quarta-feira, 25 de agosto de 2010

D'US E O TEMPO


Diz a Bíblia, que D’us já existia antes mesmo do início dos tempos. O início dos tempos é um dos grandes mistérios com os quais o homem já defrontou. Primeiro, porque se o tempo é infinito não terá fim. Por conseguinte, não pode ter tido início. Se não teve início, como D’us poderia existir antes do que não teve início? Dúvida para dilacerar o coração de qualquer crente que não seja completamente crente. Mas este tem seu próprio contraditório: como duvidar, se o seu princípio filosófico é montado, não em cima do conhecimento, que só vem a partir da dúvida, mas em cima da fé. E como é difícil crer. Só os que não crêem podem entender do que falo. É mais fácil e mais confortável, mas de imprudência a toda prova, crer na ilusão da mulher amada do que acreditar no que já era antes de ser; no que tem 72 nomes e cujo nome verdadeiro é YHWH, ou seja, o Impronunciável. Sem contar, naturalmente, com o grego Theos, o catalão Déu, o espanhol Dios, o aragonês Ridiós, o francês Dieu, o bretão Doue, o italiano Dio, o inglês God, o alemão Gott, o dinamarquês Gud, o norueguês Herregud ou Herre Gud, o sueco Herregud ou Gud, simplesmente. Os muçulmanos, árabes ou não, dizem Allah. Mas dizem, também, que o Altíssimo teria cem nomes, dos quais o último seria Impronunciável. Finalmente, temos o esperanto Mia Dio (Meu Deus), isto sem contar com o eslavo Bog, o sânscrito Ishvara, El no judaísmo, onde antes pontificou Elohim, substituído por Javeh e Jeovah, e onde aparece também, o tetragrama YHWH, que se acredita referir-se à origem henoteística; o hindu Krishna-Vasudeva na Bhagavata ou, posteriormente, Vixnu e Hari, ou recentemente Shakti.
Mas, a partir do momento em que passamos a nos referir a nós mesmos com o sentido do existir próprio, momento esse que não sabemos precisar quando ocorreu, pois já existíamos antes, ainda que sem a consciência do existir, é que tentamos administrar o tempo, o precioso e pequeno tempo da nossa existência. E como é difícil fazê-lo.
Determinamos então que há um tempo para tudo. Um tempo para nascer, um tempo para viver e um tempo para morrer. Neste meio tempo, temos de arranjar tempo para outras coisas, que no nosso entender, deverão preencher o tempo vazio das nossas vazias existências. Passamos a exigir, criar ou ter um tempo para trabalhar, um tempo para comer, um tempo para dormir. Um tempo para dançar, para sorrir.
Mas temos que ter também, um tempo para sofrer, um tempo para derramar toda a lágrima que há. Um tempo para a vingança. Mas não há tempo para o perdão. Perdoai-me pelo amor de D’us, deveríamos bradar aos céus todo santo dia, se é que algum dia é santo, se é que alguma coisa é santa. Um tempo para se arrepender. Mas não há tempo para o arrependimento. Temos que ter tempo para tudo, mas não há tempo para nada.
A maré do tempo virou, É tempo de partir para o outro lado do tempo. Mas se tempo houver, cante. Cante com toda a alma, com todo o coração, com toda a devoção, como cantou Davi, como cantou Salomão, como eu cantava quando tempo havia para cantar. Como cantava Vinícius. São demais os perigos desta vida...