sexta-feira, 2 de outubro de 2009

AMIZADE, QUE SENTIMENTO É ESSE?


Todos temos um amigo, uma pessoa que nos atende pedidos de ordem variada, até mesmo quando, a princípio não pode nos atender. Ainda assim, faz o possível e o impossível para que sejam satisfeitos os anseios e desejos do amigo, particularmente nas horas da sua amargura, da sua tragédia. Eu sou um exemplo disso. Sofri de uma grave patologia hepática, no caso uma hepatite virótica do tipo C, que só teve fim após um cirurgia de transplante de fígado, realizada com absoluto sucesso no Hospital Dom Vicente Scherer, em Porto Alegre (RS), no dia 20 de Outubro de 2007. Entretanto, é bom que se diga, que minha sobrevivência e a recuperação plena da minha saúde, além da vontade do Todo-Poderoso e dos médicos que realizaram essa operação, só foi possível, graças ao milhão de amigos que a graça de Deus me concedeu.
Mas, o que é, mesmo, esse sentimento chamado amizade? Sobre o assunto, e de novo citando o grande Voltaire, ``a amizade é o casamento da alma, e esse casamento está sujeito ao divórcio. É um contrato tácito entre duas pessoas sensíveis e virtuosas. Sensíveis, porque um monge, um solitário, pode não ser mau e viver sem conhecer a amizade. Virtuosas, porque os maus só têm cúmplices, os voluptuosos têm companheiros de devassidão, os interesseiros têm sócios, os políticos congregam partidários, o comum dos homens ociosos têm ligações, os príncipes têm cortesãos; somente os homens virtuosos têm amigos.’’ Para verificar a assertiva do acima exposto, basta olharmos ao redor e, com certeza identificaremos conhecidos que são correligionários de um político qualquer, ou são sócios de outra pessoa, movido apenas pelo interesse próprio e nunca pela amizade.
Voltaire nos dá como exemplo, Cétego, que era cúmplice de Catilina (Lúcio Sérgio Catilina, que conjurou contra o Estado romano); Mecenas, poeta e cavaleiro romano da corte do imperador de César Augusto Otávio ou Otaviano, que protegeu as artes e as letras. Por outro lado, Titus Pomponius Atticus era amigo de Marcus Tullius Cícero, amizade comprovada pelas 396 cartas que Cícero escreveu a Atico, reunidas em volume com o título de Epistulae ad Atticum.
Sabemos todos que amizade não se comanda, tal qual acontece com o amor e a estima. ``Ama teu próximo’’, significa apenas ``Ajuda teu próximo.’’ Mas não diz de modo claro e insofismável: ``Desfruta com prazer de sua conversa se ele for aborrecido, confia-lhe teus segredos se ele for um tagarela, empresta-lhe teu dinheiro de ele for dissipador.’’ Somente quem assim faz, é aquele que é tomado por esse sentimento sublime chamado amizade. O entusiasmo pela amizade foi mais forte entre gregos e árabes que entre europeus, sejam ocidentais quanto orientais. No Brasil, esse é um sentimento que encontramos em todos os lugares, independentemente de nossas origens. Aliás, entre os gregos, a amizade era assunto de religião e de legislação. Os tebanos tinham até mesmo o regimento dos amantes. E que belo regimento! Por causa disso, houve quem o tomasse por um regimento de sodomitas; puro engano: seria como tomar o acessório pelo principal.
De modo que, aquele que tem amigos e é amigo de alguém, é um agraciado pelo bafejo das bochechas divinas. Esse é um abençoado por Deus e, interiormente, com certeza, bonito por natureza.