sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A TEATRALIDADE DO PODER


É curioso notar que alguns políticos, particularmente os políticos brasileiros, têm uma vocação quase patológica para o que podemos chamar de teatralidade do poder. É como se o grande teatro da vida tivesse diversos palcos, cada um encenando suas próprias peças. Algumas, bem poucas, da melhor qualidade, como se fossem shakeaspereanas. Outras, de tão profundo mau gosto, seria preferível não vê-las, o que às vezes fazemos, sem nos dar conta de que temos a obrigação de ver, e mais que isso, lutar para que deixem de ser representadas e exibidas. São as farsas representadas pelos políticos incompetentes, pelos mentirosos, por aqueles cuja idiotice e estupidez é patogênica, pelo imorais e amorais, pelos dilapidadores da nação, pelos assaltantes do Erário e outros de menor calibre, mas da mesma laia.
Muitas vezes, William Shakespeare, o grande dramaturgo inglês, evidencia essa teatralidade. Para ele, o governante não precisa crer nos valores que defende, mas fazer com que acreditem na sua sinceridade. É o caso, por exemplo, do senhor Luiz Inácio Lula da Silva. Geralmente começa seus discursos dizendo: “Nunca antes, na história deste país......”. Às vezes fico pensando que chegará o dia em dirá: “Nunca antes, na história deste planeta......”.
Como se sabe, a única coisa que não tem limite em todo o Universo é a estupidez humana, por isso, é possível que chegue o dia em que dirá: “Nunca antes, na história do Universo......”. Que sei eu do que acontece na cabeça da classe política? Principalmente de alguns políticos.
Um exemplo claro da teatralidade do poder, é que esse mesmo senhor Lula da Silva, diz viver eternamente preocupado com o bem estar dos brasileiros. É claro que isso não é verdade. Prova-o, o fato de que nossa educação é mais que pobre, é paupérrima, jazendo, há longos anos na UTI da mais absurda indigência, onde nossos estudantes fingem que estudam, os professores fingem que ensinam e o governo finge que paga os professores. No discurso, porém, a conversa é outra. No teatro em que representam essa farsa diária, dizem que estamos no melhor dos mundos. Afinal de contas, vamos realizar a Copa do Mundo em 2014, também vamos - o Rio de Janeiro - ser a sede das olimpíadas de 2016, somos penta campeões do futebol mundial, somos campeões da “bolsa-esmola”, somos mais que campeões nos índices de violência (roubos à mão armada e à mão desarmada também, acidentes de trânsito e assassinatos, sem contar as centenas de milhares de mortes por causa do câncer - qualquer que seja o seu tipo -, dos problemas cardiológicos, hepatológicos, renais, estomacais, pulmonares, dermatológicos, e etc.). Se a postura desses políticos não é apenas teatro puro, não tenho mais a menor noção do que seja teatro, pelo menos, esse tipo de teatro, ou melhor, esse tipo de peça que nos pregam todos os dias.
Na verdade, o destino dos poderosos é sempre incerto, particularmente quando se vive tempos conturbados. Tanto é verdade que podemos, apenas a título de exemplo, citar alguns casos como:
1 - O imperador do Brasil, D. Pedro II, foi apeado do poder pelo Marechal Deodoro da Fonseca, com a proclamação da República;
2 - O doublé de ditador e presidente da República, Getúlio Dornelles Vargas, preferiu o suicídio a ser apeado do poder;
3 - João Goulart, tirado do poder pelo Movimento Militar de 64;
4 - Finalmente, no caso amapaense, o ex-governador e, posteriormente senador João Alberto Capiberibe, teve o mandato cassado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sob a acusação de compra de votos.
Mas talvez, o mais cruel destino seja o que teve o Duque de York, personagem de Shakespeare, que feito herdeiro de Ricardo III, sofre duro revés quando seu filho mais novo, Rutland, é assassinado pelos partidários da rainha Margarida, que não se conformava com o fato de seu filho Eduardo ter perdido o trono para o duque.
Após esse fato, o Duque de York cai prisioneiro de seus inimigos, e numa das cenas mais terríveis do teatro mundial, que mostra a que ponto pode chegar a crueldade política, após o “coroamento” de York, Margarida, depois de limpar as lágrimas do duque com o lenço empapado de sangue do filho dele, coloca sobre a cabeça do duque uma coroa de papel, antes que ela e um de seus asseclas o apunhalem. Em um único ato, York cai do mais alto posto de poder, para uma morte abjeta.
Assim é a vida. Um palco onde se representa o mal e o bem, este, infelizmente, encenado por poucos atores, enquanto o mal é representado por milhões de atores da pior qualidade. E a prova de que assim é, é o fato de que o Hages está repleto desses abomináveis seres, enquanto nos Campos Elíseos, são poucos os que nele têm morada. Fazer o quê, se o ser humano é, simultaneamente Deus e o Diabo? Um por cento do primeiro, e noventa e nove por cento do segundo.
Do justo e do injusto

Quem nos deu o sentimento do justo e do injusto? Os crentes afirmam que foi Deus, que nos deu um cérebro e, digamos assim, um coração. Mas, - e essas são as perguntas que mais afligem o pensador - quando a sua razão lhe ensina que há vício e virtude? O conhecimento inato não existe, pela mesma razão que não há árvore que produza folha e frutos ao sair da terra. Dizia Voltaire que, "o que se chama inato não é nada, isto é, não nasceu desenvolvido e que Deus nos faz nascer com órgãos que, à medida que crescem, nos fazem sentir tudo o que nossa espécie deve sentir para a conservação dessa mesma espécie."
A outra pergunta que se faz absolutamente necessária é: De que modo se opera esse estra-nho mistério? Quem de responder há? Os africanos, os americanos do norte, os asiáticos, Cícero, Platão, Epicteto, o homem simples e rude, a cortesã, a mulher índia, o bravo guerreiro, o covarde assumido, quem, quem, quem? Responda quem souber a tão intrigante questão. A verdade é que todos sentimos que é melhor ajudar os necessitados que cegá-los ou tomar o pouco que têm, principalmente quando se tem muito. Acreditamos todos que isso é justo. É essa a noção que temos do justo. Sabemos, também, que um benefício é mais honesto e honroso que um ultraje, que a brandura é preferível à exaltação. Disso sabemos como que instintivamente.
O mesmo Voltaire dizia que, "basta nos servirmos da razão para discernir os matizes do ho-nesto e do desonesto." O mal e o bem, muitas vezes são vizinhos; nossas paixões os confundem. Quem nos há de esclarecer? A resposta é simples: nós mesmos. Isso, evidentemente se nossa estrutura interna, mental, espiritual e emocional for do bem. Quem, em qualquer momento e em qualquer parte do mundo escreveu sobre nossos deveres, escreveu com sua razão, com bom senso. Sócrates, Epicuro, Confúcio, Lao-Tsé, Marco Antonino ou Amurat II tiveram a mesma moral. Na verdade, precisamos nos convencer, e a Igreja que me perdoe, a moral é uma coisa que vem de Deus; os dogmas, diferentemente, vêm de nós.
Apenas como exemplo, e esse não poderia ser melhor, "Jesus não ensinou nenhum dogma metafísico; não escreveu cadernos teológicos; não disse: "Sou consubstancial; tenho duas vontades e duas naturezas numa só pessoa." Séculos depois, coube aos franciscanos e aos dominicanos que chegariam 1.200 anos depois dele, a tarefa de argumentar para saber se sua mãe foi concebida sem o pecado original. Jesus nunca disse que o casamento é o sinal visível de uma coisa invisível; não instituiu monges nem inquisidores, nada ordenou do que vemos hoje", ensina François-Marie Arouet, também conhecido como Voltaire.
Deus nos deu noção e mais que isso, perfeita compreensão do que é justo e injusto. Deus não mudou e não pode mudar. De nada adianta usar distinções de qualquer natureza, mesmo as teoló-gicas, para perseguições fundamentadas em dogmas. A natureza se revolta contra essas coisas e clama, tal qual a sabedoria, "Sejam justos e não sofistas perseguidores."
No compêndio das Leis de Zoroastro, também chamado Zaratustra, pode-se ler esta sábia máxima: "Quando estás em dúvida se uma ação que te é proposta é justa ou injusta, abstém-te."
Quem, algum dia nos deu uma regra mais admirável? Que legislador falou melhor? Nenhum, evidentemente. E por que não agimos do mesmo modo? É tão simples. E existe alguém mais simples que o homem chamado Jesus?