quinta-feira, 11 de março de 2010

CARPE DIEM

Certa vez escrevi uma crônica em que falava do fato de que um dia, todos teremos, sem exceção, nosso último dia de vida. Mas, o problema maior não é esse. A tragédia é que, tal qual a vida toda, não temos a menor idéia do que fazer com esse dia único. Nosso último dia. Exatas 24 horas. Com direito a nascer e por do sol. Nem um minuto a menos. Ou a mais.
E por que isso acontece? A resposta é simples. Do alto da nossa burrice patogênica, agimos como se fôssemos eternos. E como isso seria possível, se não conseguimos ser, pelo menos, ternos? Exceto por momentos fugazes e raros. Raríssimos. Não temos a capacidade de aproveitar os bons momentos que a vida nos dá. Momentos de beleza únicos, momentos de paz, momentos de reflexão, momentos de profunda reflexão em que acreditamos que tudo é possível, até mesmo que um novo amor possa habitar nossos corações endurecidos pelo lutar constante que é a vida. Carpe diem é uma expressão em latim de um poema de Horácio, e é popularmente traduzida para “colha o dia” ou “aproveite o momento”. É também utilizado como uma expressão para solicitar que se evite gastar o tempo com coisas inúteis ou como uma justificativa para o prazer imediato, sem medo do futuro.
O poema de Horácio é, além de belo, de uma sabedoria ímpar no quesito viver a vida. Senão, vejamos:
"Tu ne quaesieris, scire nefas, quem mihi, quem tibi
finem di dederint, Leuconoe, nec Babylonios
temptaris numeros. ut melius, quidquid erit, pati.
seu pluris hiemes seu tribuit Iuppiter ultimam,
quae nunc oppositis debilitat pumicibus mare
Tyrrhenum: sapias, vina liques et spatio brevi
spem longam reseces. dum loquimur, fugerit invida
aetas: carpe diem quam minimum credula postero.
"Tu não procures - não é lícito saber - qual sorte a mim qual a ti os deuses tenham dado, Leuconoe, e as cabalas babilonesas não investigues.
Quão melhor é viver aquilo que será, sejam muitos os invernos que Júpiter te atribuiu, ou seja o último este, que contra a rocha extenua o Tirreno: sê sábia, filtra o vinho e encurta a esperança, pois a vida é breve. Enquanto falamos, terá fugido ávido o tempo: Colhe o instante, sem confiar no amanhã.”
De uma outra vez, escrevendo eu sobre o tempo, dizia que nada sabemos sobre ele. Exceto que passa. Creio, porém, que melhor seria se disséssemos que o tempo, antes de mais nada é fugidio. Passa por nós sem que o percebamos. E quando tomamos consciência que o tempo passou, é tarde demais, pois ele não voltará jamais. Por isso, agora que o outono já chegou e a minha vida se aproxima do meu inverno, só possoa dizer: “Carpe diem quam minimum credula postero”, ou seja, colhe o instante, sem confiar no amanhã.