terça-feira, 21 de setembro de 2010

A VISÃO, O OLHO E A CEGUEIRA

Visão, olho e cegueira, são coisas inerentes à vida animal. E à vida celestial também. Convém não esquecer que aquele que tudo pode, tudo vê, também.

Mas tenho lá minhas dúvidas. Se tudo vê, imagino que preferiria não ver. O panorama terrestre visto do Olimpo, não é cenário dos mais agradáveis de ser apreciado. Mas tem que ver. É obrigado a isso pela força do Seu destino. Deuses que nada vêem não costumam ser respeitados pelos mortais comuns, que fazem questão de ver milagres, demonstrações de força, efeitos pirotécnicos e outros que tais.
Lobsang Rampa escreveu A Terceira Visão. Não por querer ver demais, evidentemente. Supunha que o homem tivesse um olho místico ainda a ser desenvolvido.
Olhos, os temos de vários tipos. Olho de porco é olho de quem não encara ninguém. Olha sempre de soslaio. Diziam os antigos, não é olho de gente confiável. Olho de boi é um bom olho. Vale uma fortuna. Para quem entende de filatelia, claro. Olho do Céu é olho bom para se olhar. É montanha situada na Província de Hanngchow, na China. Um prazer para o olhar.
Visão é diferente. Na maioria das vezes, é apenas a capacidade de ver. Mas é algo mais também. É ver além do que existe para ser visto. Visões especiais são as visões celestiais, como as visões de Santa Tereza, as visões de São Bernardo, as visões da gruta da Iria, as visões dos profetas, as visões do Paraíso, as visões de D’us. Mas, junto com o olho e a visão, vem a cegueira da morte. A morte nos cega para a vida, assim como a miséria nos cega para a vida com qualidade. A cegueira nos impede de ver as cores, as coisas, os animais da terra, da água e dos céus. Impede-nos de ver o rosto dos amigos queridos, aqueles de verdade e o da mulher amada, que todos as temos.
Mas, como tudo na vida, a cegueira tem o seu lado bom, porque nos impede a visão do lado sujo da vida. Impede-nos de ver lixo nas ruas, nos bares, nos lares e nas repartições públicas. Nesses lugares costuma reproduzir-se sem cessar, o pior de todos os lixos, aquele que não se biodegrada, mas degrada a nós que estamos do lado de cá do balcão: o lixo humano, que este, é preferível não vê-lo. O lixo humano está presente nos seres destituídos de compaixão para com o próximo; está junto dos que têm ódio no coração; faz parte dos que falam a língua bifurcada da serpente, dos mentirosos, dos mistificadores, dos aduladores, dos falsificadores. O lixo humano está presente na estrutura mental de todo aquele que acha que roubar é normal, que vilipendiar é correto, que desrespeitar a vida faz de cada um, um ser mais forte que o outro.
No mundo da política, pelo visto, temos feito a opção preferencial por não ver nada, daí os espécimes que elegemos a cada quatro anos.
Dizem que em terra de cego, quem tem um olho é rei. Errado. Em terra de cego, quem tem um olho, é caolho, mesmo.