quarta-feira, 2 de junho de 2010

A REPÚBLICA PROVISÓRIA

Não conheço o permanente. Só conheço o provisório. Talvez, dado o meu desconhecimento sobre quase tudo o que há, venha eu a fazer afirmação tão peremptória.
Permanente, quando muito, é o tempo. Mas ninguém sabe o que é o tempo. Exceto que passa. E continuará passando "per omnia secula seculorum".
O espaço, este não é permanente nem provisório. É limitado. Talvez seja limitado pela barreira do tempo. Provisórios, conheço muitos. Provisório é o amor eterno. Provisória é a mulher amada. Principalmente a amada amante de que nos fala Roberto Carlos.
Provisório é o fogo eterno da paixão, é a eterna maldição. Provisório é o amor, a carícia e o prazer. O ódio, não. Ódio que se preze, tem que ser permanente. Permanente é ou deve ser a idiotia. Idiotas não podem dar-se ao luxo de serem provisórios. Não existem idiotas provisórios. Todo idiota é permanente. E irritante.
Provisória é a roupa que usamos, o carro que compramos, a coroa que ostentamos, o cetro que empunhamos. Provisória é a pose, a arrogância, o orgulho. A sabedoria não. Esta é definitiva. Tão definitiva quanto as frases lapidares.
Provisória é a vida. A morte, ao contrário, é definitiva. Total e irremediavelmente. Provisórios são os políticos e os discursos. As promessas, não. Pela sua própria estrutura, são definitivas.
Provisórias são as medidas. Mas, pouco provisórias. Tanto que acabam se tornando definitivas.
Aliás, o provisório, diz-se, nasceu na Bahia de Todos os Santos, deuses e orixás. Saravá!
Roberto Campos conta-nos, em deliciosa crônica, que o líder da Sabinada, revolução que pretendia tornar a Bahia independente e republicana, o que era de hostilidade ímpar ao Império brasileiro, teve como seu herói maior, Sabino, ou melhor, o Dr. Francisco Sabino Alves da Rocha Vieira.
Como se sabe, a revolução foi sufocada em quatro meses de luta e Sabino, condenado ao enforcamento. Comutada a pena, foi degredado para o estado de Goiás e depois para o Mato Grosso. Mas isso já é outra história. O que nos interessa, na realidade, é que a República Bahiana acabou declarando que: "A separação da província em Estado independente era até a maioridade de Sua Majestade, o Imperador Se-nhor Dom Pedro II".
Coube ao Brasil, mais especificamente aos baianos, inventarem a república provisória. Como se vê, "há mais coisas provisórias entre o Céu e a Terra do que imagina a tua vã filosofia", poderia ter dito o príncipe Hamlet.