sábado, 5 de junho de 2010

A CANÇÃO DE CRISTO

Há muitos anos escrevi um texto intitulado “Falando de música”. Nele, citava, entre outros, o ainda desconhecido Martinho Lutero. E esse mesmo Lutero, tão condenado pela Igreja Católica dizia que “a música é o bálsamo mais eficaz para acalmar, alegrar e vivificar o coração daquele que está triste, daquele que sofre. A música torna os homens mais doces, mais benévolos, mais modestos e mais sensatos. Os que sabem cantar, não se entregam nem à tristeza nem ao desgosto. Eles são alegres e afastam a preocupação com o auxílio de suas canções”.
Antes de entrar no assunto que me levou a escrever estas mal traçadas linhas, como se dizia antigamente, devo esclarecer que tenho uma relação pessoal de muito respeito e afeto, adoração, mesmo, poderia dizer, com o homem chamado Jesus (Ieshua, na sua língua natal, o aramaico). E essa relação tem já muitas décadas de existência. Décadas, para falar apenas em termos de tempo terrestre, pois Ele me contou, em sonho sonhado antes que tudo acontecesse, que já me conhecia desde o tempo em que eu não existia. E por conhecê-lo tão bem – desculpem a falta de modéstia e o excesso de pretensão – é que ouso afirmar que Jesus, o Cristo, gostava de cantar. E de sorrir. Como não sorrir e não cantar, se era um homem bom na sua mais refinada essência, no mais profundo do seu ser? É claro que teve seus momentos de amargura, também. Quem não o teria, sabendo o destino que o aguardava?
Mas, o que queremos abordar aqui, é o Jesus cantor, o maior e o melhor de quantos poderiam existir. Nas noites da minha solidão, gosto de ouvi-lo, voz poderosa e, simultaneamente maviosa, enchendo todo o Universo com o seu esplendor, cantando o seu cântico sobre os próprios desejos. Sabe-se que entre os povos do Oriente, os cantos, as danças e as luzes eram elementos essenciais para as cerimônias das festas religiosas. Quem leu sabe que os antigos egípcios faziam a volta de seus templos dançando e cantando. Os hebreus tinham, eles também, o mesmo costume. É bom lembrar que Davi¹ dançava e cantava diante da Arca².
Na Bíblia, quem nos fala que Jesus cantava é o próprio Mateus, o evangelista, (XXVI, 30). Diz ele que o Mestre e os apóstolos entoaram um cântico após a celebração do último Pessach³ d’Ele com seus discípulos.
Muito embora não conste dos livros sagrados, foram encontradas partes da letra desse cântico entoado por Jesus e seus discípulos após a Páscoa - depois da qual seria traído por Judas Iscariotes, o traidor. Fragmentos desse texto foram encontrados na 237a carta de Agostinho(4), dito santo pelos católicos, ao bispo de Ceretius. A seguir, está o cântico que é encontrado em partes no próprio Agostinho:

“Quero desligar e ser desligado.
Quero salvar e quero ser salvo.
Quero gerar e quero ser gerado.
Quero cantar, dancem todos de alegria.
Quero chorar, batam em todos com dor.
Quero ornar e quero ser ornado.
Sou a lâmpada para você que me vêem.
Sou a porta para que nela batam.
Vocês que vêem o que faço, não digam o que faço.
Representei tudo isso nestas palavras, mas não fui em absoluto representado.”

Agostinho não afirma que esse hino foi cantado, mas não reprova suas palavras. Na verdade, ele só condena os priscilianistas (5), que incluíam esse hino em seu Evangelho.
De certo o que temos, é que qualquer que tenha sido a discussão que se formou em torno desse cântico, era ele utilizado em todas as cerimônias religiosas. Como se sabe, todas esas cerimônias têm alguma semelhança e alguma diferença, mas o importante é a adoração de Deus, independentemente do nome que receba e em qual região do globo se situe.
Dizem os crentes que, infelizes daqueles que não O adoram, porque estariam eles trilhando o caminho do erro e por isso estão à sombra da morte. Porém, é preciso que se pense que, quanto maior for sua infelicidade, mas devemos lamentá-los e suportá-los. Como diria o próprio Yeshuah, eles não sabem o que fazem e, menos ainda, porque o fazem.