sábado, 3 de abril de 2010

O PARAISO PERDIDO

O poeta inglês John Milton, do século 17, eternizou-se ao escrever Paradise lost (1667 - Paraíso perdido), um dos maiores poemas épicos da literatura universal. Seu leit-motiv é a justiça divina, mas o perso-nagem dramático que domina o poema é Satã. A seguir, escreveu o Paraíso conquistado. Este é sequência e contraponto. Cristo, o segundo Adão, vem à Terra reconquistar o que o primeiro dos homens perdera.
O conflito entre o bem e o mal perseguiu Milton até o fim da vida. É uma característica própria dos que tentam entender o Universo e o homem, a partir do princípio das partidas dobradas, ou seja o princípio que diz que para o bem, se contrapõe o mal; para a vida, a morte, para o alto, o baixo, para o mau, o bom, e assim por diante.
Este conflito tem dividido o homem desde o princípio dos tempos, sobre o certo e errado, guerra e paz, homem e mulher, dia e noite, Deus e o Diabo, crime e castigo. Esse mesmo conflito deu origem às religiões, que voltadas intrinsecamente para o bem, provocaram, talvez, os maiores males que o homem poderia criar para torturar-se a si mesmo. Além dos massacres cometidos em nome de Deus, as religiões colocaram viseiras que impediram o homem de raciocinar com clareza e pudessem ver a face serena de Deus, que buscam há tanto tempo.
A nossa civilização, dita greco-romana ou judaico-cristã, está sendo substituída por va-lores anglo-saxões. A América tenta impingir a idéia de que é possível a extinção do mal sem a prevalência do bem, que o crime não merece castigo, que Rosseau estava absolutamente correto com sua teoria do bom selvagem, que tal qual teria este fim, perdido o Paraíso por causa do Senhor das Moscas, como algumas seitas costumam chamar Belzebu (o Demônio do Judaísmo) e que William Golding estaria errado.
Nenhuma coisa e nem outra. O homem é simultaneamente Rosseau e Golding, é bom e é mau, é Deus e Diabo. Mais Diabo do que Deus.
Nossa tragédia, é que o Paraíso perdido está fora do nosso alcance. Tentamos por isso substituí-lo pelo paraíso da impunidade. Não vai dar certo, porque a humanidade tem cami-nhado desde os albores dos tempos, sob a permanente ameaça de homens cruéis e brutais.
Ainda vivemos em permanente estado de guerra. E qualquer pessoa que tenha estado na guerra, sabe que o homem produz o mal como a abelha produz o mel.
Mas. sonhar não paga imposto, ainda. Quem sabe ao fim e ao cabo não nos econtremos todos, quem sabe, naquele lugar abençoado que, se não era o Paraíso, ficava a Leste do Éden. E o pior. é que não nos resta outra opção: ou habitaremos os Campos Elíseos de que falavam os gregos, ou padeceremos ad eternum no nono círculo do Inferno de Dante. Quem viver, digo, quem morrer, verá.