terça-feira, 27 de abril de 2010

pequenos textos III

Como em duas vezes antes, hoje volto a apresentar aos meus seis leitores, aquilo a que dou o nome de “Pequenos textos”. É Claro que são produtos de minha mente um tanto quanto surrealista. Fazer o quê, se tenho esse viés, digamos literário. O único pedido vai por conta da minha falta de humildade: se não gostarem, pelo menos não odeiem. Reconheço em mim, uma certa maluquês. Mas, fazer o quê, se assim sou?
- Incompreensão A boneca olha a menina que lhe faz declarações de amor. Diz ser sua mamãe. Que mãe estranha essa, que se movimenta tanto, que não sabe que bonecas, gostam mesmo é de silêncio, de imobilidade, de olhos vítreos que nada vêem, e que têm naquela espécie de morte, a sua única razão de viver -

Lágrimas perdidas

Conforme fora prometido, seguiu as pegadas na areia que indicariam o lugar onde encontraria porto seguro. Depois de muito andar, encontrou o oceano onde poderia fundear em segurança, o barco de sua vida tempestuosa.
É verdade que encontrou o que lhe fora prometido. Mas, quem entenderia sua tristeza, ao descobrir que o oceano de águas salgadas em que aportara, eram apenas as lágrimas que derramara, ao longo de uma existência perdida?
- Uma questão de
Tempo!

A palavra desceu sobre ele como um container que desaba em cima do portuário. Pra dizer a verdade, o impacto real não se deveu à palavra tempo, mas ao seu significado. Melhor ainda, talvez nem fosse uma questão de significado. Talvez tivesse sido a importância dele na vida - qualquer vida -, que é absolutamente limitada por ele.

4 - Sina de pai

Dono de um passado cheio de culpas,
Lá vai ele, o pai,
Curvado, cansado, esmagado,
A caminho da morte sofrida,
Enquanto espera perdão,
De filhos que não virão,
Ocupados que estão,
A caminho da vida - Hai-Kai

A ironia,
É que nada é mais prosaico
Que o simples e judaico
Nome de Maria

6 - Sono Eletrônico

A televisão olhou para
O homem deitado na cama.
Desligou-o
E foi dormir
O seu sono eletrônico


O Caçador

O Homo Sapiens,
Voltou da caçada.
Guardou a lança
Na parede da caverna.
Ligou o ar condicionado
E dormiu o sono
Do homem primitivo.

ONDE ESTÁ A VERDADE

"Quid est veritas?". "Onde está a verdade"? Esta pergunta foi formulada há 2000 anos por Pilatos a Cristo. A resposta mais convincente foi dada por Aristóteles, desde que Pilatos, ao formulá-la, parece ter-se desinteressado do assunto. Até hoje, o governador da Judeia só é lembrado por ter, simbolicamente, lavado as mãos, no que se tornaria o segundo maior acontecimento da humanidade no seu lado ocidental: a morte desse mesmo Cristo. O primeiro, claro, foi o nascimento desse mesmo homem.
Aristóteles definiu a verdade como sendo "uma adequação ou coerência entre o que se diz e a coisa ou entre o que se diz e o ocorrido".
A verdade ou falsidade se prende apenas à verificabilidade, que não exige experimentação direta. Basta que se indique uma maneira fisicamente possível de testar.
Esse é o grande dilema com que a classe política depara. O eleitor, ao acreditar que há coerência no discurso político, é induzido a dispensar a verificabilidade, que nessa área, só é possível após a experimentação direta. Traduzindo: só é possível avaliar a veracidade ou a falsidade do enunciado político, quando já é tarde demais.
É por isso, que o discurso político não pode e não deve ser analisado a partir da ótica maniqueísta falso-verdadeiro. Esse tipo de discurso deve ser tratado como hipótese, que é a afirmação de uma relação entre dois ou mais fatos, que deve ser verificada posteriormente.
Mas, voltando à pergunta inicial, onde está a verdade? A resposta não é simples. No governo ou na oposição, perguntaria o otimista. Em cima ou em baixo? Perguntaria o filósofo. Na lágrima sofrida de um rosto triste ou no riso debochado de um qualquer? Aqui na terra ou nos confins do Universo? Com o homem adúltero ou com o homem adulterado na sua essência? Com Deus ou com o Diabo? Dentro ou fora de nós? Nos bares ou nos lares? Estará por acaso a verdade, tal qual um deus onipresente, simultaneamente em todos os lugares?
Pensar é preciso. Ou não é preciso pensar? Dolorosa interrogação. Pensar, pensar profundamente, é antes de mais nada um ato de dor. Ai dos que pensam, diria, lembrando César.
Feliz de quem não tem sempre presente a angústia do ser e como tal, do pensar, e coloca todos os seus méritos e deméritos nas costas largas de Deus.
A grande questão, no entanto, a grande dúvida, é que a verdade talvez nem exista. Só a dúvida. Porque tudo indica que não há respostas. Só perguntas.