sábado, 1 de maio de 2010

UM CACHORRO COM NOME E SOBRENOME

Alguém me perguntou certa vez: para que serve um cachorro? A resposta veio imediata, clara e límpida: para amar.
Um cachorro, o seu cachorro, é o espelho da alma do seu dono. Há uma estranha simbiose entre um cachorro e seu dono. Há amor. Talvez o mais puro de todos os tipos de amor que possam existir, porque não há o preço do desejo, que no mais das vezes, é a morte do amor desejado.
O cachorro talvez tenha sido colocado no mundo, para refletir a humanidade que não temos, perdida que foi no embate de milênios do homem contra o próprio homem. Ninguém, por muito amor que tenha para dar, conseguirá exprimir no olhar, o ar de adoração que tem o cachorro pelo seu dono, seu rei e seu deus.
Tivesse Deus por parte dos homens, um pouco, um pouquinho só, da fé, do amor cego e irrestrito, da lealdade, da adoração verdadeira que tem o cão por seu dono, e com certeza seria um Deus mais feliz. E por sê-lo, não descarregaria sobre os homens o peso da Sua frustração, punindo-nos por não sabermos dar-Lhe o que quer, pois somos apenas homens e o amor perfeito é dádiva concedida exclusivamente ao cão.
Tive um cão. Chamava-se Xuxu. Xuxu Bezerra. Era um cachorro com nome e sobrenome. A maldade inata dos homens mandou-o antes do tempo, para os eternos campos de caça. Viveu e me ensinou a viver por dez anos, tornando-me melhor.
Dez anos apenas. Foi pouco para conter a imensidão do amor que tinha para dar. Meu coração, tantos anos passados, teve que dobrar de tamanho. Tenho agora uma cadela. Chama-se Duda. Duda Bezerra. Igual a Xuxu, é uma cachorra também com nome e sobrenome. Duda ainda não sabe que Xuxu existiu. Talvez desconfie. Cachorros sabem de coisas que nós sequer podemos supor.
Um dia nos encontraremos os três. Duda, Xuxu e eu. Agrada-me a idéia de vê-los casados. Eu, de minha parte, já a prometi a ele.
Nos eternos campos de caça, Xuxu já deve ter demarcado área para a minha tenda. Caçaremos os três juntos. Eles reproduzirão e encherão o céu de cachorrinhos felizes por amarem e serem amados. Acredito que a luz das estrelas, bem pode ser os olhos brilhantes de milhões de cachorros, enchendo o universo do amor infinito que nos envolve.