sexta-feira, 3 de setembro de 2010

DO JUSTO E DO INJUSTO

Quem nos deu o sentimento do justo e do injusto? Os crentes afirmam que foi D’us, que nos deu um cérebro e, digamos assim, um coração. Mas, - e essas são as perguntas que mais afligem o pensador - quando a sua razão lhe ensina que há vício e virtude? O conhecimento inato não existe, pela mesma razão que não há árvore que produza folha e frutos ao sair da terra. Dizia Voltaire que, “o que se chama inato não é nada, isto é, não nasceu desenvolvido e que D’us nos faz nascer com órgãos que, à medida que crescem, nos fazem sentir tudo o que nossa espécie deve sentir para a conservação dessa mesma espécie.”
A outra pergunta que se faz absolutamente necessária é: De que modo se opera esse estranho mistério? Quem de responder há? Os africanos, os americanos do norte, os asiáticos, Cícero, Platão, Epicteto, o homem simples e rude, a cortesã, a mulher índia, o bravo guerreiro, o covarde assumido, quem, quem, quem? Responda quem souber a tão intrigante questão. A verdade é que todos sentimos que é melhor ajudar os necessitados que cegá-los ou tomar o pouco que têm, principalmente quando se tem muito. Acreditamos todos que isso é justo. É essa a noção que temos do justo. Sabemos, também, que um benefício é mais honesto e honroso que um ultraje, que a brandura é preferível à exaltação. Disso sabemos como que instintivamente.
O mesmo Voltaire dizia que, “basta nos servirmos da razão para discernir os matizes do honesto e do desonesto.” O mal e o bem, muitas vezes são vizinhos; nossas paixões os confundem. Quem nos há de esclarecer? A resposta é simples: nós mesmos. Isso, evidentemente se nossa estrutura interna, mental, espiritual e emocional for do bem. Quem, em qualquer momento e em qualquer parte do mundo escreveu sobre nossos deveres, escreveu com sua razão, com bom senso. Sócrates, Epicuro, Confúcio, Lao-Tsé, Marco Antonino ou Amurat II tiveram a mesma moral. Na verdade, precisamos nos convencer, e a Igreja que me perdoe, a moral é uma coisa que vem de D’us; os dogmas, diferentemente, vêm de nós.
Apenas como exemplo, e esse não poderia ser melhor, “Jesus não ensinou nenhum dogma metafísico; não escreveu cadernos teológicos; não disse: “Sou consubstancial; tenho duas vontades e duas naturezas numa só pessoa.” Séculos depois, coube aos franciscanos e aos dominicanos que chegariam 1.200 anos depois dele, a tarefa de argumentar para saber se sua mãe foi concebida sem o pecado original. Jesus nunca disse que o casamento é o sinal visível de uma coisa invisível; não instituiu monges nem inquisidores, nada ordenou do que vemos hoje”, ensina François-Marie Arouet, também conhecido como Voltaire.
D’us nos deu noção e mais que isso, perfeita compreensão do que é justo e injusto. D’us não mudou e não pode mudar. De nada adianta usar distinções de qualquer natureza, mesmo as teológicas, para perseguições fundamentadas em dogmas. A natureza se revolta contra essas coisas e clama, tal qual a sabedoria, “Sejam justos e não sofistas perseguidores.”
No compêndio das Leis de Zoroastro, também chamado Zaratustra, pode-se ler esta sábia máxima: “Quando estás em dúvida se uma ação que te é proposta é justa ou injusta, abstém-te.”
E aos “donos da vida”, os poderosos, os arrogantes, os que se embriagam de álcool e de poder que não esqueçam: “Não matarás”; “Não adulterarás”; “Não furtarás”; “Não dirás falso testemunho contra o teu proximo”, porque assim é que deve ser e porque assim está escrito. E assim será feito, porque a mão de D’us Todo Poderoso não perdoará os que usam a límgua bifurcada da serpente e nem os que praticam atos que contrariam a justiça. A verdadeira.