quinta-feira, 27 de agosto de 2009

TRABALHANDO MENOS


É impressionante a capacidade humana voltada para a preguiça. E nesse quesito, poucos povos são tão vocacionados para “fugir do batente”, como se dizia antigamente, para “não dar duro”, para pegar no pesado, para a moleza, enfim, para não trabalhar.
Agora mesmo, (22 de Agosto de 2009) a Câmara Federal informa que, a Comissão Geral que discutirá a jornada de trabalho no País é o destaque do Plenário na última semana de Agosto. O debate abordará, principalmente, a PEC 231-95, que reduz de 44 para 40 a carga de trabalho semanal.
É claro que os preguiçosos de sempre vão querer linchar-me e esquartejar-me em praça pública por causa deste texto, mas a verdade é que não trabalhamos demais. Na verdade, trabalhamos de menos. Senão, vejamos: este o ano de 2009, terá exatas52 semanas e 1 dia. Isso, sem contar com as 4 horas excedentes, que a cada quatro anos formam o chamado ano bissexto, quando fevereiro tem 29 dias.
Multiplicando-se 365 dias por 24 horas, temos um total de 8.764 horas anuais. Desse total, trabalhando-se apenas 40 horas semanais, tem-se que trabalharemos ao ano, em 52 semanas, apenas 2.080 horas, excluindo-se as quatro horas excedentes, o que significa que do total anual de 365 dias (8.764 horas), trabalharemos, na realidade, apenas 2.080 horas, o que dá um resultado de 86,6 dias, o que nos dá o equivalente a 279 dias de folga. É claro que, desse total, temos que tirar 8 horas de sono por dia (2.920 horas), equivalentes a 121,6 dias, ou seja, aproxidamente um terço do tempo disponível.
Mas, se esses dados ainda não convecerem os mais recalcitrantes, do fato de que trabalhamos pouco, e queremos trabalhar menos ainda, se possível, nada, vejamos outros dados: dos 12 meses anuais, temos direito a um mês de férias, ou seja, 30 dias. Como o ano tem 52 semanas, das quais não trabalhamos mais 52 dias, devido à folga dominical. Como, muitos de nós nao trabalhamos também aos sábados, temos um enorme grupo de privilegiados que não trabalham 104 dias por ano. Mais as férias, vamos, para esse grupo, 134 dias de folga. Levando-se em consideração que mulheres grávidas têm direito a pelo menos três meses de licença maternidade, temos então um grupo que, nesse período anual, não trabalhará por pelo menos, em tese, 224 dias anuais.
É importante ressaltar que não se está discutindo a legalidade ou não dessa folgança toda. O que se tenta demonstrar é que trabalhamos pouco e pretendemos ganhar mais. Não vai dar certo, é claro. O Governo Federal vai continuar, claro, jogando para a plateia, como faz desde sempre. Até porque as eleições se aproximam, e é preciso mostrar às vacas de presépio eleitoral que o paraíso está logo ali, na esquina da Preguiça com a Rua do Não Faz Nada. O resultado disso, só pode ser o local onde mora a maioria de nós, ou seja, no beco da Miséria.


J'accuse...!


É de todos - ou quase - conhecida a expressão francesa J'accuse (Eu acuso), título do artigo, mais que isso, um libelo contra a condenação do oficial do Exército francês, Capitão Alfred Dreyfus, pelo crime de alta traição contra a França. A verdade, é que todo o Estado Maior do Exército francês mentiu e conspirou contra Dreyfus, para livrar da condenação, o verdadeiro culpado, o Major Conde Ferdinand Walsin-Esterhazy, que ao fim, acabou confessando sua culpa. Conforme ficou provado posteriormente, Dreyfus era inocente, tanto que após provada sua inocência, foi reintegrado ao Exército no posto de “Chef d’escadron” (Chefe de Esquadrão), sendo-lhe concedida a mais alta condecoração francesa, ou seja, recebeu o título de Cavaleiro da Legião de Honra concedida pelo Presidente da República da França, representado, na ocasião, pelo general de Brigada Gillain.
Muitos foram os que lutaram pela prova da inocência de Dreyfus, como seu irmão MathieuDreyfus, o advogado Edgard Demange e até mesmo o Primeiro-Ministro Clemanceau, porém, o mais importante de todos, foi o escritor Émile Zola, que publicou seu manifesto J’Accuse, no jornal L’Aurore, edição de 13 de Janeiro de 1898, sob a forma de uma carta ao Presidente Félix Faure.
Poucos sabem, também, que no dia seguinte à execução da sentença de degradação de Dreyfus, o grande cuasídico brasileiro Rui Barbosa, escreveu de seu exílio em Londres “Que faculdade sobre-humana deu àquele homem energia suficiente bastante para sobreviver às emoções incomportáveis dessa provação. Narram as testemunhas atentas ao suplício, que o executado não empalideceu nunca. Os passos não lhe vacilaram. Não lhe tremeu a voz. A cabeça esteve-lhe sempre ereta. E ainda que apupado pela multidão, por seus colegas de farda, execrado por todos e vítima do preconceito francês e europeu contra os semitas, pois já, naquela época, eram dados os primeiros passos do holocausto judeu nas mãos dos alemães, durante a Segunda Guerra Mundial, quando foram mortos mais de seis milhões dos descendentes de Sem, nos campos de concentração da Alemanha, Rússia, Polôna, Áustria, Tchecoslováquia e outros países, tanto da Europa Central, quanto da Europa Oriental. Até mesmo em algumas nações da Europa Ocidental, os judeus foram - e ainda são - vítimas de discrimnação.
Eu tambem, mesmo a milhas de distância da competência e valor de Émile Zola, acuso a classe política brasileira, seja a que atua no Legislativo quanto no Executivo e até mesmo alguns integrantes do outrora sacrossanto Judiciário brasileiro, salvo as exceções que sempre as há, de não terem a postura de um Capitão Dreyfus; de não poderem andar de cabeça erguida, de não poderem bradar como bradou o Capitão Alfred Dreyfus: “Sou inocente. Viva a França”. Quero vê-los, senhores donos do poder, bradar também, de cabeça erguida, no meio deste festival de escândalos que assola toda a República Brasileira: “Somos inocentes. Viva o Brasil.”
UM PLANETA PERDIDO


Era um planeta distante, perdido no meio de milhões de outros planetas habitados na imensidão das galáxias que formam o Universo. Mas, aquele era um planeta diferente, pois que esquecido por Deus. Até o dia em que Ele se lembrou daquele pequeno grão de pó perdido na vastidão do cosmo. E chorou então. Estrelas explodiram aos milhões e sóis não se puseram temerosos e penalizados ante a tristeza Divina. E lembrou-se da ordem que dera não cumprida. Seu Filho, um entre tantos, não descera até aquele planeta longínquo para resgatar os homens que nele viviam. E porque não descera as profecias não se cumpriram. E por não se cumprirem, nunca houve nesse planeta o Natal e nem histórias bonitas como a dos Reis Magos. Nele, nunca houve dezembro, nem árvores cintilantes e multicores. Não houve presépios, nem histórias da Virgem-Mãe. Não houve um lugar chamado Lapônia, nem um homem chamado Papai Noel e suas renas encantadas. E, por causa disso, todas as crianças passavam a noite do Natal que não houve tristes, a olhar fixamente a telinha das ilusões perdidas, seguindo o exemplo do Menino-Deus, que não ouvira a ordem do pai, entretido que estava assistindo televisão.