quinta-feira, 10 de março de 2011

TUDO AINDA POR FAZER

Costumo dizer, que pagamos um preço muito alto para fazer deste pedaço de terra devoluta, que nem o Brasil e nem a França querem, um pedaço da pátria amada gentil chamada Brasil. No Amapá, tudo está por fazer. Não temos nada. Nada que possa fazer da nossa vida, uma vida civilizada e prazerosa.

Teatro já o temos. Pelo menos um. Só não temos peças teatrais. Bares e restaurantes os temos às dúzias, centenas. De primeira qualidade, nenhum. Livrarias, pouquíssimas. E já é muito. Empresários da área são, no mínimo, audaciosos. Imagine, viver da venda de livros, aqui.
Não temos um bom serviço de transporte de massas. Nossos transportes urbanos parecem carros de transporte de gado. Gado humano, de terceira, sem eira e nem beira. Sem as mordomias de que são merecedores os bois gordos da vida. Engraxatarias, lojas de conveniência que sejam convenientes? Nenhuma.
Motel. Quero um. Unzinho só. De primeira classe. Onde o porteiro não venha trazer a chave no carro. Quero amar tranquilamente. Quero me esbaldar confortavelmente. Com direito a ar-condicionado funcionando, tv erótica, jardim de inverno, piscina exclusiva e, não esqueçamos, cozinha francesa que me reanime com as “comidinhas para depois do amor”, como diria Vinícius.
Quero cair na esbórnia com o meu amor numa boate de luxo. Quero uma casa de chás afrodisíacos. Certas coisas podem até não acabar, mas diminuem sensivelmente.
Quero uma feira livre de sujeira, uma rua ajardinada, faixas de segurança, cestos coletores de lixo nas ruas, mercados limpos e decentes. Mas é exigir muito. Turma do andar de cima acha que isso é luxo demais pra caboclo de beira de rio.
Quero casas e empregos para a população. Quero ruas asfaltadas, água, luz, esgoto, segurança, saúde plena e colégios para todos, mas não temos. Não temos nada. E quando temos, falta qualidade. Ainda temos algumas coisas. Ar puro ainda o temos e o rio Amazonas não ameaça secar. Já é alguma coisa. Mas começa a ter cheiro de um grande Tietê.
Ah! Ia me esquecendo. Vergonha na cara. Não a temos. E já faz tempo. Muito, muito tempo.