quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

NIVELANDO POR "BAICHO"

Uma corrente entre os profissionais do Direito, na qual se incluem professores, defende a tese de que expressões em latim devem ser abolidas da prática advocatícia. Talvez queiram, indo mais longe, que se esqueça que o arcabouço jurídico no qual se apóia o Direito Ocidental tem origem latina. Para eles, o ideal é facilitar as coisas de modo que o estudante de Direito estude menos e aprenda menos ainda.

Na mesma direção, caminham professores da última flor do Lácio, inculta e bela como diria o poeta. Pretendem que se escreva do modo como fala o vulgo, o populacho, a malta, a choldra, caso em que se poderia dizer que querem que se "fali comu o populaxo, a mauta, a xoldra.” Ou seja, querem ambas as correntes, o nivelamento por baixo. Isto talvez explique o sucesso do brega e dos Paulos Coelhos da vida.
Pensando bem, sou a favor. E para que as coisas ficassem bem mais simples, o primeiro passo seria abolir a expressão “educação superior”, já que a educação teria a mesma altitude do rés do chão. E que tal chamar o professor, dito superior, de tio? Ou seria til?
Mas, se é para nivelar por baixo, se é para facilitar, por que não eliminarmos os cursos de medicina avançada. Um enfermeiro qualquer poderia receitar remédios para doenças tradicionais como caxumba - ou seria cachumba? - dor na ponta da pá, falta de ar, unha encravada e furada de prego? Aliás, no Amapá, as parteiras tradicionais já tornam dispensáveis ginecologistas. Elas têm salvado milhões de vidas ao longo do tempo, muito embora algumas feneçam ao nascer, por falta de maior conhecimento por parte dessas mulheres que são a tábua de salvação das pobres grávidas de homens pobres. Pela vontade dos donos dos novos tempos do nivelamento por baixo, maternidades são perfeitamente dispensáveis, uma vez que as nossas competentes parteiras tradicionais podem resolver qualquer problema que ocorra com a mulher gestante. E que tal deixarmos de construir prédios imensos e voltarmos às choupanas, coisa que qualquer um pode erigir, sem a necessidade de forçar pobres e analfabetos estudantes a estudar mais?
Com sorte, poderíamos dispensar os livros e voltar ao estilo talibã de administrar. Afinal de contas, ler dá um trabalho insano. E depois, quem tem o hábito de ler é visto pelos analfabetos de todos os níveis educacionais como mero exibicionista.
Na área musical não precisamos simplificar mais nada. Quem tem nos Reginaldos Rossis da vida seus ícones e nas BBBs, seu ideal de beleza e cultura merece viver no país da simplificação geral.
A propósito, o avanço tem sido grande nesse processo de nivelamento por baixo. Coisas como cultura, ética, oratória, honestidade deixaram de ter importância. No campo político, então, avançamos muito. Por falar nisto, políticos de todos os naipes ideológicos ou mercadológicos deveriam deixar de brigar. O combate não é mais entre o mocinho e os bandidos. É apenas entre bandidos. E como todo bandido que se preza, já estão todos devidamente nivelados. Por baixo. Ou seria por baicho?