segunda-feira, 31 de maio de 2010

...E O MENINO SORRIU

Dois homem conversavam alheios ao que se passava ao redor. Um, dizia para o outro:
- “Como posso conceber um Deus fraco, misericordioso, que gosta dos menores, dos mais lentos, dos mais incapazes. Isso não faz o menor sentido. Roma domina o mundo, porque nossos deuses tudo podem. Deuses têm os seus preferidos. E os preferidos dos deuses são exatamente, os que aqui parecem com eles. E só se pode parecer com deuses, sendo forte. Tal qual eles. Os fracos existem para servir aos poderosos. Essa é a lei do universo. É o que penso”, sentenciou.
O outro pensava diferente, e retrucou:
- “Esqueces, caro amigo, que tudo é passageiro. Até os deuses romanos são passageiros, como foram passageiros os deuses de outros povos que um dia se julgaram eternos. O Deus único, o que tudo sabe e tudo pode, não passará, porque não teve início e não terá fim. Mesmo que não o compreendas, assim é. Meu povo teve sacerdotes que falaram diretamente com Ele. Foi o que nos ensinou. Foi o que aprendemos, e é o que ensinamos aos nossos filhos que ensinarão aos filhos deles, até o dia, quando eu, tu e Roma, formos pó, em que essa crença cobrirá a terra inteira, porque assim está escrito no Livro da Lei”.
E continuaram conversando e discutindo sobre os mistérios da vida e da morte; sobre a eternidade de Deus e sobre a temporaneidade dos deuses. Por isso, não se deram conta do menino que brincava próximo, esculpindo aves de barro, após o que, soprava-as. Por causas jamais esclarecidas adequadamente à luz da lógica, as aves de barro criavam vida, e levantavam vôo em direção ao poente.
E por estarem tão absorvidos nas discussões sobre qual dos deuses era o melhor, se o mais forte, o impiedoso e cruel, ou se o que preferia os mais fracos, os doentes, os que nada têm, não viram o menino sorrir, como só podem sorrir os que tudo sabem sem a ostentação de tudo saber.
E foi também, no exato momento daquele sorriso, que o menino que passava tão despercebido para os doutos senhores, pensou nas palavras que pronunciaria cerca de vinte anos depois, e que se tornaria a maior oração de todos os tempos. Começava assim: “Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus...”.

sábado, 29 de maio de 2010

SÓCRATES, ESSE DESCONHECIDO

sempre que alguém fala em Sócrates, filósofo grego nascido em 470 ou 469 a. C., em Atenas, bem à lembrança a frase atribuída a ele, um dos maiores sábios de todos os tempos, talvez maior, até mesmo, que o bíblico Salomão, de que "tudo o que sei, é que nada sei". Quanto ao resto, nada, absolutamente nada.
Filho de um escultor e de uma parteira, aprendeu a profissão do pai, mas jamais se inte-ressou pelo ofício. Optou pela meditação e ao ensino filosófico. Sem recompensa alguma, esclareça-se, muito embora fosse muito pobre. Exerceu alguns cargos políticos e foi sempre um modelo irrepreensível de bom cidadão. Comba-teu a Potideia, ocasião em que salvou a vida de Alcebíades e em Delium, onde carregou nos ombros a Xenofonte, gravemente ferido.
Sua esposa, Xantipa, estava longe de ser a mulher ideal, mas ele, também, não foi exatamente o modelo de marido ideal, ocupado que vivia com outros cuidados que não os domésticos.
Sócrates foi valoroso soldado e rígido ma-gistrado. Entretanto a vida pública e a política eram contrários ao seu temperamento crítico e seu reto juízo. Julgava que devia servir a pátria conforme suas atitudes, vivendo justamente e formando cidadãos sábios, honestos, temperados.
A feição austera de seu caráter, a sua atitude crítica, irônica e a consequente educação por ele ministrada, criaram descontentamento geral, hostilidade popular, inimizades pessoais, apesar de sua probidade. Esse estado de ânimo hostil a Sócrates concretizou-se e tomou forma jurídica, na acusação movida contra ele por Mileto, Anito e Licon: de corromper a mocidade e negar os deuses da pátria introduzindo outros. Sócrates recusou defender-se diante dos juízes e da justiça humana, humilhando-se e desculpando-se e preferiu a morte.
Tendo que esperar mais de um mês a morte no cárcere, o discípulo Criton preparou e propôs a fuga ao Mestre. Sócrates, porém, recusou, declarando não querer absolutamente de-sobedecer às leis da pátria. Preparando-se espi-ritualmente para a morte, tornou-se famoso o diálogo sobre a imortalidade da alma - que se teria realizado pouco antes da morte e foi descrito por Platão no Fédon com arte incomparável. Suas últimas palavras dirigidas aos discípulos, depois de ter sorvido tranquilamente a cicuta, foram: "Devemos um galo a Esculápio". É que o deus da medicina tinha-o livrado do mal da vida com o dom da morte. Morreu Sócrates em 399 a.C. com 71 anos de idade.

UM DIA DE VIDA

   Que fazer se nos resta apenas um dia de vida? Vinte e quatro horas. Nenhum minuto ou segundo a mais. Um dia inteiro, com nascer e pôr do Sol incluídos. Anoitecer e amanhecer. Um ciclo completo. Que fazer? Sentar na beira da cama e chorar? Lamentar o tempo desperdiçado? Amaldiçoar a vingança não executada ou o bem não praticado? Lamentar a vida não vivida, os amores perdidos, a mulher não amada, o amor não correspondido, a cerveja não bebida, a vida ferida, fodida ou parida?
   Luz e sangue. A opressão no peito, a procura pelo ar que não mais existe. Um hausto de ar, mais um, mais luz, Goethe*. Os valores não valem mais nada. Moral, ética, dólar, cotação da bolsa, estética. A morte é a falta de estética da vida.
    Lutei tanto, sofri tanto, trepei tanto, e não senti no entanto, o tanto de prazer que me daria um dia. Um dia a mais. Só unzinho. Por todos os deuses, eu mereço. Mas, o que há? Perdi o dom da fala ou os deuses ficaram surdos? Ou terão sido sempre surdos? Angústia hamletiana, que só faria sentido se houvesse resposta. Mas não há respostas. Só perguntas. O tempo passou e com ele a vida. E eu não percebi.
   É essa a tragédia. Todos nós temos o nosso último dia de vida. E tal qual a vida toda, não temos a mínima ideia do que fazer com ele.

* Goethe teria dito ao morrer: “Mais luz, mais luz”...

quarta-feira, 26 de maio de 2010

A LESTE DO ÉDEN



O primeiro registro oficial que se tem da existência da água está no Gênesis, capítulo I. Diz assim: “No principio, Deus criou os Céus, e a Terra era informe e vazia. As trevas cobriam o abismo, e o Espírito de Deus movia-se sobre a superfície das águas”. Depreende-se daí, que desde o início da criação, na visão judaica, a água e o Divino têm tudo a ver. É como se dissessem: respeitemos a água, porque foi a partir da viagem do Espírito do Todo-Poderoso sobre a sua superfície, que tudo começou.
Deus, ainda segundo o Gênesis, disse também: “Haja um firmamento entre as águas para mantê-las separadas uma das outras. Deus fez o firmamento e separou as águas que estavam sobre o firmamento. Deus chamou Céu ao firmamento. Assim surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o segundo dia, Assim está escrito.
Note-se importância da água. Antes da própria luz, ela já existia. A Bíblia não se esquece de dar explicações acientíficas dos tempos em que foi escrita. O caos primordial é imaginado como uma mistura da Terra com as águas eternas. Deus é o grande ordenador, que separou as águas das águas e a terra das águas. O homem só aparece no fim, após a criação dos animais, cada um segundo a sua espécie.
Foi então que houve o grande erro. “Façamos o homem à Nossa imagem e semelhança, para que domine sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre todos os répteis que rastejam pela terra”, disse o Todo-Poderoso. Não há registro que tenha dito, dominai uns sobre os outros, e que o homem que Eu criei seja o lobo de si mesmo. Governo e tutela são invenções tipicamente humanas, que só aparecem depois da degeneração do homem.
Deus também disse, após ter criado o homem: “Não é conveniente que o homem esteja só: vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele. E então, após ter formado da terra, todos os animais dos campos e todas as aves do céus, adormeceu profundamente o Homem, e dele fez a Mulher. Foi quando Haendell tocou pela primeira vez, em escala universal, o seu Halleluyah. Foi também quando te vi, pela primeira vez, minha amada imortal.
A leste do Éden fica a África negra. Foi para lá que te conduzi, após perder o Paraíso, porque o meu paraíso era tu. Foi de lá que, muito tempo depois que o Dilúvio tinha lavado todos os meus pecados, e Deus restabeleceu sua aliança para conosco, foi que te dei a primeira aliança, que carregas até hoje. Tuas argolas de metal amarelo, dizem que a aliança ainda existe, e que a usarás para todo o sempre, até mesmo quando o Universo não mais existir.
Ao concluir toda a sua obra, o Senhor Deus descansou no sétimo dia. Eu, porém, não descansarei jamais. Quando recebi a ordem de descansar também, no sétimo dia, vi que isso era impossível. Como descansar, pensei, se há tanto por fazer, há tanto por amar? Foi por isso que, tal qual o navegante negro, vim para as costas do Brasil. Atravessei os sete mares e os sete rios, até chegar ao Paraíso das tuas delícias, à margem do mais belo dos rios. Mas, o lobo de mim não permite que eu descanse. Por inveja, polui meu rio, destrói minhas florestas e envenena meus ares.
Mas hei de sobreviver. Enquanto estiveres comigo não serei vencido. Ainda tenho esperanças de que Ele refaça o meu Éden primevo. Quem sabe, se ao invés de Gheon, Tibre e Eufrates, prefira O que me criou, o Amazonas? Quem sabe? Tenho esperanças de que assim aconteça, quando luz e água se confundirão contigo. E então, iluminado e limpo de todos os meus pecados, dedicarei minha vida à função sagrada de te adorar, porque foi para isso que Ele me criou. E se não foi, deveria ter sido.

O CANTO DO CISNE

Deslizou pelas águas plácidas e um véu de tristeza encobriu seus olhos. Sabia que nunca mais veria aquela paisagem de sonho, aquele verde que cobria as margens do lago em que vivera durante tanto tempo. Pensou nas pétalas das flores que se debruçavam sobre o lago, e que caíam, quando chegava o tempo das flores caírem. Se as árvores ficavam menos belas, o lago, em compensação, enchia-se de mil variadas cores que só as flores primaveris têm.
Pensou em quantas primaveras passara ali, e esboçou um sorriso. Pensou nos verões da sua adolescência, quando os hormônios da juventude o levaram a cometer loucuras mil, e pensou que fora um tempo perdido. Tempo bom, era o da quase senectude que finalmente atingira. E pensou que, no inverno da sua existência, apesar de todas as fêmeas que lhe povoaram o caminho da vida, é que tinha encontrado a sua metade, aquela que fazia com que finalmente, após tanto tempo, se sentisse um ser por inteiro, aquela que lhe fora prometida pelos deuses das águas, quando sequer suspeitava, que estava destinado a nascer para reinar, soberano sobre todos os da sua espécie.
E perdido nos pensamentos, que tal qual um filme antigo, rodavam devagar nos olhos da sua imaginação, não a viu deslizar, vinda da outra margem do lago, na sua direção. O filme interrompeu-se para que ele pudesse apreciar na sua plenitude, aquela fêmea de beleza ímpar, que fizera com que o seu coração batesse mais forte, e voltasse a sonhar e a sentir sensações que julgara sepultadas para sempre, no lodo da vida que deixara para trás. Sorriu mais uma vez, mas era um sorriso diferente. Nem Salomão, em toda a sua glória, tivera tesouro mais precioso. Negra e bela, o sol coruscava, quando refletido na plumagem de ébano que lhe recobria o corpo, como se fosse uma rainha de Sabbah mil vezes mais rica e bela.
Foi nesse momento que sentiu no peito, a dor dos que amam demasiado, e sabem que a vida se lhes escapa nas dobras do tempo. E então chorou. Chorou e cantou. As lágrimas, apenas duas pérolas translúcidas, que tombaram dos seus olhos tristes para o lago belo e insensível. O canto, seu último canto, seu canto de morte, ecoou por todo o lago, subiu as serranias próximas e perdeu-se na imensidão dos céus.
Era o sinal para que os deuses abrissem as portas do paraíso, destinado aos cisnes que amaram como só os cisnes podem amar entre todos os seres vivos. Quando finalmente o belo exemplar negro de cisne fêmea chegou até ele, encontrou apenas um corpo branco, como nenhum outro cisne branco conseguira ser, desde que o Grande Cisne criara o Universo, sobre o lago que ondulava tristemente, como que movido por uma compaixão inexplicável.
E como era negra, bela e fêmea, pensou distraída e conformada que era destino dos cisnes velhos morrerem, quando era chegado o tempo dos cisnes velhos morrerem. Não sabia que tinha sido ela, em realidade, a coisa mais importante que ocorrera na vida daquele ser majestoso, que fora um dia o rei do lago. Não sabia que os cisnes só cantam uma vez na vida. Exatamente quando sabem que é chegado o momento de partir para nunca mais voltar. Não sabia que tinha sido ela, seu último sonho, sua última quimera, o seu último e verdadeiro amor.
E por não saber, afastou-se dali, deslizando negra, altiva e bela, na direção de um jovem cisne que a esperava do outro lado do lago.

PARA QUE TUDO ACONTECESSE

Para que tudo acontecesse, foi preciso que eu te encontrasse, foi preciso que tu existisses. Para que existisses, foi preciso que teus ancestrais tivessem vindo de há muito do coração da Mãe África para outras terras, outros povos, outros costumes, outras línguas, e misturassem seu sangue ao sangue desses povos estranhos, de pele diferente dos da tua raça.
Mas, muito antes, foi preciso que os primeiros hominídeos descessem das árvores e produzissem um novo animal. Esse animal, muito tempo depois, receberia o nome de homem. Fico imaginando, a solidão do primeiro ser que teve a consciência do próprio existir, e sentiu-se tão pequeno, tão diminuto, tão ínfimo, diante da imensidão do Universo. Aterrorizado, quem sabe, imaginou um ser Todo Poderoso que lhe ouvisse as angústias.
Eu, tal qual aquele primeiro homem, sofro da solidão mais absoluta dos que sabem que não existem palavras que possam exprimir quanto dói estar sozinho, quando não se tem deuses para adorar.
Mas, para que tudo acontecesse, foi preciso que, antes dos primeiros homens e dos primeiros deuses, que o espírito de Deus deslizasse por sobre a superfície das águas. Mas, antes que as primeiras águas existissem, foi preciso que toda a matéria existente antes de tudo, se unisse num só bloco e explodisse, há 15 bilhões de anos luz.
Dessa explosão cósmica, mais poderosa do que tudo o que poderia ocorrer depois, pois nada ocorreu antes, foi que nasceu o meu amor por ti. Naquele tempo,, quando nada existia, exceto a massa informe de tudo o que há, eu já dançava contigo nas estrelas que ainda estavam por ser criadas, o Bolero de Ravel. E ainda que não creias, depois de todo esse tempo, continuas linda, como se o tempo não existisse. Foi assim que tudo aconteceu, ainda que ninguém creia, o que é irrelevante.
Certas coisas não ocorrem para que se creia. Ocorrem apenas, porque assim está escrito nas estrelas.

terça-feira, 25 de maio de 2010

O ASSESSOR DO VEREADOR

Sarah Bernhardt, a maior de todas as estrelas que passaram pela Comédie Française, certa ocasião, referindo-se às pessoas de pouca importância, mas que se dão ares superiores, chamou-as de "sargentos da vida".
Queria dizer, naqueles tempos em que generais e marechais de França desmanchavam-se à sua presença, ao seu olhar, aos seus olhos e principalmente à sua arte, que eles, na sua imponência, eram muito mais simples do que as patentes inferiores, suboficiais que arrotavam uma importância que não possuíam.
Realmente, quem se dá muita importância, é porque não tem nenhuma. Os verdadeiramente grandes, são afáveis, simples, cordatos, tranquilos, humildes, não a humildade da subserviência, mas a humildade característica de quem não se deixou picar pelo inseto do orgulho
Napoleão, conta-se, passou horas no posto de sentinela, ao encontrar dormindo, vencido pelo cansaço, o soldado que deveria estar atento, vigiando as trincheiras inimigas. Não o castigou. Soldado, ele também, sabia que contra o sono não há resistência.
Soubéssemos nós que o sono é o morrer na certeza da ressurreição, quantos de nós desfrutariam desse prosaico prazer, que só é sentido depois do acordar? A importância que nos damos sem nada sermos, chega a ser insolente.
Jesus era a humildade personificada. Ghandi, dele se disse que as futuras gerações jamais acreditariam que tal homem pudesse existir tamanha a bondade e pureza de seu coração.
Temos o mau hábito de achar, que o idiota deste lado do rio é superior ao idiota do outro lado do rio. Arrogância, orgulho e preconceito andam de mãos dadas. Esquecemos muitas vezes, que quem preconceitua, prejulga e precondena.
Tenho conversado com grandes homens que são exemplos de cordura. Eu que não sou tão simples assim, pois às vezes atribuo-me uma importância que não possuo, tenho tido este raro privilégio. E aprendido com ele. A vida é um eterno aprender. Uma lástima que tão poucos de nós o consigam.
A propósito, há dias encontrei um vereador furioso. Resfolegava como uma locomotiva antiga. Movido à lenha, soltava fumaça pelas narinas, como se fossem elas chaminés emborcadas. Puxou-me de lado e confidenciou-me o motivo de tamanha indignação: Um secretário municipal não pudera atender de imediato, um assessor seu.
Assessor, como todos sabem, é aquele sujeito importantíssimo que atende também pelo mimoso apelido de "aspone". Um "aspone" sabe-se, é infinitamente superior ao "asponin", que nada mais é que um "aspone" interino.
Mas, voltando a Sua Importância Real, o vereador,
continuando a destilar toda a raiva que lhe era possível, esbravejava: - "Já pensou, amigo Carlos, não recebeu o meu assessor!".
Depois, olhando-me nos olhos, angustiou-se e perguntou: - Será que ele não percebeu que o meu assessor era uma autoridade? Afinal de contas, trata-se de um assessor de um vereador...
Deixei-o na dúvida quanto à importância do assessor e fiquei matutando com os meus botões. Ainda sou um matuto. Daqueles que matutam com seus botões. Fui embora pensando na importância daqueles que não tem a menor importância.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

VINDE A MIM AS CRIANCINHAS

Atenção. Se existe algum mérito em mim, é o de aproveitar este espaço, que fala de uma antiga lenda árabe. Trata-se do diálogo travado entre dois amigos que viajavam pelo deserto. Num dado momento, há uma discussão entre ambos, e um esbofeteia o outro. O ofendido, sem nada poder fazer escreve na areia o acontecido. Aí começa nossa história. Mas, o melhor a fazer não é ficar falando dela, e sim ir direto a ao assunto. Portanto, boa leitura e melhor ainda, reflitam todos os que lerem este texto, ou dele tiverem conhecimento, pois nos ensina como viver em paz com Deus, conosco e com o mundo.
Escrito na areia: “HOJE, MEU MELHOR AMIGO ME DEU UMA BOFETADA NO ROSTO. Seguiram adiante e chegaram a um oásis onde resolveram banhar-se. O que havia sido esbofeteado e magoado começou a afogar-se, sendo salvo pelo amigo. Ao recuperar-se, pegou um canivete e escreveu em uma pedra: HOJE MEU MELHOR AMIGO SALVOU MINHA VIDA. Intrigado, o amigo perguntou: POR QUE, DEPOIS QUE TE MAGOEI, ESCREVESTE NA AREIA E AGORA, ESCREVES NA PEDRA ? Sorrindo, o outro amigo respondeu: QUANDO UM GRANDE AMIGO NOS OFENDE, DEVEMOS ESCREVER ONDE O VENTO DO ESQUECIMENTO E DO PERDÃO SE ENCARREGUEM DE BORRAR E APAGAR A LEMBRANÇA. POR OUTRO LADO, QUANDO NOS ACONTECE ALGO DE GRANDIOSO, DEVEMOS GRAVAR ISSO NA PEDRA DA MEMÓRIA E DO CORAÇÃO, ONDE VENTO NENHUM EM TODO O MUNDO PODERÁ SEQUER BORRÁ-LO.”
A lenda árabe, é muito semelhante àquela que o RABI nos ensinou, quando conviveu conosco nesta pérola azul, chamada planeta Terra. Esse homem extraordinário, chamado Yeshuah na Sua língua natal, o aramaico, também nos ensinou a suprema lei do perdão, que insistimos, dois mil anos depois, em não aprender e muito menos praticar. O desejo de etrna vingança não sai dos nossos corações, e por isso passamos a vida a nos envenenar a nós próprios, porque o ódio é apenas um veneno que acaba por destruir aquele que o guarda no seu coração. Quando Ele, o Messiah, disse “Vinde a Mim as criancinhas, com certeza, não quis dizer que apenas as crianças habitariam o reino dos céus. Acredito piamente que quis dizer que, no momento em que os nossos corações forem puros e inocentes como o das criancinhas, todos teremos a chance que Ele veio nos oferecer, que é a possibilidade da eterna salvação.
No entanto, insistimos no ódio, na inveja, no desejo de dominar outros homens, o que não é normal nem desejável, na medida em que todos nascemos livres e iguais.
Não esqueçamos que, Aquele que tudo pode, também tudo vê. E se tudo vê, verá as boas ações que nossos corações, podem praticar. E quão lindo e suave será o dia em que todos nós aprendermos a lição maior que Ele nos deixou: “Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei.” Paz para todos. Shalom.

NOTAS POLÍTICAS

SUPLENTE DE PESO

1 - Demais concorrentes ao Senado andam preocupados com o inesperado crescimento de intenção de votos de Papaléo Paes (PSDB), até pouco tempo considerado como fora do jogo eleitoral. Dizem que, entre outras razões, é por causa do seu suplente, Josiel Alcolumbre, empresário peso pesado das comunicações.

VIP

2 - Atenção senhoras e senhores! Os clarins estão tocando para anunciar a iminente chegada ao Amapá, do senhor Júlio Cezar Da Câmara Ribeiro Viana, presidente do PHS (Partido Humanista da Solidariedade). Convenhamos que não é todo dia que o Amapá tem a honra de receber personagem tão importante no cenário político nacional.

3 - ALIADOS COM RAZÃO

Antonio Nogueira optou por ataques ao Judiciário. Na contrapartida, aliou-se a João Capiberibe. Tem toda razão ao agir assim. Ambos tiveram mandatos cassados. E os motivos, se não forem iguais, são semelhantes.

JEITINHO BRASILEIRO

4 - Aqui pra nós, e que ninguém nos ouça, mas se o Projeto Ficha Limpa, depois de aprovado no Congresso for sancionado pelo presidente Lula, os ficha sujas vão dar o jeitinho deles de mandá-los para as calendas. E até as eleições de 2012, eles já terão tido tempo de transformar o projeto em tábua de pirulitos. A conferir.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

A FORÇA DO MAL

Quando Deus se arrependeu de ter criado o homem, pois todos os pensamentos e desejos humanos tendiam para o mal, Seu coração sofreu amargamente. E disse então: “Eliminarei da face da Terra o homem que Eu criei, e juntamente com o homem, os animais domésticos, os répteis e as aves dos céus, pois estou arrependido de tê-los feito.
Pobre Deus, não sabia que os filhos de Caim sobreviveriam através dos filhos de Noé. Maledictum. Vivemos sob este signo. Nossa maldição é não conseguirmos ser a imagem de Deus, não uma imagem de barro, pedra ou carne, mas na Sua vocação de dominar e transformar o mundo, porque mesmo vivendo sob os ensinamentos de Cristo, Buda, Brahma ou Tupã, não conseguimos reprimir essa onda de mal que brota do nosso interior como erva venenosa, como planta espinhosa, sempre pronta a derramar o sangue de quem a toca.
O problema parece estar na existência, mitológica, é claro, da árvore do Bem e do Mal. Ao comermos o fruto proibido nossos olhos se abriram e isso nos envergonhou. Pelo visto, não o suficiente, dado o mal excessivo que continuamos a praticar.
A corrupção avança desde os albores da humanidade. Primeiro foi a revolta de Adão contra Deus, depois, o homem revoltou-se contra o homem, finalmente, os filhos de Deus, vendo que as filhas do homem eram belas, escolheram entre elas, as que bem quiseram e as tomaram para si. Eram as forças do mal saindo de sua esfera para misturar-se com os mortais. É quando aparece o caos, é a desordem cósmica.
E a evolução da corrupção continua. Agora, é a desordem social, econômica, moral, racial e política que infelicita o homem. Deus tentou lavar a desordem com o Dilúvio. Nós, estamos treinando arduamente, testando o fogo nuclear que, quem sabe, nos consumirá a todos.
Pobre Deus, repito. No início da Criação, não sabia que as coisas vivas , feitas para o bem, gerariam subprodutos  microcóspicos que O vingariam mais que mil dilúvios. Esses vírus estão à solta e em volta de todos. Todo o cuidado é pouco. Mas, tal qual os habitantes de Sodoma e Gomorra, não nos apercebemos de nada. Nossa maldade inata transformou, degradou a natureza, e esta não perdoa nada.
A Terra existirá, mesmo quando não mais existir o homem. Convém não esquecer que toda a carne segue a senda da corrupção. Aí está a parcela expressiva da classe política, que não me deixa mentir.

QUOUSQUE TANDEM...?

Marco Túlio Cícero, filósofo, político retórico e, acima de tudo, orador; dito o maior de todos os tempos; nasceu perto de Arpinum, em 106 a. C. No ano 67 a. C., escreveu suas célebres verrinas, contra Verres, o dilapidador do Erário Público.
Entre seus outros méritos, incluem-se os famosos pronunciamentos intitulados Catilinárias que ainda hoje empolgam os ânimos de quem ama a Oratória. Assim foram chamados os discursos que pronunciou contra Catilina, general romano conjurador. Por causa disso, foi chamado de "Pai da Pátria". Sua obra é vasta. Escreveu, entre outras, além das Catilinárias, Pro Quinctiano, e depois, as Filípicas, contra Marco Antonio e sua esposa Fúlvia. Escreveu ainda: De Inventione, De Oratore, De Legibus, De Natura Deorum, Paradoxa, De Fato, De Oficiis, De Senectute, etc.
Mas, voltando às Catilinárias, seu primeiro discurso contra Catilina começava assim: "Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra (Até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência).
Hoje, mais vez, é necessário que digamos à classe política, salvo as exceções que sempre as há: "Até quando, senhores da política, abusarão da nossa paciência? Até quando, tal qual um bandos de Verres, continuarão dilapidando o Erário Público? Até quando continuará a sucessão de escândalos que abalam, sucessivamente, todos os poderes da República independentemente de seus escalões? Até quando seremos obrigados a cheirar o odor fétido da corrupção mais deslavada que emana dos porões da política e das instituições ditas públicas? Quando será que o artigo 5° da Constituição será respeitado na sua integralidade, quando afirma que "todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza." Ou será que esse artigo constitucional vale só para nós, o povo, e não para os senhores que nos dirigem encastelados em seus feudos?
Como dizia Cícero há mais de 2000 anos: "Até que ponto, senhores, se arrojarão em suas desenfreadas audácias? Será que não vos abalam o temor do povo e o concurso de todos os bons cidadãos"? Não percebem os senhores que seus planos estão descobertos e que suas maquinações não prosperarão, porque o povo está cansado de tudo isso?
Enquanto houver os que vos defendem, porque são da mesma laia, do mesmo grupo e da mesma corja, os senhores viverão como nababos, como sobas, como marajás, aumentando a seu próprio critério, seus enormes e imerecidos salários e outras vantagens. Mas saibam que muitos olhos os vigiam e muitos ouvidos prestarão a atenção em suas atitudes e em suas palavras, e por causa disso, não está longe o dia em que os senhores serão deletados do reino da política, através da única arma capaz de realizar esse sonho do povo brasileiro: o voto.
A coisa é tão grave e tão antiga, que podemos flagrar o profeta Habacuc em pleno diálogo com o Todo Poderoso, segundo o Antigo Testamento, perguntando ao Senhor dos Exércitos: "Até quando Senhor, clamarei por Vós sem que me escuteis"? Por que me mostrais o espetáculo da ini-quidade, e contemplai Vós mesmo esta desgraça? Diante de mim só vejo opressão e violência, nada mais que discórdias e contendas. Por isso, a lei perde sua força e não se acha mais a justiça. Por que o ímpio prevalece sobre o justo e o direito sai falseado".
Tanto tempo depois, pouco ou nada mudou. E por causa disso, pergunto ao nosso todo poderoso senhor do Planalto Central: - Até quando a violência, o crime, o assalto ao Erário, a servidão humana de milhões de brasileiros continuarão em curva ascendente, sem que haja a firme decisão política de acabar com ela ou reduzi-la a patamares mínimos? Até quando a classe política continuará vendendo a ilusão de que o povo governa, de que é o poder, de que nada é mais admirável que a "democracia à brasileira"?
Até quando ainda teremos que suportar o mar de lama que ciclicamente cobre o país, desde os tempos de Getúlio; além de termos que aguentar a presença dos ratos, catitas e ratazanas que infestam tantos gabinetes oficiais?
E tal qual o profeta, pergunto: Por que, Senhor, o ímpio prevalece sobre o justo e o direito sai falseado?
Até que tenhamos respostas convincentes, não seremos apenas um país de Terceiro Mundo. Seremos, antes de mais nada, cidadãos de terceira classe.

terça-feira, 18 de maio de 2010

DE ANJOS E INVEJA

Para os antigos hebreus, anjo significava “mensageiro”. Essa tradução continua valendo, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. No original hebraico, anjo é grafado como “Malakh” e pode ser traduzido como mensageiros e não são todos iguais, segundo a própria Bíblia. Algumas vezes, adotam a forma humana, atuando como mensageiros de Deus, quase sempre para indicar uma missão especial e sagrada. No Novo Testamento anjo é “angelos” e tem o mesmo significado de alguém que porta ou traz uma mensagem. Quanto ao Anjo do Senhor, eventualmente pode ser confundido com o próprio Deus. Normalmente, esse é enviado para julgar e destruir (Ver 2 Samuel 24:16); para proteger e livrar (Salmos 34:7) e orientar e instruir segundo Mateus 2: 13, 19.
Convém não confundir anjos com arcanjos. Estes são uma nomeação especial para aqueles anjos que cumprem missão especial, como a comunicação feita a Maria, mãe de Jesus, que conceberia o filho de D’us.
Segundo Voltaire, o autor do verbete anjo na Enciclopédia Francesa diz que “todas as religiões admitiram a existência dos anjos, muito embora a razão natural não o demonstre”. O certo seria se dizer que muitas religiões e não todas reconheceram anjos. Uma antiga religião de raízes judaica e árabe, envolta em magia e superstições, assim como a dos druidas, a da China antiga, dos citas, dos antigos fenícios e dos antigos egípcios não admitiram os anjos.
Quanto aos brâmanes, orgulham-se de há 5.115 anos ter escrito sua primeira lei sagrada, intitulada Shasta. Só 1.500 anos depois escreveram sua segunda lei chamada Veidam, que significa a palavra de Deus. O Shasta afirma no seu capítulo primeiro que: “Deus é uno; criou o mundo; é uma esfera perfeita sem começo e nem fim. Ele conduz toda a criação por uma providência geral, resultante de um princípio determinado.
O segundo capítulo da Shasta diz que o E-terno, absorvido na contemplação de sua própria existência, resolveu na plenitude dos tempos comunicar sua glória e sua essência a seres capazes de sentir e compartilhar sua beatitude assim como servir sua glória. O E-terno quis e passaram a existir. Ele os formou de parte da sua essência, capazes de perfeição e imperfeição, segundo a Sua vontade.
Então está escrito que Ele primeiro criou Birma, Vitsnu e Sib. Em seguida, criou Mozazor e toda a multidão de anjos. Birma foi o príncipe do exército angélico e Vitsnu e Sib seus coadjutores. Eles adoraram o E-terno dispostos em torno de seu trono, cada um segundo sua importância. A harmonia reinou nos céus e Mozazor cantou o cântico de louvor e de adoração ao Criador. E o E-terno se alegrou com a Sua criação.
Mas, e tudo tem um mas, a harmonia que poderia ter durado “ad eternum” assim não aconteceu por causa da inveja. Lembram da serpente do Éden primevo dos hebreus? Pois é, ela, a inveja, se apossou do coração de Mozazor e de outros príncipes dos destacamentos angélicos. Entre esses estava Raabon, o primeiro em dignidade depois de Mozazor. Esquecidos da felicidade de sua criação e de seus deveres, tal qual Lúcifer, o mais belo entre as criaturas de Javeh, rejeitaram o poder de perfeição e adotaram o poder de imperfeição. Fizeram o mal diante do E-terno, desobedeceram suas ordens e disseram: “Nós queremos governar”. Através de promessas sedutoras, aliciaram um enorme número de anjos, e foi assim que surgiu a dor e a tristeza, e o mal proliferou por toda a Terra e por onde mais vá um só ser humano. Foi assim também, que o E-terno, cheio de ira, mandou Sib marchar contra eles, armado de onipotência e preci-pitá-lo do lugar eminente para o lugar das trevas, no Ondera, para ali serem punidos mil anos vezes mil anos.
Anjos como Gabriel, cujo nome significa “soldado de Deus”; Miguel, que é apontado como arcanjo e cujo nome significa “aquele que é parecido com Deus”, além de muitos outros, além de trazerem boas novas, também lutaram, por ordem do que tudo pode, e precipitaram Lúcifer e seus seguidores ao Hades, lugar destinado aos demônios.
Quanta dor, quanta mágoa, quanta raiva, quanto sofrimento, quantos males de todos os tipos e ordens são causados por esse pecado capital chamado inveja, tanto no reino dos céus quanto na Terra. e que é comum naqueles que pensam menos no que já têm e mais no que lhes falta.
Sejamos brâmanes, cristãos, judeus, muçulmanos ou pertençamos a qualquer outra religião, até mesmo entre os autodenominados ateus, tantos milênios depois, a inveja ainda do-mina os homens, esquecidos que só o amor constrói. Afinal de contas, foi o Mestre entre os mestres quem disse: “Amai-vos uma aos outros como Eu vos amei”. E mesmo assim, insistimos em não aprender nada da mensagem divina. Absolutamente nada.

ATRAVESSANDO O RUBICÃO

Nas próximas eleições, quando serão eleitos o presidente da República, governadores, dois terços do Senado e deputados federais, o Amapá viverá, com certeza, a mesma situação de César, em março do ano 49 a. C. quando resolveu atravessar o Rubicão, rio que separava a Gália Cisalpina (atual França), da península italiana. À época, César pronunciou a famosa frase "alia jacta est" (a sorte está lançada). Logo depois guardou sua espada com a qual lutara contra os gauleses chefiados por Vercigentorix, no buraco de uma árvore, a qual só foi encontrada dezenas de anos depois, por um centurião romano chamado Lancirius Escudus, convocado às pressas pelo imperador Otavius, em março do ano 2 d. C. Esclareça-se que, Roma vivia sua fase republicana, e era impensável a possibilidade de um general e suas legiões, atravessarem os portões de Roma.
Na época, os patrícios (cidadãos romanos pertencentes à elite), tinham ojeriza a ditadores, imperadores e outras formas de autoritarismo.
Mas, o que têm em comum, o Amapá, César e o Rubicão, perguntarão perplexos, meus minguados seis leitores? Simples. O ex-senador João Capiberibe, cassado por compra de votos em 28 de abril de 2004 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), terá, ele também, que atravessar o seu próprio Rubicão. Sabe-se que o Amapá está farto do autoritarismo que viveu ao longo de sua história, salvo as exceções de sempre, desde seu primeiro governador, o então capitão Janary Gentil Nunes. E Capiberibe, muito embora afirme o contrário, tem perfil autoritário, sim, de modo que vai lançar-se ao Senado, na esperança de que possa se vingar de Gilvam Borges. Se conseguir seu intento, claro.
Outra pergunta ainda sem resposta: estará ele disposto a, tal qual César, a guardar sua espada e entrar com o espírito desarmado na luta política? Só o tempo responderá a esta indagação. Uma coisa, porém é certa: quem já perdeu mais de uma vez para o mesmo adversário (Waldez Góes), corre o risco de perder outra vez. Outra coisa é certa. Oligarquias são uma tradição planetária. Ainda em 2009, um jornal britânico censurava o Brasil por causa de sua tradição oligarca. Que autoridade têm eles para criticar quem quer que seja, uma vez que, além de imperialistas, alíás tal qual os franceses e outros europeus, uma vez que a rainha Elizabeth II pertence a uma das mais tradicionais e oligarcas famílias da Grã-Bretanha? O ex-senador também pertence a essa mesma oligarquia que tanto critica, muito embora tenha sua esposa na Câmara Federal, um filho na Assembléia Legislativa do Estado do Amapá, sem esquecer a senhora sua irmã, a ex-deputada federal Raquel Capiberibe, hoje aposentada no cargo de Conselheira do Tribunal de Contas do Amapá, nomeada por ele quando governador.
Pensar é preciso. Ou não será preciso pensar? De tal modo que em outubro, pensemos 70 vezes sete, antes de escolhermos nossos candidatos, porque o preço pago pela omissão dos melhores, é sermos governados pelos piores.

sábado, 15 de maio de 2010

TRISTEZA


 Aqueles que amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós”.   A frase, que vem do mais profundo do sentimento popular sobre a tristeza, expressa em palavras singelas, o sentimento de dor, de frustração, da saudade que todos sentimos quando um filho ou alguém que amamos se vai para nunca mais voltar. Nunca mais, talvez seja a frase que mais dói no coração do ser humano que ama alguém. Nunca mais te verei, filha amada, pensa a senhora Maria Amélia Camargo, 63, mãe de Caroline Camargo Passos e avó de Marcelo e Vitória, brutalmente assasinados esta semana em Macapá. Esta avó, tão sofrida, tão magoada pela vida, é a imagem da tristeza que envolveu a todos que de alguma forma têm ou tinham afeto por aqueles que partiram deste mundo, tão precocemente, tão abruptamente, tão violentamente, tão desnecessariamente.
E a sensação geral é de impotência, tanto para a polícia quanto para todos os amapaenses, hoje envergonhados por que foi aqui que aconteceu esse crime brutal e inominável. E até que esses cruéis bandidos sejam apanhados e punidos na mais severa forma da lei, não haverá descanço e nem paz para nós, para os parentes dos mortos, para a polícia, para os governos dos dois estados, Amapá e Santa Catarina.
Que podemos dizer ou fazer, a não ser demonstrar a mais profunda tristeza pelo acontecido, e pedir ao Grande Pai de todos nós, piedade para com esta humanidade tão cheia de pecados, tão corrompida pela maldade, tão nula de bons valores e bons sentimentos, tão mal agradecida ao homem chamado Jesus, que imolou a própria vida para abrir o caminho da salvação e que, dois mil anos depois, insistimos em não ver e não trilhar.
Pobres de nós, seres humanos feitos à base de carbono, tornados vivos pelo divino sopro de Deus, que fizemos a opção preferencial pelo mal, pelo caminho das trevas, desprezando a luz que emana dos céus, e que poderia transformar nossas vidas em algo bendito por e para Deus Todo Poderoso.
De tal modo que, a única coisa que podemos dizer aos parentes dessas pessoas que tombaram sob mãos tão covardes, particularmente à imagem da dor e da mais plena tristeza, a senhora Maria Amélia Camargo é: Não lamente porque suas amadas criaturas se foram para nunca mais voltar. Sorria porque, ainda que por um período tão breve, elas fizeram com que o mundo, o seu mundo, brilhasse com mais intensidade, para a glória do Eterno

sexta-feira, 14 de maio de 2010

BÍBLIA - UM OLHAR DIFERENTE

Poucos livros são tão agradáveis de se ler como a Bíblia¹. Dependendo do perfil do leitor deste livro magnífico, é possível que, eventualmente, cause frustração, raiva, decepção, irritação, porque apesar de todas as suas boas e inúmeras qualidades, é um livro de difícil, muito difícil leitura. Claro que, na contrapartida, causa prazer e provoca a reflexão necessária sobre as coisas da vida e da morte. Quanto à fé, essa é coisa que fica a critério do leitor, porque fé e razão, no mais das vezes são forças conflitantes, mas que podem, eventualmente, andar de mãos dadas.
         Mas, o que a Bíblia dá mesmo, de verdade e praticamente de graça, é instrução. Suas aulas abrangem todas as áreas do conhecimento humano como História, Geografia, Moral, Ética, Estética, Dialética, Direito, Biologia, Química, Física e Matemática. A Bíblia mostra, enfim, o justo e o injusto, o pio e o ímpio, o certo e o errado, a verdade e a mentira, a sabedoria, além de oferecer um prazer de ler como nenhum outro livro, ainda que de excelência máxima pode oferecer. Se bem procurarmos, acharemos o Grande Computador que fará das nossas máquinas eletrônicas mais avançadas, peças jurássicas pela primariedade.
         Tem razão quem afirma ser a Bíblia o maior best-seller de todos os tempos. Mas, perguntarão alguns, se assim é, por que não entra nunca na lista dos mais vendidos? Pela simples razão de que não é necessário. É hors concour.
         É claro que a maioria das pessoas lê a Bíblia por questões religiosas. A verdade, porém, é que seus textos deveriam ser apreciados, também, como simples literatura, pois em termos literários, a Bíblia contém parábolas, provérbios, poemas e longas narrativas. Encontra-se também, nesse livro único, lirismo, para mais adiante encontrarmos ensinamentos e metáforas.
         Para que se tenha uma ideia do que representa esse livro para o mundo, basta dizer que no último século, ou seja. no século XX, suas vendas ultrapassaram a casa dos 2 bilhões de unidades e encontra-se traduzido em 2.167 idiomas e dialetos, além de ser lido há mais de 3 mil anos.     
         Antes de ser impressa e se tornar um livro, é quase certo que a Bíblia já fosse conhecida através de narrativas que teriam sido transmitidas oralmente através de muitas gerações, para só então ser transcrita para pergaminhos. O Antigo Testamento ganhou versão em papel em vários lugares, como a Babilônia, onde viveram os hebreus no século IV a. C., e no Egito, onde foram escravos. Quanto ao Novo Testamento, foi escrito na antiga Palestina, então subjugada pelos romanos, na Síria, na Ásia Menor e na Grécia.
          Bíblia, em grego, significa “livros” e nas religiões cristãs é dividida em Antigo Testamento e Novo Testamento. No caso do povo judeu, que não reconhece o Novo Testamento, os estudiosos se referem a ela como Bíblia hebraica. É o TANACH, sigla formada por três letras: o “T” de Torá (Torah, ou seja, lei, ensinamento, em hebraico). A Torá também tem o significado de Pentateuco, em grego, ou seja, os cinco livros de Moisés (Moshe, Mochê), o “N” de Neviim (profetas) e o “Ch” de Chetubim (escritos). Na Bíblia hebraica pode-se identificar diversos estilos ou tradições. Na primeira, chamada “yavista”, porque se refere a um tempo em que Deus era chamado Yaveh ou Javé, ou seja, a tradição “J”. Posteriormente, Deus foi chamado pelo termo Elohim. É a tradição “E”. Depois veio a tradição “D”, de Deuteronômio e, finalmente, a tradição Sacerdotal, letra “P”, do inglês “Priestly”.
         Mas, o maior questionamento sobre o chamado Livro dos Livros é: quem escreveu a Bíblia? As respostas variam. Para os crentes, trata-se da palavra de Deus, mesmo que transcrita pela mão do homem. Já para os incréus, trata-se de um relato apócrifo, de autores desconhecidos. Por volta do século III, escreveu-se a “septuaginta”, porque escrita por setenta sábios, mais exatamente setenta e dois, uma tradução para a língua dos helenos, onde também se falava, além do grego, uma linguagem popular helenístíca chamada “koiné”. Essa tradução, adotada pelos católicos, é diferente daquela adotada pelos protestantes, que se atém à Bíblia hebraica, mais curta que a outra.   
         Com a adoção do cristianismo pelos romanos, surgiram traduções em latim, então língua oficial da Igreja.  A Vulgata, a mais conhecida delas, foi feita no século V por São Jerônimo (apenas Jerônimo para os não católicos). O nome vem da expressão “versio vulgata”, porque escrita na versão mais popular do latim.
         Mas, se bem prestarmos atenção, a Bíblia hebraica (que se atém apenas ao Velho Testamento) nos fala exatamente do quê? Depende da parte, ou livro. O Pentateuco, por exemplo, é o conjunto dos cinco primeiros livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. O que difere basicamente o povo judeu dos demais povos da época (e muitos dos atuais), é que eram monoteístas. Adoravam um Deus único que não podia ser representado em imagens (ver Lei Mosaica).
         Esse Deus hebraico é, sem dúvida, uma entidade masculina, oposta, portanto à Grande Deusa (Ishitar ou Astarté, símbolo de fertilidade, cultuada no Oriente Médio à época, em função do fato de que viviam numa sociedade patriarcal). Esse era um Deus masculino, mais severo, de desígnios insondáveis, mas onipresente, que interferia na realidade presente e podia, até mesmo, decidir a vitória ou a derrota numa batalha.
         Penso eu, que todos devíamos ler a Bíblia, independente do seu aspecto religioso, mas sim porque é um livro único, que nos fala de personagens fantásticos, a começar por esse Deus Todo Poderoso, que tem qualidades como a onipresença, onipotência e onisciência, ou ainda homens e mulheres da estatura de um Abraão, Moisés, José, Josué, Davi, Salomão, Rute, Judite e Ester, isto sem contar com estilos literários os mais diversos, e verdadeiras aulas de sabedoria.
         Mas, como tudo na vida tem um porém, a grande maioria das pessoas lê a Bíblia apenas do ponto de vista religioso, seja qual for sua crença, e pour cause, muitos de seus tesouros se perdem por causa da visão sectária, por consequência estreita, uma vez que as religiões, normalmente estreitam as mentes que deviam alargar ou libertar.
         Isso, entretanto, não deve impedir que, seja qual for a razão, nos privemos de ler este maravilhoso Livro dos Livros, que só tem a somar, aumentar, alargar o intelecto de quem o lê. E existe objetivo maior em um livro, seja ele qual for?
         É evidente que falar da Bíblia é algo extremamente difícil, porque envolve profundos conhecimentos de ordem religiosa, linguística, histórica, geográfica, moral, ética, artística, filosófica e, suponho, sobre tudo – ou quase - que exista e que deva e mereça ser estudado. E eu, que estou há um milhão de anos do conhecimento de um Sócrates, tudo o que sei, é que não sei absolutamente nada, diante da imensidão de coisas, temas e tudo o mais que há para se conhecer, tenho a pretensão, a ousadia e a ambição de tornar realidade um projeto que será o maior da minha vida e de qualquer outro ser humano, ainda que extremamente sábio, o que não é o meu caso. E que ideia é essa, perguntarão eventuais leitores: simplesmente ler a Bíblia do Gênesis ao Apocalipse, analisando cada item, passagem, narração, feitos históricos, questões de fé e da razão (logos), ditos, provérbios, cartas, relatórios e até mesmo, tentar compreender Deus no conceito da sua imensidão infinita. Nesse caminhar, é necessário que eu aprenda noções mínimas de hebraico, aramaico, latim e grego, além de filosofia, geografia, hábitos e costumes dos tempos em que o homem chamado Jesus (Ieshua) andou sobre a terra e até mesmo sistemas de pesos e medidas da época e seus equivalentes hoje. É necessário, ainda, que especialistas em religiões como o judaísmo, a católica apostólica romana, brasileira e ortodoxas e até mesmo anglicanas e metodistas, além de diversas das profissões de fé protestantes colaborem com seus conhecimentos e entendimentos, eventualmente diferentes do que aqueles que proporei neste livro.
         É importante que o leitor compreenda que, o objetivo desta obra não é converter ninguém a seguir esta ou aquela fé ou até mesmo convencê-lo a não tê-la. O objetivo é tão somente transmitir os parcos conhecimentos que possa eu possuir, porque de nada vale o conhecimento enclausurado, preso, limitado à mente ou ao cérebro de quem o tem. Dividi-lo é preciso. E quanto mais todos os detentores de conhecimentos, sejam eles quem forem, os dividirem, mais o terão e, com certeza, contribuirão para fazer deste, um mundo melhor para todos os seus habitantes. Convém não esquecer que a caridade, exigência maior do Criador de tudo o que há, é simplesmente dividir o que se possui com os despossuídos, seja de alimentos, moradia, afeto, amor e conhecimento.

AS NOVAS SODOMA E GOMORRA

Conta-nos a Bíblia no Gênesis, capítulo 18, versículos 18 e 19, o seguinte: "Pois que Abraão deve tornar-se uma nação grande e poderosa, e todos os povos da terra serão benditos nele. Eu o escolhi para que ele ordene aos seus filhos e à sua casa depois dele, que guardem o caminho do Senhor, praticando a justiça e a retidão para que o Senhor cumpra em seu favor as promessas que lhe fez." E no versículo 20 do mesmo capítulo está escrito que: "É imenso o clamor que se eleva de Sodoma (Sodom, em hebraico), que assim como Gomorra, segundo a tradição, permaneciam nas vizinhanças do Mar Morto e perto do Jordão)" e o seu pecado é muito grande. Eu (o Senhor) vou descer para ver se as suas obras correspondem realmente ao clamor que chegou até mim; se assim não for, eu o saberei.
Nelas, assim como em Adama e Seboim, havia o predomínio da mais completa desordem, corrupção e iniquidade, tendo sido todas destruídas pelo "fogo dos céus". Castigadas com uma intensa chuva de enxofre e de fogo, só alguns de seus habitantes se salvaram: Ló, o sobrinho de Abraão e sua família. Sua mulher, apesar de ter sido avisada para não olhar para trás enquanto fugiam, desobedeceu a recomendação, transformando-se em uma estátua de sal. A cidade de Sodoma é conhecida nos textos proféticos de Ezequiel e do Apocalipse por sua violência contra a justiça.
Diz-nos a Bíblia, ainda, que Abraão, tentando salvar as cidades e seus habitantes, argumentou diante de Deus dizendo: "Fareis perecer o justo com o ímpio? Talvez haja cinquenta justos na cidade; fa-lo-eis perecer? Não perdoareis antes a cidade, em atenção aos cinquenta justos que nela se poderiam encontrar? Não, vós não poderíeis agir assim, matando o justo com o ímpio, e tratando o justo como o ímpio! Longe de vós tal pensamento! Não exerceria o juiz de toda a terra a justiça?" E o Senhor disse: "Se eu encontrar em Sodoma cinquenta justos, perdoarei toda a cidade em atenção a eles."
Mas Abraão, sabendo que contra os deuses toda a cautela é pouca, insistiu: "Não leveis a mal se ainda ouso falar ao meu Senhor, embora seja eu pó e cinza. Se porventura faltarem cinco aos cinquenta justos, fareis perecer toda a cidade por causa desses cinco? E Deus, enchendo-se de paciência que normalmente os deuses não têem, respondeu: "Não a destruirei se nela eu encontrar quarenta e cinco justos." E Abraão, o insistente, ousou falar: "Rogo-vos, Senhor, que não vos irriteis se insisto ainda! Talez só se encontrem trinta! E o Senhor, excepcionalmente paciente, disse: "Se eu encontrar trinta, não o farei." Abraão, entretanto, continuou: "Desculpai se ouso ainda falar ao meu Senhor: pode ser que só se encontrem vinte." - E Deus, já perdendo a paciência, respondeu: "Em atenção aos vinte, não a destruirei. E Abraão, ultrapassando todos os limites, ousou replicar: "Que o Senhor não se irrite se falo ainda uma última vez: "Que será se lá forem achados apenas dez? E Deus, porque conhece os homens mais que eles mesmos, disse: "Não a destruirei se por causa desses dez." O Senhor retirou-se, depois de ter falado a Abraão e este voltou para a sua casa.
Como se sabe, Sodoma e Gomorra foram destruídas, porque lá, Deus não encontrou nenhum justo, além de Ló (Lot, filho de Harã), sobrinho de Abraão, neto de Taré (Tera) e sua família.
Eu, que não sou nenhum Abraão, ouso perguntar ao Senhor dos Exércitos: "Destruireis a nova Sodoma chamada na língua tupiniquim de Brasília, capital do Brasil, também chamado pelo maléfico nome de Gomorra, por causa da perversão dos valores morais que um dia já tivemos? E se achares, sem o exagero de Abraão, apenas dez justos, ainda assim farás perecer toda uma nação que está se afogando no uso e abuso do poder, onde os escândalos não mais são anuais, mas diários; onde o assalto aos cofres púbicos e privados é praticado diuturnamente, onde a prostituição, as drogas, a violência institucionalizada ou não, é constante nos lares e nos bares, nas avenidas, nas ruas, nas esquinas, nas praças, nos becos e vielas deste imenso país, onde tudo parece ser absolutamente comum, a ponto de fazer Sodoma e Gomorra, as originais, parecerem lugares habitados por anjos de candura e inocência absolutas? E se faltarem dois justo, destruirás estas novas Sodoma e Gomorra por causa desses dois?
Até agora não ouvi nenhuma resposta dada pelo Todo-Poderoso. É bem verdade que, tal qual Abraão, sou apenas pó e cinza e não tenho merecimento nenhum para que Javeh se digne ao menos olhar para a minha minúscula pessoa, muito embora, igual aos árabes, acredite que uma formiga preta, sobre uma mesa de mármore negra, dentro da noite escura, Deus a veja, é possível que eu seja menor que um átomo dessa mesma formiga e por isso não ouça respostas ao meu clamor.
E tal qual um novo Cícero, ouso perguntar: "Quousque tandem abutere, Lula, patientia nostra" ("Até quando, Lula, abusarás da nossa paciência?") E a única resposta que ouço é o silêncio tumular, por parte daqueles que tinham a obrigação, não só de nos responder, mas acabar com o atual estado de falta de vergonha patogênica que exibimos no olhar, e na cabeça baixa à qual nos habituamos, cada vez que nos dirigimos ao patíbulo das urnas eleitorais.
E a pergunta que fica sem resposta é "Quousque tandem...?" "Quousque tandem...?" ...

segunda-feira, 10 de maio de 2010

UM ESTRANGEIRO TRISTE

Que era um estrangeiro, nenhuma dúvida. Não o estrangeiro de Camus, não um "stranger in the nigth". Era um estrangeiro que amava. Amava duas mulheres distintas. Estas sim, estranhas uma para a outra, como só as mulheres conseguem ser. As belas mulheres, principalmente. Era um estrangeiro, porque o texto estava escrito em português. Não um belo português. Não um português castiço. Um português sofrível, diria.
O texto, uma crônica triste, como só conseguem ser as crônicas escritas para a mulher que se ama. Como se sabe, mulheres não amam, são amadas.
O curioso, é que uma das mulheres, guardava de forma descuidada, o texto escrito para outra. E ele as amava com o fervor que só os recém convertidos têm, porque é impossível não amar Veneza, assim como era impossível não amar aquela desconhecida a que chamava Princesa de Ébano e Rainha de Sabbah. Até hoje, tantos anos passados desde o dia em que o encontrei (o texto), num banco da gôndola que me transportava pelo Canalle Della Giudecca, numa fria manhã de fevereiro, pergunto-me se o nome do estrangeiro não seria Salomão?
Conhecer Veneza e depois morrer. A frase, rabiscada num canto da página, dava ideia do amor que sentia pela Pérola do Adriático. Talvez por isso, tenha deixado a crônica lá mesmo. Talvez Veneza pudesse entender e perdoá-lo por gostar de outra. Quem sabe o que anda no coração dos homens?
O texto? Bem, tentei reproduzi-lo até onde pude traduzi-lo do seu idioma de amor, para última flor do Lácio, inculta, bela e hoje, um tanto quanto anglo-saxônica.
"Na quarta-feira das minhas cinzas pensei em ti. Pensei em ti e mergulhei na tristeza que me envolveu quando falaste em partir. E pensando em ti, ouvi a Sonata ao Luar, de Beethoven; passeei de mãos dadas com Chopin, em seu Noturno em Mi Bemol Maior; desapareci em meio à grandiosidade de Wagner, em O Crepúsculo dos Deuses; e tentei consolar-me com as Ave-Marias de Schubert e Gonoud. Ouvi toda sinfonia nº. 7 em Mi Maior, de Bruchner, e chorei. Chorei duplamente. Chorei porque senti falta de ti, e porque demorei tanto a te encontrar. Chorei porque sou o que sou, e és o que és.
Mas acima e além do que somos, chorei porque não há medida, não há escala no universo, que possa medir a falta que sinto de ti. Sinto-me um deserto escaldante da febre de amar, e não tenho uma gota sequer do líquido que és, e que me traria de volta à vida, que sem ti não existe. A condição humana me tornou vulnerável e me fez doente. Minha imaginação febril me faz ver-te onde não existes, me faz sentir, cheirar, beber e degustar todo o teu ser, e mesmo assim, isso não me satisfaz nunca, porque quero sempre mais e mais o teu ser, mesmo sabendo que não sou o teu ser, não sou o teu elo perdido, não sou a tua outra metade, o que por certo é estranho, porque és o meu elo perdido, és a minha outra metade, és aquilo que por não ter, me faz tão pequeno, tão menor, tão lágrima a escorrer pelo rosto do amor."
Muitas vezes, tenho lamentado não ser esse estranho, que a poeira do tempo levou.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

ORAÇÃO AOS VELHOS

É claro que este pequeno texto tem tudo a ver com o grande Rui Barbosa, do qual estou a mil anos luz de distância. O que ocorre, é que sou pretensioso demais, por isso a tentativa de escrever, senão como ele, o que é, acredito, impossível, pelo menos tentar já me satisfaz. Daí porque sua Oração aos Moços ser a minha inspiração.
O que quero dizer, é apenas um recado aos ve-lhos que nos dirigem. Mais que isso, é uma súplica, não necessariamente cearense, com o perdão do nosso poeta Catulo da Paixão, Cearense, ele também: Parem de envergonhar nossa juventude, tão carente de bons exemplos, tão necessitados de boas referências, tão perdidos ao contemplar esta selva de corrupção em que nos transformamos, na qual os velhos do meu país chafurdam por vontade e demérito próprios.  
Não esqueçam vocês, que não estamos tão distantes uns dos outros, pois moramos debaixo do mesmo teto, porém,  à beira do mesmo abismo, mas não professando o mesmo credo, a crença de que o poder pode tudo, de que ter e ser são a mesma coisa, de que o vil metal, ainda que nobilíssimo, pode tudo comprar, porque a dignidade do homem honesto não pode ser comprada, ainda que se lhe ofereçam as próprias minas do rei Salomão.
Não esqueçam que ainda aguardamos o milagre da vinda de um santo homem, cuja honestidade esteja acima e além da nossa imaginação para nos governar. Isso, sim, seria um milagre que deixaria os tempos do Velho Testamento pálidos de inveja, quando o próprio Altíssimo conversava e obrava milagres ao vivo e em cores com e para o seu povo.
Não esqueçam, como disse o grande Rui, que não é verdade, como corre o mundo, que "longe da vista, longe do coração", pois sabemos seus segredo, conhecemos suas manhas e seus ardis para ludibriar o povo e para, tal qual abutres, saquearem o Erário, cujos recursos deveriam ser usados apenas e tão somente para benefício do povo. 
O coração da gente vê longe. Podemos vê-los, até mesmo quando estão ausentes. Se no fim do horizonte estivessem, ainda assim, nós o coração do Brasil, os veríamos como são e o que fazem. Por isso, não mintam, não neguem o que são, te-nham a coragem de dizer que têm uma dívida enorme para com o Brasil e os brasileiros e que não têm como pagar essa dívida decorrente dos seus comportamentos, pra dizer o mínimo, inadequados.
Vocês, os fichas sujas, devem ser deletados da política nacional para sempre, porque já abusaram demasiadamente da nossa paciência.
Infelizmente, fizeram vocês de suas vidas, vidas gastas no mal, tornaram-se como velas das quais se retirou a centelha divina. Antes de se tornarem o que são, essa luz banhava todo o espaço político que nos envolve. Hoje, são apenas velas apagadas que enchem de escuridão os céus do Brasil.
As eleições estão à vista e a morte eleitoral os espreita. E se ela ocorrer, não há ressureição possível. Afinal de contas, o que pode haver em comum entre vós e o maior de todos os homens, o homem chamado Jesus?
A não ser que pudessem se arrepender verdadeiramente de seus pecados, porque se assim fosse, o Filho do Pai E-terno os perdoaria, porque perdoar é sua maior característica. E em assim sendo, nós, o povo, os perdoaríamos também.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

EVANGELHOS APÓCRIFOS

É comum que cristãos católicos usem o termo apócrifo para designar os escritos de assuntos sagrados que não foram incluídos pela Igreja no Cânon das Escrituras autênticas e divinamente inspiradas. A doutora em assuntos bíblicos, Maria Helena de Oliveira Tricca, compiladora da obra “Apócrifos”, cita “Os Proscritos da Bíblia” que afirmam: “Muitos dos textos apócrifos já fizeram parte da Bíblia, mas ao longo de sucessivos concílios acabaram sendo eliminados. Houve os que depois foram reincluídos e, durante algum tempo tornariam a partilhar a Bíblia.”
Como exemplo, podemos citar: “O Livro da Sabedoria”, atribuído a Salomão, o Eclesiástico ou Sirac, “As Odes de Salomão”, o “Tobit” ou “Livro de Tobias”, o Livro dos Macabeus, e muitos outros. A maioria ficou definitivamente excluída do Livro dos Livros, como o famoso “Livro de Enoch”, o “Livro da Ascensão de Isaías” e os “Livros III e IV dos Macabeus”.
Mas, a pergunta que ninguém responde é: Quais foram os reais motivos para excluir esses livros das chamadas Santas Escrituras? Há quem questione que os “santos padres” da época se achavam superiores aos Apóstolos e mártires que vivenciaram de perto os acontecimentos relacionados a Cristo e ao judaísmo. E realmente, cabe a pergunta: De que poder se revestiam esses padres, para afirmarem que alguns Textos Evangélicos não representavam os ensinamentos da “Palavra de Deus”? Ou será que contrariavam esses textos, os interesse da Igreja de então? Quem nos há de responder? O certo, é que temos hoje, como consequência, uma Bíblia menor, incompleta, aleijada, porque alguns, na sua arrogância suprema, determinaram que tal coisa podia ou não, ser conhecida pelos que adviriam. Esta, sim, é a lamentável verdade. Pelo menos para mim. Não me cabe culpa alguma se, aqueles que se dizem extremamente religiosos e que, ao meu ver, padecem da obtusidade córnea de que nos falava Eça de Queiroz, limitam-se à aceitação literal dos textos ditos sagrados. Que a Bíblia é um livro absolutamente fantásticos pelas lições de sabedoria que dá a quem a manuseia, nenhuma dúvida. Não à toa é o livro mais editado e lido em todos os tempos e por todos os habitantes deste planeta, simples grão de areia diante da imensidão do Universo que nos cerca.
Mas, voltando aos textos ditos apócrifos, sabemos que existem mais de 60 evangelhos apócrifos como os de Tomé, de Pedro, de Felipe, de Tiago, dos Hebreus, dos Nazarenos, dos Doze, dos Setenta (ver Septuaginta), etc.
Apenas para que se tenha ideia melhor do que foi retirado da Bíblia, basta que se saiba que no início do cristianismo, os evangelhos eram em número de 315, sendo reduzidos a apenas quatro no Concílio de Nicéia, realizado no século I da era cristã.
Há quem acredite que, em relação ao Velho Testamento, a questão só foi resolvida por ocasião do Concílio de Trento. Determinou-se então, que os livros I e II de Esdras e a Oração de Manassés sairiam da Bíblia. Na contrapartida, alguns textos apócrifos foram reincorporados nos livros canônicos como “O Livro de Judite” (acrescido em Ester), “Os Livros do Dragão” e o Livros dos Três Santos Filhos” (acrescidos em Daniel), e o Livro de Baruch (que traz a Epístola de Jeremias”.
Consta, ainda, que os católicos não teriam sido unânimes quanto à inspiração desses livros. No Concílio de Trento, chegou-se ao cúmulo da luta corporal entre adversários, quando esse assunto foi tratado.
Lorraine Boerner (in Catolicismo Romano), afirma que o Papa Gregório, o Grande, declarou que primeiro Macabeus é um livro apócrifo, não sendo, portanto, um livro canônico. Sabe-se também que o cardeal Ximenes, em sua Bíblia poliglota, exatamente antes do Concílio de Trento, exclui os apócrifos e sua obra foi aprovada pelo Papa Leão X.
A propósito, o termo “apócrifo”, significa em grego, “ocultado” e não, necessariamente “falso”, como pensam alguns.
De certo, o que temos hoje, é uma Bíblia que, se de um lado é o maior de todos os livros, poderia ser, também, um livro muito maior nos seus ensinamentos, que basicamente tratam da vida, da morte e de todas as ciências humanas, além de nos contar histórias de homens que foram grandes, enormes na sua humildade, generosidade e na sua sabedoria, além de mostrar, em toda a sua glória, esse homem divino, podemos afirmá-lo, que se chamava Yeshuah na sua língua natal.

UMA GAVETA VELGA

   Sem muito o que fazer, decidi abrir uma gaveta velha. Não devia. Gavetas velhas não deveriam ser abertas jamais. São depósitos dos nossos sentimentos mais recônditos. Alguns tão ve-lhos que a gente nem lembra mais.Dentro da gaveta velha, encontrei uma porta que não deveria ser transposta jamais. É uma porta que conduz ao passado, a um tempo em que a gente não sabia que o futuro existia. E hoje, quando o futuro é presente, o passado fica tão doído, tão triste como só conseguem ser as teias de aranha tecidas pela poeira do tempo. Um tempo que sabemos, não voltará jamais. Não podem ser mexidas. Correm o risco de se desmanchar, se autodestruir.E na gaveta do tempo voltei a te encontrar e chorei. Chorei como só os velhos que ficaram velhos demais conseguem chorar. Com saudade de um tempo tão pleno, tão denso, tão rico, tão promissor, e que hoje vemos, era apenas uma promessa que não se cumpriu, uma semente que não brotou, uma imagem que não se fixou. Ficou envolta nas brumas de Avalon, quem sabe? Que sei eu das lendas do rei Arthur?Mas sei das tuas lendas e das minhas lendas, que pensávamos fossem histórias. Eras tão bonita, que não sei como me esqueci disso. Talvez porque o tempo nos torna feios. Por dentro e por fora. As agressões desnecessárias deixam feridas que o tempo não cura. São feridas que doem demais, doem tanto, que os muito novos não têm como acreditar que tanta dor seja possível. Só saberão do que se trata, quando for tarde demais, e estiverem eles também, velhos demais.
   Quando isso ocorrer, não poderei chorar com eles, porque serei pó, varrido pela planície da eternidade. Se tiver sorte, uma tempestade solar pode conduzir-me para as estrelas. Serei então o pó que rodeia as estrelas, onde tudo está escrito. Até mesmo que um novo amor é possível.
    Mas isso não impedirá que eu sinta uma terrível, uma enorme saudade de mim, uma imensa saudade de ti...