sábado, 13 de março de 2010

NOS MORITURI

“Ave, Caesar, nos morituri te salutamos”. Assim, os gladiadores romanos saudavam os césares quando do horrendo espetáculo que eram as lutas de morte realizadas no circus, quando Roma era a senhora do mundo. A frase, em latim, significa: Salve, César (Imperador), nós, os que vamos morrer te saudamos.
A mesma frase, dirigida aos imperadores do mundo atual, donos e senhores da vida de todos nós, deveria ser proferida por todos aqueles que padecem de patologias mortais como a hepatite virótica tipo “C”.
Muito embora se diga que muito se avançou e que muito mais se faz para evitar que essa doença maldita leve para a terra do nunca, para o antes de tudo, para o negror absoluto, para os Campos Elíseos ou para o Hades, os que dela sofrem, a verdade é que centenas estão morrendo todos os dias neste Brasil que já foi bem mais varonil, por falta de apoio, orientação, esclarecimento, socorro especializado, remédios, transplantes, órgãos e tudo o mais que se poderia fazer, sim, e não se faz, porque o egoismo e a incompetência fazem parte de todos nós, que só sabemos conjugar o verbo eu.
Estou zangado, sim. Na verdade, estou mais que zangado. Estou enfurecido, estou triste, estou amargurado. E tudo isto, porque perdi mais um amigo para essa doença maldita. O que quero dizer é que meu amigo Manoel Coelho, um amapaense de 44 anos morreu. Morreu vítima de todos nós, da nossa omissão, da nossa culpa e da nossa irresponsabilidade coletiva. Somos, sim, todos, culpados pela morte de mais este tucuju. E a pergunta que se faz é: Quantos mais terão que morrer antes que se faça alguma coisa, de verdade, pra valer, antes que seja tarde demais? Até que tenhamos resposta para essa pergunta simultaneamente simples e trágica, minhas lágrimas, nossas lágrimas, o desespero dos atingidos por essa desdita será inútil. Absolutamente inútil.
Olho para os céus, levanto os braços, enxugo as lágrimas que não mais tenho para chorar e pergunto Àquele que me criou: “Até quando, Senhor, contemplais Vós mesmo essa desgraça? Até quando o ímpio prevalecerá sobre o justo? E a resposta, até este momento é o silêncio tumular de um Deus que ao que se parece, cansou de ver a maldade e o egoismo varrerem a superfície do planeta, com a erva daninha cobre e varre, os túmulos abandonados do meu país, que não merecia ter os césares – e cadáveres - que tem.
Enquanto isso, vamos continuar ouvindo, até quando não sei: Ave, Caesar...