sexta-feira, 30 de julho de 2010

FORD FAMILIAR




FORD FAMILIAR
Diante de tantas notícias que assombraram as montadoras americanas, nos últimos tempos, intensificados pela crise financeira e pelo desenvolvimento sustentável, nos acostumamos a não perceber os seus pontos fortes, as suas vantagens competitivas e as suas competências essenciais. O melhor caso que reúne a prática destes três pilares é a americana Ford. 
O fundador desta empresa familiar, Henry Ford é considerado por diversas publicações especializadas o maior executivo do século XX (algumas escolheram Jack Welch, ex-presidente da General Electric). Foi o gestor que melhor aplicou a técnica do Estudo dos Tempos e Movimentos, tornando-se o grande responsável por mudanças de paradigmas e pela redefinição dos sistemas de produção em diversas indústrias da época e, passou a ser a referência para diversos trabalhadores que perceberam as vantagens de se trabalhar em uma empresa metódica e repetitiva, e com os maiores salários até então, mesmo que tivessem diante de si, um patrão cruel e disciplinado.
Algumas das diversas características do Fordismo, que é muito estudado em vários Cursos de Pós-Graduação Stricto Sensu (mestrado e doutorado), ainda são praticadas e presenciadas, facilmente, em pleno século XXI, em diversas organizações, desde setores mais novos de alta tecnologia, passando por biotecnologia até segmentos mais tradicionais, como os de manufatura.
Ao longo de décadas a Ford passou por momentos turbulentos. A forte concorrência com a líder no mercado americano, General Motors, e posteriormente com a nova detentora do posto, Toyota, os altos custos no sistema de produção, o atendimento as reivindicações dos poderosos sindicatos, as outras unidades de negócios, como a Jaguar, que não apresentavam os resultados esperados, além do avanço dos concorrentes japoneses e coreanos com veículos mais arrojados e focados nas principais tendências mercadológicas e ambientais, tudo demonstrava conspirar contra a empresa.
Com a gravidade da crise econômica, ocasionada pela falência do banco de investimentos americano Lehman Brothers, em setembro de 2008, a Ford demonstrava estar predestinada ao fechamento de suas fábricas. Para os menos pessimistas, as notícias recebidas da divisão da Ford, no Brasil, ainda poderia ser um indício de uma provável reviravolta na matriz que registrava prejuízos por três anos consecutivos. Somente em 2008, o prejuízo foi de 15 bilhões de dólares, um recorde. Cortes de 1.200 empregos foram anunciados na unidade Ford Motor Credit.
A retirada de cerca de 10 bilhões de dólares de suas linhas de financiamento, tiveram como objetivo reforçar o caixa e recusar a ajuda do Governo com o uso de dinheiro público. A Ford ganhou a admiração de milhões de pessoas ao redor do mundo por ser a única montadora a recusar o socorro de 17 bilhões de dólares, retirados do pacote de 700 bilhões de dólares de estímulo financeiro aprovado em outubro de 2008.
A família Ford é dona de apenas 5% de um tipo particular de ações, nos Estados Unidos, o suficiente para que o controle continue sob os descendentes do fundador que foram os principais responsáveis em proporcionar esperanças de tempos melhores a montadora e aos seus milhares de empregados diretos e indiretos, incluindo fornecedores.
Os familiares se uniram e, sem a presença de conflitos, agiram com profissionalismo e sabedoria. Conseguiram implantar um complexo plano de reestruturação dos negócios e dos bens da família. Venderam iates e mansões em diversos balneários nos Estados Unidos e na Europa para compensar os dividendos de mais de 40 milhões de dólares que recusaram a receber.
Receitas foram obtidas de diversas fontes. A Ford hipotecou todo o seu patrimônio obtendo 25 bilhões de dólares. Vendeu a Land Rover e a Jaguar por quase 3 bilhões de dólares. Conseguiu obter empréstimos em torno de 24 bilhões de dólares de instituições financeiras privadas. Para poder prosseguir com o plano, ainda precisou efetuar demissões, fechar fábricas e reduzir os benefícios dos executivos.
Com mais problemas, longe de serem solucionados, pelas concorrentes, e o recall de 9 milhões de veículos que a Toyota está enfrentando em todo o mundo, também foram fatores determinantes para impulsionar o crescimento da Ford.
William Clay Ford Jr., presidente do conselho de administração, e Alan Mulally, presidente mundial, determinaram o fim de 97 modelos de carro, concentrando os esforços em somente 20. Definitivamente a Ford conseguiu um feito, até então impossível de ser alcançado por uma montadora americana, afastar a percepção de que os carros asiáticos, sobretudo os japoneses, serem os melhores e arrematou diversos prêmios, de revistas especializadas, pelos novos carros desenvolvidos.
Em conjunto com a Microsoft, a Ford desenvolveu o Sync, uma tecnologia que permite ao motorista falar ao telefone e acessar as configurações do carro, como rádio e temperatura do ar-condicionado, sem tirar as mãos do volante, superando o OnStar, da concorrente GM, se tornando o estopim de uma revolução tecnológica que está redefinindo toda a indústria automobilística, cada vez mais pressionada pela preservação do meio-ambiente e redução de gases tóxicos.
Após um prejuízo, em 2009, de 14 bilhões de dólares, a Ford divulgou um lucro líquido de 2,1 bilhões de dólares, no primeiro trimestre de 2010, o maior desde 2004 no mercado americano e o maior desde 1977. No Brasil, foram anunciados investimentos de mais de 4 bilhões de reais entre 2011 e 2015.
Tudo indica que, enquanto for uma empresa familiar, a Ford continuará entre as principais corporações e símbolo do poder econômico americano.
Antonio Carlos Moraes
Formado pela Fundação Getulio Vargas.
Consultor de Empresas.

FALANDO DE MULHERES

Não poucas foram as mulheres que mudaram o mundo. Entre elas, é obrigatório citar mulheres de importância fundamental na história dos hebreus, como Ester (Edissa, Hadassa), que de tão bela foi escolhida por Xerxes, rei dos persas, como esposa tornando-se rainha. Seu nome também mantém o significado de “estrela”, aliás, Vênus, estrela da manhã.
   Outro nome importante na história hebraica é o de Judite (Judith), que é a personagem principal do Livro bíblico que leva o seu nome. Foi ela que, com sua enorme beleza seduziu o general assírio Holofernes, inimigo dos israelitas. Participando do banquete para o qual Holofernes a convidou, aproveitando-se da embriaguês do comandante inimigo de seu povo, cortou-lhe a cabeça e a levou para Betúlia. Com isso, os israelitas atacaram os assírios que, sem seu grande líder, fugiram. O nome Judite significa “a judia” e passou a simbolizar as mulheres judias de muita fibra como Miriam, Débora e outras.
Sara, esposa de Abraão é um caso à parte na história dos hebreus, pois teve seu nome modificado por Deus. Seu nome anterior era Sarai. É possível que a mudança do nome, ou seja, a retirada do “i” tenha sido um símbolo provocado por Deus indicando que ela teria um filho, apesar de idade avançada (cerca de noventa anos). De acordo com os costumes da época, Sara, por ser estéril, deu a Abraão uma escrava, Agar. Dessa união nasceu Ismael, considerado o “pai” dos povos árabes.
Raquel, outra grande mulher judia, filha de Labão e irmã de Lia é considerada a “matriarca” dos israelitas. Foi a segunda esposa de Jacó, mãe de José e Benjamin. Jacó a amou desde a primeira vez que a viu, e por ela, trabalhou 14 anos para Labão, pai de sua amada.
   E que dizer de Maria (Miriã)? Foi ela que, ainda adolescente, recebeu a visita do anjo Gabriel que a saudou com as palavras: “Alegra-te, agraciada!” E lhe revelou que seria mãe do Messias, ou seja, o Cristo. 
É claro que existem outras não menos importantes mas, o espaço é insuficiente para contê-las, até porque outras, mais modernas, precisam ser citadas. Por isso, vamos falar de outras, elas também, de importância máxima na história do mundo, como Catarina, a czarina de todas as Rússias; Joana D'arc, a salvadora da França; Golda Meir, a primeira ministra de Israel que levou seu povo à vitória contra os árabes na Guerra dos Seis Dias. Elizabeth, tanto a primeira quanto a segunda, fundamentais na história da Inglaterra; Anita Garibaldi, a gaúcha que revolucionou a vida do grande revolucinário italiano.
Temos ainda que citar outras mulheres que moldaram seu tempo, deixando, de forma indelével, suas marcas como as brasileiras Chiquinha Gonzaga, Tarsila do Amaral, Maria Quitéria, Rachel de Qeiroz, Irmã Dulce, assim como a menina alemã Anne Frank, a argentina Eva Peron, a inglesa Agatha Christie, a pensadora Rosa de Luxemburgo, a química Marie Curie, Irmã Tereza de Calcutá, enfim, a lista não tem fim.
   No caso específico do Amapá, temos grandes damas da educação e das artes como as professoras Deusolina Salles Farias, Aracy de Mont'Alverne, Lindalva, Caty, Ruth Bezerra, Vanda Jucá e  artistas como Niná Barreto Nakanishi e damas como Leila Ghammachi que honram o Amapá e sua história.
Mãe Luzia, mãe de todos nós é capítulo à parte neste pequeno texto. Honra e glória de todos os amapaenses, é o mínimo que se pode dizer desta mulher negra extraordinária, que hoje, todo o Amapá reverencia.
Que sejam louvadas todas as pobres e humildes mulheres que honraram seus maridos e criaram seus filhos debruçadas sobre um tanque de lavar roupas. Suas mãos calosas provam a nós todos que a mulher não pode e não deve vender sua dignidade por trinta dinheiros.
No meu caso particular, minha homenagem especial va vai para minha mulher, dona Antonia, que abaixo de D'us se recusou a me deixar morrer quando andava eu vagando, perdido no Vale da Sombra da Morte.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O MEDROSO

Era um medroso nato. Literalmente, nascera com medo de tudo o que há. E essa foi a sua tragédia. Neste mundo cão não há espaço para os fracos, os covardes, os ineptos, os lentos, os ineficientes, os deficientes, exceto se o deficiente for um leão, que este sim, atemoriza a todos até mesmo quando combalido pela doença ou pelas feridas recebidas em uma vida de lutas pela sobrevivência. Leões atemorizam até mesmo depois de mortos. Poucos são os homens leões. A maioria, apenas ratos, hienas ou vacas de presépio. Aquele homem medroso era uma espécie de rato, daqueles que fogem para seus tugúrios ao menor ruído, que se refugiam, tal qual todo covarde que se preza, no mundo das sombras.
O homem medroso tinha medo de tudo. Medo da luz, medo da escuridão, medo de ficar sozinho e medo de multidões, medo de beber e medo de comer. Tudo podia fazer-lhe mal, angustiava-se. Não suportava a ideia de casar. O que não poderia acontecer-lhe se casasse com uma mulher má? Daquelas que botam azeite quente no ouvido do marido quando ele se entrega aos braços de Morfeu? Não. Mulheres na sua vida pacata e segura, nem pensar.
Mas o destino, ah!, o destino. Talvez nem tenha sido o destino. Quem sabe um demônio? Demônios, como se sabe, têm por diversão predileta, pregar peças em pobres e desavisados humanos. Principalmente dos que tem medo de tudo. E foi por isso que, desavisado, apaixonou-se por uma bela mulher. Daquelas que prometem tudo e realizam muito mais. Daquelas que fazem Messalina parecer anjo de candura e inocência. Só podia ser coisa do "dêmo", diziam, benzendo-se, as velhas beatas e fofoqueiras da pequena cidade em que vivia o homem medroso. 
Foi por isso que o homem que sentia medo de tudo decidiu que era tempo de se ir deste maldito planeta onde tudo o atemorizava. Menos mal que, cônscio de seus deveres, não planejou uma morte rápida. Daquelas tipo tiro na cabeça. Sua fiel empregada doméstica não merecia a tarefa imunda de juntar-lhe os miolos e lavar lençóis, paredes e o piso que ficariam impregnados com parte de seus miolos, ossos, cabelos e sangue. Muito sangue. Preferiu uma morte lenta. Por estranho que pareça, isso não o atemorizou. Sentiu-se até mesmo tranquilo e esboçou um sorriso. Ninguém sentiria sua falta Não tinha, mesmo, nenhuma importância para ninguém. Preparou a cama. Era preciso partir com dignidade, uma vez que vivera a vida de maneira indigna. Não é digno o homem que treme diante de outro homem. E como ele temera e tremera diante dos homens, da vida, de tudo...
Sentou-se à beira da cama recoberta de alvos lençóis, pegou a afiada navalha que comprara para aquele fim e, num rápido golpe viu o sangue, o seu sangue, manchar de rubro a água tépida que colocara na bacia ao seu lado. Não gritou. Sequer gemeu. Sentiu frio. Sabia que o frio antecede a morte. Deu, outra vez, um pálido sorriso e sentiu a escuridão que se aproximava veloz, de seus olhos, de seu cérebro, deletando-o definitivamente da vida e o mandando de volta para o reino do negror absoluto que havia antes de ser gerado num ventre de mulher.
Pobre homem medroso. Merece ele todas as nossas lágrimas, toda a nossa piedade, porque morreu sem saber que ela, a morena dos lábios com sabor de mel de abelha, morreu de velhice, esperando por ele de braços abertos. Morreu sem saber que, para ela, ele era o seu sonho, sua quimera, seu elo perdido, que nunca faria aliança com ela, como é o destino dos homens. Menos dos homens covardes como ele.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

UM HOMEM CHAMADO JOSÉ

Perdido na imensidão do cosmos, um planeta revoluteava em giros tristes e solitários. Ficara assim desde que a solidão o tornou diferente dos demais planetas e das super novas, estrelas cheias de brilho, luz e vigor, que caminham pelo negror do Universo, acreditando que suas luzes durarão para sempre.
Aquele triste planeta, além de não ter luz própria, perdera o pouco que refletia, quando seu guia, o Sol, desabou para dentro de si mesmo, cansado por quatro bilhões de anos de fulgor constante. Quatro bilhões de anos é tempo demais, até mesmo para uma estrela que um dia pensou ser eterna. Ainda bem que pensou errado. A eternidade é cansativa demais.
Mas, aquele planeta já tivera seus momentos de beleza sideral. Consta que selenitas encantados, encantavam suas encantadoras mulheres, cantando melodias tiradas de muito além das nossas limitadas sete notas musicais. Nesses momentos, a Via Láctea quedava-se, muda de prazer, nas noites de Terra cheia.
Dizem também, que num certo sentido, o planeta já tivera uma espécie de luz própria. Fora há muito tempo. Um tempo tão distante, que quase se perdera na história do tempo. Essa luz resultara de uma prosaica história de amor. Não o amor paixão, o amor erótico, o amor cama, o amor frenesi, o amor loucura, o amor orgasmo. Esse não. Esse era o amor diferente. Um amor feito de calma, de ternura, de bem querer, de amizade. Um amor de pureza. Esta é a história de amor de um homem chamado José.
José foi para aquele planeta, o símbolo da humildade e da submissão a uma vontade superior, que não entendia, mas perante a qual se curvava, porque sabia que seu destino estava traçado nas estrelas, muito antes sequer da possibilidade de existirem. Tanto ele quanto as estrelas.
Herdeiro de Davi em linha direta, não conhecia o orgulho ou a ambição. Era, antes de mais nada, um homem simples. Um puro de coração. Talvez tenha sofrido silenciosamente diante da dúvida que um dia, o demônio do ciúme tentou destilar em seu coração. Mas foi só um segundo. Como duvidar da mulher que amara sobre todas as coisas, e que fora escolhida para um destino maior que o seu?
Os anos passaram, José envelheceu e morreu poucos anos depois de seu filho, condenado à morte aos 33 anos. Seu coração sangrou tanto, que por um momento pensou não resistir a tanta dor. Mas crente na recompensa do amor, não vacilou. Acreditou e amou Maria até o final dos tempos que ainda não chegaram.
Uma história antiga, que só os privilegiados selenitas encantados conhecem com detalhes, diz que, se por ventura, em algum lugar, alguém conseguir ver dois cometas brilhantes, lado a lado, verá também as figuras de um homem e uma mulher, de mãos dadas, passeando pelo infinito, enquanto seu filho, Jesus, cuida da administração do Universo.

UM ASSALTO DIFERENTE

A manchete estava lá, na tela do computador. A internet tem dessas vantagens, para quem é bisbilhoteiro profissional, também conhecido na roda dos que se levam demasiadamente a sério como jornalistas. “Gangue de palhaços assalta bar no Reino Unido”, dizia o título da matéria. A fonte era mais que fidedigna: - a própria Reuters, em Londres, dava detalhes do assunto.
“A polícia da cidade de Manchester, no norte da Inglaterra, buscava informações que a levasse a uma gangue de palhaços que assaltou um bar do município.”
Três homens vestidos com fantasias de palhaços, algemaram um gerente e o ameaçaram com uma arma e uma faca antes de escapar com “uma pequena quantidade de dinheiro”. “Essa é uma equipe altamente organizada, que obviamente gastou um bom tempo planejando o assalto”, disse em um comunicado o detetive Darren Shenton. “A gangue fugiu em uma van, e escapou de uma perseguição policial, mesmo se envolvendo em três acidentes no caminho.”
É verdade, no Brasil somos diferentes. Para um assalto bem sucedido, primeiro é preciso se eleger para um cargo qualquer. Depois, é necessário que o cofre seja bem gordo. Mais ou menos no modelito ‘porquinho’ da vovó. É fundamental que o acusado de praticar o furto, desvio, estelionato ou que outro nome se queira dar, alegue inocência até à morte. Se, além de jurar inocência e for acusado depois de cumprido o mandato, é conveniente que diga ser um reles desempregado. É preciso que se leve o eleitor, digo, o leitor às lágrimas. Quem sabe, uma peninha aqui, um pingo de piedade acolá, não se dá um novo cargo eletivo ao acusado? No Brasil, afinal de contas, tudo é possível.
A propósito, mais uma diferença importante entre o povo tupiniquim e os bretões: lá, os palhaços são assaltantes. Aqui, assaltados.

terça-feira, 27 de julho de 2010

UM MUNDO PERFEITO

Como seria o mundo se cumpríssemos, todos, a lei? Sem discussões, sem arrazoados, sem desculpas, sem alegar desconhecimento? A lei existe? Então que seja cumprida. Só isso, sem tergiversações.
Mas, perguntará o leitor. Que leis devemos cumprir, uma vez que existem leis que, se por um lado são legais, por outro, são profundamente injustas? A pergunta é pertinente, pela simples razão de que realmente é assim que acontece. E mais: na sua maioria, deixam brechas, aberturas, furos, por onde passam os desonestos da vida, desde que tenham advogado de competência - e preço - máximos que possam, com habilidade, burlá-las, ficando na impunidade que assola este país desde sempre.
Mas, ainda que pareça utopia, existe, sim, a possibilidade de um mundo perfeito. Um mundo sem violência de qualquer natureza, um mundo sem furtos, roubos, estelionatos, assalto ao Erário e outros modos de surrupiar de outrem, aquilo que não lhe pertence. Existe, sim, um mundo onde um homem não desejará aquilo que não é seu, nem sua mulher, nem seu escravo, nem sua casa e nem nada que não lhe pertença.
É possível habitarmos um mundo onde suas leis podem ser resumidas em apenas duas. A primeira, pode-se dizer: “Amarás a Deus Todo Poderoso (YHWH), de toda a tua alma, de todo o teu coração, com todas as tuas forças e sobre todas as coisas. Ela está presente nas Tábuas da Lei, entregues pelo próprio Elohim a Moisés. Atende pelo nome de “Os Dez Mandamentos”.
A outra, que poderia ser chamada de o undécimo mandamento, foi dada por Jesus (Yeshuah). E é muito simples. Diz assim: amarás ao teu próximo como a ti mesmo.”
Simples, não? Essas leis existem há milênios. No entanto, de forma irracional, insisitimos em não cumpri-las em absolutamente nada.
E a pergunta que se faz necessária é: em assim agindo, temos o direito de reclamar da sorte que temos, dos sofrimentos que padecemos, e do mundo em que vivemos?
A resposta inevitável é: não.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

O DESENCANTO DOS SABIÁS


As coisas acontecem quando menos se espera e nos lugares mais incomuns. O problema é que pouco ou nada nos apercebemos do que realmente ocorre à nossa volta, exceção que abrimos com prazer quase mórbido para as coisas ruins e negativas da vida. É quase inevitável que nos aproximemos para ver de perto, em meio a tantos outros, o cadáver estirado no meio da rua, massacrado por um carro dirigido por um assassino que não será punido nunca. O sangue derramado no asfalto negro nos fascina. É quase como se nos sentíssemos aliviados, por que o morto é outro e não nós, esquecidos no nosso egoísmo, que um dia será a nossa vez. Vivemos absolutamente despreparados para o fato de que um dia qualquer, será o nosso último dia de vida. E quando o momento chegar, diremos, arfantes e angustiados, tal qual Goethe: Mais luz, mais luz. A beleza, essa atinge a pouco de nós. Mas quando somos abençoados e bafejados por ela, é como se um sol suave nos atingisse e iluminasse o lado negro da nossa alma sofrida, é como se todas as cores celestiais nos invadissem a visão e nos transportassem para a ante-sala do Paraíso. E quando o som mavioso do cantar de um pássaro nos invade os ouvidos, todas as células que nos compõem como que param e quedam-se, mudas, a ouvir aquele som que vem do trinar de um passarinho que foi criado apenas para aquele momento de beleza em forma de som. Como estaria a mente de Chopin quando compôs Noturno? Como estava o pianista que a interpretou em Mi Bemol Maior ou a Sonata, dita ao Luar? E que dizer de Wagner quando compôs o Crepúsculo dos Deuses ou o Ouro do Reno? A beleza nos envolve a todos em todos os momentos. É pena que passemos por ela, como os patos passam pelo pelos plácidos lagos nos parques das grandes cidades, sem se permitirem molhar-se, encharcar-se pelo líquido que é fonte de toda a vida que há. Parei para refletir sobre essas coisas dia desses quando, saindo do Tribunal de Justiça da minha cidade, atravessei a rua em direção ao Palácio Governamental. De repente, e eis que não mais de repente, como diria o cronista da página social de um jornal qualquer, eis que sou atingido pelo cantar de um sabiá. Num primeiro momento acreditei estar ouvindo o sabiá da minha imaginação de poeta louco. Mas não, não era imaginação, era real. De repente, o pássaro calou-se. E eu, filho das florestas e caboclo nascido às margens de um rio que deságua no rei dos rios, assobiei imitando o seu cantar. E ele, o sabiá, respondeu-me e por um breve momento conversamos na linguagem dos sabiás. E ele me falou da alegria do nascer do sol e da tristeza de morar numa cidade onde a bulha citadina não permitia que as pessoas o ouvissem. Após isso, bateu asas e refugiou-se numa palmeira existente na entrada do Palácio governamental para dormir o sono dos justos, à espera de mais um dia pleno de sol e beleza. E eu fiquei ali parado, enquanto autômatos humanos entravam e saíam no e do Palácio e os carros passavam, acelerados, levando em seu bojo, outras pessoas que só pensavam em chegar à casa, ligar a televisão e ficar parte da noite, hipnotizados e idiotizados em frente àquela telinha que não produzia nada que valesse à pena, porque todos sabemos que não há sensibilidade e nem vida inteligente no interior das TVs, inventos diabólicos, cujo objetivo é nos causar a pasmaceira em que vivemos mergulhados, enquanto os sabiás cantam, desesperados, tentando nos chamar para o porto seguro da beleza que nos cerca, e que insistimos em não ver, não ouvir e não sentir.

 


sábado, 24 de julho de 2010

UM PLANETA PERDIDO


Era um planeta distante, perdido no meio de milhões de outros planetas habitados na imensidão das galáxias que formam o Universo. Mas, aquele era um planeta diferente, pois que esquecido por Deus. Até o dia em que Ele se lembrou daquele pequeno grão de pó perdido na vastidão do cosmo. E chorou então. Estrelas explodiram aos milhões e sóis não se puseram temerosos e penalizados ante a tristeza Divina. E lembrou-se da ordem que dera não cumprida. Seu Filho, um entre tantos, não descera até aquele planeta longínquo para resgatar os homens que nele viviam. E porque não descera as profecias não se cumpriram. E por não se cumprirem, nunca houve nesse planeta o Natal e nem histórias bonitas como a dos Reis Magos. Nele, nunca houve dezembro, nem árvores cintilantes e multicores. Não houve presépios, nem histórias da Virgem-Mãe. Não houve um lugar chamado Lapônia, nem um homem chamado Papai Noel e suas renas encantadas. E, por causa disso, todas as crianças passavam a noite do Natal que não houve tristes, a olhar fixamente a telinha das ilusões perdidas, seguindo o exemplo do Menino-Deus, que não ouvira a ordem do pai, entretido que estava assistindo televisão.

O LIVRO


Abri o livro e comecei a lê-lo. Antes não o tivesse feito. Nele, vi toda minha vida. Vi coisas que gostei e outras que detestei. Vi as mulheres que rolaram comigo na cama, numa fúria incessante. Vi belas mulheres das quais guardo boas lembranças e outras que antes não tivesse visto. Só amei verdadeiramente duas. Uma na juventude dos meus 17 anos e outra no outono da vida. Desta, guardo lembranças que levarei para o túmulo. Da outra, a lembrança que tenho é a de um rapaz que nada sabia e nada podia, mas pensava tudo saber e tudo poder. Era o dono do mundo. Mas de outras, o que vi no livro da vida foi a sensação de um velho fauno à procura incessante de sua Lolita.
Mas vi, também, a história de um sobrevivente. Aos quatro anos, morando à beira de um rio dos muitos que existem na imensa Amazônia, guardo a lembrança de um menino tuberculoso ao tempo em que o bacilo de Koch era muito, muito letal. Posteriormente, vi o menino tifóide e, anos depois, o sobrevivente da grande gripe asiática que levou para o túmulo centenas de milhares de pobres diabos ao redor do mundo. Problemas aéreos de toda sorte não tiraram minha paixão pela aviação e o naufrágio de uma das dezenas de milhares de embarcações que cortam as águas do grande rio não me tiraram o amor pela vastidão aquática e selvática da minha terra natal. Mas vi, também, nesse estranho livro, o malárico que pedia a morte para cessar a dor, vi o homem turbulento que levou tiros, facadas, porretadas e chifradas. Afinal de contas ainda existem maridos inconformados com o próprio chifre, por incompetência sexual.
No livro da minha vida, vi o marido irresponsável e o alcoólatra, que só encontrava prazer nos bares, onde tudo era alegria, apesar dos pesares. Percorri o país e parte do mundo e vi paisagens fascinantes. Outras, nem tanto. Enfim, vi tanto, sofri tanto e chorei tanto, mas não senti no entanto, o tanto de prazer que tive ao conhecer aquela, cuja lembrança levarei comigo para a eternidade. Na verdade, como diz o poeta, quem passou pela vida em brancas nuvens e em plácido repouso adormeceu, quem não sentiu o frio da desgraça, quem passou pela vida e não sofreu, não viveu, foi apenas espectro de homem, passou pela vida, mas não viveu. E triste daquele que envelhece sem ter histórias para contar. É sinal que apenas passou pela vida, mas não viveu.
Um dia, como diria o compositor popular, quando eu me chamar saudade, não quero choro nem velas, quero uma rosa amarela gravada com o nome dela.
Ainda não viajei a viagem que um dia todos faremos. Quero estar pronto para este momento inevitável. Quando ele chegar, espero que Deus perdoe meus pecados o que acho pouco provável. São tantos que mesmo Ele, na sua bondade infinita não terá ânimo para me perdoar. Quando a hora chegar, quero que uma alma caridosa feche a última página desse livro e o guarde em sua estante. Mas não o leia. Cada um tem seu próprio livro. Alguns, merecem o Prêmio Nobel de Literatura. A maioria, porém, não merece que se passe da primeira página. São livros que contam histórias pífias, cujas páginas - a maioria - estão em branco. Evite-os. Não valem a pena serem abertos.
O fim do livro da minha vida será um plágio de Gabriel Garcia Márquez. “Agora que estou chegando à idade senecta, decidi que era tempo, depois de tanto tempo de abstinência se-xual, telefonar a uma cafetina amiga minha - que me prestou tantos favores nas últimas décadas, ajuda para comemorar meus 90 anos. Queria uma ninfeta para honrar o dia de meu aniversário, eu que há tanto vivia sozinho. Fazia anos que estava na santa paz com meu corpo, dedicado à releitura diária de meus clássicos e meus programas privados de música clássica, mas o desejo daquele dia foi tão urgente que me pareceu um recado de Deus. Pendurei, então, minha rede num canto da biblioteca e me estendi com o peito oprimido pela ansiedade da espera. Foi em vão. Foi nesse dia que parti para o outro lado da vida e, finalmente, encontrei a paz pela qual ansiara tanto.”

quinta-feira, 22 de julho de 2010

J'ACCUSSE...!

É de todos - ou quase - conhecida a expressão francesa “J'accuse” (Eu acuso), um libelo contra a condenação do oficial do Exército francês, Capitão Alfred Dreyfus, pelo crime de alta traição contra a França. A verdade, é que todo o Estado Maior do Exército francês mentiu e conspirou contra Dreyfus, para livrar da condenação, o verdadeiro culpado, o Major Conde Ferdinand Walsin-Esterhazy, que ao fim, acabou confessando sua culpa. Conforme ficou provado posteriormente, Dreyfus era inocente, tanto que após provada sua inocência, foi reintegrado ao Exército no posto de “Chef d’escadron” (Chefe de Esquadrão), sendo-lhe concedida a mais alta condecoração francesa, ou seja, recebeu o título de Cavaleiro da Legião de Honra concedida pelo Pre-sidente da República da França, representado, na ocasião, pelo general de Brigada Gillain.
Muitos foram os que lutaram pela prova da inocência de Dreyfus, como seu irmão Mathieu Dreyfus, o advogado Edgard Demange e até mesmo o Primeiro Ministro Clemanceau, porém, o mais importante de todos, foi o escritor Émile Zola, que publicou seu manifesto J'Accuse, no jornal L'Aurore, edição de 13 de Janeiro de 1898, sob a forma de uma carta ao Presidente Félix Faure.
Poucos sabem, também, que no dia seguinte à execução da sentença de degradação de Dreyfus, o grande cuasídico brasileiro Rui Barbosa, escreveu de seu exílio em Londres “Que faculdade sobre-humana deu àquele homem energia suficiente bastante para sobreviver às emoções incomportáveis dessa provação? Narram as testemunhas atentas ao suplício, que o executado não empalideceu nunca. Os passos não lhe vacilaram. Não lhe tremeu a voz. A cabeça esteve-lhe sempre ereta.” E ainda que apupado pela multidão, por seus colegas de farda, execrado por todos e vítima do preconceito francês e europeu contra os semitas, pois já, naquela época, eram dados os primeiros passos do holocausto judeu nas mãos dos alemães, durante a Segunda Guerra Mundial, quando foram mortos mais de seis milhões dos descendentes de Sem, nos campos de concentração da Alemanha, Rússia, Polônia, Áustria, Tchecoslováquia e outros países, tanto da Europa Central, quanto da Europa Oriental. Até mesmo em algumas nações da Europa Ocidental, os judeus foram - e ainda são - vítimas de discrimnação.
Eu também, mesmo a milhas de distância da competência e valor de Émile Zola, acuso a classe política brasileira, seja a que atua no Legislativo quanto no Executivo e até mesmo alguns integrantes do outrora sacrossanto Judiciário brasileiro, salvo as exceções que sempre as há, de não terem a postura de um Capitão Dreyfus; de não poderem andar de cabeça erguida, de não poderem bradar como bradou o Capitão Alfred Dreyfus: “Sou inocente. Viva a França!” Quero vê-los, senhores donos do poder, bradar também, de cabeça erguida, no meio deste festival de escândalos que assola toda a República Brasileira: “Somos inocentes. Viva o Brasil!”

quarta-feira, 21 de julho de 2010

O SAPO DA PRAÇA BARÃO

Há muitos anos, havia na Praça Barão do Rio Branco, um sapo. Esclareça-se que não era um sapo qualquer. Era um senhor sapo. Um sapo rotundo. Provavelmente, o maior do mundo.
Pois não é que, como tantas outras coisas neste Amapá que já teve, de tudo um pouco, o sapo su-miu! E sumiu prá nunca mais voltar. Se voltou, ninguém sabe, ninguém viu.
   Talvez meus poucos leitores estejam estra-nhando a súbita saudade que me deu de um sapo. Não outro sapo, repito, mas este sapo. Acontece que o sapo em referência, como se diz em li-nguagem burocrática, ficava bem em frente à antiga agência dos Correios, situada na Praça Barão, e era feito de cimento. Não o Barão, mas o sapo, esclareça-se. Era uma escultura. Sem muito valor artístico é verdade, mas depois de um tempo, até mesmo um sapo de cimento pode ser cultura. Se o bum-bum da Carla Perez já foi  cultura, por que não o sapo da Praça Barão?
E agora, pergunto de modo um tanto quanto sherlockiano: onde andará o sapo da Praça Barão? Dolorosa interrogação, porque duvido que alguém saiba.
A mesma pergunta poderia ser feita para tantas coisas que sumiram, ou na esteira do sapo, ou quem sabe, por uma porta do tempo, para outra dimensão sequer suspeitada ainda, como o farol da For-taleza de São José e os leões de bronze do antigo Fórum. Os atuais leões são muito parecidos, mas não são originais, pelo menos é o que presumo. Quem sabe, são clones em gesso dos leões de bronze? Que sei eu de clones e de leões que perde-ram a sua masculinidade?  Estes são leões poucos sérios, porque perderam nas mãos de algum escultor beato - eu disse beato - aquele penduricalho anatômico, na maioria das vezes inservível, que a maioria dos machos carrega apenas para fazer peso.
Na esteira do sapo e dos leões de bronze, foram-se também as palmeiras que ficavam no centro da Praça Barão; os coqueiros que ficavam em frente ao antigo Fórum; os prédios antigos, varridos pelo vento da modernidade, misturado com a burrice patogênica dos que sempre nos governaram; o chafariz da Praça Veiga Cabral, o aero clube, a Assembleia Amapaense, não o Legislativo, mas o clube social e tantas outras coisas que fizeram com que Macapá, um dia fosse chamada de "A cidade joia da Amazônia". Hoje, não somos mais uma joia. Quando muito, uma bijuteria. Própria das zonas francas da vida.
Convém não esquecer que, tudo indica, tenha sumido também na esteira do sapo, dos leões, do farol, da palmeira e dos coqueiros, a nossa antiga vergonha na cara, a nossa honestidade intrínseca, o nosso modo misto de altivez e simplicidade, a nossa fé de que um dia as coisas poderiam ser bem melhores. Tudo foi embora. Não se sabe como nem para onde. Um dia iremos nós também.
Eu, que não sei rezar, às vezes peço aos deuses da chuva que tenham pena dos que nos sucederão. Eles, sequer têm a inocência que já tivemos um dia.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

NÃO É NEGÓCIO!

A triste verdade, é que ninguém resolve os grandes problemas do Brasil - Amapá no meio - porque isso não interessa a ninguém do mundo da política.
Tomemos como exemplo a educação. Por quê a educação no Brasil é tão deficiente? Pela simples razão de que não interessa aos políticos de terceira classe que nos governam, a educação do povo. Currais eleitorais de analfabetos, independentemente de serem analfabetos puros e simples ou com diplomas de primeiro, segundo ou terceiro graus, são muito mais fáceis de serem manipulados. Não fosse assim e o Go-verno Federal, desde sempre, não faria da educação brasileira, esse monstrengo onde professores fingem que ensinam, alunos fingem que estudam, e o governo finge que paga os professores. Salvo as exceções, que sempre as há.
Outro exemplo: Em que pese as declarações do senhor presidente Lula de que as coisas , nunca antes na história deste país e blá, blá, blá; blá, blá, blá, a verdade é que não interessa a ninguém do andar de cima, a solução para o problema da fome que aflige, tortura e mata milhares de pessoas, Brasil a dentro e Brasil a fora todos os anos. Programas como Fome Zero e outras bolsas esmolas, ainda que eivados das melhores intenções e ótimas como discursos eleitoreiros, não resolvem nada porque são, antes de mais nada, cabides de empregos do chefetes políticos "A" ou "B", sem contar que, mais da metade da verba destinada à execução de tais programas, se perde no meio do caminho, graças à incompetência, à má fé e ao desvio de recursos para o bolso de alguém que tem votos aqui ou ali, e precisa ser adequadamente, digamos, lubrificado para que a máquina eleitoreira possa funcionar. Quanto aos famintos, os desgraçados, os miseráveis, danem-se, morram, levem o "farelo". Desde que votem no cacique de plantão, o resto é irrelevante, porque ao poderoso, só o poder interessa.
E é tão fácil resolver esse problema. Uma refeição básica em qualquer restaurante de terceira classe do país custa R$ 5,00. Alimentar apenas um daqueles famintos, daqueles desvalidos da sorte e abandonados à margem da vida, daqueles que não têm de seu sequer um olhar de misericórdia, daqueles que foram abandonados por Deus, pelo Diabo, pelos homens, pelos Exus e pelos deuses da chuva, custa bem menos.
Todos temos dinheiro para festas, carros importados, investimentos nos bancos da vida, gabinetes de luxo, telefones que fazem tudo e até telefonam, relógios de ouro, brincos, diamantes e outras coisas brilhosas e badulaques os mais diversos. Temos dinheiro para beber champagne Dom Pérignon 54, para almoçar em restaurantes cinco estrelas e nos hospedar em hotéis idem. Temos dinheiro para curtir férias em Paris, Londres ou Moscou. Mas não temos R$ 5,00 para pagar um miserável prato de comida para um menino de rua que implora com o olhar vazio, apenas o resto de comida que terá como destino o cesto de lixo. A nossa piedade é ótima para ser demonstrada nas igrejas. Mas ação que é bom, nem a nossa e muito menos do governo. No que se refere a nós, o pro-blema é dos outros, até porque não temos culpa nenhuma no cartório. Como culpa, se a culpa é sempre dos outros. Ou não?
A Justiça julga, condena e pune com o rigor da lei, todos os dias, pequenos traficantes de drogas, os chamados mulas, aqueles que transportam 5, 10, 15 ou 20 gramas de droga, seja ela qual for. Mas os peixes grandes, os tubarões da droga, aqueles que todos sabem quem são, esses ninguém prende, ninguém julga, ninguém condena e muito menos manda para as penitenciárias da vida. E sabem por que é assim? Porque não é negócio.
Outros problemas como excesso de presos nas penitenciárias, saúde de quinto mundo, ausência total de segurança, corrupção e todas as mazelas que os afligem o Brasil e os brasileiros desde e para sempre, não são e não vão ser resolvidos por uma questão muito simples: NÃO É NEGÓCIO! 

quarta-feira, 14 de julho de 2010

DE SOBERBA E BURRICE

Talvez a coisa mais irritante que exista, além da burrice excessiva, seja a soberba. Não à toa, a soberba é o primeiro dos sete pecados capitais.
A definição clássica, diz que soberba é “a opinião elevada ou presunçosa que se tem das próprias qualidades, realizações ou bens”.
A questão de ser a soberba um pecado, ou não, é relativa. Para os gregos e romanos, com certeza não, uma vez que não tinham uma palavra para pecado, um conceito judaico-cristão. Para estes, a soberba é pecado. Para mim, que jogo no time romano, não é pecado, mas é extremamente irritante e, na maioria das vezes, uma demonstração da mais absoluta falta de inteligência.
Talvez isso explique o nariz um tanto quanto empinado de pessoas que nada são e pensam tudo ser, esquecidas que nem a roupa que vestem lhes pertence, pois da própria vida não são donos.
Uma das entidades mais presunçosas que existem é o Diabo. Primeiro porque tentou dar um golpe de Estado no Reino dos Céus, quando ainda atendia pelo nome de Lúcifer e era o predileto do Todo-Poderoso. Como o “putsch” acabou em fracasso total, foi transformado em símbolo de todo o mal que há. Adotou, possivelmente por inveja - outro pecado capital -, o título de Príncipe das Trevas, o que, se por um lado lhe confere um certo ar de elegância, por outro, não deixa de ser algo um tanto quanto presunçoso - exatamente uma das características da soberba.
A classe dita intelectual é de uma presunção, e por extensão, uma soberba, inaudita. Poucos, muito poucos, leram o Paraíso Perdido ou Guerra e Paz, até o fim. Mas ainda não encontrei um só que admitisse o fato.
A fogueira das vaidades grassa no mundo televisivo, possivelmente para comprovar o tal óbvio ululante de que falava Nelson Rodrigues: não há vida inteligente na televisão.
Existe algo mais presunçoso do que a mulher excessivamente bela? Desculpem, bela e burra?
Mas, na classe dos servidores públicos, ditos do primeiro escalão, é que se encontra a soberba em seu mais alto grau.
Ora, o servidor público do primeiro escalão, que na maioria das vezes, sequer serve ao público, é apenas um burocrata, colocado em determinada função pela vontade popular ou pela vontade do cacique de plantão. Pago com dinheiro público, não cumpre, na maioria das vezes, a missão que lhe foi confiada como exigem os bons manuais de conduta profissional e, ainda assim, se acha no direito de ser arrogante, como sói acontecer a quem não é absolutamente nada e pensa ser tudo ou, pelo menos, muito.
Mas, fiquem todos tranquilos. Eu também tenho minha parcela de soberba. Não fosse assim, não estaria aqui, mexendo em letrinhas, tirando o tempo e a paciência dos meus minguados leitores, como se pudesse ensinar algo a alguém.
Faço, portanto, de público, o “mea culpa”. Mas que a soberba, tal qual a burrice, é extremamente irritante, disso não tenho a menor dúvida.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

POR AMOR À LIBERDADE

Foi o pensador, político e grande orador romano Marco Túlio Cícero quem disse: "Somos todos escravos da lei, para que possamos ser livres”. Também foi ele quem disse : "Sou escravo do dever por amor à liberdade”. É isto que nós, brasileiros, ainda não aprendemos: ser escravos da lei e do dever, por amor à liberdade. 
 
Filosoficamente falando, liberdade é a ausência de submissão e de servidão. Humanas, naturalmente. Basicamente, podemos dizer que liberdade tem o mesmo significado de independência. Homens, historicamente, preferiram a morte à escravidão, a servir outro homem que pensa ser superior a outro, um erro primário, porque Deus nos criou à Sua imagem e semelhança para sermos livres e, por via de consequência, felizes.
 

Precisamos entender que liberdade não é um conceito abstrato e que não é algo que se ganhe ou nos seja dado. Liberdade se conquista e é preciso que estejamos eternamente vigilantes, porque quem não luta para conquistá-la, não é digno de tê-la e muito menos de mantê-la.
 

As eleições se avizinham e, mais que nunca, precisamos estar alertas, porque políticos fichas sujas não gostam da liberdade alheia, para que melhor possam se locupletar do Erário Público que, ultimamente, mais parece privado. Ou privada onde deixam seus dejetos imorais, justamente eles, que deviam ser nossos pastores, nossos condutores a um porvir de paz e prosperidade.
 

Escravos, já o fomos por um tempo demasiadamente longo da nossa história. Hoje, ainda que um tanto quanto incipiente, quando comparada com regimes de liberdade com responsabilidade como o vigente há séculos em países como a Ingrlaterra, nossa jovem democracia tem que aprender liberdade é tudo.
 

Mas só nos asseguraremos de que ela, a liberdade, abriu suas asas sobre nós, para nunca mais permitir que as sombras da ditadura enodoem o azul do céu que cobre todos os brasileiros, quando aprendermos a ser escravos da lei, por amor à liberdade.

FALANDO DE HOMENS

Diz a Bíblia que Deus, após ter criado todas as coisas, deixou o homem para o final. Criou-o no sexto dia, à sua imagem e seme-lhança, após o que, descansou.
Minhas divergências históricas com o Criador advêm daí. Não acredito que o homem possa ter sido feito à imagem e semelhança de Deus, por uma simples razão: Deus não pode ser tão feio assim. Mesmo sendo homem, não acho que nós e a estética tenhamos muito a ver um com o outro. Eu, principalmente.
Muito embora se ache o supra sumo da criação, o homem não é lá tão inteligente como pensa, porque vivendo no Paraíso, deixou-se envolver pelos encantos femininos, o que é bom, mas não é sensato.
O preço pago pela bobagem, foi tornar-se mortal e agricultor, o que, historicamente, nunca foi um grande negócio. No Brasil, principalmente. Em caso de dúvida, perguntem à turma do MST.
Não satisfeito, o homem recusa-se desde o primeiro momento de sua existência a cumprir os regulamentos divinos, o que é outro erro. Por isso, mata, rouba e comete todos os pecados possíveis e imagináveis. Resultado: tem cadeira garantida no reino do Inferno.
O homem é de uma burrice tão atroz, que não satisfeito com as próprias limitações que o próprio corpo lhe impõe, criou três instituições especia-lizadas em torturá-lo e interferir indebitamente na sua vida, aprisionando-o definitivamente no cárcere dos regulamentos. Essas três instituições pavorosas, não necessariamente nessa ordem, atendem pelo nome de Família, Governo e Religião.
A sociedade, no geral, cobra do homem, um papel que ele não está preparado para exercer, como o de ser um animal civilizado. De modo que, como dizia George Bernard Shaw, “um homem sem endereço é um vagabundo; um homem com dois endereços é um libertino”. O mesmo Shaw dizia também que “todo homem é um patife depois dos quarenta anos”. E não venham os quarentões dar-se ares de muita importância porque são, sim. Nelson Rodrigues diz o mesmo. Só que prefere o termo canalha, ao invés de patife.
Alguns homens, desde sempre, gostam de dormir com outros homens. Nenhum e nem outro são tão homens assim. A respeito do homossexua-lismo masculino, Ben Bagley, produtor musical ame-ricano, disse, quando perguntado se já tinha ido para a cama com algum homem: “Não. Nenhum deles era homem”. A expansão dos costumes homosse-xuais masculinos fez com que a escritora americana Anita Loos, dissesse que mudaria o título de seu livro “Os homens preferem as louras, se o escrevesse hoje, para “Os homens preferem os louros”.
Mas foi Samuel Johnson quem pôs a pá de cal na arrogância tipicamente masculina ao dizer: “nada é pequeno demais para uma criatura tão pequena quanto o homem”.