quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

DE JUSTIÇA E SABEDORIA

DE JUSTIÇA E SABEDORIA


Diz o Livro dos Livros que aqueles que governam a terra, devem amar a justiça. Mas os que governam a terra, devem procurar antes de mais nada a sabedoria, que só atinge o seu ponto mais alto quando acompanhada da busca pela justiça. Lembrem-se, senhores governantes e donos do mundo, a sabedoria não entra na alma daquele que pratica o mal e nem habita no corpo daquele que é escravo do pecado. O caminho da retidão ensina que todos, principalmente os governantes, devem fugir da fraude, da insensatez e da prática da injustiça. Se a sabedoria de Deus é a maior expressão da justiça, significa dizer que o governante justo e sábio norteia seu caminho pela senda do bem e propicia o bem estar de todos sob sua suserania.
Diz ainda o Livro Sagrado que a sabedoria é um espírito amigo, mas que não deixa impune aqueles que se voltam contra ela, porque ela, a sabedoria, está em todos os lugares e seus ouvidos captam até mesmo o mais leve sussurro e dá a justa recompensa a quem a tem no umbral de sua porta, seja essa porta a de um palácio, seja a porta do mais humilde casebre entre quantos hajam neste planeta dos homens.
A propósito, as eleições vêm aí. Lembrando César, ai dos que mentirem para o povo, dos que o enganarem com as falsas promessas ditas pela língua bifurcada da serpente. Ai dos fraudadores, dos enganadores, dos que tiram para si, o que era destinado a uma população tão carente, tão sofrida, tão doente, tão faminta, tão sem nada, absolutamente nada, exceto a esperança de que amanhã tudo pode ser diferente. Não esqueçam que foi a tentação de Adão que nos corrompeu, foi o desejo exacerbado de uma mulher diferente das de sua raça que fez Holofernes perder, literalmente, a cabeça para a judia Judith. Não esqueçam que a boca mentirosa mata a alma e a palavra “male dicta” não fica sem o justo castigo.
Não devem esquecer os senhores candidatos que uma antiga história hebréia, conta que Daniel, por ser nobre, foi levado por Nabucodonosor para “o cativeiro da Babilônia”. E há uma um episódio em que faz uma profecia para o reino de Baltazar, quando aparecem, misteriosamente, três palavras indecifráveis na parede do palácio real, no qual estava acontecendo uma festa. A frase era a seguinte: “menê, tequel e perês”, mantendo o significado de “contado, pesado e separado.” Tais palavras foram interpretadas por Daniel como: Deus “contou”os anos de teu reinado (menê), e nele está pondo um fim; foste “pesado” na balança, e considerado em falta (tequel); teu reino vai ser ser dividido e entregue aos medos e persas (perês ou plural parsim) . Na mesma noite houve a invasão do medo Dario que se tornou rei.
Do mesmo modo, todos os candidatos vão ser contados, pesados e separados, ou seja, vão ser “menê, tequel e perês) pelos eleitores. E quem quiser, não acredite, mas nossa vida é contada (nosso tempo de vida); pesada (o peso de nossas ações, boas ou más) e separada deste corpo que nos aprisiona para que possamos nos dirigir ao Hades (Inferno) ou ao Shiquinah (o lugar da Presença Divina, em hebraico), também conhecido entre nós como Céu ou Campos Elísios.
E se isso é verdade na vida diária de cada um, muito mais verdadeira é, quando aplicada no terreno movediço da política.
Portanto, hajam com sabedoria porque se assim fizerem, serão considerados justos. Não esqueçamos que a sabedoria é o sentido da vida e a justiça é imortal. Quem não acreditar, ouvirá no “after day” eleitoral, choro e ranger de dentes. Mas aí, será tarde demais.

O PARAÍSO PERDIDO

O paraíso perdido

O poeta inglês John Milton, do século 17, eternizou-se ao escrever Paradise lost (1667 - Paraíso perdido), um dos maiores poemas épicos da literatura universal. Seu leit-motiv é a justiça divina, mas o personagem dramático que domina o poema é Satã. A seguir, escreveu o Paraíso conquistado. Este é sequência e contraponto. Cristo, o segundo Adão, vem à Terra reconquistar o que o primeiro dos homens perdera.
O conflito entre o bem e o mal perseguiu Milton até o fim da vida. É uma característica própria dos que tentam entender o Universo e o homem, a partir do princípio das partidas dobradas, ou seja o princípio que diz que para o bem, se contrapõe o mal; para a vida, a morte, para o alto, o baixo, para o mau, o bom, e assim por diante.
Este conflito tem dividido o homem desde o princípio dos tempos, sobre o certo e errado, guerra e paz, homem e mulher, dia e noite, Deus e o Diabo, crime e castigo. Esse mesmo conflito deu origem às religiões, que voltadas intrinsecamente para o bem, provocaram, talvez, os maiores males que o homem poderia criar para torturar-se a si mesmo. Além dos massacres cometidos em nome de Deus, as religiões colocaram viseiras que impediram o homem de raciocinar com clareza e pudessem ver a face serena de Deus, que buscam há tanto tempo.
A nossa civilização, dita greco-romana ou judaico-cristã, está sendo substituída por valores anglo-saxões. A América tenta impingir a idéia de que é possível a extinção do mal sem a prevalência do bem, que o crime não merece castigo, que Rosseau estava absolutamente correto com sua teoria do bom selvagem, que tal qual teria este fim, perdido o Paraíso por causa do Senhor das Moscas, como algumas seitas costumam chamar Belzebu (o Demônio do Judaísmo) e que William Golding estaria errado.
Nenhuma coisa e nem outra. O homem é simultaneamente Rosseau e Golding, é bom e é mau, é Deus e Diabo. Mais Diabo do que Deus.
Nossa tragédia, é que o Paraíso perdido está fora do nosso alcance. Tentamos por isso substituí-lo pelo paraíso da impunidade. Não vai dar certo, porque a humanidade tem caminhado desde os albores dos tempos, sob a permanente ameaça de homens cruéis e brutais.
Ainda vivemos em permanente estado de guerra. E qualquer pessoa que tenha estado na guerra, sabe que o homem produz o mal como a abelha produz o mel.
Mas. sonhar não paga imposto, ainda. Quem sabe ao fim e ao cabo não nos econtremos todos, quem sabe, naquele lugar abençoado que, se não era o Paraíso, ficava a Leste do Éden. E o pior. é que não nos resta outra opção: ou habitaremos os Campos Elíseos de que falavam os gregos, ou padeceremos ad eternum no nono círculo do Inferno de Dante. Quem viver, digo, quem morrer, verá.