domingo, 8 de janeiro de 2012

EU NÃO SABIA

Juro que eu não sabia. Não sabia que viver podia doer tanto. Sabia que doía, que era antes de mais nada um ato de dor. Mas não sabia que a dor podia ser tão grande, tão imensa, tão sem tamanho.
Vida, o que és tu? Se provocas prazer, é tão somente porque sabes provocar dor, muita dor. Mais esta que aquela. A vida bem poderia ser resumida num grande, num imenso grito de dor ecoando pelo universo sem fim.
Morrer-viver. Binômio sem solução e sem explicação. Vim do nada e volto para o nada. Se assim for, pra quê? A salvação existe e a vida é eterna, dizem os crentes. Mas sua única base de apoio é a fé. Nada mais. E D’us sabe, como é difícil crer. Só os que não crêem sabem do que falo.
Mas, voltando à dor, sempre ela, está presente em tudo. E é causada pela violência. O problema é que ela, a violência, está presente em tudo. Se viver é um ato de violência contra a morte, esta é a violência máxima contra a vida. Um simples espermatozóide só engravida um óvulo para formar um ovo que se multiplicará de forma geométrica de modo violento. Não pede licença pra entrar. Entra arrebentando tudo para conseguir seu desejo que é fecundar.
O bebê que nasce é expelido de forma violenta do útero materno, onde vivia em paz, numa agradável temperatura, flutuando e sendo alimentado sem ter que plantar o pão de cada dia com o suor do próprio rosto. Bebês uterinos estão no paraíso e não têm consciência disso. Um dia, são expulsos de forma violenta desse mar de calmaria para um mundo de um frio atroz, debaixo de pancada para que possa respirar, e apanhando – ou batendo – viverá o resto de sua existência miserável. E a dor lá, sempre onipresente como uma parte desse D’us invisível que dizem, domina tudo o que há.
Depois vem o crescimento, as sucessivas separações que são, elas também um ato de dor. Vem a saudade da casa da mamãe, do primeiro e do ultimo amor, do melhor amigo, da terra natal e de filhos que partiram para nunca mais voltar. E com a saudade vem essa dor insidiosa provocada pela vontade de voltar. Lágrimas. É nela que a saudade se banha no chuveiro da dor. E no fim, só o deitar eterno, a volta ao pó, deixando para trás, presume-se, um enorme rastro de dor.
Juro. Eu não sabia que viver doía tanto.








                                  









segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

CRÔNICA DO AGRADECIMENTO

‘ToDa RaBa.’ (תודה רבה) A expressão hebraica, cultura que desperta minha paixão, significa muito obrigado. E este, o objetivo destas mal traçadas linhas. Agradecer, agradecer muito, agradecer sempre por tudo o que meus amigos amapaenses têm feito por mim. Transplantado de fígado e agora, em tratamento de grave patologia renal, cuja superação passa por futuro transplante de rins, num dado momento fui obrigado a pedir socorro. E o socorro veio de imediato, tanto em forma de orações como de ajuda financeira, mesmo. Não há como expressar minha gratidão a tanta generosidade, a não ser pedir ao Todo-Poderoso que esteja presente na vida de todos, abençoando-os sempre, e que Yeshua, aquele no qual se deleita o Espírito do E-terno seja o farol a iluminar o caminho de todos os amapaenses. Estou longe, fisicamente falando. Mas meu espírito não deixará nunca a terra daqueles que falam a minha língua, que são meus irmãos, que torcem por mim e que me completam e fazem de mim o que sou. Meu espírito sempre se banhará nas águas dos rios e igarapés da minha Amazônia natal. Meu paladar sempre sentirá saudades das frutas e dos alimentos que a Mãe- Natureza nos presenteou. Minha pele morena sempre sentirá os afagos dos ares setentrionais. Minha boca sempre exprimirá os sons tucujus e os tambores do marabaixo marcarão o ritmo do meu coração. A generosidade do meu povo é tamanha, que mesmo eventuais adversários políticos comungaram comigo o meu sofrimento e isso não tem preço. É honroso descobrir bons sentimentos em relação nós, em campos que não são os nossos. Eu tive –e tenho - essa honra e isso não tem preço. Meu destino está escrito nas estrelas. Se depender de mim, sairei deste vale de sombras onde estou no sul do meu país. Possível é, pois o D’us de Abrahão, Isaac e Jacob, mais de uma vez me retirou do Vale da Sombra da Morte. Mas, se assim não for, ainda assim não morrerei. Acontecerá apenas que meu General me ordenou que voltasse ao seio da terra, de onde fui gerado, pois sou pó e ao pó voltarei. E apenas, como bom soldado, estarei cumprindo a ordem recebida. E que ninguém chore por mim se assim for, pois estou absolutamente convencido que D’us não erra nunca. Uma coisa é certa: onde houver um amapaense, nos seus ouvidos ecoará um ‘Muito Obrigado’ pleno de emoção. Quem tem a honra de pertencer ao povo tucuju, tem mais que qualquer outro ser humano. Eu tenho essa honra e só posso ser grato por isso. Grato a D’us, grato ao povo amapaense, grato à minha família, grato aos meus amigos e até àqueles que por qualquer razão não me amam. A todos, mais uma vez, muito obrigado. SHaLoM. Carlos Bezerra.
E-mail: jornalista.cbezerra@gmail.com