terça-feira, 3 de agosto de 2010

POÇA D'ÁGUA

No tempo em que eu caminhava perdido, longe de tudo e de todos, longe de D'us e dos braços teus, certa noite parei na borda de uma poça d'água. E olhando pra baixo, vi os últimos raios de Sol indo embora para iluminar o outro lado do mundo. Mas não foi só isso que vi, pois vi muito mais. Vi as primeiras estrelas dando o ar da graça, ainda pálidas, mas brilhando mais e mais, à medida que a noite embrulhava com seu manto negro, todos os que estavam ausentes da luz.
E foi naquele pequeno lago que pude mergulhar no Cosmos infinito. E foi lá, bem em baixo - ou seria lá em cima? - que vi maravilhas como a nenhum outro homem foi dado ver. Cometas passaram rente a mim, e sua cauda brilhosa, deslizando em silêncio em direção ao nada absoluto, parecia indicar a direção a seguir. Vi explosões estelares no ato de parir outros corpos celestes. Foi nessas andanças, que pude apanhar os anéis de Saturno para te presentear quando te encontrasse.  Sabia que teria que te buscar no reino da escuridão mais absoluta que são os buracos negros, corpos celestes tão densos que deles nem a luz escapa, pois de lá sairias para dominar um pedaço da Terra, de onde descenderiam todos os homens e mulheres paridos por ventre de mulher. E lá, quando juntasse minh'alma à tua, os anéis de Saturno seriam o penhor da nossa eterna aliança
Mas, antes de encontrar, muito ainda teria a percorrer pelo espaço sem fim. Era preciso, para que minha formação se tornasse completa, que eu me debruçasse nas fímbrias do Universo, para ver o que existe além dele e de todos os universos existentes.
Voltei bilhões de anos depois, carregando comigo, todo o conhecimento do bem e do mal que existe em toda a obra divina. Creio mesmo, que passei rente a Ele. Só isso explicaria a intensidade daquela luz como outra não vi. E foi essa luz que falou comigo com benevolência: “Vai em paz, porque Eu te acompanharei, até mesmo depois que deixares de existir”.
Foi quando recobrei a consciência e me vi novamente à beira daquela poça d'água que me tornou único entre todos os viventes.
Depois, mudado para todo o sempre, voltei para casa e me aninhei entre braços que me receberam com doçura e juntos, adormecemos para nunca mais acordar, exceto quando encontrarmos aquela luz que falou comigo há tanto tempo.
E quando isso acontecer, faremos parte daquela luz, pois nela estão concentrados todos os sentimentos de amor porventura existentes. E posso afirmar, que nunca houve e nem haverá jamais, amor tão grande como aquele que nos leva para os braços do Senhor de todas as luzes.