quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

SE EU PUDESSE

SE EU PUDESSE


É claro que a autoria do texto abaixo não é minha. E nem poderia ser. E não poderia ser pela simples razão de que não possuo sequer uma centelha que seja da capacidade intelectual, da inspiração divina, diria eu, de um Jorge Luiz Borges, talvez o maior escritor que o argênteo pais da região do Prata já teve e, indiscutivelmente, seu nome está registrado em letras de ouro no panteão dos titãs da literatura, ao lado de gênios como Oscar Wilde, Tolstói, Dostoiewisky, Nabokov, Émile Zola, Milton ou Machado de Assis e Graciliano Ramos, que estão, eles também, na galeria dos imortais das letras.
Entretanto, pela beleza e sabedoria do texto, é que ouso enfeitar esta coluna com essa jóia, esse primor do mundo das letras. Como me foi repassado sem título, tomei a liberdade de nomeá-lo assim: “SE EU PUDESSE”. Deliciemo-nos portanto, e nos regalemos com essa delícia em forma de crônica:
“Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenho sido e, na verdade, bem poucas coisas levaria a serio.
Seria menos higiênico.
Correria mais riscos, viajaria mais. Contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilhas, teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.
Eu fui dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da sua vida: claro que tive momentos de alegria.
Mas, se pudesse voltar e viver, trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos, não percas o agora.
Eu era um que desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda chuva e um pára quedas; se voltasse a viver viajaria mais leve.
Se eu pudesse votar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanhceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo.”
Não sei porque, ao assistir mais uma vez o filme da minha vida, pensei que Borges, ao escrever o texto acima, o escreveu para mim, para ti, para nós. E fiquei triste ao ver que tudo poderia ter sido diferente. Mas não foi. E vi o meu viver que me pareceu, de repente, uma promessa que não se cumpriu, uma flor que não desabrochou e tantas possibilidades que se perderam nos desvãos do tempo. Só isso poderia explicar esse vazio que me domina, cada vez que olho o meu passado que sei, não voltará nunca mais, porque está escrito nas estrelas que no meu futuro, tu não estarás.