segunda-feira, 15 de agosto de 2011

DE PASSAGEM


Conta-se que um homem muito rico, certo dia visitou um sábio que morava num lugar muito distante. Ao chegar à casa do sábio, o homem rico notou que o eremita era despossuído de objetos comuns que normalmente se vê numa casa, como cadeiras, televisão e outras coisas. Curioso, perguntou ao sábio porque aquela casa não tinha sequer uma poltrona onde uma visita pudesse senta? Ao que este respondeu: e suas coisas, seus móveis, onde estão? Surpreso, o homem rico respondeu: moro longe daqui e meus móveis estão lá. Aqui, estou só de passagem. Ao que o sábio respondeu: eu também.
Essa lição nos ensina o óbvio: estamos aqui, neste planeta, só de passagem. Somente enquanto a vida nos permitir. Isso, evidentemente, não significa que devamos todos ser ou viver em estado de absoluta pobreza. Mas, na contrapartida, devemos aprender que nada justifica a ambição desmedida, o acúmulo de riquezas de modo excessivo, particularmente o acúmulo de riquezas roubadas. Mostrem-nos um ladrão bem sucedido, ainda que dono de bilhões de dólares ou toneladas de ouro, e lhes mostraremos um mentiroso, porque nenhuma pessoa que enriqueça roubando é bem sucedido, na verdadeira acepção da palavra. Quando muito, tem alguma ou muita coisa. Mas não é absolutamente ninguém.
Posto isso, é de se questionar: o que leva um homem – ou mulher – que não nasceu para ser desonesto, a se apropriar do que não é seu, a ponto de se tornar um corrupto, manchado eternamente pela maldição que é o furto, crime – ou pecado – condenado e condenável por todas as civilizações e culturas ao longo da imensa saga humana que ainda não terminou?
Michel de Montaigne dizia que ao mentiroso, a pena de morte na fogueira, ainda seria pouco, tal o dano e horror que causa. Ao ladrão, seja da carteira alheia, seja do cofre particular, seja do Erário Público, o castigo da pena de morte, também seria pouco, tal o dano que causa, seja a uma pessoa, a uma comunidade ou ao um povo ou país inteiro. Não que estejamos aqui defendendo a pena de morte, a qual nossas leis proíbem de modo explícito, porque desumana e impossível de reparar em caso de erro, cuja possibilidade sempre existe. O que se quer dizer é que, dentro do legalmente permitido, o castigo imposto àquele que se apropria do que não é seu deveria ser o mais rigoroso possível, porque o povo brasileiro não mais aguenta ser espoliado de seus bens, de sua vida e de seus conceitos morais todo santo dia, por aqueles que só pensam ter e ter mais a qualquer custo, sem se importar com os males que provocam com suas ações criminosas.
Nos casos mais recentes de apropriação do dinheiro público, o Amapá não mais suporta ver seu nome exposto na mídia nacional, como se nosso povo fosse o símbolo da corrupção brasileira.
Que os ladrões de sempre aprendam: estamos aqui só de passagem. E de pouco ou nada vale esse desejo de acumular riquezas de modo desmedido, particularmente riquezas que não lhes pertencem e sim ao povo.
A esses, que o castigo venha a galope e de modo exemplar. Afinal de contas, está escrito no Livro dos Livros: não furtarás. E se isso for cumprido por todos, a filial do paraíso que todos desejamos já estará a um passo de nós. Para que isso aconteça, basta apenas que cada um a faça a sua parte. Nada mais.