terça-feira, 31 de agosto de 2010

Pai Nosso - Uma possível tradução do aramaico

Lembro que há algum tempo escrevi um texto baseado na mais bela oração que Yeshuah (Jesus) pronunciou ao tempo em que viveu no planeta dos homens. Intitulei-a PATER NOSTER (Pai Nosso, em latim) porque, até onde sei, e sei muito pouco, ressalve-se, Jesus falava pelo menos quatro idiomas a saber: aramaico ou arameu, porque era sua língua natal; hebraico ou hebreu, porque judeu; latim, para se comunicar com a soldadesca romana e, finalmente, grego, porque era a língua adotada pelos mercadores e pela elite da época. É bom lembrar que, até o início do século XX, no Brasil, as elites só falavam entre si em francês. O português era reservado apenas para a comunicação com a plebe.
E procurando atentamente em meus alfarrábios, foi que descobri, já empoeirado e um tanto carcomido pelo tempo, a possível tradução do Pai Nosso em aramaico, a língua natal do Mestre. Pela beleza do texto e pela magnitude dessa oração literalmente divina, decidi reproduzi-la neste espaço para deleite de meus seis leitores.
Que o E-terno os abençoe sempre, onde quer que estejam sobre a face de Adamah (a Terra), e agora, vamos a essa belíssima oração. Shalom!

ABBA (Pai no sentido carinhoso, paizinho)


“Ó Força Procriadora! Pai-mãe do Cosmos,
Focaliza Tua Luz dentro de nós, tornando-A útil.
Cria teu reino de Unidade, agora-
O Teu desejo Uno atue então com o nosso,
Assim como em toda luz
E em todas as formas.
Dá-nos todos os dias o que necessitamos
Em pão e entendimento.
Desfaz os laços dos erros que nos prendem,
Assim como nós soltamos as amarras
Com que aprisionamos
A culpa dos nossos irmãos.
Não permitas que as coisas superficiais nos iludam
Mas libera-nos de tudo o que nos detém.
De Ti nasce toda vontade reinante,
O poder e a força viva da ação,
A canção que se renova de idade
Em idade e a tudo embeleza.
Verdadeiramente - poder a esta declaração - Que possa ser o solo do qual crescem
Todas as minhas ações. Amém.”


Luz, Paz e Harmonia para sua vida.

COM A DIGNIDADE DE UM CACHORRO

O grande amor não existe. Acontece. E quando acontece, é para ser vivido. Não precisa ser analisado, pensado ou casado. Principalmente casado.
O grande amor, para ser grande não pode dar certo. Se der certo, é porque não era tão grande assim. Deve sim, ser sentido ao som do Oratório de Handel. Hallelujah. Jamais ao som da marcha nupcial, de Wagner. O casamento é o túmulo do amor. Esposas, as legítimas, as de antigamente, de papel passado e pilares da moral local, não existem para serem amadas apaixonadamente. São virtuosas demais. É impossí-vel perder-se de amor por uma mulher virtuosa. Daquelas que vão diariamente à missa das sete.
O prazer da vida está no pecado. A virtude não tem a menor graça. Amém, dizem as vozes do último círculo do Inferno. Que seria do amor de Romeu se casasse com Julieta? Tristão e Isolda, Dante e Biza, Abelardo e Heloísa. Que seria da lenda? Nada, absolutamente nada. A paixão teria, provavelmente, terminado num tanque cheios de fraldas para lavar. Tanques de lavar roupa e paixão não têm nada a ver. Paixão, a de verdade, é para ser sentida e vista através de vapores alcoólicos.
O bom amante, o apaixonado alucinado por sua paixão, o que se consome na ausência do corpo desejado, bebe na esquina da casa da mulher amada, idolatrada, salve, salve. Para vê-la sair com um e voltar como outro na fria madrugada, gelada como um coração ciumento.
Nessas ocasiões, sente-se morrer. Garçon, traz mais uma, grita desesperado, consumido pelo ciúme atroz. Bebe até cair na vala. Boteco ou bodega que se preze tem uma vala na frente. Menos pela incompetência do alcáide, e mais para que amantes frustrados, desesperados, consumidos de dor, possam cair na vala comum do desespero e do desejo amoroso.
Mas a felicidade existe. E felicidade, é ouvir o próprio nome, pronunciado docemente pela traidora do seu amor, dos seus sonhos, ilusões e desilusões. E então se levanta. Tenta desamarrotar a própria roupa. E vai ao encontro dela, com a dignidade de um cachorro feliz, balançando o rabo.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

PARTINDO ANTES DO TEMPO

Suicídios existem desde que o homem começou a compreender a angústia da espera da morte. Após a descoberta do horror, a eliminação da própria existência passou a ser uma espécie de “ás” na manga do jogador, que sabe ter na própria morte, a opção para fugir de sofrimentos grandes demais.
Às vezes, o fardo da vida torna-se tão pesado, a caminhada tão íngreme, o esforço tão ingente, a angústia tão terrível, a desilusão pela perda dos sonhos e das esperanças tão grande, que o melhor caminho é a auto-eliminação.
Essa vontade de largar tudo no meio do caminho e ir para o antes de tudo, para o mundo do nada, para o vazio absoluto, para a grande escuridão, não é privilégio de ricos ou pobres, grandes ou pequenos, felizes ou infelizes. Todo homem, numa fase qualquer da vida, experimentou o gosto amargo da derrota, e pensou em partir para a luz das estrelas.
Os pobres, ao se despedirem daquilo que a religião já chamou de "um vale de lágrimas", ficaram na vala comum do anonimato, como se nunca tivessem existido. Nossa história recente está cheia de exemplos. Getúlio Vargas, o mais famoso dos suicidas brasileiros, matou-se para, segundo ele próprio, "sair da vida e entrar para a história". Quarenta e três anos depois, seu filho, Maneco Vargas, seguiu-lhe o exemplo, e saiu da vida sem o menor desejo de entrar para a história.
Alguns homens, depois de cumprir seu destino glorioso, partiram por conta própria. Roubaram à grande Dama da Foice, o prazer de assustá-los com a angústia da sua espera. Entre eles contam-se Hemingway e Jack London, criador do inesquecível Martin Eden, sua obra prima. Como numa antevisão do próprio destino, o personagem, tal qual o autor faria anos depois, suicida-se, cansado de viver entre pessoas que não valorizam o conteúdo dos homens.
Quase nada mudou. Continuamos não vendo nada, a não ser o papel de embrulho que nos envolve. Uma lástima.
Em que pese a glorificação da vida, morrer com dignidade, sereno, tranquilo, consciente do ato que responderá a tudo ou a nada - não há opções - não deve ser tão condenado pelos que ficam. A Igreja, em que pese montar sua tese em cima do perdão, não perdoa o suicida.
Saibamos perdoá-los. De um certo modo, somos todos suicidas também.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O ANALFABETO ERUDITO

Roberto Campos, cujo nome a esquerda tradicional execra, por falta de um pouco mais de neurônios, é uma das penas que mais aprecio ler. Economista, diplomata e político, não necessariamente nessa ordem, Campos pode ser admirado ou combatido, o que é absolutamente irrelevante. O que é relevante é a sua causticidade e precisão, quando aborda problemas nacionais ou estrangeiros. Ferino, cáustico, irônico, Campos é dotado daquela capacidade maravilhosa, que só os que se destacam pela inteligência têm, que é uma imensa capacidade de rir de si mesmo, e chorar pelos outros. Quaisquer que sejam eles.

Evidentemente, que os meus prezados amigos da - se ainda podemos chamá-la assim - esquerda vão chiar e dizer-se desapontados com esta preferência, que não é ideológica, diga-se, mas que não se negue jamais que, tal qual Nelson Rodrigues, pode-se discordar dele, mas não se pode deixar de admirar o modo como diz o que tem a dizer. É esse como o que atrai os que, como eu, têm também essa queda pela ironia fina, pela causticidade, por essa ojeriza total à falta de neurônios, que se tornou uma epidemia nacional e mundial. A burrice, convém esclarecer, antes de mais nada, é absolutamente irritante.
De tal modo é que, manuseando os dois volumes de A Lanterna na Popa, livro de memórias de Roberto Campos, fiquei pensando no título: A Lanterna na Popa.
Barcos, sabe-se, têm popa, e proa também. Lanterna na popa dá a impressão que ela, a lanterna, está ali, não para sinalizar ou evitar possível colisão por parte de um barco quem sabe, com mais nós de velocidade. A impressão que tenho é que elas, as lanternas, estão na popa para iluminar o passado.
Ao pensar nisso, lembrei-me do senador José Sarney, de quem se pode discordar ou não, mas que tem inegável bagagem literária, e também essa maravilhosa capacidade de rir de si mesmo. Em certa ocasião, estava eu presente a uma das suas muitas vindas a Macapá quando um jovem repórter perguntou-lhe sobre seu futuro político. E ele, de bate pronto, respondeu paciente ao colega de imprensa: “Meu filho, após esses anos e cargos todos, não tenho futuro político. Tenho passado político”. Uma pérola.
Mas, voltando a Campos, o capítulo I de seu livro, tem o contraditório título de “O analfabeto erudito e suas peripécias". Lembrei imediatamente do velho Nelson e sua peça teatral "Perdoa-me por me traíres”. Uma contradição, em termos.
O espaço é pequeno. Preciso encerrar essa divagação literária, mista de crônica e lembranças fugazes da minha pequena experiência jornalística, ainda aprendiz na difícil arte de mexer com letrinhas, vou ficar na quadra que serviu de inspiração a Campos, e que é de autoria de Samuel Taylor Coleridge (1772-1834): “Mas a paixão cega nossos olhos, / e a luz que a experiência nos dá é a / de uma lanterna na popa, que ilumina / apenas as ondas que deixamos para trás.”

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

D'US E O TEMPO


Diz a Bíblia, que D’us já existia antes mesmo do início dos tempos. O início dos tempos é um dos grandes mistérios com os quais o homem já defrontou. Primeiro, porque se o tempo é infinito não terá fim. Por conseguinte, não pode ter tido início. Se não teve início, como D’us poderia existir antes do que não teve início? Dúvida para dilacerar o coração de qualquer crente que não seja completamente crente. Mas este tem seu próprio contraditório: como duvidar, se o seu princípio filosófico é montado, não em cima do conhecimento, que só vem a partir da dúvida, mas em cima da fé. E como é difícil crer. Só os que não crêem podem entender do que falo. É mais fácil e mais confortável, mas de imprudência a toda prova, crer na ilusão da mulher amada do que acreditar no que já era antes de ser; no que tem 72 nomes e cujo nome verdadeiro é YHWH, ou seja, o Impronunciável. Sem contar, naturalmente, com o grego Theos, o catalão Déu, o espanhol Dios, o aragonês Ridiós, o francês Dieu, o bretão Doue, o italiano Dio, o inglês God, o alemão Gott, o dinamarquês Gud, o norueguês Herregud ou Herre Gud, o sueco Herregud ou Gud, simplesmente. Os muçulmanos, árabes ou não, dizem Allah. Mas dizem, também, que o Altíssimo teria cem nomes, dos quais o último seria Impronunciável. Finalmente, temos o esperanto Mia Dio (Meu Deus), isto sem contar com o eslavo Bog, o sânscrito Ishvara, El no judaísmo, onde antes pontificou Elohim, substituído por Javeh e Jeovah, e onde aparece também, o tetragrama YHWH, que se acredita referir-se à origem henoteística; o hindu Krishna-Vasudeva na Bhagavata ou, posteriormente, Vixnu e Hari, ou recentemente Shakti.
Mas, a partir do momento em que passamos a nos referir a nós mesmos com o sentido do existir próprio, momento esse que não sabemos precisar quando ocorreu, pois já existíamos antes, ainda que sem a consciência do existir, é que tentamos administrar o tempo, o precioso e pequeno tempo da nossa existência. E como é difícil fazê-lo.
Determinamos então que há um tempo para tudo. Um tempo para nascer, um tempo para viver e um tempo para morrer. Neste meio tempo, temos de arranjar tempo para outras coisas, que no nosso entender, deverão preencher o tempo vazio das nossas vazias existências. Passamos a exigir, criar ou ter um tempo para trabalhar, um tempo para comer, um tempo para dormir. Um tempo para dançar, para sorrir.
Mas temos que ter também, um tempo para sofrer, um tempo para derramar toda a lágrima que há. Um tempo para a vingança. Mas não há tempo para o perdão. Perdoai-me pelo amor de D’us, deveríamos bradar aos céus todo santo dia, se é que algum dia é santo, se é que alguma coisa é santa. Um tempo para se arrepender. Mas não há tempo para o arrependimento. Temos que ter tempo para tudo, mas não há tempo para nada.
A maré do tempo virou, É tempo de partir para o outro lado do tempo. Mas se tempo houver, cante. Cante com toda a alma, com todo o coração, com toda a devoção, como cantou Davi, como cantou Salomão, como eu cantava quando tempo havia para cantar. Como cantava Vinícius. São demais os perigos desta vida...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O ELOGIO DA IDIOTICE

Erasmo de Roterdã, segundo ele próprio, desejando divertir-se e não estando em condições favoráveis para compor obra séria, fez o Elogio da Loucura.


No gênero, está em boa companhia. Convém não esquecer que Homero escreveu a Guerra dos Ratos e das Rãs; Virgílio compôs um poema sobre o mosquito. Vivesse na Amazônia e teria feito um poema épico. Tema, com certeza não lhe faltaria. Já imaginaram um poema falando de Anopheles darlingi ou do Aedes Egypti?


Glauco louvou a injustiça. Vivesse no Brasil, e poderia viver cem anos louvando a injustiça e não esgotaria o assunto. Sinésio teceu os maiores elogios aos calvos. Alguns dentre nós, que ainda não podem se dar à prática do implante de vastas cabeleiras, pe-nhorados, agradecem. Luciano, provavelmente pensando nos nossos - às vezes não tão ilustres - parlamentares, louvou as moscas e parasitas.


Como a modéstia nem sempre é uma das minhas características mais fortes, para desgraça dos cronistas e dos que me lêem, resolvi fazer o elogio da idiotice. Talvez me falte competência para tanto. Matéria prima, com certeza, não.


O sempre indispensável mestre Aurélio ensina que idiotice “é a parada do desenvolvimento mental, ligada a lesões cerebrais, geralmente congênitas. Os idiotas não têm atividade voluntária e são inteiramente ineducáveis”.


O idiota já recebeu tratamento específico e pre-ferencial de dois grandes autores. Um, o grande Dostoiewisky, que escreveu “O Idiota”, em 1869. Outro, o cronista do absurdo e do patético, o anjo pornográfico Nelson Rodrigues, para quem o idiota era tema constante e um de seus personagens favoritos.


Conta ele que, antigamente, o idiota era quase uma instituição nacional. Toda cidade tinha o seu. Isso era tão certo como haver a praça da matriz, a agência dos Correios e a Avenida Presidente Vargas. Rua, não serve. Travessa, também não. Viela ou beco, nem pensar. Já imaginaram um beco Presidente Vargas? O “Pai dos Pobres” tremeria no túmulo.


Mas, voltando ao idiota, por sê-lo, um dia resolveu fazer um discurso. Discurso que se preza, tem que ser feito no meio da praça. Deveria haver uma lei obrigando todo mundo a fazer um discurso, pelo menos uma vez na vida. E no meio da praça.


Em compensação, ficaria proibido discurso em festas. De aniversário, principalmente. Sou a favor da pena de morte para quem faz discurso em festas de aniversário. Aliás, a própria festa já deveria ser proibida. Não há sentido em comemorarmos menos um ano de vida.


Pensando nisso, presumindo-se que idiotas pensem, colocou um caixote de sabão no meio da praça e começou a discursar. E à medida que o discurso avançava, a praça ia-se enchendo de curiosos. Ao fim de duas horas de discurso, a praça estava tomada por uma multidão que o aplaudia delirantemente.


Foi quando ele, o idiota, descobriu que era maioria. A partir de então, os homens inteligentes tornaram-se ilhas cercadas de idiotas por todos os lados.


Isso explica muita coisa que acontece Brasil afora e Brasil adentro. Explica também, o fato de escre-ver esta crônica tão idiota, e o leitor, de lê-la.

domingo, 15 de agosto de 2010

ATRAVESSANDO O RUBICÃO


Nas próximas eleições, quando serão eleitos o presidente da República, governadores, dois terços do Senado e deputados federais, o Amapá viverá, com certeza, a mesma situação de César, em março do ano 49 a.C. quando resolveu atravessar o Rubicão, rio que separava a Gália Cisalpina (atual França), da península italiana. À época, César pronunciou a famosa frase “alea jacta est” (a sorte está lançada). Logo depois guardou sua espada com a qual lutara contra os gauleses chefiados por Vercigentorix, no buraco de uma árvore, a qual só foi encontrada dezenas de anos depois, por um centurião romano chamado Lancírius Escudus, convocado às pressas pelo imperador Otávius, em março do ano 2 d. C. Esclareça-se que, Roma vivia sua fase republicana, e era impensável a possibilidade de um general e suas legiões, atravessarem os portões de Roma.
Na época, os patrícios (cidadãos romanos pertencentes à elite), tinham ojeriza a ditadores, imperadores e outras formas de autoritarismo. Aliás, assim como nós, à exceção de alguns integrantes da petezada, socialistas e congêneres, que nunca esconderam suas preferências por ditaduras e ditadores como Ahmadinejad, Fidel Castro, Hugo Chávez e outros menos votados.
Mas, o que têm em comum, o Amapá, César e o Rubicão, perguntarão perplexos, meus minguados seis leitores? Simples. O ex-senador João Capiberibe, cassado por compra de votos em 28 de abril de 2004 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), terá, ele também, que atravessar o seu próprio Rubicão. Sabe-se que o Amapá está farto do autoritarismo que viveu ao longo de sua história, salvo as exceções de sempre, desde seu primeiro governador, o então capitão Janary Gentil Nunes. E Capiberibe, muito embora afirme o contrário, tem perfil autoritário, sim.
De modo que é candidato ao Senado, na esperança de que possa se vingar de Gilvam Borges. Se conseguir seu intento, claro.
Outra pergunta que ainda sem resposta, mas que desconfio qual seja é: estará ele disposto a, tal qual César, guardar sua espada e entrar, com o espírito desarmado na luta política? Só o tempo responderá a esta indagação. Uma coisa, porém é certa: quem já perdeu mais de uma vez para o mesmo adversário, corre o risco de perder outra vez. Outra coisa é certa. Oligarquias são uma tradição planetária. Ainda em 2009, um jornal britânico censurava o Brasil por causa de sua tradição oligarca. Que autoridade têm eles para criticar quem quer que seja, uma vez que, além de imperialistas, alíás tal qual os franceses, alemães, belgas, italianos e outros europeus? Lembremo-nos que a rainha Elizabeth II pertence a uma das mais tradicionais e oligarcas famílias da Grã-Bretanha. O ex-senador também pertence a essa mesma oligarquia que tanto critica, muito embora tenha sua esposa na Câmara Federal, um filho na Assembléia Legislativa do Estado do Amapá, sem esquecer a senhora sua irmã, a ex-deputada federal Raquel Capiberibe, hoje aposentada no cargo de Conselheira do Tribunal de Contas do Amapá, nomeada por ele quando governador.
Pensar é preciso. Ou não será preciso pensar? De tal modo que em outubro, pensemos 70 vezes sete antes de escolher nossos candidatos, porque o preço pago pela omissão dos melhores, é serem governados pelos piores. E depois, a questão da lei das Fichas Limpas é irrelevante. O que interessa é que nós, eleitores, sejamos fichas limpas.



sábado, 7 de agosto de 2010

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

É urgente, a necessidade que a medicina, em conjunto com a ciência e a tecnologia reformulem a aplicabilidade dos órgãos e membros de tipos humanos específicos. A reformulação poderia começar pela boca. Uma urgente operação emudecendo a classe política seria um alívio e tanto para os nossos poluídos ouvidos, desgastados pela verborragia sem fim e pelo festival de besteiras em que a classe especializou-se em produzir e transmitir na forma de sons. A maioria, absolutamente incompreensíveis.
O estômago do povo precisa de uma urgente adaptação a um novo estilo de digestão. Não aguentamos mais a quantidade de sapos que os poderosos nos obrigam a engolir. E a digerir, o que é pior.
Os pés, bem que poderiam calçar botas eletrônicas de sete léguas. Com elas, quem sabe, poderíamos fugir para Pasárgada. Com duas vantagens. A primeira, ficaríamos bem distantes da miséria que nos assola. A segunda, em Pasárgada, todos são amigos do rei. Aqui não. Só os privilegiados do andar de cima, conseguem a façanha. E nem todos. Talvez isso tenha levado Millôr Fernandes dizer: “Ou restaure-se a moralidade, ou nos locupletemos todos”.
Mas, voltando ao admirável homem novo brotado das profundas da ciência, os olhos, inevitavelmente, teriam que ser substituídos. Ou os olhos ou a paisagem. Talvez seja mais fácil fabricar novos olhos que não vejam tanta corrupção, tanta decadência moral, tanta violência, tanto assalto - às bolsas particulares e aos cofres públicos -, tantos crimes, que não é possível sejamos feitos à imagem e semelhança de Deus. Nós, nossas atitudes e Ele, não temos nada a ver.
Mãos. Para que servem as mãos, perguntou o poeta. A resposta é fácil. Servem para acariciar, para trabalhar, para alimentar, para construir, para pintar, para embelezar, para escrever. Servem para unir-se em fervor de oração. Servem para abençoar, para purificar. Servem para clamar, estendidas aos céus, pedindo piedade para os que sofrem. Servem para curar. Deviam servir só para isso.
Mas servem também, para empunhar a arma que mata, servem para estrangular, para ferir, para destruir, para enfear, para roubar. Servem para apedrejar. Servem para, punho cerrado, elevar-se aos céus pedindo - ou jurando - vingança. Não deviam servir para isso. Não deviam servir para isso e tantas coisas mais e más. Não deviam servir jamais, para roubar, assaltar, furtar. Também não deveriam servir para escrever o nome errado na cédula eleitoral.
Haverá em todo o Universo, a grande medicina que nos cure de todos esses males e que nos opere, criando homens verdadeiramente novos?
Há sim. É uma operação profunda, radical. Mas que não exige bisturis, tesouras, anestesias ou raios lasers.
Só precisa de atenção, boa vontade e a crença inabalável que a fé remove montanhas. Ah! E o fiel cumprimento de um código de postura simples e simplista. Atende pelo nome de Dez Mandamentos.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

SEIOS MATERNOS E TETAS GOVERNAMENTAIS

O seio, como se sabe, é aquela parte da anatomia feminina, cheia de curvaturas e sinuosidades, que o vulgo chama também de peito.
Na pecuária, o seio atende pelo nome de teta. Muito embora não tenha nada a ver com pecuária, exceto pela placidez bovina com que o povo assiste o desperdício do dinheiro público, o governo também tem tetas. Tetas imensas, generosas, produtivíssimas. Mas apenas para  quem consegue sugá-las. Para estes, as tetas governamentais têm saúde de vaca holandesa premiada em exposição.
Mulheres de peito já as tivemos muitas. Marylin Monroe, Jane Mansfield, Gina Lollobrigida, possuíam seios opulentos e eventualmente túrgidos. Ficaram famosas, menos pelo talento e mais pelos seios, peitos ou tetas. Vocês decidem.
Nestes tempos de vacas magras, seios opulentos caíram de moda. A onda, agora é a mulher despeitada, lisa, retilínea, com seios que lembram mais um par de ovos - fritos, evidentemente.
Até mesmo as tetas governamentais estão produzindo menos. Ou por falta de dinheiro, digo, de leite, ou porque a fonte secou ou está secando.
Mas, leio com satisfação, notícia em jornal local, dando conta de que a Secretaria da Saúde está organizando a semana da amamentação, no Amapá. É claro que o evento é dirigido exclusivamente à turma do andar de baixo. O andar de cima, provavelmente já está saciada. Já mamou demais.
Falando sério, é uma iniciativa que merece todo o apoio da sociedade. O leite materno é absolutamente indispensável para o perfeito desenvolvimento físico e mental da criança recém nascida. O mau hábito de muitas mulheres que optaram por não amamentar suas crias, por medo de perderem a rigidez dos seios, fez com que toda uma geração crescesse desfalcada de nutrientes importantíssimos ao seu desenvolvimento. A mentalidade começa a mudar. Nenhum alimento é mais completo que o leite materno.
Amamentar é ato tão sagrado, que nem o mais patife dos homens ousará faltar com o respeito devido à mulher, que por uma razão qualquer resolva amamentar seu filho, em público.
É bom que seja assim. O Brasil precisa de filhos fortes e saudáveis. E a melhor contribuição que as mulheres poderão dar, será amamentar suas crianças para que elas cresçam e se desenvolvam plenas em vigor e saúde.
Quanto às tetas governamentais, estas, quanto menos amamentarem, melhor para todos.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

POÇA D'ÁGUA

No tempo em que eu caminhava perdido, longe de tudo e de todos, longe de D'us e dos braços teus, certa noite parei na borda de uma poça d'água. E olhando pra baixo, vi os últimos raios de Sol indo embora para iluminar o outro lado do mundo. Mas não foi só isso que vi, pois vi muito mais. Vi as primeiras estrelas dando o ar da graça, ainda pálidas, mas brilhando mais e mais, à medida que a noite embrulhava com seu manto negro, todos os que estavam ausentes da luz.
E foi naquele pequeno lago que pude mergulhar no Cosmos infinito. E foi lá, bem em baixo - ou seria lá em cima? - que vi maravilhas como a nenhum outro homem foi dado ver. Cometas passaram rente a mim, e sua cauda brilhosa, deslizando em silêncio em direção ao nada absoluto, parecia indicar a direção a seguir. Vi explosões estelares no ato de parir outros corpos celestes. Foi nessas andanças, que pude apanhar os anéis de Saturno para te presentear quando te encontrasse.  Sabia que teria que te buscar no reino da escuridão mais absoluta que são os buracos negros, corpos celestes tão densos que deles nem a luz escapa, pois de lá sairias para dominar um pedaço da Terra, de onde descenderiam todos os homens e mulheres paridos por ventre de mulher. E lá, quando juntasse minh'alma à tua, os anéis de Saturno seriam o penhor da nossa eterna aliança
Mas, antes de encontrar, muito ainda teria a percorrer pelo espaço sem fim. Era preciso, para que minha formação se tornasse completa, que eu me debruçasse nas fímbrias do Universo, para ver o que existe além dele e de todos os universos existentes.
Voltei bilhões de anos depois, carregando comigo, todo o conhecimento do bem e do mal que existe em toda a obra divina. Creio mesmo, que passei rente a Ele. Só isso explicaria a intensidade daquela luz como outra não vi. E foi essa luz que falou comigo com benevolência: “Vai em paz, porque Eu te acompanharei, até mesmo depois que deixares de existir”.
Foi quando recobrei a consciência e me vi novamente à beira daquela poça d'água que me tornou único entre todos os viventes.
Depois, mudado para todo o sempre, voltei para casa e me aninhei entre braços que me receberam com doçura e juntos, adormecemos para nunca mais acordar, exceto quando encontrarmos aquela luz que falou comigo há tanto tempo.
E quando isso acontecer, faremos parte daquela luz, pois nela estão concentrados todos os sentimentos de amor porventura existentes. E posso afirmar, que nunca houve e nem haverá jamais, amor tão grande como aquele que nos leva para os braços do Senhor de todas as luzes.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O LADRÃO HONESTO


Estou preocupado. Preocupado, vírgula. Estou preocupadíssimo. Como de hábito, no horário do Programa do Jô, estava eu sem sono. E querendo ver as novidades que o Gordo traria em seu retorno das férias, resolvi assisti-lo. E foi ele que me deu a noticia. Não sei se é boa ou se é má. Mas que gerou preocupação, gerou, sim. Imaginem que um país europeu cujo nome não lembro, provavelmente porque irrelevante, pesquisou qual o povo mais dado à prática do roubo, do furto, do apossar-se do alheio, do surrupiar, do ficar com o que não é seu, do desfalque, do estelionato - uma forma de roubo, também; do dar um 'tapa', do embolsar imerecidamente, enfim, da ladroagem. E - tragédia nacional - o Brasil ficou relegado a um miserável quinto lugar. Como foi possível que nos tirassem um título no qual éramos imbatíveis? Onde está o Congresso Nacional que não toma uma providência? Serão os nossos ladrões mais honestos que os ladrões dos outros? Mas isso é uma incongruência. Não existe ladrão honesto. A exceção, talvez, seja o ladrão que admite que é ladrão. Imagino o ladrão honesto, respondendo ao indefectível interrogatório que as empresas fazem ao contratar alguém:
- Nome: Zé Ninguém.
- Idade: 25 anos de carreira e correrias.
- Profissão: Ladrão.
- Como?
- Ladrão, por quê?
- Isso é uma desfaçatez. Como ousa o senhor admitir sem mais e nem menos que é ladrão? E ainda quer emprego, diz o burocrata.
- Claro, diz Zé Ninguém. Com emprego, carteira assinada, vale transporte, vale refeição e mais um mínimo, no mínimo, dá pra deixar de roubar. O senhor não acha?, diz o ladrão.
- Fora daqui, vocifera o burocrata.
Abatido o ladrão honesto volta à sua vida de roubos e correrias. No Brasil tudo é difícil, filosofa. Até mesmo ser um velho e decente ladrão honesto...
Num país em que todo mundo rouba todo mundo, melhor dizendo, num país onde a maioria rouba e a minoria é roubada, não dá pra ter esperanças. Aliás, esperança é a primeira coisa que a chamada classe política nos rouba. Ladrões de todos os naipes roubam a merenda das nossas escolas; roubam a beleza da Última Flor do Lácio, inculta e bela; roubam nos pesos e medidas; roubam via internet, via Correios, via caminhões de carga, roubam-nos nas esquinas e nos semáforos. Roubam-nos até a mulher amada. Roubam tudo e ainda querem troco. Roubam-nos a vida. A nossa vida, a vida dos nossos filhos e a dos filhos dos nossos filhos.  Roubam tanto, que nem mais sabem o quanto e o que roubam. São tantos os milhões que pensam ser seus, e não são...
E ainda dizem que estamos em quinto lugar? Ah! Que saudades dos tempos em que éramos os primeiros na arte de roubar.  Pelo menos sabíamos o povo que éramos.