segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

NÓS E O POVO HEBREU

Sei que é muita pretensão minha querer – e o que é pior – tentar escrever sobre a saga do povo que o próprio D’us chamou de seu e com o qual, nós, ocidentais no geral e brasileiros no particular, além dos médio-orientais, temos tudo a ver. No entanto, como ousadia é palavra que não está ausente do meu dicionário, vou pelo menos tentar falar sobre um povo, uma nação e uma religião que estão enraizados no mais profundo do nosso ser, senão, vejamos: Nossos nomes próprios são, em grande parte, nomes hebraicos. Exemplos: Gabriel (homem forte de D’us), Rafael (D’us cura), Miguel (soldado de D’us), José Yossef), Maria (Miriã), Simão (obediente), Madalena (Maria Madalena ou Maria de Magdala, Magadã ou Magedan (cidade próxima da margem ocidental do Lago de Tiberíades. A propósito, o nome Israel, tão comum entre nós, significa “O que lutou com Deus” ou “Forte como Deus”. Anteriormente seu nome era Jacó (Jacob), aquele que trabalhou para Labão durante longos 14 anos por causa da bela Raquel (ovelha, ou mansa como uma ovelha), foi patriarca, filho de Isaque (Isaac) e Rebecca, neto de Abraão (Pai de multidões), o que antes foi Abrão (Pai do alto).

Fiquemos por aqui, apenas para citar alguns nomes. Nossas religiões têm tudo a ver com o povo hebreu. O nome foi aportuguesado do hebraico Ivrim ou Ibrim, para denominar os descendentes de Sem, filho de Noé. Muitos, porém, acreditam que hebreu, seria uma denominação advinda da expressão ever ha-nahar que significa “aquele que vem do outro lado do rio”, uma referência ao Rio Eufrates.
Foram eles, os hebreus, que primeiro tiveram a noção de um D’us único, ao contrário de todos os outros povos conhecidos à época, que tinham diversos deuses, incluindo gregos e romanos. Jesus (Yeshuah, em aramaico), um judeu e também arameu, é o nosso referencial sobre tudo o que existe de bom em todo o Universo conhecido. O mesmo D’us de Abraão é o nosso D’us, que também atende pelos nomes de Javeh, Jeovah, Elohim, Adonai ou ainda pelo tetragrama YHWH (ou seja, o Impronunciável) e o príncipe maior da Igreja Católica é Petrus (Pedro, em grego, aquele que antes era Simão, o pescador). Aliás, é bom lembrar que, assim como as igrejas protestantes, as ortodoxas e outras variações do catolicismo, a maronita, são filhas diretas da Igreja Católica Romana, esta também, é filha direta do Judaísmo. Se bem observarmos, veremos que nossa cultura, além da influência helênica, claro, tem muito – ou quase tudo a ver com o grande povo judeu. Aliás, segundo Gräetz, os povos criadores da civilização humana foram exatamente gregos e hebreus. Os helenos foram protagonistas únicos na história dos povos conquistados. Depois de sucumbirem sob as falanges macedônicas e as legiões romanas, impuseram aos vencedores sua enorme cultura que ainda hoje é fonte de conhecimento entre nós. Quanto ao povo hebreu, ao contrário dos gregos, permaneceu vivo em meio a impérios. Só para que se tenha uma pálida ideia de sua determinação em sobreviver num mundo hostil desde sempre, somente Jerusalém (que já teve nomes como (Jebus (dos jebuseus), Salém, Urusalim, Siom, Cidade de Davi, Aelia Capitolina, El Kuds (Santa), Beit el-Makdes (Casa da Santidade), Bet há-Mikdash (Templo), tem conseguido ressurgir das cinzas como se fora uma Phoenix hebreia ao longo dos últimos quatro mil anos a 121 conflitos por seu controle. Ela foi destruída duas vezes, 23 vezes sitiada, 52 vezes atacada e 44 vezes capturada por tribos e exércitos de impérios.
E ainda hoje, rodeado por milhões de inimigos árabes (eles também semitas e ditos descendentes de Ismael), Israel continua a guerrear por uma simples razão: o direito de existir. Ainda que banhada em sangue, milhões de litros de sangue ao longo de sua história, Jerusalém continua sendo a cidade sagrada de três grandes religiões: judaísmo, cristianismo e islamismo. Além disso, ao que tudo indica, o passado, o presente e o futuro da humanidade passam por ali. E por toda Israel, evidentemente. Não à toa que judeus de todo o mundo continuam a dizer todo santo ano na época da Páscoa (Pessach, em hebraico, passagem, em português): “Ano que vem, em Jerusalém). Israel, é portanto, por tudo o que já nos ofereceu, por tudo o que nos oferece e por tudo o que ainda há de nos oferecer, a ponte entre as trevas e a luz.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O CANTO DO CISNE

Deslizou pelas águas plácidas e um véu de tristeza encobriu seus olhos. Sabia que nunca mais veria aquela paisagem de sonho, aquele verde que cobria as margens do lago em que vivera durante tanto tempo. Pensou nas pétalas das flores que se debruçavam sobre o lago, e que caíam, quando chegava o tempo das flores caírem. Se as árvores ficavam menos belas, o lago, em compensação, enchia-se de mil variadas cores que só as flores primaveris têm.

Pensou em quantas primaveras passara ali, e esboçou um sorriso. Pensou nos verões da sua adolescência, quando os hormônios da juventude o levaram a cometer loucuras mil, e pensou que fora um tempo perdido. Tempo bom, era o da quase senectude que finalmente atingira. E pensou que, no inverno da sua existência, apesar de todas as fêmeas que lhe povoaram o caminho da vida, é que tinha encontrado a sua metade, aquela que fazia com que finalmente, após tanto tempo, se sentisse um ser por inteiro, aquela que lhe fora prometida pelos deuses das águas, quando sequer suspeitava, que estava destinado a nascer para reinar, soberano sobre todos os da sua espécie.
E perdido nos pensamentos, que tal qual um filme antigo, rodavam devagar nos olhos da sua imaginação, não a viu deslizar, vinda da outra margem do lago, na sua direção. O filme interrompeu-se para que ele pudesse apreciar na sua plenitude, aquela fêmea de beleza ímpar, que fizera com que o seu coração batesse mais forte, e voltasse a sonhar e a sentir sensações que julgara sepultadas para sempre, no lodo da vida que deixara para trás. Sorriu mais uma vez, mas era um sorriso diferente. Nem Salomão, em toda a sua glória, tivera tesouro mais precioso. Negra e bela, o sol coruscava, quando refletido na plumagem de ébano que lhe recobria o corpo, como se fosse uma rainha de Sabbah mil vezes mais rica e bela.
Foi nesse momento que sentiu no peito, a dor dos que amam demasiado, e sabem que a vida se lhes escapa nas dobras do tempo. E então chorou. Chorou e cantou. As lágrimas, apenas duas pérolas translúcidas, que tombaram dos seus olhos tristes para o lago belo e insensível. O canto, seu último canto, seu canto de morte, ecoou por todo o lago, subiu as serranias próximas e perdeu-se na imensidão dos céus.
Era o sinal para que os deuses abrissem as portas do paraíso, destinado aos cisnes que amaram como só os cisnes podem amar entre todos os seres vivos. Quando finalmente o belo exemplar negro de cisne fêmea chegou até ele, encontrou apenas um corpo branco, como ne-nhum outro cisne branco conseguira ser, desde que o Grande Cisne criara o Universo, sobre o lago que ondulava tristemente, como que movido por uma compaixão inexplicável.
E como era negra, bela e fêmea, pensou distraída e conformada que era destino dos cisnes velhos morrerem, quando era chegado o tempo dos cisnes velhos morrerem. Não sabia que tinha sido ela, em realidade, a coisa mais importante que ocorrera na vida daquele ser majestoso, que fora um dia o rei do lago. Não sabia que os cisnes só cantam uma vez na vida. Exatamente quando sabem que é chegado o momento de partir para nunca mais voltar. Não sabia que tinha sido ela, seu último sonho, sua última quimera, o seu último e verdadeiro amor.
E por não saber, afastou-se dali, deslizando negra, altiva e bela, na direção de um jovem cisne que a esperava do outro lado do lago.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

CURIOSIDADES BÍBLICAS

Não poucos livros têm sido escritos contendo dados interessantes, curiosidades, estatísticas e, pasmem, até mesmo erros de tradução ou de impressão da Bíblia. A primeira curiosidade é que o nome Bíblia não aparece uma única vez na Bíblia. O nome advém do grego Bi-blos, por causa da cidade fenícia de Biblos, um importante centro produtor de rolos de papiros, usados para fazer livros. Com o passar do tempo, o termo passou a significar “livro”. Bíblia é a forma plural (“livros”). A Bíblia, na verdade, é uma coleção de livros. Também é conhecida simplesmente como “o Livro” ou “o Livro dos Livros”.

Um outro fato que chama a atenção é que a Bíblia não diz nada a respeito de qual era a fruta da árvore do conhecimento do bem e do mal, que não devia ser comida por Adão (Adam, em hebraico, palavra que deriva de Adamah, a Terra) e Eva. Uma antiga tradição europeia diz que essa fruta seria a maçã. Em latim, a palavra “malum” significa tanto “maçã” como “mal”, o que pode perfeitamente, ter originado essa tradição.
Surpreendentemente, se bem observarmos, veremos que a palavra “Deus” aparece em todos os livros da Bíblia, exceto em Ester e Cântico dos Cânticos. Por isso, muitos judeus e cristãos argumentavam e, eventualmente ainda podem argumentar que esses livros não fariam parte da Bíblia.
Sabe-se, também que o texto mais antigo do Novo Testamento ainda existente, é um pedaço do Evangelho de João. Escrito em torno de 125 d.C., o fragmento contém partes de João, 18:31, incluindo a pergunta feita pelo quinto procurador da Judéia, o romano Pôncio Pilatos: “Você é o rei dos judeus?
Porém, temos muitos mais fatos bíblicos extremamente curiosos do que podemos apresentar num simples e pequeno texto como este. Por exemplo: a pessoa que é mencionada mais vezes na Bíblia é Davi, cujo nome é citado 1.066 vezes na Nova Tradução da Linguagem de Hoje. O personagem bíblico mais velho é Matusalém, que tinha 969 anos quando morreu, segundo o Gênesis 5:27. E o nome mais comprido da Bíblia é Maer-Salal-Hás-Baz (Isaías, 8:1, que significa “rápido para roubar e ligeiro para saquear”.
O detalhe mais que curioso, é que esse nome foi dado de forma simbólica pelo profeta Isaías a seu filho, para advertir o rei de que se os judeus fizessem um acordo com o Império Assírio, os assírios iriam invadir e tomar tudo o que quisessem.
Finalmente, o livro da Bíblia mais traduzido é o Evangelho de Marcos, talvez porque seja o mais curto dos quatro Evangelhos. Marcos pode ser encontrado em pelo menos 900 línguas.
Muito ainda há para ser conhecido e adequadamente divulgado sobre o que chamamos de fatos e curiosidades bíblicas. Faltam-me, porém, competência, talento e conhecimento para tanto. Mas, se este pequeno texto servir para ajudar pelo menos um leitor a pesquisar sobre esses fascinantes e curiosos episódios, já terá valido a pena este esforço.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

UM MUNDO PERFEITO

Como seria o mundo se cumpríssemos, todos, a lei? Sem discussões, sem arrazoados, sem desculpas, sem alegar desconhecimento? A lei existe? Então que seja cumprida. Só isso, sem tergiversações.

Mas, perguntará o leitor, que leis devemos cumprir, uma vez que existem leis que, se por um lado são legais, por outro, são profundamente injustas? A pergunta é pertinente, pela simples razão de que realmente é assim que acontece. E mais: na sua maioria, dei-xam brechas, aberturas, furos, por onde passam os desonestos da vida, que permanecem impunes, desde que tenham advogado de competência - e preço - máximos, que possam, com habilidade, burlá-las.
Mas, ainda que pareça utopia, existe, sim, a possibilidade de um mundo perfeito. Um mundo sem violência de qualquer natureza, um mundo sem furtos, roubos, estelionatos, assaltos ao Erário e outros modos de surrupiar de outrem, aquilo que não lhe pertence. Existe, sim, um mundo onde um homem não desejará aquilo que não é seu, nem sua mulher, nem sua casa e nem nada que não lhe pertença.
É possível habitarmos um mundo onde suas leis podem ser resumidas em apenas duas. A primeira, pode-se dizer: “Amarás a Deus Todo-Poderoso (YHWH), de toda a tua alma, de todo o teu coração, com todas as tuas forças e sobre todas as coisas. Ela está presente nas Tábuas da Lei, entregues pelo próprio Anonay a Moisés. Atende pelo nome de “Os Dez Mandamentos”.
A outra, que poderia ser chamada de o undécimo mandamento, foi dada por Jesus (Yeshuah). E é muito simples. Diz assim: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.” Simples, não? Essas leis existem há milênios. No entanto, de forma irracional, insisitimos em não cumpri-las em absolutamente nada.
E a pergunta que se faz necessária é: emagindo assim, ou seja, não cumprindo sequer um dos mandamentos divinos, temos o direito de reclamar da sorte que temos, dos sofrimentos que padecemos, e do mundo em que vivemos?


A resposta inevitável é: não.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

UM ASSALTO DIFERENTE

A manchete estava lá, na tela do computador. A internet tem dessas vantagens, para quem é bisbilhoteiro profissional, também conhecido na roda dos que se levam demasiadamente a sério como jornalistas. “Gangue de palhaços assalta bar no Reino Unido”, dizia o título da matéria. A fonte era mais que fidedigna: - a própria Reuters, em Londres, dava deta-lhes do assunto.

“A polícia da cidade de Manchester, no norte da Inglaterra, buscava informações que a levasse a uma gangue de palhaços que assaltou um bar do município.”
Três homens vestidos com fantasias de palhaços, algemaram um gerente e o ameaçaram com uma arma e uma faca antes de escapar com “uma pequena quantidade de dinheiro.” “Essa é uma equipe altamente organizada, que obviamente gastou um bom tempo planejando o assalto”, disse em um comunicado o detetive Darren Shenton. “A gangue fugiu em uma van, e escapou de uma perseguição policial, mesmo se envolvendo em três acidentes no caminho.”
É verdade, no Brasil somos diferentes. Para um assalto bem sucedido, primeiro é preciso se eleger para um cargo qualquer. Depois, é necessário que o cofre seja bem gordo. Mais ou menos no modelito ‘porquinho’ da vovó. É fundamental que o acusado de praticar o furto, desvio, estelionato ou que outro nome se queira dar, alegue inocência até à morte. Se, além de jurar inocência e for acusado depois de cumprido o mandato, é conveniente que diga ser um reles desempregado. É preciso que se leve o eleitor, digo, o leitor às lágrimas. Quem sabe, uma peninha aqui, um pingo de piedade acolá, não se dá um novo cargo eletivo ao acusado? No Brasil, afinal de contas, tudo é possível.
A propósito, mais uma diferença importante entre o povo tupiniquim e os bretões: lá, os palhaços são assaltantes. Aqui, assaltados.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

NERVOS DE AÇO NÃO DOEM

Esta é uma história simples. Fala de um homem comum que as agruras da vida enrigeceram até transformá-lo em pedra bruta e coração tão frio e gélido como o mármore de Carrara. E endurecido, passou a tratar a tudo e todos como se nada fossem porque nada lhe importava. Afinal de contas, por que valorizar o que não merece valor?, dizia às vezes, referindo-se às emoções que não sentia.
E assim viveu - ou pensou viver - por um tempo longo demais. Frio, não sentiu o amor das mulheres que pontilharam sua vida. Por desprezar tudo e todos, foi desprezado por tudo e por todos. Nunca, em toda a sua vida bruta, soube o que era o cantar de um passarinho pousado na janela de seu quarto numa bela manhã de verão; nunca percebeu que havia flores no mundo e que o desabrochar das flores era o espetáculo máximo da natureza; nunca teve olhos, por vítreos que eram, para ver o nascer do sol ou seu ocaso que trazia em seu bojo a escuridão da noite; nunca viu o brilho das estrelas e nem sentiu o perfume de uma rosa negra; não sentiu o grito de dor dos que esmagava à sua passagem e nem sentiu a angústia dessa mesma dor porque tinha nervos de aço, e nervos de aço não doem. Enfim, como disse um poeta cheio de dor, “quem passou pela vida em brancas nuvens / e em plácido repouso adormeceu / quem não sentiu o frio da desgraça /quem passou pela vida e não sofreu / não foi homem / foi espectro de homem / só passou pela vida /mas não viveu.”
Mas D’us, na sua infinita crueldade, resolveu tornar sensível o homem de mármore. Por isso deu-lhe sentimentos que não conhecia e o fez conhecer a mais bela de todas as mulheres que um dia povoaram a Terra. E então, o mármore, e não o Verbo, se fez carne. E por ser carne, sentiu dor, sentiu alegria, sentiu preocupação, sentiu amor e sentiu paixão.
Por isso morreu. Não por ser carne, mas por sentir. E como sentia, sentiu que a mulher que lhe despertou tantas emoções dissolveu-se à sua frente como se fora uma estátua de sal sob a chuva da vida. E ele, não suportando a ideia do viver sozinho com tantos sentimentos a repartir, liquefez-se e vazou a essência de si por todos os poros, escorrendo lentamente em direção ao rio mar, onde misturado a outras águas, desapareceu para todo o sempre, para nunca mais voltar.

DE FANÁTICOS E FANATSMO

Talvez nada seja mais prejudicial às instituições humanas que o fanatismo. E isso vale para go-vernos, religiões, seitas, filosofias e até mesmo para o modo como cada um conduz a própria vida.
Voltaire dizia que “o fanatismo é para a superstição o que o delírio é para a febre, o que é a raiva para a cólera.” Dizia mais: “aquele que tem êxtases, visões, que considera os sonhos como realidades e as imaginações como profecias é um entusiasta; aquele que alimenta a sua loucura com a morte é um fanático.”
Exemplos não faltam dos males que o fanático e o fanatismo podem causar. Bartolomeu Diaz, que partiu de Roma para ir assassinar seu irmão e que o matou acreditando fazê-lo pelo amor de Deus, foi um dos mais abomináveis fanáticos que em todos os tempos pôde produzir a superstição.
Os assassinos do do rei Henrique III, do rei Henrique IV, do Arquiduque da Áustria por um fanático sérvio, o que desencadeou a I Guerra Mundial com seus 10 milhões de mortos, de Ghandi e de tantos outros, foram enfermos da mesma raiva de Diaz.
Outro exemplo de fanatismo simplesmente horripilante, foi o que fez com que os burgueses parisienses degolassem e atirassem pelas pelas janelas para que fossem despedaçados pela turba em delírio seus concidadãos, pelos simples fato de serem protestantes (huguenotes), naquilo que se tornou conhecido como o massacre da noite de São Bartolomeu, que provocou a morte de algo entre 30 mil a 100 mil pessoas. Mas há fanáticos de outros tipos, como aqueles magistrados que, a sangue frio, condenam aqueles cujo único crime é não pensar como eles.
Quem tem o cérebro gangrenado pelo fanatismo, é possuidor de doença incurável. Quem sabe, talvez, o espírito filosófico possa se sobrepor a esses portadores do mal em toda a sua virulência. Essa gente está persuadida de que o espírito nada santo que os penetra está acima das leis e que o seu entusiasmo é a única lei a que devem obedecer.
O Ano Novo se aproxima e com ele um novo tempo na política do Brasil e do Amapá. E os fanáticos de todos os naipes ideológicos estão a postos com suas garras de águias das grandes alturas para se lançarem sobre seus adversários ou quem quer que acreditem não concordar com suas ideias e crenças.
Que Deus nos livre deles, ou se apiede de nós, o povo, se esses abutres se colocarem acima do que recomenda a prudência e o espírito do filósofo se ausente de nós. Sabe-se que o mundo só conhecerá a verdadeira paz, no dia em que os príncipes forem filósofos e os filósofos, príncipes.






O ASSESSOR DO VEREADOR

Sarah Bernhardt, a maior de todas as estrelas que passaram pela Comédie Française, certa ocasião, referindo-se às pessoas de pouca importância, mas que se dão ares superiores, chamou-as de “sargentos da vida”. Queria dizer, naqueles tempos em que generais e marechais de França desmanchavam-se à sua presença, ao seu olhar, aos seus olhos e principalmente à sua arte, que eles, na sua imponência, eram muito mais simples do que as patentes inferiores, suboficiais que arrotavam uma importância que não possuíam.
Realmente, quem se dá muita importância, é porque não tem nenhuma. Os verdadeiramente grandes, são afáveis, simples, cordatos, tranquilos, humildes, não a humildade da subserviência, mas a humildade característica de quem não se deixou picar pelo inseto do orgulho.
Napoleão, conta-se, passou horas no posto de sentinela, ao encontrar dormindo, vencido pelo cansaço, o soldado que deveria estar atento, vigiando as trincheiras inimigas. Não o castigou. Soldado, ele também, sabia que contra o sono não há resistência.
Soubéssemos nós que o sono é o morrer na certeza da ressurreição, quantos de nós desfrutariam desse prosaico prazer, que só é sentido depois do acordar? A importância que nos damos sem nada sermos, chega a ser insolente.
Jesus era a humildade personificada. Ghandi, dele se disse que as futuras gerações jamais acreditariam que tal homem pudesse existir tamanha a bondade e pureza de seu coração.
Temos o mau hábito de achar, que o idiota deste lado do rio é superior ao idiota do outro lado do rio. Arrogância, orgulho e preconceito andam de mãos dadas. Esquecemos muitas vezes, que quem preconceitua, pré-julga e pré-condena.
Tenho conversado com grandes homens que são exemplos de cordura. Eu que não sou tão simples assim, pois às vezes atribuo-me uma importância que não possuo, tenho tido este raro privilégio. E aprendido com ele. A vida é um eterno aprender. Uma lástima que tão poucos de nós o consigam.
A propósito, há dias encontrei um vereador furioso. Resfolegava como uma locomotiva antiga. Movido à lenha, soltava fumaça pelas narinas, como se fossem elas cha-minés emborcadas. Puxou-me de lado e confidenciou-me o motivo de tamanha indignação: Um secretário muni-cipal não pudera atender de imediato, um assessor seu.
Assessor, como todos sabem, é aquele sujeito importantíssimo que atende também pelo mimoso apelido de “aspone”. Um “aspone” sabe-se, é infinitamente superior ao “asponin”, que nada mais é que um “aspone” interino.
Mas, voltando a Sua Importância Real, o vereador, continuando a destilar toda a raiva que lhe era possível, esbravejava: - “Já pensou, amigo Carlos, não recebeu o meu assessor!”
Depois, olhando-me nos olhos, angustiou-se e perguntou: - Será que ele não percebeu que o meu assessor era uma autoridade? Afinal de contas, trata-se de um assessor de um vereador...
Deixei-o na dúvida quanto à importância do assessor e fiquei matutando com os meus botões. Ainda sou um matuto. Daqueles que matutam com seus botões. Fui embora pensando na importância daqueles que não têm a menor importância.


sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O HOMEM QUE FALAVA COM PÁSSAROS

Olhou espantado para o pássaro que falava com ele. Estranhou por duas razões óbvias. A primeira, é que passara a vida aprendendo que pássaros não falam. A segunda, é que aquele estranho pássaro chegara, no exato momento em que dissera que viria. Sim, aquele era o seu segundo encontro com aquele estranho ser voador. Quando o vira pela primeira vez, era muito novo. Tão novo que nem se apercebera do que tinha ocorrido. Só agora lembrava tudo com espantosa nitidez.

Entre o primeiro e o segundo encontro, muito tempo passara e coisas estranhas haviam ocorrido. Uma delas, era a incapacidade dos homens para chegarem até ele na hora certa. Jamais começou uma reunião na hora estabelecida; jamais seu avião decolou na hora programada; jamais conseguiu fa-zer qualquer coisa, por pequena que fosse, na hora e no tempo exatos. E foi isso que o perdeu.
Ariadne, a que tece o destino dos homens, uniu todos os fios que o levariam à sua razão de viver. E assim, fio por fio, ponto por ponto, foi tecendo a vida daquele homem diferente de todos os homens que até então existiram. Mas, Ariadne tinha um inimigo feroz. Chronos, o dono das dobras do tempo, trabalhava contra ela. E trabalhando contra ela, fez do homem atormentado pela falta de tempo dos outros homens, a sua vítima fatal.
A razão de viver do homem que falava com pássaros, foi criada quando o universo era apenas matéria disforme. Foi nela que o Criador de tudo o que há se inspirou, para fazer a sua obra-prima: a mulher. As belas mulheres cortariam os pulsos se a vissem em toda a sua plenitude. A nudez não é coisa do mundo dos homens. É coisa dos seres celestes, dos seres divinos. E quem não viu a musa do Criador em toda a sua esplendorosa nudez, não sabe o que é belo. Pobres e belas mulheres brancas. Não saberão jamais, que a beleza maior foi tirada do mundo negro que dominava o espaço, quando a luz ainda não existia. Por isso, talvez, ainda hoje, as belas mulheres negras consigam anular toda a brancura que há na pele das mulheres alvacentas.
O homem que falava com pássaros não a viu jamais. Mas, por estranha indução, imaginou-a, e sem saber que era um estranho na terra dos homens, viu na sua imaginação como era, e a amou para sempre. Não sabia então que, vítima involuntária de Chronos, chegaria tarde para o encontro que era a causa da sua existência.
Por isso, quando o pássaro que falava, disse-lhe que era chegada a hora de irem, pois a senhora da vida pedia-lhe a sua, derramou uma solitária lágrima recheada de amor. E pela primeira vez, sem que tivesse marcado o encontro, chegara na hora certa, para andar no caminho sem volta da morte cruel.
Não soube jamais, que assim que partiu, ela chegou. Chegou para completá-lo, para fazer dele um ser por inteiro, para gerar uma nova raça de seres, num mundo onde o tempo não existe. Mas, pela primeira vez, partira na hora certa, deixando para trás, tantas possibilidades que não se realizariam jamais.