilidade de um mundo perfeito. Um mundo sem violência de qualquer natureza, um mundo sem furtos, roubos, estelionatos, assaltos ao Erário e outros modos de surrupiar de outrem, aquilo que não lhe pertence. Existe, sim, um mundo onde um homem não desejará aquilo que não é seu, nem sua mulher, nem sua casa e nem nada que não lhe pertença.
É possível habitarmos um mundo onde suas leis podem ser resumidas em apenas duas. A primeira, pode-se dizer: “Amarás a Deus Todo-Poderoso (YHWH), de toda a tua alma, de todo o teu coração, com todas as tuas forças e sobre todas as coisas. Ela está presente nas Tábuas da Lei, entregues pelo próprio Anonay a Moisés. Atende pelo nome de “Os Dez Mandamentos”.
A outra, que poderia ser chamada de o undécimo mandamento, foi dada por Jesus (Yeshuah). E é muito simples. Diz assim: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.” Simples, não? Essas leis existem há milênios. No entanto, de forma irracional, insisitimos em não cumpri-las em absolutamente nada.
E a pergunta que se faz necessária é: emagindo assim, ou seja, não cumprindo sequer um dos mandamentos divinos, temos o direito de reclamar da sorte que temos, dos sofrimentos que padecemos, e do mundo em que vivemos?


A resposta inevitável é: não.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

UM ASSALTO DIFERENTE

A manchete estava lá, na tela do computador. A internet tem dessas vantagens, para quem é bisbilhoteiro profissional, também conhecido na roda dos que se levam demasiadamente a sério como jornalistas. “Gangue de palhaços assalta bar no Reino Unido”, dizia o título da matéria. A fonte era mais que fidedigna: - a própria Reuters, em Londres, dava deta-lhes do assunto.

“A polícia da cidade de Manchester, no norte da Inglaterra, buscava informações que a levasse a uma gangue de palhaços que assaltou um bar do município.”
Três homens vestidos com fantasias de palhaços, algemaram um gerente e o ameaçaram com uma arma e uma faca antes de escapar com “uma pequena quantidade de dinheiro.” “Essa é uma equipe altamente organizada, que obviamente gastou um bom tempo planejando o assalto”, disse em um comunicado o detetive Darren Shenton. “A gangue fugiu em uma van, e escapou de uma perseguição policial, mesmo se envolvendo em três acidentes no caminho.”
É verdade, no Brasil somos diferentes. Para um assalto bem sucedido, primeiro é preciso se eleger para um cargo qualquer. Depois, é necessário que o cofre seja bem gordo. Mais ou menos no modelito ‘porquinho’ da vovó. É fundamental que o acusado de praticar o furto, desvio, estelionato ou que outro nome se queira dar, alegue inocência até à morte. Se, além de jurar inocência e for acusado depois de cumprido o mandato, é conveniente que diga ser um reles desempregado. É preciso que se leve o eleitor, digo, o leitor às lágrimas. Quem sabe, uma peninha aqui, um pingo de piedade acolá, não se dá um novo cargo eletivo ao acusado? No Brasil, afinal de contas, tudo é possível.
A propósito, mais uma diferença importante entre o povo tupiniquim e os bretões: lá, os palhaços são assaltantes. Aqui, assaltados.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

NERVOS DE AÇO NÃO DOEM

Esta é uma história simples. Fala de um homem comum que as agruras da vida enrigeceram até transformá-lo em pedra bruta e coração tão frio e gélido como o mármore de Carrara. E endurecido, passou a tratar a tudo e todos como se nada fossem porque nada lhe importava. Afinal de contas, por que valorizar o que não merece valor?, dizia às vezes, referindo-se às emoções que não sentia.
E assim viveu - ou pensou viver - por um tempo longo demais. Frio, não sentiu o amor das mulheres que pontilharam sua vida. Por desprezar tudo e todos, foi desprezado por tudo e por todos. Nunca, em toda a sua vida bruta, soube o que era o cantar de um passarinho pousado na janela de seu quarto numa bela manhã de verão; nunca percebeu que havia flores no mundo e que o desabrochar das flores era o espetáculo máximo da natureza; nunca teve olhos, por vítreos que eram, para ver o nascer do sol ou seu ocaso que trazia em seu bojo a escuridão da noite; nunca viu o brilho das estrelas e nem sentiu o perfume de uma rosa negra; não sentiu o grito de dor dos que esmagava à sua passagem e nem sentiu a angústia dessa mesma dor porque tinha nervos de aço, e nervos de aço não doem. Enfim, como disse um poeta cheio de dor, “quem passou pela vida em brancas nuvens / e em plácido repouso adormeceu / quem não sentiu o frio da desgraça /quem passou pela vida e não sofreu / não foi homem / foi espectro de homem / só passou pela vida /mas não viveu.”
Mas D’us, na sua infinita crueldade, resolveu tornar sensível o homem de mármore. Por isso deu-lhe sentimentos que não conhecia e o fez conhecer a mais bela de todas as mulheres que um dia povoaram a Terra. E então, o mármore, e não o Verbo, se fez carne. E por ser carne, sentiu dor, sentiu alegria, sentiu preocupação, sentiu amor e sentiu paixão.
Por isso morreu. Não por ser carne, mas por sentir. E como sentia, sentiu que a mulher que lhe despertou tantas emoções dissolveu-se à sua frente como se fora uma estátua de sal sob a chuva da vida. E ele, não suportando a ideia do viver sozinho com tantos sentimentos a repartir, liquefez-se e vazou a essência de si por todos os poros, escorrendo lentamente em direção ao rio mar, onde misturado a outras águas, desapareceu para todo o sempre, para nunca mais voltar.

DE FANÁTICOS E FANATSMO

Talvez nada seja mais prejudicial às instituições humanas que o fanatismo. E isso vale para go-vernos, religiões, seitas, filosofias e até mesmo para o modo como cada um conduz a própria vida.
Voltaire dizia que “o fanatismo é para a superstição o que o delírio é para a febre, o que é a raiva para a cólera.” Dizia mais: “aquele que tem êxtases, visões, que considera os sonhos como realidades e as imaginações como profecias é um entusiasta; aquele que alimenta a sua loucura com a morte é um fanático.”
Exemplos não faltam dos males que o fanático e o fanatismo podem causar. Bartolomeu Diaz, que partiu de Roma para ir assassinar seu irmão e que o matou acreditando fazê-lo pelo amor de Deus, foi um dos mais abomináveis fanáticos que em todos os tempos pôde produzir a superstição.
Os assassinos do do rei Henrique III, do rei Henrique IV, do Arquiduque da Áustria por um fanático sérvio, o que desencadeou a I Guerra Mundial com seus 10 milhões de mortos, de Ghandi e de tantos outros, foram enfermos da mesma raiva de Diaz.
Outro exemplo de fanatismo simplesmente horripilante, foi o que fez com que os burgueses parisienses degolassem e atirassem pelas pelas janelas para que fossem despedaçados pela turba em delírio seus concidadãos, pelos simples fato de serem protestantes (huguenotes), naquilo que se tornou conhecido como o massacre da noite de São Bartolomeu, que provocou a morte de algo entre 30 mil a 100 mil pessoas. Mas há fanáticos de outros tipos, como aqueles magistrados que, a sangue frio, condenam aqueles cujo único crime é não pensar como eles.
Quem tem o cérebro gangrenado pelo fanatismo, é possuidor de doença incurável. Quem sabe, talvez, o espírito filosófico possa se sobrepor a esses portadores do mal em toda a sua virulência. Essa gente está persuadida de que o espírito nada santo que os penetra está acima das leis e que o seu entusiasmo é a única lei a que devem obedecer.
O Ano Novo se aproxima e com ele um novo tempo na política do Brasil e do Amapá. E os fanáticos de todos os naipes ideológicos estão a postos com suas garras de águias das grandes alturas para se lançarem sobre seus adversários ou quem quer que acreditem não concordar com suas ideias e crenças.
Que Deus nos livre deles, ou se apiede de nós, o povo, se esses abutres se colocarem acima do que recomenda a prudência e o espírito do filósofo se ausente de nós. Sabe-se que o mundo só conhecerá a verdadeira paz, no dia em que os príncipes forem filósofos e os filósofos, príncipes.






O ASSESSOR DO VEREADOR

Sarah Bernhardt, a maior de todas as estrelas que passaram pela Comédie Française, certa ocasião, referindo-se às pessoas de pouca importância, mas que se dão ares superiores, chamou-as de “sargentos da vida”. Queria dizer, naqueles tempos em que generais e marechais de França desmanchavam-se à sua presença, ao seu olhar, aos seus olhos e principalmente à sua arte, que eles, na sua imponência, eram muito mais simples do que as patentes inferiores, suboficiais que arrotavam uma importância que não possuíam.
Realmente, quem se dá muita importância, é porque não tem nenhuma. Os verdadeiramente grandes, são afáveis, simples, cordatos, tranquilos, humildes, não a humildade da subserviência, mas a humildade característica de quem não se deixou picar pelo inseto do orgulho.
Napoleão, conta-se, passou horas no posto de sentinela, ao encontrar dormindo, vencido pelo cansaço, o soldado que deveria estar atento, vigiando as trincheiras inimigas. Não o castigou. Soldado, ele também, sabia que contra o sono não há resistência.
Soubéssemos nós que o sono é o morrer na certeza da ressurreição, quantos de nós desfrutariam desse prosaico prazer, que só é sentido depois do acordar? A importância que nos damos sem nada sermos, chega a ser insolente.
Jesus era a humildade personificada. Ghandi, dele se disse que as futuras gerações jamais acreditariam que tal homem pudesse existir tamanha a bondade e pureza de seu coração.
Temos o mau hábito de achar, que o idiota deste lado do rio é superior ao idiota do outro lado do rio. Arrogância, orgulho e preconceito andam de mãos dadas. Esquecemos muitas vezes, que quem preconceitua, pré-julga e pré-condena.
Tenho conversado com grandes homens que são exemplos de cordura. Eu que não sou tão simples assim, pois às vezes atribuo-me uma importância que não possuo, tenho tido este raro privilégio. E aprendido com ele. A vida é um eterno aprender. Uma lástima que tão poucos de nós o consigam.
A propósito, há dias encontrei um vereador furioso. Resfolegava como uma locomotiva antiga. Movido à lenha, soltava fumaça pelas narinas, como se fossem elas cha-minés emborcadas. Puxou-me de lado e confidenciou-me o motivo de tamanha indignação: Um secretário muni-cipal não pudera atender de imediato, um assessor seu.
Assessor, como todos sabem, é aquele sujeito importantíssimo que atende também pelo mimoso apelido de “aspone”. Um “aspone” sabe-se, é infinitamente superior ao “asponin”, que nada mais é que um “aspone” interino.
Mas, voltando a Sua Importância Real, o vereador, continuando a destilar toda a raiva que lhe era possível, esbravejava: - “Já pensou, amigo Carlos, não recebeu o meu assessor!”
Depois, olhando-me nos olhos, angustiou-se e perguntou: - Será que ele não percebeu que o meu assessor era uma autoridade? Afinal de contas, trata-se de um assessor de um vereador...
Deixei-o na dúvida quanto à importância do assessor e fiquei matutando com os meus botões. Ainda sou um matuto. Daqueles que matutam com seus botões. Fui embora pensando na importância daqueles que não têm a menor importância.


sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O HOMEM QUE FALAVA COM PÁSSAROS

Olhou espantado para o pássaro que falava com ele. Estranhou por duas razões óbvias. A primeira, é que passara a vida aprendendo que pássaros não falam. A segunda, é que aquele estranho pássaro chegara, no exato momento em que dissera que viria. Sim, aquele era o seu segundo encontro com aquele estranho ser voador. Quando o vira pela primeira vez, era muito novo. Tão novo que nem se apercebera do que tinha ocorrido. Só agora lembrava tudo com espantosa nitidez.

Entre o primeiro e o segundo encontro, muito tempo passara e coisas estranhas haviam ocorrido. Uma delas, era a incapacidade dos homens para chegarem até ele na hora certa. Jamais começou uma reunião na hora estabelecida; jamais seu avião decolou na hora programada; jamais conseguiu fa-zer qualquer coisa, por pequena que fosse, na hora e no tempo exatos. E foi isso que o perdeu.
Ariadne, a que tece o destino dos homens, uniu todos os fios que o levariam à sua razão de viver. E assim, fio por fio, ponto por ponto, foi tecendo a vida daquele homem diferente de todos os homens que até então existiram. Mas, Ariadne tinha um inimigo feroz. Chronos, o dono das dobras do tempo, trabalhava contra ela. E trabalhando contra ela, fez do homem atormentado pela falta de tempo dos outros homens, a sua vítima fatal.
A razão de viver do homem que falava com pássaros, foi criada quando o universo era apenas matéria disforme. Foi nela que o Criador de tudo o que há se inspirou, para fazer a sua obra-prima: a mulher. As belas mulheres cortariam os pulsos se a vissem em toda a sua plenitude. A nudez não é coisa do mundo dos homens. É coisa dos seres celestes, dos seres divinos. E quem não viu a musa do Criador em toda a sua esplendorosa nudez, não sabe o que é belo. Pobres e belas mulheres brancas. Não saberão jamais, que a beleza maior foi tirada do mundo negro que dominava o espaço, quando a luz ainda não existia. Por isso, talvez, ainda hoje, as belas mulheres negras consigam anular toda a brancura que há na pele das mulheres alvacentas.
O homem que falava com pássaros não a viu jamais. Mas, por estranha indução, imaginou-a, e sem saber que era um estranho na terra dos homens, viu na sua imaginação como era, e a amou para sempre. Não sabia então que, vítima involuntária de Chronos, chegaria tarde para o encontro que era a causa da sua existência.
Por isso, quando o pássaro que falava, disse-lhe que era chegada a hora de irem, pois a senhora da vida pedia-lhe a sua, derramou uma solitária lágrima recheada de amor. E pela primeira vez, sem que tivesse marcado o encontro, chegara na hora certa, para andar no caminho sem volta da morte cruel.
Não soube jamais, que assim que partiu, ela chegou. Chegou para completá-lo, para fazer dele um ser por inteiro, para gerar uma nova raça de seres, num mundo onde o tempo não existe. Mas, pela primeira vez, partira na hora certa, deixando para trás, tantas possibilidades que não se realizariam jamais.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

VIVER NÃO É PRECISO

O rapaz acordou espantado. Olhou em volta e não reconheceu o lugar, muito embora tudo o que o rodeava não lhe parecesse estranho. Tentou levantar-se. Sentiu dificuldades. O corpo parecia-lhe mais cansado que o usual. Com muito esforço saiu da cama e dirigiu-se, levemente encurvado, em direção ao banheiro. Um banho e tudo ficará melhor, pensou. Foi quando se olhou no espelho e se assustou. Não! Pensou estarrecido, aquilo não podia ser verdade! Devo estar sonhando, disse a si mesmo. Melhor dizendo, devo estar tendo algum pesadelo. Tranquilizou-se com a ideia. Daqui a pouco acordaria e tudo seria apenas uma lembrança ruim, consolou-se. Mas, notou que o sonho - ou pesadelo - parecia-lhe real demais para não ser real. Olhou-se novamente no espelho. Muito embora ele continuasse sendo ele, o aspecto era de um homem velho. Velho e terrivelmente cansado. Cansado de viver, cansado de tantos sonhos perdidos, tantas falsas ilusões, tantas quimeras que ficaram na estrada da sua vida já tão gasta, tão rota, tão inútil. Não lembrava bem se ainda tinha filhos. Mulher, com certeza, não tinha mais. Tinha consciência que mulheres não gostam de homens tão velhos, tão desgastados na luta inútil da sobrevivência.

A clareza do que ocorrera começou a tomar conta de si. Teve vontade de chorar. Seria tão mais fácil não acordar mais. Acreditara durante tanto tempo que o sono é a morte na certeza do acordar, que até desejava o contrário. Quando o grande cansaço se apossa do corpo, da mente e da alma, sabe-se que é tempo de partir. Que bom seria, pensou, se os homens fizessem como os velhos elefantes africanos, que sabem quando a morte está próxima. Deixam o bando e partem sozinhos, em direção ao jamais encontrado cemitério perdido dos elefantes, considerado o Eldorado dos caçadores e negociantes das valiosas presas de marfim dos velhos elefantes.
Mas os homens não têm a dignidade dos velhos elefantes. Por isso tentam viver, até mesmo quando viver não é mais preciso. Tanta coisa é preciso. Viajar é preciso, cantar é preciso, navegar é preciso, voar é preciso, sonhar é preciso. Até mesmo votar é preciso. Mas, viver, às vezes, não é preciso. Os que se apegam à vida, quando viver não é preciso, são os homens que envelheceram inutilmente.
Velho! O que deveria ser uma honra e um prêmio passa a ser uma vergonha, uma carga pesada, uma culpa não merecida, um arrastar de pés sobre sandálias muito gastas, elas também, num certo sentido, culpadas de terem ultrapassado o tempo permitido às sandálias existir.
E um dia, o homem velho que acordou pensando ser novo, ao tomar consciência real de que o tempo passou e não voltará jamais, desaba para dentro de si mesmo, como um buraco negro psicológico, até desabar para o buraco negro da sepultura que, faminta, o chama de boca escancarada, sabendo que a sua fome de velhos homens velhos jamais será saciada.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

... E A MORTE CHOROU

O homem pregado na cruz olhou para o passado e ficou sem entender o que havia acontecido. Tudo o que sempre quisera, tinha sido levar paz ao coração de uma humanidade tão atormentada, que de humana tinha bem pouco. Mas como era de seu feitio perdoou-a uma vez mais. Lembrou-se do pai, um carpinteiro tão devotado à esposa, que acre-ditara sem duvidar por um instante que fosse, naquela estranha história de concepção sem pecado. Se ou-trens não entenderam, ele entendeu porque era da sua natureza a compreensão absoluta de tudo o que há. Lembrou dias felizes, quando esculpia pássaros de barro, dava-lhes um sopro e se divertia vendo-os criar vida e voar em direção ao azul do céu de Israel, terra tão bela e tão conturbada, que não conheceria paz até o final dos tempos, porque assim estava escrito que seria. Pobre Israel! E derramou uma lágrima solitária pelo rosto vincado de dor. Lembrou seu breve tempo de contador de parábolas, e seu coração encheu-se de conforto, achando que aqueles ensinamentos seriam transmitidos geração após geração até a consumação dos séculos. Lembrou de fatos que jamais seriam esquecidos. A viagem para o Egito, feita em lombo de burro, era um verdadeiro épico. Principalmente se levado em conta, que seu séquito era composto apenas de uma mulher de simplicidade extrema e seu marido. Gostava mesmo, era de lembrar seu nascimento. Aquela cena do presépio, pressentia, ficaria gravada na mente dos homens de boa vontade para todo o sempre. Mas houvera os tropeços e os enganos. Judas tinha sido o maior deles. Como pudera confiar naquele homem, indagava-se desde o momento em que fora preso?

A dor nas pernas quebradas doía demais. Sabia que não suportaria por muito tempo aquele sofrimento. Aqueles romanos sabiam como inflingir dor a alguém. De repente, deu um grito exasperado. Que necessidade tinha aquele soldado, de furar-lhe o ventre? Mereceriam esses seres de carbono, continuar sua miserável existência?, refletiu por um átimo de tempo, para arrepender-se em seguida. Como pudera pensar desse modo, logo Ele, que fora enviado para salvar os pecadores do mundo? Mas eram tão cruéis, esses homens que o Pai enviara para a dura missão de salvá-los. Às 15h não mais suportou tanto sofrer. Levantou os olhos para o alto e bradou: “Elli, Elli, lema sabachtani? O rosto pendeu sobre o peito, arfou um pouco mais e expirou, pondo fim à sua permanência na Terra dos Homens.
Nas fímbrias do Universo, bem dentro do lado obscuro do espaço sem fim, uma figura sombria enco-lhia-se numa das dobras do tempo. Estava triste. Mais que isso, estava amargurada. Começara sua existência no mesmo momento em que fora criado o primeiro vivente. Desde então matara sem cessar. Era a sua função. Por isso, o estereótipo que fizeram de si: uma Dama sombria, portando sempre a foice com que cortava o liame que prendia os seres à vida. Mas até ela, achara injusta a morte do Homem que acabara de matar. E por não suportar a missão de que a haviam encarregado, e à qual não poderia fugir, a Morte encolheu-se um pouco mais sobre si mesma, pôs as mãos descarnadas sobre o rosto descarnado também, e pela primeira vez em toda a sua existência, chorou como nenhum ser chorara antes e nem choraria depois.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

D'US E O TEMPO


Diz a Bíblia, que Deus já existia antes mesmo do início dos tempos. O início dos tempos é um dos grandes mistérios com os quais o homem já defrontou. Primeiro, porque se o tempo é infinito não terá fim. Por conseguinte, não pode ter tido início. Se não teve início, como D’us poderia existir antes do que não teve início? Dúvida para dilacerar qualquer crente que não seja completamente crente. Mas este tem seu próprio contraditório: como duvidar, se o seu princípio filosófico é montado, não em cima do conhecimento, que só vem a partir da dúvida, mas em cima da fé. E como é difícil crer. Só os que não crêem podem entender do que falo.
É mais fácil e mais confortável, mas de imprudência a toda prova, crer na ilusão da mulher amada, do que acreditar no que já era antes de ser; no que tem 72 nomes e cujo nome verdadeiro é YHWH, ou seja, o Impronunciável. Sem contar, naturalmente, com o grego Theós, o catalão Déu, o espanhol Dios, o aragonês Ridiós, o francês Dieu, o bretão Doue, o italiano Dio, o inglês God, o alemão Gott, o dinamarquês Gud, o norueguês Herregud ou Herre Gud, o sueco Herregud ou Gud, simplesmente. Os muçulmanos, árabes ou não, dizem Allah. Mas dizem, também, que o Altíssimo teria cem nomes, dos quais o último seria Impronunciável. Finalmente, temos o esperanto Mia Dio (Meu Deus), isto sem contar com o eslavo Bog, o sânscrito Ishvara, El no judaísmo, onde antes pontificou Elohim, substituído por Javeh e Jeovah, e onde aparece também, o tetragrama YHWH, que se acredita referir-se à origem henoteística; o hindu Krishna-Vasudeva na Bhagavata ou, posteriormente, Vixnu e Hari, ou recentemente Shakti.
Mas, a partir do momento em que passamos a nos referir a nós mesmos com o sentido do existir próprio, momento esse que não sabemos precisar quando ocorreu pois já existíamos antes, ainda que sem a consciência do existir, é que tentamos administrar o tempo, o precioso e pequeno tempo da nossa existência. E como é difícil fazê-lo.
Determinamos então que há um tempo para tudo. Um tempo para nascer, um tempo para viver e um tempo para morrer. Neste meio tempo, temos de arranjar tempo para outras coisas, que no nosso entender, deverão preencher o tempo vazio das nossas vazias existências. Passamos a exigir, criar ou ter um tempo para trabalhar, um tempo para comer, um tempo para dormir. Um tempo para dançar, para sorrir.
Mas temos que ter também, um tempo para sofrer, um tempo para derramar toda a lágrima que há. Um tempo para a vingança. Mas não há tempo para o perdão. Perdoai-me pelo amor de D'us, deveríamos bradar aos céus todo santo dia, se é que algum dia é santo, se é que alguma coisa é santa. Um tempo para se arrepender. Mas não há tempo para o arrependimento. Temos que ter tempo para tudo, mas não há tempo para nada.
A maré do tempo virou, É tempo de partir para o outro lado do tempo. Mas se tempo houver, cante. Cante com toda a alma, com todo o coração, com toda a devoção, como cantou Davi, como cantou Salomão, como eu cantava quando tempo havia para cantar. Como cantava Vinícius. São demais os perigos desta vida...

FAÇA A SUA PARTE

Muito se tem falado da violência em todos os campos da sociedade brasileira. Violência, sabe-se, é um produto natural, na medida em que a própria vida é, por si só, um ato de violência. Apenas como exemplo, para que qualquer forma de vida viva, é necessário que uma outra forma de vida qualquer morra. É a cadeia alimentar sem a qual a própria vida não existiria. Mas, considerações filosóficas à parte, do que queremos realmente falar, não é sequer da violência que se institucionalizou há poucas décadas neste país, outrora um dos mais pacíficos do mundo. O quê fizemos das nossas próprias vida? O que fizemos e continuamos a fa-zer das vidas de nossos filhos e da vida dos filhos de nossos filhos? Como foi que permitimos que, nos últimos trinta anos, assassinássemos e fôssemos assassinados em número superior a um milhão de vidas humanas?
Que papel estamos representando na educação dos nossos jovens? Que papel representamos, realmente, nas nossas escolas? Alunos e professores, são aliados ou adversários? E qual o papel do educador social na prevenção da violência? A triste verdade é que não temos respostas para todas essas perguntas.
A violência protagonizada pelos jovens nas escolas é uma realidade inegável. A sociedade terá que se organizar e insurgir-se ativamente contra esse fenómeno, sob pena de desaparecermos, mergulhados num verdadeiro banho de sangue. Sabemos que, pelas mais diversas razões, a família, como a conhecíamos, destitui-se da sua função educativa.
E tanto isso é verdade que, será que poderíamos, todos, responder a algumas perguntas bem simples? Uma: Qual a última vez que você, pai, mãe ou chefe de família, fez uma refeição com seus filhos, inte-ressando-se pelo que eles fazem, participando mais ativamente da vida dele? Qual a última vez que sua família se reuniu e rezou unida, pedindo misericórdia ou proteção a Deus Todo-Poderoso? Qual a ultima vez que você foi à escola e perguntou a quantas andava o comportamento de seu filho?
Talvez a solução tenha seu princípio por aí porque, se continuarmos assistindo o triste espetáculo de alunos agredindo verbal ou fisicamente seus professores, sem que a punição exemplar venha a galope; se continuarmos assistindo, impassíveis, a agressão de estudantes contra estudantes; se continuarmos assistindo com deboche e um certo sorriso nos lábios, o quanto seu fi-lho é macho, então, lamentamos informar, nem o próprio Deus nos salvará, porque está escrito: “Faz da parte, que Eu te ajudarei.” E é isso que não estamos fazendo.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

CINZEIROS NÃO FALAM

Lá estava o cinzeiro sobre a mesa. Não tinha nada de excepcional. Era um cinzeiro como milhões de outros, espalhados nos escritórios, nos bares e nos lares. Olhei mais detidamente, e não sei se foi o cheiro acre da espelunca em que me encontrava, ou se o encaracolado azulado e hipnotizante que subia da ponta de um cigarro acesso, já meio acabado, assim como podia simplesmente ser o efeito da meia dúzia de doses de conhaque que ingerira, sem sequer sentir-lhe o gosto. A única coisa que me interessava, era o queimar garganta abaixo, provocado pelo conhaque forte e de terceira, que meus poucos trocados permitiam tomar, e a tonturinha que a leve embriaguez provoca, livrando-me do mundo real e me transportando para um outro onde tudo é possível. Até mesmo olhar a morte e o fracasso de frente. Mas, o certo, é que por qual motivo fosse, juro que ouvi o cinzeiro falar. Sua voz, nítida, como convém a um cinzeiro de vidro, disse-me com ar interrogativo:
- Tens idéia de quantos fumantes antes de ti, já estiveram sentados aí onde estás, com os mesmos problemas, os mesmos cigarros, a mesma embriaguez, o mesmo ar fracassado, a mesma voz rouca de quem não escapará do câncer na garganta? Apalermado com o que ouvira, e com a voz rouca de quem não escapará do câncer na garganta, respondi:
- Claro que não. E dei o assunto por encerrado. Mas ele, o cinzeiro, parece que estava a fim de conversar. Até onde se sabe, cinzeiros não falam. Quem sabe não fosse eu o primeiro a ouvi-lo e dar-lhe trela, daí a insistência em falar?
- Pois é, insistiu ele. Muitos, antes de ti, aqui estiveram. Ouvi com paciência suas lamúrias e o relato de seus dramas pessoais. Lares desfeitos, empregos perdidos, filhos mal amados, auto piedade, prostitutas arrependidas, vidas malsucedidas, enfim. Não sei por que, bêbados e fumantes adoram contar suas vidas, seus fracassos. Só não falam de sucesso. Talvez porque, só os tolos gostem de falar do próprio sucesso. O problema, aduziu, é que eu não fumo. Pra dizer a verdade, odeio fumo e fumantes. Mais do fumo, condoeu-se, vendo uma certa expressão de tristeza em mim. Olho pra você e vejo o drama da vida real, disse, contorcendo-se levemente. O problema é sempre mulher, não é? E respondeu ele próprio:
- Claro que é mulher. E mulher casada. Mulheres casadas só servem para ser infelizes, e tornarem amantes apaixonados infelizes também. Não gosto disso, acaba em morte.
E eu lá, abestalhado com o que ouvia. O maldito cinzeiro parecia ler pensamentos. Sou marinheiro velho. Já vi de tudo na vida. Suportei todas as tempestades que a vida pode infligir a alguém, mas cinzeiros falarem? Afinal de contas, em que mundo vivemos? Terei enlouquecido?
- Não, meu amigo - disse o cinzeiro, colocando em evidência uma amizade que não existia. Cinzeiros, ao que eu saiba, só serviam como repositórios de pontas de cigarros fedorentos e nada mais. Amizade entre fumantes e cinzeiros, jamais. É quase como se fosse possível amizade real, sincera, entre o bêbado e copo.
- Esta mulher vai te perder. Ficarás sem dormir, sem comer, fumarás mais e beberás muito mais. Não pensarás em mais nada, obsedado por ela. Teu fim será a sarjeta da qual não estás tão distante assim, sentenciou.
Acho que foi naquele momento que resolvi acabar com tudo. Sem que ninguém percebesse - e pra dizer a verdade ninguém estava ali pra perceber coisa alguma - saquei o revólver, coloquei-o na boca e disparei. O barulho do tiro confundiu-se com o barulho da morte do cinzeiro que, indo ao chão, quebrou-se em mil pedaços. Subimos todos. O meu espírito, agora em paz, subiu em direção ao infinito, ladeado por uma encaracolada fumaça azul e fragmentos de um cinzeiro que descobriu tarde demais que cinzeiros não falam. Ou não deveriam falar.

domingo, 14 de novembro de 2010

PORQUE HOJE É DOMINGO

Conta-nos a história que Constantino o Grande, em 312 d.C., ao ter uma visão, mudou o signo dos escudos de seu exército, adotou a cruz e venceu uma batalha que, em tese, deveria perder para Maxêncio, inimigo e rival. Por causa disso, converteu-se ao catolicismo romano e mudou o dia sagrado que era o Shabbath (sábado em hebraico) adotado pela Igreja, para domingo, o dia do Sol. Desde então, o domingo é o dia sagrado dos católicos em todo o mundo. E convenhamos que faz sentido, afinal de contas, Jesus ressuscitou num domingo pela manhã.
E porque hoje é domingo, é dia de passear, de ir à praia, principalmente se esse dia especial começar iluminado por uma bela manhã de sol. Mas nem só de praia vive o domingo. Vive também de belos e arborizados parques, vive de passeios no campo, vive de igarapés, dos quais nossa terra é rica; vive de filmes na TV, vive de ternos momentos de carinho, quando se anda de mãos dadas pela beira do rio com a pessoa amada no entardecer de um belo dia; vive também de um pouco de preguiça, enfim, é o dia em que a ordem é relaxar. Mas, tudo isso, se é bom de ser vivido, precisamos lembrar que, porque hoje é domingo, temos o dever de rezar e agradecer a D’us pelas graças e bênçãos recebidas durante a semana, e por causa disso é que as igrejas, os templos e todos os locais de adoração a Ele ficam repletos de fiéis, que só querem receber um olhar de benevolência d’Aquele que tudo pode.
Por tudo isso e muito mais, é que este cronista deseja a todos os amapaenses, a todos os brasileiros e, porque não, a toda a humanidade, um domingo muito feliz, cheio de paz e amor. Shalom.






sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O INFERNO DE DANTE

Todos já lemos ou ouvimos algo sobre a Comédia, de Dante Alighieri. Ler, mesmo, essa obra magnífica, em poucos o fizeram. Queiramos ou não, só os muito letrados já gozaram das delícias dessa obra monumental. E eu não estou entre eles. 
A prudência ensina que a documentação sobre a vida do grande bardo italiano é bastante escassa e pouco se sabe, de verdade, sobre  sua educação, família e opiniões.
A causa desse desconhecimento é o fato de que Dante passou boa parte de sua vida como exilado, em condições precárias e quase na indigência. Nossa proposição neste pequeno ensaio, é falar da parte mais importante da Divina Comédia, o Inferno. O qualificativo foi colocado por Boccaccio, a partir de sua biografia, escrita por este outro gênio da literatura italiana.
A Divina Comédia é uma obra construída segundo uma rígida simetria. São três partes: “Inferno”, “Purgatório” e “Paraíso”. Destas duas últimas, falaremos em outra ocasião. Por ora, vamos nos ater ao “Inferno”.
Dante, perdido numa selva escura, encontra o poeta latino Virgílio, cujo espírito foi enviado por Beatriz (Musa do poeta) para buscá-lo. O trajeto de Dante e Virgilio se inicia pelo Inferno, parte primeira de sua obra. A entrada do Inferno é situada em Jerusalém - onde Lúcifer teria batido ao cair do céu. O Inferno, segundo Dante, é composto por diversos círculos, que vão se estreitando até o centro da Terra. Cada círculo corresponde a um tipo de pecado, sendo que o primeiro é o Limbo, onde, na teologia cristã estão as almas dos que não pude-ram escolher Cristo porque nasceram antes de seu advento, ou porque morreram antes do batismo. A partir daí, começa o inferno propriamente dito -  os círculos podem estar agrupados  ou ter subdivisões.
Temos então que: No primeiro círculo ou Limbo, estão os ignaros e os virtuosos anteriores a Cristo, além das crianças não batizadas. No segundo círculo, estão os luxuriosos; no terceiro, os gulosos; no quarto, os avarentos e pródigos; no quinto, os iracundos, soberbos e preguiçosos. Todos esse pecadores estão agrupados no grupo dos Incontinentes. Os hereges têm um círculo exclusivo, o sexto. No sétimo círculo do inferno de Dante, estão os violentos contra o próximo (homicidas, tiranos, predadores), os violentos contra si próprios (suicidas e perdulários), os violentos contra Deus, a natureza e a arte (blasfemos, sodomitas e usurários). No oitavo círculo, estão os sedutores e alcoviteiros, os aduladores, os simoníacos, os adivinhos, astrólogos, bruxas e prevaricadores; os hipócritas e os ladrões (coitados da maioria dos políticos brasileiros), os conselheiros de fraudes, os semeadores de escândalos e cismas, os falsários de metais, de moedas, de pessoas e de palavras.    Finalmente, no nono e último círculo do inferno estão os traidores dos parentes, os traidores da pátria, os traidores dos hóspedes e os traidores dos benfeitores.
Convém saber que o nono círculo do inferno, tem quatro zonas concêntricas (Caina, Antenora, Tolomeia e Judeca) no fundo das quais há um rio gelado (Cocito) e Dite, a cidade de gelo na qual está imerso Lucifer.
Não à toa, é Dante quem diz: "Deixai toda esperança, vós que entrais (no Inferno). Em sua odisseia infernal, Dante encontra personagens históricos, figuras da mitologia antiga e do ima-ginário cristão como Virgilio (autor de Eneida), Homero (Ilíada e Odisséia), Ovídio (autor romano das Metamorfoses), Francesca Rimini (cujo ruidoso caso de adultério com Paolo Malatesta é recapitulado na Comédia), Ugolino della Gherardesca (acusado de traição pelo arcebispo de Pisa, foi preso com dois filhos e dois netos, onde teria comido seus cadáveres, numa torre onde todos morreram de fome), o papa Nicolau III, além de Ulisses e Lúcifer, que no último canto dilacera três dos maiores pecadores que o mundo já conheceu, ainda segundo Dante: Judas, o traidor de Cristo; Brutus e Cássio, assassinos de Julio César.
Talvez, quem melhor se manifestou sobre a Divina Comédia tenha sido o escritor Giovanni Papini (1881-1956), autor de obras sobre Deus e o Diabo. Disse ele: “É muito simples. É só pegar a sabedoria oriental, o logos grego, a charitas cristã, a civilita romana, Aristóteles, os árabes, os judeus, o Velho e o Novo Testamento, as tradições muçulmanas, os conhecimentos científicos da Idade Média, ...”.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

SOBRE DEMOCRACIA

já se disse que democracia, é a convivência pacífica dos contrários. Hoje, mais que nunca, é preciso que brasileiros no geral e tucujus no particular entendam que, se não primarmos pelo respeito à vontade soberana do povo, leia-se, a maioria, jamais chegaremos a lugar algum. Pelo menos a um lugar em que seja um prazer o simples viver.

Um dos pensadores que mais influenciaram o conceito de democracia nas Américas foi Alexis de Tocville (1805-1859). Dizia ele que “a democracia consiste na igualdade das condições.” Dizia mais: “Democrática é a sociedade em que: 1 - Não subsistem de ordens e de classes; 2 - Em que todos os indivíduos que compõem a coletividade são socialmente iguais (o que não significa que sejam intelectualmente iguais, o que é absurdo e que, para Tocqueville, é impossível).
Na verdade, igualdade social é a inexistência de diferenças hereditárias de condições, o que quer dizer que todas as ocupações, todas as profissões, dignidades e honrarias são acessíveis a todos.
De tal modo, a participação de todos na escolha dos governantes e no exercício da autoridade é a expressão lógica de uma sociedade democrática, isto é, de uma sociedade igualitária. É uma sociedade que não tem por objetivo o poder ou a glória, mas sim a prosperidade e a tranquilidade de um povo. Para isso, é necessária a preservação da liberdade, que é a moderação na arte de bem governar.
Tem-se, pois, que as sociedades democráticas são pouco propensas à guerra, pois a guerra faz com que a liberdade seja suprimida e com isso, a concentração cada vez maior de poder nas mãos de uma pessoa, família ou grupo. E poucas coisas são tão maléficas à democracia, logo, à liberdade, que as oligarquias. Oligarquias, sabe-se, não se originaram e muito menos são provenientes da Terra Brasilis. Mas é preciso que reconheçamos que aqui, as oligarquias fincaram raízes e prosperaram, porque encontraram campo fértil para que assim fosse.
O Brasil ainda atravessa um período em que a democracia plena ainda não criou raízes profundas. Apenas para que se tenha um ideia do fenômeno, Dilma Rousseff é a terceira presidente eleita consecutivamente no Brasil (Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e, agora ela, Dilma Rousseff). Entre todos os anteriores houve problemas de naturezas diversas.
Conscientizemo-nos pois, de que não é pequena a vitória conseguida contra as forças centralizadoras. E para que assim seja “ad infinitum”, façamos, cada um, a nossa parte. Inclusive divergindo, quando necessário.

RASTROS NO MAR

É claro que o texto abaixo não é meu. É de Antonio Machado, mais precisamente Antonio Cipriano José María y Francisco de Santa Ana Machado Ruiz, conhecido como Antonio Machado, nascido em Sevilha em 26 de julho de 1875 e falecido em Collioure, França, 22 de fevereiro de 1939, tendo sido um poeta espanhol, pertencente à Escola Modernista.
Dito isso, é necessário que mergulhemos na profundidade das linhas mais famosas do autor, os dois versos de Proverbios y cantares XXIX em Campos de Castilla:
“CAMINHANTE, NÃO HÁ CAMINHO,
O CAMINHO É FEITO AO ANDAR.
AO ANDAR SE FAZ O CAMINHO
E AO OLHAR PARA TRAZ,
SE VÊ A SENDA QUE NUNCA
SE VAI VOLTAR A TRILHAR.
CAMINHANTE NÃO HÁ CAMINHO,
SOMENTE RASTROS NO MAR.”
Quando se chega à idade da senectude, é que começamos a perceber o quanto somos tolos no longo percurso que é a vida, mais especificamente a vida de um caboclo tipicamente amazônida, que um dia decidiu conhecer o mundo exterior sem saber que o mundo inteiro cabe dentro de ti, cabe dentro da tua aldeia, como dizia Immanuel Kant.
Realmente, não há caminho. O caminho é feito ao andar. Tão simples, tão óbvio, e no entanto passamos por ele acreditando que já existia antes de ser trilhado. E se um dia pararmos e olharmos para trás, perceberemos que o que se vê é a senda que não voltaremos a trilhar nunca mais. E o que é a vida passada, perguntamos perplexos? Antonio Machado nos responde de modo bem simples: “Somente rastros no mar.”
E nesses momentos, lembro de Roberto Campos e seu Lanterna na Popa, cuja inspiração vem de um texto de Samuel Taylor Coleridge (1772-1834): “Mas a paixão cega nossos olhos, / e a luz que a experiência nos dá é a / de uma lanterna na popa, que ilumina / apenas as ondas que deixamos para trás.”

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

ESTRELA DO ORIENTE

Em tempos passados, o maior tesouro de um povo que nos ensinou quase tudo o que sabemos, foi o maior dos livros de todos tempos, que atende pelo nome de Bíblia, também chamado Livro dos Livros. Foi nele que foram beber sua divina inspiração, todos os grandes poetas e sábios das religiões ocidentais, no qual aprenderam como emocionar os corações e arrebatar as almas com sobre humanas e misteriosas harmonias. Nele, aprendeu Petrarca a modular seus queixumes; nele, Dante Alighieri visualizou o Inferno com seus nove círculos. Sem ele, Milton não teria surpreendido a mulher em sua primeira fraqueza e nem o homem em sua primeira culpa. Sem esse livro magnífico, não teríamos surpreendido D’us em sua primeira ira e nem saberíamos a tragédia que representou para o homem a perda do Paraíso. Sem esse livro maravilhoso, na verdade uma coleção, uma biblioteca única, jamais poderíamos cantar o nosso canto de dor, a desventura e o triste destino dos homens.
Se não foi esse livro de toda a sabedoria que há, quem foi que pôs diante dos olhos dos nossos escritores místicos os obscuros abismos do coração humano?  Fosse a Bíblia suprimida e todos os povos mergulhariam na idade das trevas, no mundo da sombra e da morte. Na Bíblia, essa fantástica estrela que nos foi apresentada e presenteada por um povo que atendia pelo nome de hebreu - “aquele que veio do outro lado do rio”, no caso o Eufrates - jamais teríamos acesso aos anais do céu, da terra e do gênero humano, pois nela, está contido o que foi, o que é e o que será.
Desde o Gênesis, que é um idílio, que é belo, que é uma alegoria poética de beleza ímpar como a primeira aurora até o Apocalipse de São João, que é um hino fúnebre, que transmite uma tristeza sem fim, como se ele fosse o último palpitar da natureza, que é como o último olhar de um moribundo. E entre um e outro, vemos passar diante de nossos olhos, sob o olhar de D’us, todas as gerações e todos os povos. Todos passamos, desde as tribos com seus patriarcas, as monarquias com seus reis, as repúblicas com seus magistrados. Passa a Babilônia com sua abominação, assim como passam Nínive com sua pompa;Mênfis com suas artes e heróis e Roma com seu poder e os despojos do mundo. Exceto D’us, todos passam. Passo eu, passam eles, passamos nós. Tudo passa, até mesmo o tempo, cuja função é apenas passar e tornar senecto tudo o que a ele pertence ou por ele é atingido. Mas Elohim não passará jamais, pois Ele é o que não teve início e não terá fim, o que já existia antes mesmo que o tempo existisse e existirá mesmo depois que que o último fiapo de luz da última estrela passar.
É nela, na Bíblia, que se predizem todas as catástrofes e se faz a contagem de todas as nossas dores. É por isso que as harpas bíblicas ressoam lugubremente, dando os tons de todas as lamentações. Quem se lamentará como se lamentava Jeremias em torno de Jerusalém abandonada por D’us e pelos homens?
Foi nesse livro prodigioso que o gênero humano começou a ler, há mais de trinta e três séculos, e lendo todos os dias e todas as horas, ainda não acabou essa leitura. Moisés (Moshe) nos apresenta, sem véus, o verdadeiro rosto de D’us. A águia de Homero não subiu além dos montes do Olímpo nem transpôs além dos horizontes gregos. A águia do Sinai galgou até o trono resplandecente de D’us, e teve sob as asas, todo o orbe e não se pode comparar a epopeia bíblica, onde tudo é local e universal. Tudo o mais é tão distante quanto Júpiter e Jeovah, entre o Olimpo e o Céu, entre a Grécia e o mundo.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

'"CUMA É O NOME DELE?"

Mais uma vez sou obrigado a começar um texto com a pergunta: “Quid est veritas?” (Onde está a verdade?). Esta pergunta foi formulada há 2000 anos por Pilatos a Cristo. A resposta mais convincente foi dada por Aristóteles, desde que Pilatos, ao formulá-la, parece ter-se desinteressado do assunto. Até hoje, o governador da Judeia só é lembrado por ter, simbolicamente, lavado as mãos, no que se tornaria o segundo maior acontecimento da humanidade no seu lado ocidental: a morte desse mesmo Cristo.

Aristóteles definiu a verdade como sendo “uma adequação ou coerência entre o que se diz e a coisa ou entre o que se diz e o ocorrido”. A verdade ou falsidade se prende apenas à verificabilidade, que não exige experimentação direta. Basta que se indique uma maneira fisicamente possível de testar.
Mas, voltando à pergunta inicial, onde está a verdade? Fiz estas reflexões, pensando na disputa eleitoral que opõe Lucas Barreto e Camilo Capiberibe. Ambos prometem mudar tudo o que aí que está, Acontece que, se todos temos nossos pecadilhos varridos para debaixo do tapete das nossas consciências, no meio político pecadilhos bem poderiam ser chamados de “pecadilhões”. Além disso, todos prometem fazer tudo e mais alguma coisa, para que vivamos no paraíso celeste posto na terra tucuju. Só ainda não disseram onde vão buscar os recursos necessários paea que assim seja.
Em tamanho bem maior, Dilma Rousseff jura de mãos postas e pés juntos que nem sabe quem é dona Erenice Guerra, Filhos & Cia. Também jura que não sabe quem é um dos coordenadores da campanha dela, que atende pelo nome de José Dirceu, aquele do Mensalão do PT. No contra ataque, José Serra jura por todos os juros que nem tem ideia de quem é Paulo Preto. Depois, recuperando a memória, disse conhecer o senhor “Quatro Milhões Paulo Pretinho da Silva”.
Dona Dilma, ex-ateia, agora se diz ecumênica. Dá até a impressão que religião e caça ao voto tem tudo a ver. José Serra, o paulista, jura que olhará com benevolência todo o Brasil. Até mesmo o desco-nhecido Amapá. Me engana que eu gosto.
De verdade, o que temos, é que todo político que se preza tem por hábito dizer que não disse o que disse. Quando muito, admite que imprensa distorceu palavras dele, ainda que repetidas “ipsi literis”.
A mentira campeia pelos campos, pelas águas e pelos céus do Brasil, e contra seu poder, o da verdade é pequeno demais. A respeito da mentira, o pensador francês Michel de Montaigne dizia que os mentirosos deveriam ser condenados à fogueira, porque se a mentira fosse apenas o contrário da verdade, seria possível tolerá-la. O problema é que a mentira tem mil faces e seu poder de destruição não conhece limites.
A propósito, se o próximo governador for eleito pelo PSB “y compañeros”, nome dele será Camilo ou João?

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

FRASE PERIGOSA

Nunca antes na história deste país, tivemos um presidente com tanta capacidade de dizer bobagens como o senhor Lula. Sabe-se que nada é mais irritante que a burrice, e que a única coisa que não tem li-mites no universo é a estupidez humana. E a última bobagem escarrada por “El señor Pre-sidente”, na cara de todos os brasileiros foi: “A polícia bate em quem tem que bater.” A frase, absolutamente infeliz, mostra a cara de alguém que, na verdade, não tem a menor ideia do que é a verdadeira democracia. Na contrapartida, tem embutido no âmago do seu ser, o espírito negro da ditadura, o que é natural em pessoas que têm como ídolos, reles ditadores como o venezuelano Hugo Chávez, o cubano Fidel Castro, o iraniano Ahmadinejad, o líbio Muammar el Kadaffi e outros menos votados. Outro indício desse amor excessivo pelo poder perpétuo, foi quando, na mesma ocasião em que disse a frase perigosa sobre como a polícia deve agir, disse também “Estou pensando em colar a faixa (presidencial) na minha barriga com aquela cola que não sai e sair correndo. “O poviléu riu e a imprensa bajulativa bateu palmas para mais essa frase perigosa, na medida em que mostra que sua ânsia de poder é maior do que se pensa e pretende ser eterna.
O presidente nacional da OAB, Ophir Ca-valcante, ficou “perplexo” com a declaraçãodefendendo que “polícia bate em que tem que bater”. Cavalcante ironizou o primarismo de Lula: “Ele parece ter vocação para comandar o Bope”, disse, numa referencia à tropa de choque da Polícia MiIitar conhecida pela atitude violenta no combate ao crime. Quanto à turma dos chamados Direitos Humanos, calada estava e calada ficou.
O presidente poderia ter ido mais longe. Poderia ter dito que “Torturadores só torturam aqueles que merecem ser torturados”, ou “Pais só espancam crianças que precisam ser espancadas”. Indo mais longe ainda, poderia ter dito que “Homens só batem em mulheres que precisam apanhar” ou mesmo, “Mulheres só “corneiam” homens que merecem ser “corneados”. 
E pensar que, pelo andar da carruagem política, é possível que chegue o dia em que terei saudades desse deficiente cultural. Enfim, esse é o preço que tenho que pagar por viver em um país em que o senhor pre-sidente diz, sorridente, que se orgulha do fato de que só tem um diploma - o de presidente. E a plateia, imbecilizada, aplaude de pé.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

CÍRIO CABANO

Este texto não é meu. É de autoria de André Costa Nunes (andré@terradomeio.com.br) , blog (www.terradomeio.com.br), escritor paraoera da melhor qualidade. Foi meu amigo e irmão de alma Rui Guilherme Vasconcellos de Souza Filho que mo enviou e sou-lhe grato por isso. É um texto tão bonito que, ainda que sem a permissão do autor, decidi colocá-lo neste blog para que outros, paraenses ou não, possam apreciar sua beleza.


“Paraense, ateu. Filosoficamente, materialista. Devoto de Nossa Senhora de Nazaré. Este último atributo, no mês de outubro, transcende os demais. É inerente ao ser paraense.
Durante algum tempo, no auge do obscurantismo ideológico da juventude, ainda tentei renegar, mas romântico inveterado, há muito deixei de remar contra a maré. Mergulhei de cabeça no paraensismo, o que não existe sem açaí, tacacá, Ver-o-Peso, marés, rios e ilhas. Canoas e torso nu. Sem camisa. Sem a devoção à Virgem de Nazaré.
E isso tudo, à imagem do próprio Rio Amazonas, como em um caudal, deságua em Belém, no segundo domingo de outubro. A colossal procissão do Círio, com milhares – fala-se até em milhões – de romeiros, diz que, começa na catedral da Sé e termina cinco ou seis quilômetros depois na Basílica de Nazaré, mas um olhar atento vai além. Vê que a romaria começa em cada furo, rio, igarapé, ilha ou beiradão.
Canoas, ubás, caxiris, barcos, a motor, vela ou remo. Começa nas palafitas e barrancos. Nos quintais das cidades, no porco cevado, no patarrão, no ralar da mandioca, no tipiti, e no moer da folha de maniva. Matéria prima para o almoço do Círio. Maniçoba e pato no tucupi. Farto e generoso. Para a família, para os amigos, e para quem mais chegar.
Começa no vestido de chita com babados, decote comportado e comprimento a baixo dos joelhos. Calça e camisa de manga comprida, novas, as únicas mudas de roupa compradas no ano, mas estreadas no Dia da Festa. Sapatos, sandálias, baixas ou de salto, tênis? Nenhum.
Acompanhar o Círio de Nazaré se vai descalço. Naturalmente.
Começa com banho-de-cheiro. Vinde-cá, priprioca, patichouli, orisa, pau-cheiroso, chama, pau-rosa, catinga-de-mulata.
E se vem de todos os cantos do Estado Pará que em outubro se transmuda para além das fronteiras geopolíticas. Invade o Maranhão, o Amazonas, o Amapá. É como se fosse o Estado de Nossa Senhora de Nazaré. Esse é o núcleo central tangido pelas águas, senhora de todos os destinos.
Essa é a procissão cabana de antes da estrada, do asfalto, do ônibus, do avião, do arranha-céu, do apartamento, do estacionamento proibido.
Essa nova tribo do fast food também é bem-vinda. Por adesão, é claro, afinal, no manto da Virgem e no coração cabano há sempre espaço de sobra. Apenas há que aderir ao espírito secular do Círio. Ficar “mundiado” pelo bom e pelo bem. Sentir-se igual. Caminhar descalço.
É por tudo isso, pelo peso dessa enorme bagagem da cultura paraense, que, todos os anos, quando passa a berlinda da santa, este velho comunista se emociona e chora.














sexta-feira, 1 de outubro de 2010

SOBRE O LIVRO DA SABEDORIA

O Livro da Sabedoria, também chamado Sabedoria de Salomão, é um dos livros deuterocanônicos da Bíblia. Possui 19 capítulos e é, normalmente, atribuído ao rei israelita Salomão, considerado o mais sábio dos homens. Entretanto, os grandes historiadores bíblicos afirmam que o livro, na verdade, foi escrito por um judeu não palestino e sim um judeu natural de Alexandria importante centro político e cultural grego. Sabe-se que gregos e hebreus tiveram convivência tão grande, que o alfabeto grego, na verdade, é uma adaptação do alfabeto hebraico, o “AlefBeyt”, cabendo aos helenos a criação das vogais, uma vez que na língua hebraica não existem vogais. Na verdade, à época em que foi escrito, segunda metade do século I d.C., havia o costume entre escritores, de colocar como autores de suas obras, nomes de personagens muito conhecidos, para que o texto pudesse ser apreciado pelos sábios da época.

Sabedoria é um livro do Velho Testamento existente na versão grega Septuaginta (a Bíblia dos Setenta, na verdade, 72 sábios que a traduziram do hebraico para o grego). Essas versões são, geralmente, católicas romanas e ortodoxas, e não constam em versões da Bíblia protestante, por ser considerado falso.
Os primeiros cinco capítulos do livro, exortam o leitor à justiça e o amor, a procurar D'us para que possam adquirir sabedoria e imortalidade. Ao longo dos primeiros dez capítulos, a sabedoria é personificada como uma mulher. Curiosamente, o livro termina de forma abrupta, gerando a interpretação de que, possivelmente, ou a inspiração do autor acabou, ou a conclusão do livro teria sido perdida.
Chama a atenção o fato de que o livro parece ser destinado aos reis. E ensina que, o estado de espírito dos ímpios é contrário ao destino do homem imortal, pois D'us quer que sejamos sábios, e portanto, livres. Livres do cárcere do pecado, evidentemente. Tanto é assim que, fossem os príncipes sábios, e o ser humano seria muito mais feliz. Sabe-se que Salomão implorou a D'us por sabedoria, e não por pedras preciosas, prata e ouro.
Uma coisa é certa, pela beleza e sabedoria do livro, sua autoria é irrelevante, uma vez que nos conduz para os braços da reflexão e do amor integral a D'us. E quem O ama, jamais será encontrado pela Dama da Foice, uma vez que o paraíso celeste é destinado a todos aqueles que aprendem que ser, é muito melhor que ter, e que a “virtú” liberta, enquanto o pecado aprisiona, mata e destrói. Tanto as nossas vidas como a daqueles que amamaos.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

...E PENSAM QUE SÃO NORMAIS

Têm a mente suja, o espírito pequeno, o pensamento burguês e o cérebro diminuto. E pensam que são normais.
Não nos atendem com a cortesia necessária. Não nos dão as informações que precisamos. Não cumprem de maneira eficiente, as funções que ocupam e que deveriam gerar benefícios para o Estado. E pensam que são normais.
São donos de arrogância infinita e sofrem de ausência de neurônios próxima do zero. E pensam que são normais.
Entram nos seus carros cintilantes e se acreditam senhores com direito de vida e morte sobre os demais, porque seus salários, absolutamente não condizentes com sua capacidade mental e intelectual assim permite, por decisão do seu amo e senhor. E pensam que são normais.
Dizem-se defensores de seu povo, mas sua visão sectária e limitada do mundo, sua falta de educação e cultura os faz agir contra os interesses do povo a que dizem pertencer. E pensam que são normais.
Enchem as igrejas, cabeça baixa, ar compungido, a certeza de que são donos da verdade e que podem enganar D’us. São víboras, falam a língua bifurcada da serpente. E pensam que são normais.
Moram em palácios e mansões. Vivem à custa do Erário. Sua profissão é o exercício da arte de enganar, de mentir. São falsos profetas. Posam de deuses, mas são pobres diabos, cuja única finalidade é infernizar nossas vidas. E pensam que são normais.
Não costumam produzir nada. Não mostram serviço. E quando o fazem, querem aplausos, como se não estivessem apenas cumprindo as suas obrigações. E acham que são normais.
Vivem no lixo moral. São menos que nada, mas acreditam tudo ser, ou ter, esquecidos que não são nada e não têm nada. As próprias roupas que vestem não são suas. São emprestadas pela vida. O tempo tudo transformará em pó, mas não sabem disso. E pensam que são normais.
Acreditam ser valentes. Não o são. Arrotam valentia, porque acreditam que o poder tudo pode. Um erro primário. E ainda pensam que são normais.





segunda-feira, 27 de setembro de 2010

FÉ E POLÍTICA


Entre as muitas coisas estranhas que podem o imaginário da humanidade, talvez nenhuma seja mais estranha que a fé. Tão estranha que fé e lógica podem tudo: menos andar juntas
A fé, por definição, é a crença, a confiança inabalável em outra pessoa, ente ou fenômeno. É também a primeira virtude teologal, é a adesão ou a ausência pessoal a D’us, seus desígnios e manifestações. É a firmeza na execução de uma promessa ou de compromisso.
Quando se mistura D’us, fé e política, o resultado é mais estranho, porque a fé, quando praticada em países excepcionais na sua formação racial como o Brasil, o resultado se torna incompreensível para os pais das religiões e deuses que cultuamos.
Assim é, que o sempre aprazível de ser lido, Roberto Campos, odiado pela esquerda, provavelmente pela humanidade do seu cérebro e pela clareza das suas ideias, diz em um de seus ensaios que, a “religiosidade brasileira é peculiar e funciona em fogo brando.”
Temos fé, no caso, fé católica, mais no sentido universal da palavra, que no sentido da religião cristã, o que nos faz acreditar também em santos, orixás e exus. Nossa ideia de pecado não é severa. E mesmo com toda a fé, escolhemos dos Dez Mandamentos, só os que nos interessam cumprir. O sexto e nono, evidentemente, nem nos passa pela cabeça cumpri-los. Melhor faríamos se abandonássemos a Tábua da Lei que assim, simplificada, ficaria reduzida a apenas oito mandamentos.
Nossa fé faz de D’us um bom sujeito. Alguém quase da família. A quem se toma um dinheiro emprestado, jurando por todos os juros que vai pagar - e com todos os juros. Claro que a nossa honestidade, nessa área, como bem o diz Campos, “é honestidade de jogador”.
A fé à brasileira ensina que D`us é um pai tolerante, muito ocupado em administrar o Universo, mas a quem pode se recorrer num aperto. E que há de nos perdoar sempre. A esse respeito, o poeta alemão Heine, talvez por francófilo, apreendeu esse sentido mais latino que germânico, ao dizer: “Deus me perdoará. É o seu ofício”.
A classe média é um primor. Jura lealdade ao papa, que é (quase) infalível. Mas não dispensa um bom terreiro, por precaução. Não dispensa, em alguns casos, até mesmo pitadas do misticismo oriental. Tudo é válido, quando se trata de sitiar o Céu.
Enquanto a fé católica é recheada de opulência e ostentação litúrgica, as seitas protestantes fizeram da rotinização do carisma o seu ganha pão, ou no caso de algumas delas, o seu ganha milhões... de dólares. E isso pela simples razão de que são mais práticas. Num certo sentido, lembram a umbanda, que permite um contato direto com os deuses da chuva. O pastor é um homem comum, que trata dos problemas mais imediatos de uma população riquíssima... em problemas. O resultado, é uma coleção de fiéis que aumenta dia a dia , juntamente com os saldos de suas contas bancárias. Mas, ao funcionário do sobrenatural, aplica-se o conselho de Max Weber: “aqueles que buscam a salvação das almas, a sua e a do próximo, não devem buscá-la nas avenidas da política”. Não dá certo. É mais fácil acreditar que um camelo passe pelo buraco de uma agulha, que água se misture ao óleo, e que políticos existam, sem falar a língua bifurcada da serpente.


quinta-feira, 23 de setembro de 2010

CURIOSIDADES BÍBLICAS

Não poucos livros tem sido escritos contendo dados interessantes, curiosidades, estatísticas e, pasmem, até mesmo erros de tradução ou de impressão da Bíblia. A primeira curiosidade é que o nome Bíblia não aparece uma única vez na Bíblia. O nome advém do grego Biblos, por causa da cidade fenícia de Biblos, um importante centro produtor de rolos de papiros, usados para fazer livros. Com o passar do tempo, o termo passou a significar “livro”. Bíblia é a forma plural (“livros”). A Bíblia, na verdade, é uma coleção de livros. Também é conhecida simplesmente como “o Livro” ou “o Livro dos Livros”.

Um outro fato que chama a atenção é que a Bíblia não diz nada a respeito de qual era a fruta da árvore do conhecimento do bem e do mal, que não devia ser comida por Adão (Adam, em hebraico, palavra que deriva de Adamah, a Terra) e Eva. Uma antiga tradição europeia diz que essa fruta seria a maçã. Em latim, a palavra “malum” significa tanto “maçã” como “mal”, o que pode, perfeitamente, ter originado essa tradição.
Surpreendentemente, se bem observarmos, veremos que a palavra “Deus” aparece em todos os livros da Bíblia, exceto em Ester e Cântico dos Cânticos. Por isso, muitos judeus e cristãos argumentavam e, eventualmente ainda podem argumentar que esses livros não fariam parte da Bíblia.
Sabe-se também que o texto mais antigo do Novo Testamento ainda existente, é um pedaço do Evangelho de João. Escrito em torno de 125 d.C., o fragmento contém partes de João, 18:31, incluindo a pergunta feita pelo quinto procurador da Judeia, o romano Pôncio Pilatos: “Você é o rei dos judeus?”
Porém, temos muitos mais fatos bíblicos extremamente curiosos do que podemos apresentar num simples e pequeno texto como este. Por exemplo: a pessoa que é mencionada mais vezes na Bíblia é Davi, cujo nome é citado 1.066 vezes na Nova Tradução da Linguagem de Hoje. O personagem bíblico mais ve-lho é Matusalém, que tinha 969 anos quando morreu, segundo o Gênesis 5:27. E o nome mais comprido da Bíblia é Maer-Salal-Hás-Baz (Isaías, 8:1, que significa “rápido para roubar e ligeiro para saquear”.
O detalhe mais que curioso, é que esse nome foi dado de forma simbólica pelo profeta Isaías a seu filho, para advertir o rei de que se os judeus fizessem um acordo com o Império Assírio, os assírios iriam invadir e tomar tudo o que quisessem.
Finalmente, o livro da Bíblia mais traduzido é o Evangelho de Marcos, talvez porque seja o mais curto dos quatro Evangelhos. Marcos pode ser encontrado em pelo menos 900 línguas.
Muito ainda há para ser conhecido e adequadamente divulgado sobre o que chamamos de fatos e curiosidades bíblicas. Faltam-me, porém, competência, talento e conhecimento para tanto. Mas, se este pequeno texto servir para ajudar pelo menos um leitor a pesquisar sobre esses fascinantes e curiosos episódios, já terá valido este esforço.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A VISÃO, O OLHO E A CEGUEIRA

Visão, olho e cegueira, são coisas inerentes à vida animal. E à vida celestial também. Convém não esquecer que aquele que tudo pode, tudo vê, também.

Mas tenho lá minhas dúvidas. Se tudo vê, imagino que preferiria não ver. O panorama terrestre visto do Olimpo, não é cenário dos mais agradáveis de ser apreciado. Mas tem que ver. É obrigado a isso pela força do Seu destino. Deuses que nada vêem não costumam ser respeitados pelos mortais comuns, que fazem questão de ver milagres, demonstrações de força, efeitos pirotécnicos e outros que tais.
Lobsang Rampa escreveu A Terceira Visão. Não por querer ver demais, evidentemente. Supunha que o homem tivesse um olho místico ainda a ser desenvolvido.
Olhos, os temos de vários tipos. Olho de porco é olho de quem não encara ninguém. Olha sempre de soslaio. Diziam os antigos, não é olho de gente confiável. Olho de boi é um bom olho. Vale uma fortuna. Para quem entende de filatelia, claro. Olho do Céu é olho bom para se olhar. É montanha situada na Província de Hanngchow, na China. Um prazer para o olhar.
Visão é diferente. Na maioria das vezes, é apenas a capacidade de ver. Mas é algo mais também. É ver além do que existe para ser visto. Visões especiais são as visões celestiais, como as visões de Santa Tereza, as visões de São Bernardo, as visões da gruta da Iria, as visões dos profetas, as visões do Paraíso, as visões de D’us. Mas, junto com o olho e a visão, vem a cegueira da morte. A morte nos cega para a vida, assim como a miséria nos cega para a vida com qualidade. A cegueira nos impede de ver as cores, as coisas, os animais da terra, da água e dos céus. Impede-nos de ver o rosto dos amigos queridos, aqueles de verdade e o da mulher amada, que todos as temos.
Mas, como tudo na vida, a cegueira tem o seu lado bom, porque nos impede a visão do lado sujo da vida. Impede-nos de ver lixo nas ruas, nos bares, nos lares e nas repartições públicas. Nesses lugares costuma reproduzir-se sem cessar, o pior de todos os lixos, aquele que não se biodegrada, mas degrada a nós que estamos do lado de cá do balcão: o lixo humano, que este, é preferível não vê-lo. O lixo humano está presente nos seres destituídos de compaixão para com o próximo; está junto dos que têm ódio no coração; faz parte dos que falam a língua bifurcada da serpente, dos mentirosos, dos mistificadores, dos aduladores, dos falsificadores. O lixo humano está presente na estrutura mental de todo aquele que acha que roubar é normal, que vilipendiar é correto, que desrespeitar a vida faz de cada um, um ser mais forte que o outro.
No mundo da política, pelo visto, temos feito a opção preferencial por não ver nada, daí os espécimes que elegemos a cada quatro anos.
Dizem que em terra de cego, quem tem um olho é rei. Errado. Em terra de cego, quem tem um olho, é caolho, mesmo.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

OS MENINOS DO BRASIL

As crianças do Brasil estão de luto. Cobrem-se de negro e choram a falta de seus irmãos, que foram para lugares distantes em busca do que seus pais e seu país não lhes deram.
As crianças do Brasil estão com os olhos úmidos. Sentem a falta dos meninos do Brasil, que foram ser meninos de outras terras, de onde jamais retornarão. Pelo menos não retornarão por inteiro.
Chorem crianças, do Brasil. Esvaiam-se em lágrimas e gritem a sua dor, para que governantes surdos possam ouvir o clamor que parte de seus corações partidos de tanto sofrer, de tanto gemer, de tanto sentir fome, sede e saudade.
Pobres meninos do Brasil que se foram para só retornar, quando ianques selvagens os despirem de toda a sua condição humana, e os devolverem como mercadoria inservível, por apresentar defeito de fabricação.
Chorem e se desesperem mães dos meninos do Brasil, tão sós, tão sofridos, tão brasileiros em terras anglo-saxãs. Voltem à mãe-pátria que não os quis e não os quer. Venham expor as feridas de suas almas, dilaceradas pela perda da própria nacionalidade, para que possam servir, pelo menos, para evitar que outras crianças do Brasil deixem de ser brasileiras, deixem de ter pátria, deixem de ser alguém para se tornarem ninguém.
Retornem, crianças do Brasil. Vagueiem seus corpos zumbis nos aeroportos modernos dos ricos do Brasil. Durmam nos bancos das praças. Sintam n'alma o frio da desgraça e chorem por nós. Nós que sequer tivemos ou temos, a capacidade de chorar por vocês que eram o nosso amanhã. Talvez ainda sejam o nosso amanhã. Mas será um amanhã bem triste. Eu prometo. Nós Prometemos. Eles prometem.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

CONTRADIÇÕES

O ser humano, antes de mais nada, é um ser extremamente contraditório. Vejamos por exemplo, o que fez Adamat, o primeiro homem segundo a Bíblia. Vivendo e morando no Jardim do Éden e tendo a possibilidade da vida eterna, insatisfeito, decidiu optar pela finitude própria*, pelo castigo de trabalhar todos os dias para poder comer o pão que o diabo amassou, muito embora não esteja escrito em lugar algum, que o diabo tenha sido padeiro algum dia.**

Outro homem, este muito importante mas extremamente contraditório, foi o rei hebreu Salomão, cognominado o mais sábio dos homens. Até onde vai o meu analfabetismo explícito, não me consta que sábios matem ou ordenem a morte de irmãos ou demais parentes que possam de algum modo, atrapalhar seu caminho em direção a um eventual trono. E foi exatamente o que fez ou mandou fazer Salomão, até que não mais restasse ninguém que se interpusesse em seu desejo de ser rei de Israel.
Caim, filho de Adão, é outro exemplo de contradição. Irmão de Abel, permitiu que a inveja dominasse seu coração e por isso matou seu frater. Nessa época, tempo em que os homens falavam com D’us ao vivo e em cores, Caim perdeu esse privilégio, foi amaldiçoado pelo próprio Senhor dos Exércitos, escorraçado do lugar em que vivia, e condenado a perambular pela planeta dos homens, sem ter um amigo, sem ter um lugar onde pudesse a fronte pousar, exposto ao tempo e ao vento, padecendo os maiores tormentos, fugitivo dos homens na paz, e também da morte na guerra, como bem poderia ter dito Gonçalves Dias em seu I-Juca-Pirama. E tudo isso apenas por ser um homem pleno de contradições.
Moisés é outro exemplo de como os homens podem pagar um preço alto demais por serem contraditórios em seu modo de ser. Após receber das mãos do próprio Senhor de tudo o que há, as Tábuas da Lei, também conhecidas como Os Dez Mandamentos, foi o primeiro a contrariar o artigo que diz: “Não matarás”. A ordem é simples e direta, sem subterfúgios ou tergiversações. Diz apenas, não matarás. E foi isso, exatamente que fez o próprio Moisés ao descer do alto do Monte Sinai, lugar de seu encontro com D’us, ao mandar passar a fio de espada algo em torno de 3.000 homens que fize-ram e adoraram o Bezerro de Ouro, durante sua ausência, descrentes de D’us e dos homens. Por causa disso, Moisés pagou o preço de não pisar na Terra Prometida, passando a Josué seu cajado e avistando a terra de Israel apenas de longe. Além disso, seu povo foi condenado a vagar durante 40 anos pelo deserto, até que toda aquela geração fosse extinta. Um preço alto demais apenas por causa do espírito contraditório de um homem da mais alta importância para toda a história do homem ocidental.
A lista é interminável. Hitler, que deu o pontapé inicial na Segunda Guerra Mundial, mandou que fossem exterminados em fornos crematórios e outras formas de execução em massa, pelo menos seis milhões de judeus. O problema é que, além da monstruosidade do crime praticado em nome da raça ariana ou germânica, Hitler não era alemão, era austríaco. E, segundo afirmam diversos historiadores, tinha remota ascendência judaica.
Finalmente, para não cansar muito meus eventuais leitores, muitas pessoas, tendo a possibilidade de serem livres, tornam-se prisioneiras de si mesmas ou de outrens por vontade própria porque, como dizia Nietsche, “chegam à convicção fundamental de que têm de ser comandadas, e por causa disso, tornam-se “crentes”. “Inversamente, pode-se imaginar um prazer e força na autodeterminação, uma liberdade da vontade, em que um espírito se despede de toda crença, todo desejo de certeza, treinado que é em se equilibrar sobre tênues cordas e possibilidades e em dançar até mesmo à beira de abismos. Um tal espírito seria o espírito livre por excelência.”
PS. * Adão, ao optar pela própria finitude, condenou todos os seus descendentes a serem finitos “ad infinitum”, assim como condenou à morte, toda e qualquer forma de vida.
** A parte boa dessa história é que Adão, ao comer do fruto proibido, cometeu o mais doce dos pecados.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A PRIMEIRA PEDRA

Quando os escribas e fariseus trouxeram à presença de Jesus uma mulher surpreendida em adultério e querendo castigá-la condenando-a à morte por apedrejamento, conforme mandava a lei da época. O Rabi, que escrevia alguma coisa com o dedo sobre a terra, perguntaram-lhe o que diria sobre o fato. Ele, que estava inclinado, levantou-se respondendo-lhes de maneira simples e direta: “Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra.” E tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. Assim está escrito no Evangelho de João, 8:3-11. É claro que no fundo, o que desejavam era acusá-lo de desejar o mal de alguém. Mas o Rabi estava acima e além dessas coisas odiosas, típicas do ser humano. E eles, ouvindo a resposta do Filho do Homem e acusados pela própria consciência foram-se retirando um a um a começar pelos mais velhos.E então, erguendo-se e vendo que apenas a mulher ainda estava ali perguntou-lhe: “Onde estão os teus acusadores, ninguém te condenou?” Ao que ela respondeu: “Ninguém, Senhor.” E então disse-lhe Jesus: “Nem Eu tampouco te condeno; vai e não peques mais.” O Amapá está de luto moral. Dirigentes políticos, agentes públicos e empresários estão sendo acusados por instituições respeitáveis como a Polícia Federal e o Suerior Tribunal de Justiça de diversas irregularidades na administração da coisa pública. Culpados ou não, neste primeiro momento não nos cabe julgá-los e muito menos condená-los à execração pública ou à morte política. Primeiro porque somente após o julgamento e a condenação pelas instâncias judiciárias adequadas é que poderão ser chamados, realmente, de culpados. Segundo, porque muitos dos opositores aos atuais detidos têm ou tiveram suas próprias culpas no cartório, como se dizia antigamente, portanto não podem posar de seres de pureza angelical. E, finalmente, atire a primeira pedra quem jamais pecou.
É claro que a notícia é terrível. O Amapá ostenta no seu currículo a sina de ser o segundo em toda a história da República a aparecer no noticiário nacional com notícias negativas desse porte. Fomos o segundo estado federado a ter um senador cassado, no caso por compra de votos. O primeiro foi um senador carioca cassado por falta de decoro parlamentar. A acusação: foi fotografado vestindo smoking, meias, sapatos e cueca “samba canção”. Detalhe: estava dentro do seu apartamento, vestindo-se para ir ao Senado, então no Rio de Janeiro, ao tempo em que a Cidade Maravilhosa era ainda a capital da República. O que ocorreu foi que um fotógrafo da antiga revista O Cruzeiro, amigo do senador, fotografou-o e publicou a foto.
Agora, o Amapá é o segundo estado da federação a ter um governador preso, acusado de irregularidades diversas. O primeiro, como todos sabem, foi o ex-govermador de Brasília, José Roberto Arruda. Que D'us Onipotente tenha piedade de nós, porque se assim não for, estaremos irremediavelmente perdidos, na medida em que, pelo andar da carruagem, chegará ao ponto de nem ao bispo podermos recorrer.De qualquer modo, sem amenizar a culpa de quem quer que seja, atire a primeira pedra aquele que nunca pecou.


quinta-feira, 9 de setembro de 2010

COM A CORDA NO PESCOÇO

Vivia com a corda no pescoço. Era uma ilha, cercado de dívidas e problemas por todos os lados. Às vezes, desespe-rado, pensava em se matar, mas depois pensava na mulher - aquela megera que adquirira a obrigação de cuidar - e nos filhos que estes, sim, tinha a santa obrigação de cuidar e zelar. Não haviam pedido para nascer. Cabia-lhe portanto, o dever de dar-lhes comida, abrigo e segurança. Mas a vida pode ser muito cruel, como descobriria depois.

Um dia, sua crença no Deus de bondade em quem sempre crera foi abalada. Não entremos nos detalhes sórdidos. Não vale a pena. De certo, mesmo, é que aquela fé inabalável foi sacudida de alto a baixo. Não é que a mulher esquálida, desgrenhada, mal humorada, que vivia porque Deus a incumbira de atormentar-lhe a vida, o corneara. Sim, senhor, com direito a dois pontos: o corneara.
Azar nunca vem sozinho. Desgraça pouca, é bobagem e navio afundado, bem carregado - e no largo, dizia-lhe sempre o vizinho sarcástico que morava ao lado. Vai ver que o “disgramado” sabia de tudo. E espalhara a notícia. Agora entendia porque riam à sua passagem. Passou anos acreditando que era mera coincidência. Afinal de contas, não tinha nada que causasse risos. Quando muito, ar de comiseração. Sentiu-se traído. Não pelos homens. A traição é inerente aos homens. Mas pelo Todo Poderoso. Como Deus pudera fazer-lhe aquilo? Perguntava-se noite e dia. Foi quando notou a filha querida com ar estranho. Ar de culpada. Culpada de quê?, angustiava-se. Seu anjinho - apenas 14 anos - não tinha pecados, logo não podia ostentar com doce resignação, aquele ar tão culpado. Entendeu tudo quando, desfalecida, foi levada ao Pronto Socorro Municipal. O anjinho, além de grávida, tomara veneno. Chumbinho, para ser mais exato.
Anjinho foi enterrada às cinco da tarde, sob uma chuva fininha. Com ela, seu pai, agora finado, foi enterrado também. A dor fora grande demais para ele. Tristonho, depois de voltar do hospital onde a filha dera o último suspiro, matou-se do único modo como poderia: com a corda no pescoço. Afinal, vivera tanto tempo com ela que, até por uma questão de justiça, sentia-se na obrigação de morrer com ela.
Dizem que uma constelação de apenas três estrelas, que às vezes se vê no firmamento quando a carga de sofrimento é pesada demais e os joelhos vergam sob o peso da vida, são o anjinho, o pai amado e o filho que não chegou a nascer. Se mostram para alguns, na espe-rança de que venham fazer-lhes companhia. As estrelas, para quem não sabe, às vezes se sentem sozinhas demais.