“Ave, Caesar, nos morituri te salutamos”. Assim, os gladiadores romanos saudavam os césares quando do horrendo espetáculo que eram as lutas de morte realizadas no circus, quando Roma era a senhora do mundo. A frase, em latim, significa: Salve, César (Imperador), nós, os que vamos morrer te saudamos.
A mesma frase, dirigida aos imperadores do mundo atual, donos e senhores da vida de todos nós, deveria ser proferida por todos aqueles que padecem de patologias mortais como a hepatite virótica tipo “C”.
Muito embora se diga que muito se avançou e que muito mais se faz para evitar que essa doença maldita leve para a terra do nunca, para o antes de tudo, para o negror absoluto, para os Campos Elíseos ou para o Hades, os que dela sofrem, a verdade é que centenas estão morrendo todos os dias neste Brasil que já foi bem mais varonil, por falta de apoio, orientação, esclarecimento, socorro especializado, remédios, transplantes, órgãos e tudo o mais que se poderia fazer, sim, e não se faz, porque o egoismo e a incompetência fazem parte de todos nós, que só sabemos conjugar o verbo eu.
Estou zangado, sim. Na verdade, estou mais que zangado. Estou enfurecido, estou triste, estou amargurado. E tudo isto, porque perdi mais um amigo para essa doença maldita. O que quero dizer é que meu amigo Manoel Coelho, um amapaense de 44 anos morreu. Morreu vítima de todos nós, da nossa omissão, da nossa culpa e da nossa irresponsabilidade coletiva. Somos, sim, todos, culpados pela morte de mais este tucuju. E a pergunta que se faz é: Quantos mais terão que morrer antes que se faça alguma coisa, de verdade, pra valer, antes que seja tarde demais? Até que tenhamos resposta para essa pergunta simultaneamente simples e trágica, minhas lágrimas, nossas lágrimas, o desespero dos atingidos por essa desdita será inútil. Absolutamente inútil.
Olho para os céus, levanto os braços, enxugo as lágrimas que não mais tenho para chorar e pergunto Àquele que me criou: “Até quando, Senhor, contemplais Vós mesmo essa desgraça? Até quando o ímpio prevalecerá sobre o justo? E a resposta, até este momento é o silêncio tumular de um Deus que ao que se parece, cansou de ver a maldade e o egoismo varrerem a superfície do planeta, com a erva daninha cobre e varre, os túmulos abandonados do meu país, que não merecia ter os césares – e cadáveres - que tem.
Enquanto isso, vamos continuar ouvindo, até quando não sei: Ave, Caesar...