sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Quousque tandem...?

QUOUSQUE TANDEM…?


Marco Túlio Cícero, filósofo, político retórico e, acima de tudo, orador; como tal, conceituado o mais perfeito de todos os tempos; nasceu perto de Arpinum, em 106 a. C. No ano 67 a. C., escreveu suas célebres verrinas, contra Verres, o dilapidador do Erário Público.
Entre seus outros méritos, incluem-se os famosos pronunciamentos intitulados Catilinárias que ainda hoje empolgam os ânimos de quem ama a Oratória. As, assim foram chamados os discursos que pronunciou contra Catilina, um terrível conjurador, e pour cause, foi chamado de “Pai da Pátria”. Entre suas obras, além das Catilinárias, escreveu antes, quando estreou no foro romano, Pro Quinctiano, e depois, as Filípicas, contra Marco Antonio e sua esposa Fúlvia. Escreveu ainda: De Inventione, De Oratore, De Legibus, De Natura Deorum, Paradoxa, De Fato, De Oficiis, De Senectute, etc.
Mas, voltando às Catilinárias, seu primeiro discurso contra Catilina começava assim: “Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra (Até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência).
Hoje, mais vez, é necessário que digamos à classe política, salvo as exceções que sempre as há: “Até quando, senhores da política, abusarão da nossa paciência? Até quando, tal qual um bandos de Verres, continuarão dilapidando o Erário Público? Até quando continuará a sucessão de escândalos que abalam, sucessivamente, todos os poderes da República independentemente de seus escalões? Até quando seremos obrigados a cheirar o odor fétido da corrupção mais deslavada que emana dos porões da política e das instituições ditas públicas? Quando será que o artigo 5° da Constituição será respeitado na sua integralidade, quando afirma que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza.” Ou será que esse artigo constitucional vale só para nós, o povo, e não para os senhores que nos dirigem encastelados em seus feudos?
Como dizia Cícero há mais de 2000 anos: “Até que ponto, senhores, se arrojarão em suas desenfreadas audácias? Será que não vos abalam o temor do povo e o concurso de todos os bons cidadãos”? Não percebem os senhores que seus planos estão descobertos e que suas maquinações não prosperarão, porque o povo está cansado de tudo isso?
Enquanto houver os que vos defendem, porque são da mesma laia, do mesmo grupo e da mesma corja, os senhores viverão como nababos, como sobas, como marajás, aumentando a seu próprio critério, seus enormes e imerecidos salários e outras vantagens, inclusive aquelas consideradas secretas, mas saibam que muitos olhos os vigiam e muitos ouvidos prestarão a atenção em suas atitudes e em suas palavras, e por causa disso, não está longe o dia em que os senhores serão deletados do reino da política, através da única arma capaz de realizar esse sonho do povo brasileiro: o voto.
A coisa é tão grave e tão antiga, que podemos flagrar o profeta Habacuc em pleno diálogo com o Todo-Poderoso, segundo o Antigo Testamento, perguntando ao Senhor dos Exércitos: “Até quando Senhor, clamarei por Vós sem que me escuteis”? Por que me mostrais o espetáculo da iniquidade, e contemplai Vós mesmo esta desgraça? Diante de mim só vejo opressão e violência, nada mais que discórdias e contendas. Por isso, a lei perde sua força e não se acha mais a justiça. Por que o ímpio prevalece sobre o justo e o direito sai falseado”.
Tanto tempo depois, pouco ou nada mudou. E por causa disso, pergunto ao nosso todo-poderoso senhor do Planalto Central: Até quando a violência, o crime, o assalto ao Erário, a servidão humana de milhões de brasileiros continuarão em curva ascendente, sem que haja a firme decisão política de acabar com ela ou reduzi-la a patamares mínimos? Até quando a classe política continuará vendendo a ilusão de que o povo governa, de que é o poder, de que nada é mais admirável que a “democracia à brasileira”?
Até quando ainda teremos que suportar o mar de lama que ciclicamente cobre o país, desde os tempos de Getúlio; além de termos que aguentar a presença dos ratos, catitas e ratazanas que infestam tantos gabinetes oficiais?
E tal qual o profeta, pergunto: Por que, Senhor, o ímpio prevalece sobre o justo e o direito sai falseado?
Até que tenhamos respostas convincentes, não seremos apenas um país de Terceiro-Mundo. Seremos, antes de mais nada, cidadãos de terceira classe.
DA HORTA DE BETERRABAS


É claro que todos nós já o ouvimos. Também é claro que todos - ou quase - conhecemos o nome do maior gênio da música clássica que o mundo já conheceu, o alemão nascido em Bonn, em 1870. É claro, evidentemente, que estou falando de Ludwig van Beethoven, de cuja mente prodigiosa fluíam peças para todos os instrumentos e combinações de instrumentos e maravilhas como a famosa “Sonata de Kreutzer” para violino, a “Sonata ao Luar” e a “Patética”, as suas duas primeiras sinfonia, os seus três primeiros concertos para piano, serenatas e quarteto de cordas.
A simplicidade e a alegria de viver de Beethoven eram tão grandes, que certa vez anotou em um de seus manuscritos a frase: “Para ser tocado do coração para o coração.” Foi Beethoven que libertou a música de seus grilhões. Mas, ao contrário do que se possa pensar, o grande compositor não foi um menino-prodígio. Sua maior característica era, como compositor, conhecer todas as regras e violá-las todas.
Poucos de nós sabemos também, que Beethoven descendia de uma família flamenga, ou seja, oriunda dos Países Baixos, conhecidos hoje como Bélgica e Holanda e que aos 16 anos viajou para Viena para conhecer seu ídolo, Mozart. Mas lá, pouco se demorou, porque teve que retornar à sua casa, por causa de grave doença e posterior morte de sua mãe. Em novembro de 1792, vai a Viena e continua seus estudos com Franz Josef Haydn. A partir de 1795, quando seus dois irmãos menores passaram a morar definitivamente com ele, Beethoven não abandona mais Viena, onde realiza toda a sua obra.
Mas o destino, sempre ele, interveio de maneira trágica no destino do gênio alemão, e o que começou como um simples zumbido, depois, com o agravamento do problema, notou que os sons mais altos o incomodavam e os mais suaves lhe escapavam. Era o princípio da surdez total que o dominaria tempos depois. No processo, Beethoven que era um homem alegre, recolheu-se ao seu próprio mundo, sendo acusado de ser taciturno, esquivo e misantropo. É que tinha vergonha de dizer: “Fale mais alto, grite, eu sou surdo”. No entanto, durante todo esse tempo, naquela cabeça sombria e exaltada, a música trovejava, elevando-se a alturas nunca alcançadas.
Quando compôs a “Eróica”, a primeira grande sinfonia moderna, iniciava um período de onze anos de criação que nenhum outro compositor superou antes ou depois. Suas sonatas para piano “Waldstein” e “Appassionata” fazem sucesso há quase duzentos anos, provando que tinha razão ao dizer que compunha para o futuro. Seu problema foi que quando essas composições repercutiram, críticos assustados predisseram que tal música tinha um estilo “brutal”, incompreensível e que seria impossível de ser executada. Como se viu depois, estavam todos errados.
Também são composições imortais o festivo Quarto Concerto para Piano e o Quinto, chamado Imperador. Entre as sinfonias de números Quatro a Oito pertencem a esse decênio de prodigalidade musical. No caso da Quinta Sinfonia, que começa com notas que foram chamadas de “o destino batendo à porta”, uma poderosa convocação que tem repercutido pelo mundo. Essas três batidas breves e uma mais longa lembram o “ponto-ponto-ponto-traço” do código Morse, representando a letra “V”. Na segunda Guerra Mundial, os aliados usaram esses sinais para o V da vitória. Entre 1817 e 1823, compôs duas obras fantásticas: Missa Solene e a Nona e última sinfonia, executadas pela primeira vez em 1824.
Ludwig van Beethoven, cujo van Beethoven significava apenas “da horta de beterrabas” transpôs o umbral da morte em 26 de março de 1827, enquanto fora, um relâmpago iluminou seu quarto seguido do forte ribombar de trovão, Beethoven abriu os olhos, levantou o punho cerrado e dormiu para todo o sempre.