terça-feira, 16 de agosto de 2011

ÚLTIMA VIAGEM


O velho marujo Anníbal Barcellos começou sua última viagem, ontem, 14 de agosto do ano da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo. Depois de 93 anos navegando nos tempestuosos mares da vida, partiu para o Mar da Serenidade, onde singrará por toda a eternidade.
Capitão de Mar e Guerra da Marinha Brasileira, o Comandante Barcellos, como era chamado, deixa atrás de si um impressionante legado político e administrativo. Foi o último governador nomeado pelo regime militar de 64 para o então Território Federal do Amapá, e exerceu o cargo no período de 1979 a 1985. Foi, também, o primeiro governador eleito do Estado do Amapá, após a transformação do Território do Amapá em Estado, em decorrência da promulgação da Constituição Federal de 2008, cargo que exerceu no período de 1991 a 1995. Antes, porém, foi eleito Deputado Federal no período de 1987 a 1991. Anníbal Barcellos também foi prefeito eleito de Macapá entre 1997 e 2001. Em 2004 foi eleito vereador municipal de Macapá e, ao fim do mandato em 2008, encerrou sua movimentada, brilhante e vitoriosa carreira.
Anníbal Barcellos foi, é e sempre será um referencial no exercício da arte da política. Os mais jovens, certamente, muito aprenderão com ele sobre a arte de governar, tão necessária para o fluir tranquilo entre os embates da vida política.
Sobre suas muitas realizações administrativas, não é este o momento mais adequado para comentários mais detalhados. Mas é importante dizer que, se hoje temos mais escolas, mais ruas, mais avenidas, mais praças e mais muitos mais, devemos a ele e seu modo simples de governar.
Agora que viaja em águas tranquilas sobre o Mar da Serenidade, desejamos do fundo do coração, que o velho marinheiro aporte sua nau no seguro Porto do Céu. Deus, na Sua infinita misericórdia, certamente designará um anjo-marujo para recepcioná-lo e dar-lhe boas vindas. Convém não esquecer que o Deus de Abrahão, também foi uma espécie de marujo, quando Seu Espírito deslizava sobre a superfície das águas onde sopravam fortes ventos, como nos ensina o Livro dos Livros.
Enquanto isso nós, ainda em terra firme, desejamos ao velho comandante uma boa viagem. Que tempestades e borrascas celestes jamais ocorram durante essa longa travessia.







segunda-feira, 15 de agosto de 2011

DE PASSAGEM


Conta-se que um homem muito rico, certo dia visitou um sábio que morava num lugar muito distante. Ao chegar à casa do sábio, o homem rico notou que o eremita era despossuído de objetos comuns que normalmente se vê numa casa, como cadeiras, televisão e outras coisas. Curioso, perguntou ao sábio porque aquela casa não tinha sequer uma poltrona onde uma visita pudesse senta? Ao que este respondeu: e suas coisas, seus móveis, onde estão? Surpreso, o homem rico respondeu: moro longe daqui e meus móveis estão lá. Aqui, estou só de passagem. Ao que o sábio respondeu: eu também.
Essa lição nos ensina o óbvio: estamos aqui, neste planeta, só de passagem. Somente enquanto a vida nos permitir. Isso, evidentemente, não significa que devamos todos ser ou viver em estado de absoluta pobreza. Mas, na contrapartida, devemos aprender que nada justifica a ambição desmedida, o acúmulo de riquezas de modo excessivo, particularmente o acúmulo de riquezas roubadas. Mostrem-nos um ladrão bem sucedido, ainda que dono de bilhões de dólares ou toneladas de ouro, e lhes mostraremos um mentiroso, porque nenhuma pessoa que enriqueça roubando é bem sucedido, na verdadeira acepção da palavra. Quando muito, tem alguma ou muita coisa. Mas não é absolutamente ninguém.
Posto isso, é de se questionar: o que leva um homem – ou mulher – que não nasceu para ser desonesto, a se apropriar do que não é seu, a ponto de se tornar um corrupto, manchado eternamente pela maldição que é o furto, crime – ou pecado – condenado e condenável por todas as civilizações e culturas ao longo da imensa saga humana que ainda não terminou?
Michel de Montaigne dizia que ao mentiroso, a pena de morte na fogueira, ainda seria pouco, tal o dano e horror que causa. Ao ladrão, seja da carteira alheia, seja do cofre particular, seja do Erário Público, o castigo da pena de morte, também seria pouco, tal o dano que causa, seja a uma pessoa, a uma comunidade ou ao um povo ou país inteiro. Não que estejamos aqui defendendo a pena de morte, a qual nossas leis proíbem de modo explícito, porque desumana e impossível de reparar em caso de erro, cuja possibilidade sempre existe. O que se quer dizer é que, dentro do legalmente permitido, o castigo imposto àquele que se apropria do que não é seu deveria ser o mais rigoroso possível, porque o povo brasileiro não mais aguenta ser espoliado de seus bens, de sua vida e de seus conceitos morais todo santo dia, por aqueles que só pensam ter e ter mais a qualquer custo, sem se importar com os males que provocam com suas ações criminosas.
Nos casos mais recentes de apropriação do dinheiro público, o Amapá não mais suporta ver seu nome exposto na mídia nacional, como se nosso povo fosse o símbolo da corrupção brasileira.
Que os ladrões de sempre aprendam: estamos aqui só de passagem. E de pouco ou nada vale esse desejo de acumular riquezas de modo desmedido, particularmente riquezas que não lhes pertencem e sim ao povo.
A esses, que o castigo venha a galope e de modo exemplar. Afinal de contas, está escrito no Livro dos Livros: não furtarás. E se isso for cumprido por todos, a filial do paraíso que todos desejamos já estará a um passo de nós. Para que isso aconteça, basta apenas que cada um a faça a sua parte. Nada mais.