terça-feira, 25 de maio de 2010

O ASSESSOR DO VEREADOR

Sarah Bernhardt, a maior de todas as estrelas que passaram pela Comédie Française, certa ocasião, referindo-se às pessoas de pouca importância, mas que se dão ares superiores, chamou-as de "sargentos da vida".
Queria dizer, naqueles tempos em que generais e marechais de França desmanchavam-se à sua presença, ao seu olhar, aos seus olhos e principalmente à sua arte, que eles, na sua imponência, eram muito mais simples do que as patentes inferiores, suboficiais que arrotavam uma importância que não possuíam.
Realmente, quem se dá muita importância, é porque não tem nenhuma. Os verdadeiramente grandes, são afáveis, simples, cordatos, tranquilos, humildes, não a humildade da subserviência, mas a humildade característica de quem não se deixou picar pelo inseto do orgulho
Napoleão, conta-se, passou horas no posto de sentinela, ao encontrar dormindo, vencido pelo cansaço, o soldado que deveria estar atento, vigiando as trincheiras inimigas. Não o castigou. Soldado, ele também, sabia que contra o sono não há resistência.
Soubéssemos nós que o sono é o morrer na certeza da ressurreição, quantos de nós desfrutariam desse prosaico prazer, que só é sentido depois do acordar? A importância que nos damos sem nada sermos, chega a ser insolente.
Jesus era a humildade personificada. Ghandi, dele se disse que as futuras gerações jamais acreditariam que tal homem pudesse existir tamanha a bondade e pureza de seu coração.
Temos o mau hábito de achar, que o idiota deste lado do rio é superior ao idiota do outro lado do rio. Arrogância, orgulho e preconceito andam de mãos dadas. Esquecemos muitas vezes, que quem preconceitua, prejulga e precondena.
Tenho conversado com grandes homens que são exemplos de cordura. Eu que não sou tão simples assim, pois às vezes atribuo-me uma importância que não possuo, tenho tido este raro privilégio. E aprendido com ele. A vida é um eterno aprender. Uma lástima que tão poucos de nós o consigam.
A propósito, há dias encontrei um vereador furioso. Resfolegava como uma locomotiva antiga. Movido à lenha, soltava fumaça pelas narinas, como se fossem elas chaminés emborcadas. Puxou-me de lado e confidenciou-me o motivo de tamanha indignação: Um secretário municipal não pudera atender de imediato, um assessor seu.
Assessor, como todos sabem, é aquele sujeito importantíssimo que atende também pelo mimoso apelido de "aspone". Um "aspone" sabe-se, é infinitamente superior ao "asponin", que nada mais é que um "aspone" interino.
Mas, voltando a Sua Importância Real, o vereador,
continuando a destilar toda a raiva que lhe era possível, esbravejava: - "Já pensou, amigo Carlos, não recebeu o meu assessor!".
Depois, olhando-me nos olhos, angustiou-se e perguntou: - Será que ele não percebeu que o meu assessor era uma autoridade? Afinal de contas, trata-se de um assessor de um vereador...
Deixei-o na dúvida quanto à importância do assessor e fiquei matutando com os meus botões. Ainda sou um matuto. Daqueles que matutam com seus botões. Fui embora pensando na importância daqueles que não tem a menor importância.