sábado, 3 de julho de 2010

UMA DECLARAÇÃO DE AMOR


   Me faz uma declaração de amor, disse ela. Diz que sou tua e que jamais tiveste mulher mais gostosa e esplendorosa que eu. Faz com que me sinta única e exclusiva. E eu, agradecida, te direi que és o homem que sempre quis, o meu elo perdido e o sentido da minha vida. E ele, seduzido e encantado pelo canto daquela sereia negra, sussurrou-lhe as mais belas frases de amor, e mergulhou, tal qual pedra polida, no abismo sem fim daquele negro oceano de amor. Dizem que a partir de então, nunca mais o mar foi o mesmo. Quando agitado, é sinal de que nas profundezas do mar sem fim, há um combate de amor, que faz toda a água que há tremer de emoção e prazer. Dizem mesmo, que as marés que sobem e descem lambendo a terra no seu ir e vir eternos, são o reflexo daquele ir e vir que ocorre nas profundezas oceânicas, onde um homem viciado em pérolas negras mergulha na carne macia daquela sereia como outra não há. Dizem também, que quando o mar está sereno, calmo e plácido, é sinal de que o combate de amor conheceu a trégua do gozar profundo. E então dormem os dois, embalados pelas correntes das águas do fundo do mar, exaustos e felizes, como se nada mais existisse e importasse, que não um e outro. Quem já navegou altas horas da noite, com ventos que parecem ecoar palavras na imensidão do oceano, diz que aquele som, nada mais é, que o eco das palavras de um ser tomado de encanto, que cumpre o seu mister eterno de repetir à sua bela sereia negra, todas as canções, frases e declarações de amor que jamais foram ouvidas por ouvidos de mulher. Enquanto isso, ela, a destinatária das suas palavras de encanto, canta o canto que todas as mulheres gostariam de cantar: o canto do encanto que só o amor produz.
   Esta história me foi contada por um velho pescador, quando viajava eu pelos mares da vida, e sentia vontade de mergulhar no oceano da solidão. Desisti. Desde então, vivo a esperar que uma bela e negra mulher diga a mim também: me faz uma declaração de amor...