sábado, 28 de novembro de 2009

OLIMPÍADAS 2016


Meu amigo querido e, na minha opinião, um intelectual de dar inveja a mim e a todos, que atende pelo nome de Rui Guilherme de Vasconcellos Souza Filho, enviou-me o delicioso texto abaixo, que publico, não só pela ironia fina, como pela crítica ácida às coisas que acontecem neste país surrealista, que já foi chamado por Jorge mais que Amado de “O país do carnaval”.
E tanto ele como eu, acreditamos piamente que o relatado a seguir vai acontecer...

Como será:

Até ao fim de 2009
1. As TVs vão entrevistar os idealizadores da candidatura, dando parabéns, etc, dando a entender que todo o mundo queria a candidatura do Rio. Por todo mundo entende-se todo o planeta mesmo…
2. No réveillon os fogos vão formar o símbolo olímpico no céu de Copacabana.
3. Na Malhação, um dos personagens estará em treino pras Olimpíadas e vai dizer em todos os capítulos que competir em casa será “irado” e “sinixxxxxxtro”

Na Copa de 2010

1. Galvão Bueno durante a narração dos jogos da seleção brasileira vai dizer que a olimpíada ééééééééeé do Brrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrasil…..
De 2010 a 2015
1. ONGs vão pipocar dizendo que apóiam o esporte, tiram crianças das ruas e as afastam das drogas. Após as olimpíadas estas ONGs desaparecerão e serão investigadas por desvio de dinheiro público. Ninguém será preso ou indiciado.
2. Um grupo de funk vai fazer sucesso com uma música (?) que diz: vou pegar na tua tocha e você põe na minha pira; sendo que eles nunca souberam o que era uma pira até então.
3. Um ano antes a Globo vai instalar aqueles relógios ridículos na orla de Copacabana e em outras capitais fazendo a contagem regressiva pro inicio dos jogos.
4. Uma escola de samba vai homenagear os jogos, rimando “barão de coubertin” com “sol da manhã”. Gilberto Gil virá no ultimo carro alegórico vestido de lantejoulas douradas representando o “espírito olímpico do carioca visitando a corte do Olimpo num dia de sol ao raiar do fogo da vitória”
5. Haverá um concurso pra nomear a mascote dos jogos que será um desenho misturando um índio, o sol do Rio, o Pão de Açúcar e o carnaval, criado por Hans Donner. Os finalistas serão nomes tais como: “Zé do Olimpo”, “Chico Tochinha” e “Kaíque Maratoninha”. 6. Luciano Huck vai eleger a Musa dos jogos, concurso que durará um ano e elegerá uma modelo chama Kathy Mileine Suellen da Silva.
7. Milhões de produtos serão anunciados como oficiais dos jogos, desde as habituais camisetas EU VOU RIO 2016 até calcinhas e lógico, biquínis que de tão pequenos terão apenas 2 dos 5 anéis olímpicos.

Abertura dos jogos

1. A tocha olímpica será roubada ao passar pela baixada fluminense. O COB vai encomendar outra em urgência pro carnavalesco da Beija flor.
2. Zeca Pagodinho, Dudu Nobre e a bateria da mangueira farão um show na praia de Copacabana pra comemorar a chegada do fogo olímpico ao Rio. Por motivo de segurança, Zeca Pagodinho será impedido de ficar a menos de 500 metros da tocha.
3. Durante o percurso da tocha, os brasileiros vão invadir a rua e correr ao lado do atleta que porta a mesma carregando cartolinas cor de rosa onde se lê GALVAO FILMA NÓIS, 100% FAVELA DO RATO MOLHADO.
4. Pelé vai errar o nome do presidente do COI, discursar em inglês macarrônico elogiando o povo carioca e ao final vai tropeçar no carpete que foi colado 15 minutos antes do início da cerimônia.
5. Claudia Leite e Ivete Sangalo vão cantar o “hino das olimpíadas” composto por Latino e MC Medalha. As duas vão duelar durante a música pra aparecer mais na TV.
6. Durante o Hino Nacional Brasileiro a platéia vai errar a letra, chorar como se entendesse o que está cantando e aplaudir no final como se fosse um gol.
7. Uma brasileira vai ser filmada varias vezes com um top amarelo, um shortinho verde e a bandeira do Brasil pintada da bochecha. Depois dos jogos ela posará pra Playboy sem o top e sem o shortinho, mas com a bandeira pintada em outras partes que também começam com a letra B.
8. Por falta de gás na última hora, já que a cerimônia só foi ensaiada durante a
madrugada pela primeira vez, a pira não vai funcionar. Zeca Pagodinho será o substituto temporário já que a Brahma é um dos patrocinadores. Em entrevista ao Fantástico ele dirá que não se lembra direito do fato.
9. 74 passistas de fio-dental vão iniciar a cerimônia mostrando o legado cultural do rio ao mundo: a bala perdida, o trafico, o funk e a favela.
10. Durante os jogos de tênis a platéia brasileira vai vaiar os jogadores argentinos obrigando o árbitro a pedir silencio 774 vezes. Como ele pedira em inglês ninguém vai entender e vai continuar vaiando. Galvão Bueno vai dizer que vaiar é bom, mas vaiar os argentinos é melhor ainda. Oscar concordará e depois pedirá desculpas chorando no programa do Gugu.
11. Um simpático cachorro vira-lata furará o esquema de segurança invadindo o desfile da delegação jamaicana. Será carregado por um dos atletas e permanecerá no gramado do Maracanã durante toda cerimônia. Será motivo de 200 reportagens, apelidado de Marley e será adotado por uma modelo emergente que ficará com dó do pobre animalzinho e dirá que ele é gente como a gente.
12. Adriane Galisteu posará pra capa de CARAS ao lado do grande amor da sua vida, um executivo do COB, claro.
13. Os pombos soltos durante a cerimônia serão alvejados por tiros disparados por uma favela próxima e vendidos assados na saída do maracanã por “dois real”.

Durante os jogos

1. Caetano Veloso dará entrevista dizendo que o Rio é lindo, a cerimônia de abertura foi linda e que aquele negão da camiseta 74 da seleção americana de basquete é lindo.
2. uma modelo-manequim-piranha-atriz-exBBB vai engravidar de um jogador de hóquei americano. Sua mãe vai dar entrevista na Luciana Gimenez dizendo que sua filha era virgem até ontem, apesar de ter namorado 74 homens nos últimos seis meses e que o atleta americano a seduziu com falsas promessas de vida nos EUA. Após o nascimento do bebê ela posará nua e terá um programa de fofocas numa rede de TV de menor expressão.
3. No primeiro dia, os EUA, a China e o Canadá já somarão 74 medalhas de ouro, 82 de prata e 4 de bronze. Os jornalistas brasileiros vão dizer a cada segundo que o Brasil é esperança de medalha em 200 modalidades e certeza de medalha em outras 74.
4. Faltando 3 dias para o fim dos jogos, o Brasil terá 3 medalhas de bronze e 1 de ouro, ganha por atletas desconhecidos até então num esporte tipo “caiaque em dupla”. Eles vão ser idolatrados por 15 minutos (somando todas as emissoras abertas e a cabo) como exemplos de força e determinação, a Hebe vai dizer que eles são “uma gracinha” ao posar mordendo a medalha e nunca mais se ouvirá os nomes dos atletas.
5. a seleção brasileira de futebol comanda por Ronaldo Fenômeno tendo Obina como assessor vai chegar como favorita. Passara fácil pela primeira fase e entrará de salto alto na fase final, perdendo pra seleção de Sumatra por humilhantes 3X0 e tendo que disputar a medalha de bronze com um país centro-americano. Vencerá por 1X0 e não comparecerá à cerimônia de entrega das medalhas porque os jogadores inexplicavelmente tinham compromisso em seus clubes europeus.
6. A seleção americana de vôlei visitará uma escola patrocinada pelo Criança Esperança. Nenhuma criança vai entender nada do que eles falarão mas vão rir pra valer ao aparecer na TV. Três meninos vão ganhar uma bola e um uniforme completo dos jogadores e serão encontrados mortos na semana seguinte. Os uniformes nunca mais serão vistos.
7. Os traficantes da Rocinha vão roubar aquele pó branco que os ginastas passam na mão. Um atleta cubano será encontrado morto numa boate do Baixo Leblon depois de cheirá-lo. O COB, a fim de não atrasar as competições de ginástica vai substituir o tal pó pelo cimento que estará estocado nos fundos do ginásio visto que as obras ainda não terão terminado, fato que será usado como desculpa pela eliminação dos ginastas brasileiros.
8. Um atleta brasileiro nunca visto antes terminará em 74º lugar na sua modalidade e roubará a cena ao levantar a camiseta mostrando outra onde se lê : JARDIM MATILDE NA VEIA.
9. Vários atletas brasileiros apontados como promessa de medalha serão eliminados logo no inicio da competição. Suas provas serão reprisadas em slow motion e 400 horas de programas de debate esportivo vão analisar os motivos das suas falhas.
10. Todos os brasileiros entenderão todas as regras de todas as modalidades que eles nunca nem ouviram falar mas saberão na ponta da língua na hora de xingar o atleta que foi eliminado.

Após os jogos

1. Um boxeador brasileiro negro de 1,85m estrelará um filme pornô pra pagar as despesas que teve pra estar nos jogos e não obteve patrocínio.
2. Faustão entrevistará os atletas brasileiros que não ganharam medalhas (ou seja, todos). Não os deixará pronunciar uma palavra sequer, mas dirá que esses caras são exemplos no profissional tanto quanto no pessoal, amigos dos amigos, etc etc

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

SUPREMO REJEITA NOTÍCIA-CRIME CONTRA GILVAM

O Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou ontem, quinta-feira (26), a abertura de queixa-crime solicitada pelo ex-governador do Amapá João Alberto Rodrigues Capiberibe (PSB-AP), contra o senador Gilvam Borges (PMDB-AP). O ex-governador socialista acusou Borges de ofender sua honra e dignidade. Para os ministros do STF, norma prevê que opiniões de senadores são invioláveis. Por 5 votos a 3, os ministros optaram por não acatar a ação, na qual Capiberibe acusava o parlamentar de uso de conteúdo ofensivo em artigo publicado em um jornal, “ofendendo-lhe a honra, a dignidade e a reputação.” No texto, cujo título era “Mentiras e Verdades sobre o caso Capiberibe”, a acusação destaca que Borges teria acusado o ex-governador de “ter sacado R$ 380 milhões dos cofres do governo do Estado do Amapá, em 2002, quando deixou o governo.”
Em 2004, o então senador Capiberibe teve o mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por compra de votos. Ele foi substituído exatamente por Gilvam Borges, terceiro colocado na eleição para senador do Amapá em 2002. Em plenário, a maior parte dos ministros rejeitou a queixa-crime por considerar que os senadores são “invioláveis”, conforme estabelece o artigo 53 da Constituição Federal. A norma prevê que os parlamentares não podem ser responsabilizados de maneira civil ou penal por opiniões, palavras e votos.
Não é de estranhar o comportamento de Capiberibe. Quando governador, promoveu um festival de discórdia tão grande no Estado do Amapá, que dividiu toda a família amapaense. Fez com que irmãos se voltassem contra irmãos, jornalistas contra jornalistas, interferiu na área política jogando deputados contra deputados, desrespeitou a tudo e a todos, chegando ao cúmulo de dizer que vivia sitiado no Palácio do Setentrião por traficantes de drogas. Suas alegações se tornaram risíveis pela simples razão de que, supostamente sitiado, entrava e saía no e do palácio ao seu bel prazer. Nada mau para quem se diz sitiado. Porém, surpreendentemente, num gesto de extrema ousadia e absoluta falta de respeito às autoridades do Judiciário local, chegou ao cúmulo de acusar desembargadores de serem narcotraficantes, uma injustiça, como é publico e notório.
Dizendo-se um político democrático, foi perseguidor implacável de todos os que a ele se opuseram. Chegou mesmo, a processar o jornalista Luiz Melo e o jornal Diário do Amapá, por cerca de duzentas vezes, salvo engano. Um recorde, creio. Combatido tenazmente por seus opositores, que viam no ex-governador um enorme malefício para a terra tucuju, foi, finalmente, cassado por compra de votos, após se eleger senador da República. Aliás, em toda a história do Brasil republicano, apenas dois senadores foram cassados pelo por compra de votos. Ele, João Alberto Capiberibe (PSB-AP) e o ex-senador Expedito Júnior (PSDB-RO), ou seja, apenas o Amapá e Rondônia são os estados brasileiros que tiveram a desonra de terem em seus quadros, senadores que perderam o mandato por compra de votos.
Costumo dizer que só existem dois tipos de políticos: os vencedores e os perdedores. Capiberibe, ao meu ver, merece a taça de campeão dos campeões entre os derrotados. Se, de um lado, foi prefeito, duas vezes governador e senador eleito, por outro lado, perdeu para Aníbal Barcellos, perdeu para Waldez Góes (duas vezes seguidas, por sinal), perdeu o mandato de senador para Gilvam Borges, perdeu todas as vezes em que tentou tirar o mandato de Barcellos, Waldez, Gilvam e Roberto Góes, sem contar outras derrotas em tribunais de primeira instância (causas julgadas por juízes singulares), em tribunais estaduais e federais, como agora, por exemplo. Muito melhor para ele, ouso aconselhar, seria se revisse, analisasse e mudasse seu comportamento político, porque não parece caminhar no rumo certo. A não ser que, perder, seja o seu objetivo maior. Dizem que há pessoas que adoram perder seus combates. Eu, de minha parte, tenho perdido muitas batalhas na minha já longa vida Mas que nunca se diga que gostei. A derrota nos torna maus e amargos, e isso, definitivamente, não é bom para ninguém Menos mau que venci a maior de todas as batalhas: a grande batalha pela simples sobrevivência. Sofri muito, é verdade, mas passou. E com a graça do Eterno, não voltará jamais, porque todos devíamos entender, que o passado, ao passado pertence. Mas, que sei eu dos outros e de suas idiossincracias?

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O MITO


Como bem disse a revista Veja, em sua edição de 25 de novembro de 2009, o filme Lula, o Filho do Brasil, faz parte de um projeto de endeusamento do presidente, o que, em véspera de eleições entra na categoria de propaganda política. Quanto ao cumprimento da lei eleitoral, ora, a lei ..., como diria Getúlio Vargas, quando alertado por um conselheiro sobre a ilegalidade da famosa “Lei Terezoca”. Na verdade, o filme do áulico militante e juramentado Fábio Barreto, assessorado por gente como Ricardo Berzoini e Franklin Martins, chefe da propaganda de Lula, como Goebbels foi de Hitler ou Galeazzo Ciano, de Mussolini. A propósito, consta ter sido Joseph Goebbels quem teria dito a frase: “Uma mentira repetida mil vezes, adquire foros de verdade.” E a verdade, é que Lula realmente é um mito. Não no seu melhor significado filosófico, que tenta explicar a origem de tudo, como faziam os gregos, mas sim, no sentido pejorativo, que diz ser o mito, apenas uma “crença comum, considerada sem fundamento objetivo ou científico, e vista apenas como história de um universo puramente maravilhoso”, ou seja, apenas uma mentira.
O endeusamento de Lula que está sendo promovido e patrocinado por áulicos dos mais diversos tipos, e empresas que só tem a lucrar com esse tipo de postura como a Globo, que comprou os direitos de exibição do filme em nível nacional, o que, obviamente soará como propaganda política. Além delas, podemos citar megaempresas como a Camargo Corrêa, a Oi, a Ambev, a Grendene, a Hiundai, OAS, Odebrecht, Volkswagen e muitas outras, a maioria com negócios com o governo, que se cotizaram e doaram para a realização desse filme, a fantástica quantia de 10,8 milhões de reais. É impressionante o poder da bajulação humana. Enquanto isso, milhões de brasileiros morrem à míngua, porque a “bolsa-esmola” que o governo lhes dá seria risível se ao fosse trágica. Mas os pobres do Brasil podem morrer aos milhares e sofrer o inferno de Dante na fila de hospitais públicos, que não têm a mínima infraestrutura e equipamentos que possam minorar o sofrimentos dessas, que vagam pela miséria do Brasil como zumbis. E deles, a classe política quer apenas o voto, e nada mais.
Mas, fazer o quê para jogar no cesto de lixo da história, esse senhor que diz ser o defensor dos pobres e oprimidos, enquanto percorre o Brasil e o mundo em seu Airbus A319CJ, apelidado de “AeroLula”.
O aulicismo explícito de Fábio Barreto é tanto, que se chegou ao cúmulo de fazer da vida do nosso deficiente cultural presidente, uma analogia com a vida do próprio Jesus Cristo, o que considero uma falta de respeito sem tamanho para com todos os cristãos, independentemente da fé professada. Chega-se mesmo ao extremo de comparar o inigualável Sermão da Montanha, a maior de todas as orações, à cena do célebre comício no estádio Vila Euclides, em 1979. A cena é clara e nítida. É de dar nojo.
Enquanto isso, a oposição posa olimpicamente de muda e surda. Até quando?, é a pergunta. Todos, povo e políticos ditos oposicionistas parecem anestesiados, como que hipnotizados por uma serpente que está prestes a dar o bote.
Fazer o quê? Eu, de minha parte, faço o que posso: bradar no deserto, sem que ninguém me ouça. Não que seja eu um novo João Batista. Isso, com certeza, não. Mas, vejo em meus sonhos, uma Salomé petista pedindo a cabeça de todos os que fazem a sua parte para nos livrar desse terrível Herodes. E é só o que podemos fazer: a nossa parte. E se todos não fizerem a sua parte, não estará longe o dia em que ouviremos choro e ranger de dentes. Mas aí, será tarde demais. As Quatro Bestas do Apocalipse já estão a caminho: atendem pelos nomes de Evo, Fidel, Chávez e Garcia. Quem viver, verá.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O FRACASSADO


Esta é a história da vida conjugal, profissional e amorosa de um homem velho e triste. Nada mais e além que isso. Não que seja uma história que valha a pena ser contada. É apenas uma vírgula no grande livro da tragédia humana. Mas, como tudo é possível, também é possível que um descuidado e eventual leitor possa tirar dessa vida inútil, algo de bom para si mesmo. Pelo menos mostrará caminhos que não devem ser seguidos jamais.
O relato que faremos a partir de agora, é o relato de uma sucessão de erros, projetos não realizados ou inconclusos e fracassos. Muitos fracassos. O maior deles, evidentemente, foi o casamento, essa instituição pavorosa que todos querem e ninguém suporta. O problema do nosso personagem, é que durante quase toda sua vida, acreditou ser um homem de sucesso, um vencedor de batalhas terríveis, elas também, intermináveis. Sua aparência sempre foi a de um homem arrogante, lutador, implacável com os erros alheios e com os seus próprios. Vindo das profundezas do nada absoluto, a princípio, não tinha a menor idéia do que estava fazendo neste Vale da Sombra da Morte. Pra dizer a verdade, ainda hoje, tantas décadas depois, ainda não tem exata noção do que ainda está fazendo por aqui. Às vezes, sob o céu estrelado de sua terra natal, olha aquelas pequeninas e brilhantes luzes, aponta o dedo para uma delas, situada a 90º do horizonte e murmura: “Minha casa! Minha casa!” E nesses momentos, seu rosto mostra uma dor, um sentimento de saudade tão grande, que confrangeria até mesmo o coração de um frade de pedra. E, nessas horas da sua solidão mais absoluta, sente-se apenas um homem perdido longe de sua casa, de seu lar, daqueles que verdadeiramente o amam, daqueles que falam a sua língua, que não é a língua desses animais terríveis que são os homens, essa espécie de seres inferiores feitos à base de carbono.
Esse estrangeiro triste, hoje é um homem que vive a chorar, porque aqui, descobriu que não é absolutamente nada. Não tem família, não tem emprego, não tem renda própria, não tem amigos não tem sequer, o respeito que em tese lhe seria devido pela mulher que escolheu para ser sua companheira. Às vezes, como agora, ficava pensando nos erros que cometera ao longo de uma vida de fracassos. Como pudera ser tão imbecil a ponto de casar? , perguntava a si mesmo, sem obter resposta. E por qual misteriosa razão, aquela megera o salvara da morte tantas vezes?, indagava-se. E a resposta era sempre um tumular silêncio. Não era possível que aquela fosse a mulher com se casara há tanto tempo. Aquela pessoa de aspecto enrugado não era a linda mocinha por quem se apaixonara. Não, definitivamente aquela não era a sua mulher. Como poderia sê-lo, se não o respeitava, se não falava a sua língua, não o fazia fremir de desejo? Desejo. Essa era a grande questão. Não mais sabia o que era isso. Já o sentira, é verdade. Por ela e por outras. Particularmente uma que o fazia delirar somente ao pensar nela e seu corpo escultural, sua cor morena, seus dentes de uma brancura de marfim, seu olhar maroto e brejeiro, sua espantosa sensualidade e sexualidade, seu olhar de fêmea cheirosa e gostosa que há muito deixara de ver, sentir, cheirar, degustar e amar alucinadamente como sói acontecer a homens velhos, carentes e tolos demais. Ah!, suspirou. E sentiu saudades de um tempo que sabia, não voltaria nunca mais, porque morrera como morre tudo aquilo que vive.
Foi por isso que descobriu ter inveja de Ghandi, o Mahatma. Conta-se que sua mulher, presa por ordem do governador militar inglês, ao tempo em que a Índia era apenas uma possessão britânica, ao ser inquirida por um repórter como enfrentara a indignidade de ter sido recolhida à prisão onde estava seu marido, respondeu firme e altiva: - “Minha dignidade está em acompanhar meu marido onde ele estiver.”
Outra que disse tudo o que os homens gostariam de ouvir da própria mulher, foi Judy Garland, grande atriz norte-americana da década de 50 do século passado. Em artigo publicado no Reader’s Digest sobre como um homem deve se comportar diante de sua mulher, aconselhou: - “Não abra mão de sua autoridade. Eis o principal fator. Não passe as rédeas à mulher. Acharíamos esse gesto uma verdadeira abdicação. Ficaríamos confusas e alarmadas, faríamos com que nos retraíssemos. Isso, mais depressa do que qualquer outra coisa, obscureceria a clara visão que nos conduziu ao nosso amor por você. É verdade que tentaremos forçá-lo a renunciar a ser o Número Um dentro de casa. Esta é a terrível contradição feminina, pois a verdade é que não nascemos para dominar. É puro fingimento.”
Lembrou que, muito anos antes, durante mais uma das milhares de brigas que tiveram ele e sua mulher ao longo de décadas, disse ele a ela: - “A grande vantagem das amantes, é que elas mentem descaradamente para seus homens. Eles adoram quando elas lhes dizem mentiras do tipo: “Você é o maior e o melhor”. É claro que não somos, mas todos gostamos de ouvir tolices como essa. E ela, sem a menor noção do que estava dizendo pelo mal que suas palavras provocariam retrucou: “Como é que eu posso dizer que você é o maior e o melhor, se você não é?” Um chute nos testículos doeria bem menos.
Consolava-o, o fato de que um dia isso teria fim. E quando isso ocorrer, quem sabe não possa ele retornar para o seu povo primevo, aquele que está muito além das estrelas e mais além, ainda, das Brumas de Avalon? Quem sabe? Quem de saber há?
Enquanto esse dia não chega, continua a perambular pela negra noite da sua vida sem razão de ser. É quando pensa no homem líquido que se tornara plumbum para poder caminhar na aridez que era o mundo da sua musa de ébano. Ela, por ter densidade atômica diferente o repeliu para o mar da amargura onde sempre vivera, e ele, esquecendo que não mais era líquido, afundou para as fossas abissais do fundo do mar sagrado, de onde nunca mais sairá.
E nessas horas, eu que sou apenas um escrivinhador de feias e tristes histórias, penso em quão triste pode ser o destino dos homens, particularmente daqueles que são odiados pelo Senhor de tudo o que há. E pensar que esse mesmo Deus foi quem criou a espantosa beleza dos fractais ...
QUAL O VERDADEIRO LULA?


Parece destino. Toda vez que penso saber alguma coisa, lá vem o destino, esse professor da vida, mostrar-me com seu enorme dedo indicador que tudo o que eu sabia era falso. Ou seja, vive a me ensinar que tudo o que sei, é que não sei absolutamente nada. Não que seja eu um Sócrates. Como pode alguém, particularmente eu, um simples contador de histórias mal contadas, supor que possa sequer ser a sombra do inigualável, inescedível e incomparável filósofo grego?
Mas, o que eu queria dizer era que, por um momento, pensei saber quem é o senhor Lula da Silva, esse fantástico deficiente cultural que nos governa. E creio, também, que não só eu, mas muitos brasileiros espalhados pela aí, também pensam saber de quem falam, quando se referem a esse desastre em forma de presidente.
De tal forma é que, até hoje, acreditei que Lula era aquele político típico, capaz de dar bom dia a poste em troca de voto. Ledo e Ivo engano, como diria Jarbas Passarinho. Sempre acreditei, também, no âmago do meu ser, que ele era da turma do Silvio Santos, aquela do “Topa tudo por dinheiro”, digo, “Topa tudo pelo poder”. Outro erro. Meu, evidentemente. Mais ainda: todos sabemos que Lula tem um solene medo e desprezo por jornalistas, imprensa e qualquer letra que esteja impressa num pedaço de papel.
Tudo errado. Nem sempre foi assim. Quem se der ao trabalho de pesquisar sobre quem e como era o Lula de quase 25 anos atrás, descobrirá um outro homem, uma outra pessoa que nada tem a ver com o atual, que nos preside, governa e manda. Esse Lula d’antanho é outra pessoa, quase uma curiosidade arqueológica. Aquele, dizia que não pretendia exercer nenhum cargo político e que o máximo que almejava, já o tinha conseguido: ser presidente do Sindicato dos Trabalhadores era o máximo para ele. O Lula Metalúrgico como era chamado pela imprensa, resistia às pressões que sofria para se filiar a algum partido político. O Lula Metalúrgico pichava gente da antiga Arena (Aliança Renovadora Nacional) e do MDB (Movimento Democrático Brasileiro), dispensava a ajuda de estudantes que se ofereciam para distribuir panfletos a operários, acabrunhava-se com a intromissão de intelectuais na atuação do sindicato, fazia restrições à ação das pastorais operárias da Igreja Católica e esculachava contra a chamada “grande imprensa”, muito embora perambulasse pelas redações de jornais à procura de alguém que falasse alguma coisa sobre ele. Nota-se, hoje, que o “Sapo Barbudo”, apelido que ganharia dez anos depois de Leonel Brizola, era outra pessoa. Quando perguntado pelo jornalista Geneton Moraes Neto sobre se ele se considerava o primeiro líder político surgido fora do âmbito parlamentar, á época, sua resposta foi um primor. O hoje presidente eleito e reeleito que sonha com um terceiro mandato, muito embora o negue, seguindo a arte da dissimulação na qual Tancredo Neves era um especialista, respondeu: “Nem me considero uma liderança. Eu me considero um elemento que conseguiu captar os desejos de uma classe. Tentei levar os interesses dessa classe adiante e transformá-los numa bandeira de luta. Maravilha de modéstia, diante de um Lula que recentemente teve a ousadia de se comparar ao próprio Cristo.
Mas o inacreditável, é que o atual Lula, esse homem que se diz de esquerda e que vive namorando explicitamente, comunistas, socialistas e outros que tais, é o mesmo que dizia há mais de duas décadas, que não se entusiasmava com nenhum partido político, sequer com o PC (Partido comunista), porque ele, o PC, “sucumbiu da mesma forma que nasceu. Quer dizer, nasceu e morreu. Não foi obra dos trabalhadores. Veio de cima para baixo, um negócio imposto à classe trabalhadora.” Mais adiante, complementa: “Alguns partidos que se diziam representantes da classe trabalhadora como o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), o PC e o próprio Partido Socialista nunca foram legitimamente representantes dos trabalhadores, porque não nasceram da classe trabalhadora. Foram impostos à classe.” E não só isso, ao ser perguntado sobre quais seus planos na política, deu a singela resposta: “Não sei, não pensei, ainda.” Inacreditável.
Derrotado uma vez por Fernando Collor de Mello e duas vezes por Fernando Henrique Cardoso, dizer que não tinha nenhum plano ou vocação política, disputar e perder três vezes uma eleição presidência antes de se eleger, reeleger e pensar num terceiro mandato, realmente é dar dó a quem acreditou que ele, de verdade, jamais almejou o poder. E posso até estar errado, mas creio profundamente, que ele não quer apenas o poder, mas sim o poder absoluto. Quem viver, verá.
E a pergunta que fica no ar e que ninguém responde é: quem, de verdade, é o senhor Lula? O Lula Metalúrgico, O Lula da Silva, o Magnífico, ou o Lula Não Sei de Nada da Silva? Quem souber que responda. Eu, de minha parte, não que seja um Lula, só sei que, como disse antes, que não sei absolutamente nada. Tenho dito. E escrito.

sábado, 21 de novembro de 2009

BATTISTI, LULA E O SUPREMO


Muito se tem falado do caso Cesare Battisti, o terrorista italiano acusado e condenado à revelia na Itália pela autoria de quatro homicídios na década de 1970, quando integrava a organização Proletários Armados para o Comunismo (PAC). Battisti, depois de fugir da Itália onde foi condenado à prisão perpétua por seus crimes, atravessou vários países e, finalmente, desembarcou no Brasil, onde cumpre prisão preventiva em Brasília desde 2007, depois de receber asilo político concedido pelo ministro da Justiça, Tarso Genro. O ministro alega que os crimes de Battisti teriam ocorrido por motivação política. O Supremo Tribunal Federal, além de pensar o contrário, decidiu que Battisti deveria ser extraditado, porém, numa decisão surpreendente, decidiu, também, que a última palavra caberia ao presidente Lula.
Os defensores de Battisti no Brasil, incluindo políticos do primeiro escalão do governo, todos de esquerda, evidentemente, torcem pelo asilo, ou seja, pela não extradição do terrorista. Na prática, isso significa um incentivo a criminosos de todo o planeta para que se refugiem no país das Pindoramas, o reino da impunidade absoluta. De preferência, assassinos que aleguem ser de esquerda, evidentemente.
A não extradição de Battisti pode até ser ou se tornar um ato legal. Mas sem a menor dúvida, será um ato que apequenará ainda mais, o nosso pequeno dirigente máximo; apequenará um tribunal que, dito Supremo, em tese, deveria estar acima de tudo e de todos. Se alguém está acima dele, então deixa de ser supremo, obviamente.
Que entende da ciência do Direito, um presidente que é um deficiente intelectual? Essa possível decisão do chefe do Executivo não apequenará apenas ele e seu governo, apequenará toda a sociedade, todo o povo brasileiro, toda esta nação que tinha tudo para ser grande entre os grandes.
Fosse Lula um homem sábio, e deixaria o caso Battisti nas mãos do Supremo. Foi o que fez José Sarney, quando em 1985, após assumir a Presidência da República no lugar de Tancredo Neves, que morreu na véspera da posse, pensou em renunciar ao cargo, porque havia sido desencadeada uma enorme discussão, como ele mesmo disse, maléfica para o país, sobre a extensão de seu mandato. A Assembleia Nacional Constituinte ficou discutindo que Sarney deveria ficar no cargo apenas quatro anos, quando o correto do ponto de vista legal, à época, seria um mandato de seis anos, porque uma ata do Congresso Nacional quando de sua posse, dizia que o mandato dele iria até 1991. Sarney, de forma conciliadora, ofereceu a redução de um ano, caso em que aceitaria um mandato de apenas cinco, porque aceitar apenas quatro, quando tinha direito a seis anos, significaria que o Congresso não tinha confiança nele, e sua única opção seria a renúncia, porque um presidente da República que não tenha Congresso, não pode governar. A Assembléia Constituinte ficou então discutindo que ele queria um ano a mais, ou seja cinco, o que era uma evidente inverdade, uma vez que pelo correto, esse mesmo mandato deveria ser de seis anos.
O interessante é que Sarney, homem vivido, experiente, culto e patriota, resolveu acatar o conselho do ex-presidente general Ernesto Geisel, homem de honradez inatacável e sabedoria ímpar que disse a Sarney: “Não discuta o tempo de duração do mandato. Não trate desse assunto. Deixe a Assembleia Constituinte resolver. Se ela decidir contra o tempo a que você tem direito, vá ao Supremo Tribunal e espere que ele resolva. Aceite a solução que for.” Como se sabe, Sarney governou de 15 de março de 1985 a 15 de março de 1990 e foi sucedido por Fernando Collor de Mello, que derrotou Luiz Inácio Lula da Silva.
Fosse vivo hoje, e o velho general Geisel, muito provavelmente repetiria a Lula, o conselho que deu a Sarney: “Deixe o Supremo decidir e aceite o resultado que for.” O problema, é que a quantidade de neurônios de Lula está a anos-luz de distância de Sarney, e hoje, não mais temos um Geisel da vida e nem um Supremo como antes. “C’est la vie”, como diriam os franceses.
UM FATO ESTRANHO

O fato, mais que estranho, é que eu, conhecido como crítico ácido da ação e comportamento da classe política brasileira, com destaque nada honroso para os políticos da área federal, particularmente com relação ao deficiente cultural senhor Lula da Silva, descubro que estou feliz com a ação de muitos dos políticos amapaenses. Senão, vejamos:
1 – A deputada federal Dalva Figueiredo (PT-AP), está preocupada com os constantes apagões verificados em Macapá e quer garantias de que nem só eles terminarão como não voltarão, assim como discute a questão da dívida agrícola em Brasília. Isso é o que chamo real preocupação com nossos problemas.
2 - Foi instalada a Comissão Parlamentar de Inquérito criada pela Assembleia Legislativa, para investigar denúncias de irregularidades nas atividades das empresas mineradoras no Amapá.
Proposta pelo deputado estadual Ruy Smith (PSB), a CPI da Mineração tem como objetivo principal verificar o impacto sócio-ambiental e econômico dos projetos instalados nos municípios de Amapari e Serra do Navio.
Para a presidência da comissão foi confirmado o nome do deputado estadual Alexandre Barcellos (PSDB) e na vice-presidência, o deputado Zezé Nunes (PV). O relator é o deputado Moisés Souza (SC) e como membros foram indicados os deputados Eider Pena (PDT) e Kaká Barbosa (PT do B). Ótimo. É para isso mesmo, fiscalizar severamente o que acontece em solo amapaense e propor leis e projetos que beneficiem o povo que os senhores deputados existem.
3 – O senador Gilvam Borges (PMDB-AP) informa a aprovação do projeto que regulamenta Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Desaparecidos. Agora, a Proposta vai à sanção presidencial. Excelente. Nossas crianças, mais que nunca, precisam de proteção.
4 – O deputado Jorge Amanjás (PSDB-AP), aceitou convite de estudantes de Direito para proferir palestra sobre o tema “Partidos Políticos e sua importância para o estado moderno e Grupos de Pressão”. É de fundamental importância que os senhores deputados se envolvam com questões como essa, e transmitam ao nosso alunado, um pouco, pelo menos, do que já aprenderam ao longo da vida, no sentido de torná-los cidadãos integrais. Parabéns.
5 – Quanto ao governador Waldez Góes, a folha de serviços que tem prestado ao Amapá é por todos mais que conhecida. Não é à toa que sua popularidade só faz aumentar. Isto, sem contar, com o modo criterioso que usou na escolha de seus auxiliares mais diretos, que contribuem decisivamente para o sucesso da administração governamental.
6 – O senador Sarney, pelos extraordinários benefícios que já trouxe – e ainda trará, não tenho dúvidas - ao nosso Amapá, tem seu nome garantido na história da terra tucuju.
7 – Macapá, como é visível a todos, nunca esteve tão bonita e tão limpa como atualmente, muito embora muito serviço ainda seja necessário para que cheguemos ao ponto ideal, mas a melhora é sensível, particularmente quando se pensa que nos oito anteriores à administração de Roberto Góes, pouco ou nada tenha sido feito pelo ex-prefeito.
É claro que, até por falta de espaço, não posso falar de outros parlamentares, secretários e demais técnicos ou políticos que administram nosso estado. Mas, quero realçar, talvez porque, excepcionalmente, hoje não estou com o azedume habitual que no geral me causa a classe política, que os elogios acima não significam que deixei o meu modo de dar meu recado claro e direto, àqueles que fazem do bem público, algo muito pessoal e particular.
Infelizmente, não faltará ocasião para que venhamos a público, como é de meu hábito, denunciar e criticar do modo mais severo possível, todos aqueles que, por incompetência, má índole ou qualquer outra razão negativa, use ou se aposse do que é nosso, do povo, com se a si pertencesse. Lamentavelmente, ao contrário do que pensa o apagado deficiente intelectual senhor Lula da Silva, lugar de jornalista é na rua, conversando com o povo para saber o que ele, povo, pensa e registrar o fato para a população. Também é nossa função, sim, criticar, denunciar, formar opiniões para, fazendo a nossa parte com seriedade, ajudar o nosso país, a ser constituído por um povo mais feliz e mais consciente de seus direitos e obrigações. E, para concluir, é nosso dever também, por que não, elogiar quando o acerto se torna visível. Muito embora essas razões sejam tão raras.
A TAVERNA DO APAGÃO
Miguezim de Princesa
I
Na taverna brasileira,
O chefe-mor do pifão
Tomou a décima lapada
Misturada com limão,
Sentiu o mundo rodando,
Os olhos lacrimejando
E aí veio o apagão.

II
Mergulhou na escuridão,
Caído ao pé de uma escada:
Uma cuia com farofa,
Lingüiça e carne torrada,
Uma 51 secou,
No outro dia acordou
Sem se lembrar de mais nada.

III
Isso foi curto-circuito
Ou um fulminante raio?
A culpa foi da costela
E do malpassado paio,
Que era meio falsificado
E foi trazido importado
Do governo paraguaio.

IV
E durante o coma etílico,
Que alguns chamam “água dura”,
Sobreveio um pesadelo
De matar a criatura:
Monstros feios de doer
Assumiriam o poder
De mandar na rua escura.

V
Amigos de muito tempo,
Da cachaça e do gamão,
Isolavam o chefe-mor,
Que perdia a proteção
E terminava lascado,
Completamente enredado
Em um tal de mensalão.

VI
Acabavam as mordomias
(Não se tinha nem mais cuscuz),
Veio um satanás de rabo,
Dependurado numa cruz,
Com alicate afiado,
Cortou fio desencapado
E a rua ficou sem luz.

VII
Na rua ninguém se entendia,
Era uma grande confusão,
Direita virava esquerda
E naquela escuridão,
Onde ninguém enxergava,
O esperto aproveitava
Para enfiar mais a mão.

VIII
Viva a privatização
De toda a rede elétrica!
- gritava um líder de turma,
Da forma mais apoplética,
Com os 10 por cento da feira
E acampado na beira
De uma usina hidrelétrica.

IX
O delegado famoso
Aparecia no terreiro,
Com a foice e o martelo
E a mídia do estrangeiro,
Fazendo investigação
Pra saber do apagão
Segurando um candeeiro.

X
A miss paz e amor
Começou uma confusão:
- Meus filhos, que diacho é isso,
Tiraram a luz do salão! -.
E aí ficou rodando,
Sacudindo e pinotando,
Com um cacete na mão.

XI
Aproveitando o escuro,
A súcia se empanturrou:
Secou todas as garrafas
E nenhuma dose restou;
O chefe, todo suado,
Tremendo, desesperado,
Deu um grito e se acordou.

XII
E quando alguém lhe pergunta
Sobre toda a trapalhada,
Orgias e coisas que as trevas
Espalharam na Esplanada,
O chefe-mor simplesmente
Olha e responde pra gente:
- Eu não me lembro de nada.

PS: Este poema não é meu, é de meu querido amigo Miguezim de Princeza. Achei-o ótimo, porque reflete com ironia fina e humor sutil, um certo governante que também atende pelo nome de Apagado da Silva.

Carlos Bezerra

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O APAGADO

Pretensão não lhe faltava. Achava-se, no mínimo, o máximo. Fosse ele romano, e adotaria o nome de Lux, o Iluminado. O problema é que não era. E nem é. Nem romano e nem iluminado. Não é sequer palito daquela marca de fósforos Fia Lux (Faça-se a luz). Na verdade, o máximo que poderia, em matéria de luz, seria receber o nome de Lúcifer, o mais belo dos primeiros filhos de Deus, que como se sabe, ao tentar dar um golpe de Estado no reino dos Céus, foi transformado em anjo decaído e recebeu o nome de Daímon (Demônio). E por causa dessa fracassada tentativa de golpe, foi condenado a ser o Príncipe das Trevas, dono e senhor do reino do Eterno Apagão, o Hades ou Inferno, como preferirem.
O certo é que, por ter mente tacanha e cérebro desprovido de neurônios, ignorância sobre tudo o que há de dimensões amazônicas e ser o principal responsável pelo “apagão” que “apagou” o Brasil, seu nome deveria ser Apagado. Apagado da Silva. Bom, mesmo, é se pudesse ser apagado de nossas vidas e da história deste país poucas vezes iluminado de bons governantes ao longo de mais de 500 anos de história.
E não é que Sua Excelência Apagado da Silva declarou recentemente que o apagão de Itaipu é episódio superado! Claro que é superado. Claro que foi superado. Como se sabe, a energia e a luz já voltaram, exceto em pontos localizados deste país continente que, visto do espaço extraterrestre, mais parece um eterno vagalume no seu piscar constante.
O que Apagado da Silva insiste em não saber, ou finge não saber, assim como a senhora Dilma Não Falei com Ela da Silva e o senhor Lobão Mau da Silva, é que o que nunca foi superado, assim como não o será, pelo menos em futuro previsível, é a incompetência governamental. Essa, brilha como nunca e dificilmente será apagada do mapa do descaso púbico generalizado deste pais, porque a única coisa que interessa aos nossos nada doutos governantes é o brilho maravilhoso do voto deste gado humano, que a cada eleição, bovinamente os elege e reelege desde sempre.
O senhor Lobão Mau da Silva, com aquela cara de lupino amarrotado e mal humorado que descobriu que não comeu a Chapeuzinho Vermelho das suas fantasias, e sim a vovozinha, que aliás, consta que de há muito sonhava em ser devorada. De preferência por um lobo muito mau, caso do senhor Lobão Mau da Silva, que por sua vez, foge pela tangente dizendo que a culpa de todos os apagões é de Santa Bárbara, aquela santa senhora que dispara raios mais poderosos que os do próprio Zeus. Exceto, claro, os apagões do governo anterior.
De tal sorte é que, se não apagarmos o senhor Apagado da Silva da possibilidade de ganhar as próximas eleições, pior pra nós. Estaremos condenados a apagões sucessivos per omnia secula seculorum.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

DOSSIÊ COLLOR
ELES SÃO TODOS IGUAIS


Costumo dizer que não existe político bom ou político mau. O que existe é político vencedor e político perdedor. Vou mais longe: eles são todos iguais, senão vejamos: nas eleições de 1989, em que disputavam a Presidência da República, Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva, por ocasião do segundo debate televisivo feito pela Rede Bandeirante de Televisão, Collor destruiu Lula, ao revelar que o petista tivera um caso extraconjugal com a enfermeira Miriam Cordeiro, com quem teve uma filha. Sobre o caso, o resto é história, muito embora, até hoje, até onde sei, ninguém respondeu que fim levaram Miriam Cordeiro e sua filha.
O que poucos sabem, é que Collor de Mello também tinha sua sujeirinha varrida para debaixo do tapete. Ele, igual a Lula tinha um caso extraconjugal. A diferença entre ambos, é que Collor teve mais competência para encobrir o fato e o menino, que morava em Rio Largo, pequena cidade alagoana próxima a Maceió. Quem assim o diz, é Cleto Falcão - um dos principais articuladores da candidatura do então governador de Alagoas à presidência da República. Eleito Collor, Falcão chegou a ocupar o posto de líder do partido do governo na Câmara dos Deputados. De volta a Alagoas, hoje é assessor parlamentar da Assembléia Legislativa de Alagoas. Cleto Falcão fez essas e outras revelações ao jornalista Geneton Moraes, autor do livro “Dossiê Brasília – Os Segredos dos Presidentes (José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso). A entrevista foi ao ar pela Globo News, segundo informa o próprio Geneton Moraes, além de ser postado em seu blog, no último dia 07-11-2009, às 09:08 hs.
Collor, como todos sabem, perdeu o mandato é hoje é senador por Alagoas e amigo do peito do presidente Lula. As diferenças básicas entre ambos é que, o PT descobriu o fato e bem que tentou achar o filho de Collor, James Fernando que diga-se a bem da verdade, foi reconhecido por Collor, e hoje é vereador em sua cidade. Se o comando da campanha de Lula o tivesse encontrado, o resultado daquela eleição poderia ser outro, uma vez que Collor chegara ao máximo de suas possibilidades de aumentar seu percentual de eleitores, enquanto Lula crescia sem parar, aproximando-se perigosamente de seu adversário. Collor só se tornou conhecido nacionalmente, depois que a revista Veja lançou, à época, um número em que Fernando Collor era personagem de capa que o apresentava como “O caçador de marajás”. Como todos sabem, os empresários deram milhões. Os eleitores deram algo mais valioso: votos. Bom de palanque e de TV, Fernando Collor bateu o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva: 35.089.998 votaram em Collor, contra 31.076.364 que apostaram em Lula. O resto é história.
Quanto ao tesoureiro da campanha de Collor, Paulo César Farias, e ainda segundo o próprio Cleto Falcão, em entrevista concedida a Geneton Moraes, revelou durante um banho de piscina que as “sobras de campanha” chegaram a 52 milhões de dólares.
E a pergunta que ninguém responde é: o quê aconteceu com essa dinheirama toda? Igual a Conceição, inesquecível música interpretada pelo grande cantor Nelson Gonçalves, ninguém sabe, ninguém viu. E o próprio PC Farias teria dito que o total arrecadado era de 134 milhões de dólares. Como se sabe, Farias morreu assassinado a tiros de revólver, supostamente por sua namorada Suzana Marcolino.
Outro fato citado por Cleto Falcão a Geneton Moraes, foi que o ex-presidente Collor tentou se livrar de seu vice, o mercurial Itamar Franco. Segundo entrevista ao jornalista Moraes, Franco teria dito que “Toda semana, Itamar tinha um chilique”. Ele só manteve sua candidatura de vice, tornando-se, posteriormente presidente da República, porque consultado por Collor, o TSE respondeu que a candidatura de Itamar Franco não mais poderia ser anulada, a não ser que o próprio Itamar a pedisse, num ato de vontade unilateral. Collor, eleito com 40 anos, também renunciaria dois anos e meio depois da posse, numa tentativa de escapar da condenação pelo Senado. Não o conseguiu. Condenado por “crime de responsabilidade”, passou oito anos impedido de exercer cargo público. Ao final, o Supremo Tribunal Federal o absolveu. Mas aí, já era tarde demais.
PARA QUE TUDO ACONTECESSE


Para que tudo acontecesse, foi preciso que eu te encontrasse, foi preciso que tu existisses. Para que existisses, foi preciso que teus ancestrais tivessem vindo de há muito do coração da Mãe-África para outras terras, outros povos, outros costumes, outras línguas, e misturassem seu sangue ao sangue desses povos estranhos, de pele diferente dos da tua raça.
Mas, muito antes, foi preciso que os primeiros hominídeos descessem das árvores e produzissem um novo animal. Esse animal, muito tempo depois, receberia o nome de homem. Fico imaginando, a solidão do primeiro ser que teve a consciência do próprio existir, e sentiu-se tão pequeno, tão diminuto, tão ínfimo, diante da imensidão do Universo. Aterrorizado, quem sabe, imaginou um ser Todo-Poderoso que lhe ouvisse as angústias.
Eu, tal qual aquele primeiro homem, sofro da solidão mais absoluta dos que sabem que não existem palavras que possam exprimir quanto dói estar sozinho, quando não se tem deuses para adorar.
Mas, para que tudo acontecesse, foi preciso que, antes dos primeiros homens e dos primeiros deuses, que o espírito de Deus deslizasse por sobre a superfície das águas. Mas, antes que as primeiras águas existissem, foi preciso que toda a matéria existente antes de tudo, se unisse num só bloco e explodisse, há 15 bilhões de anos-luz.
Dessa explosão cósmica, mais poderosa do que tudo o que poderia ocorrer depois, pois nada ocorreu antes, foi que nasceu o meu amor por ti. Há 15 bilhões de anos, quando nada existia, exceto a massa informe de tudo o que há, eu já dançava contigo nas estrelas que ainda estavam por ser criadas, o Bolero de Ravel. E ainda que não creias, depois de todo esse tempo, continuas linda, como se o tempo não existisse. Foi assim que tudo aconteceu, ainda que ninguém creia, o que é irrelevante.
Certas coisas não ocorrem para que se creia. Ocorrem apenas, porque assim está escrito nas estrelas.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

UMA GAVETA VELHA


Sem muito o que fazer, decidi abrir uma gaveta velha. Não devia. Gavetas velhas não deveriam ser abertas jamais. São depósitos dos nossos sentimentos mais recônditos. Alguns tão velhos que a gente nem lembra mais.
Dentro da gaveta velha, encontrei uma porta que não deveria ser transposta jamais. É uma porta que conduz ao passado, a um tempo em que a gente não sabia que o futuro existia. E hoje, quando o futuro é presente, o passado fica tão doído, tão triste como só conseguem ser as teias de aranha tecidas pela poeira do tempo. Um tempo que sabemos, não voltará jamais. Não podem ser mexidas. Correm o risco de se desmanchar, se autodestruir.
E na gaveta do tempo voltei a te encontrar e chorei. Chorei como só os velhos que ficaram velhos demais conseguem chorar. Com saudade de um tempo tão pleno, tão denso, tão rico, tão promissor, e que hoje vemos, era apenas uma promessa que não se cumpriu, uma semente que não brotou, uma imagem que não se fixou. Ficou envolta nas brumas de Avalon, quem sabe? Que sei eu das lendas do rei Arthur?
Mas sei das tuas lendas e das minhas lendas, que pensávamos fossem histórias. Eras tão bonita, que não sei como me esqueci disso. Talvez porque o tempo nos torna feios. Por dentro e por fora. As agressões desnecessárias deixam feridas que o tempo não cura. São feridas que doem demais, doem tanto, que os muito novos não têm como acreditar que tanta dor seja possível. Só saberão do que se trata, quando for tarde demais, e estiverem eles também, velhos demais.
Quando isso ocorrer, não poderei chorar com eles, porque serei pó, varrido pela planície da eternidade. Se tiver sorte, uma tempestade solar pode conduzir-me para as estrelas. Serei então o pó que rodeia as estrelas, onde tudo está escrito. Até mesmo que um novo amor é possível.
Mas isso não impedirá que eu sinta uma terrível, uma enorme saudade de mim, uma imensa saudade de ti...

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O GOSTOSO


Chamava-se Gostoso. Mais precisamente, João Gostoso. E pelas histórias que contam dele, tudo indica que, realmente, era um homem gostoso. Nasceu bonito, pele amorenada, cabelos levemente encaracolados, lábios carnudos, discretamente sensuais e aquele olhar de peixe morto, a la Clark Gable. Forte, alto, cerca de 85 quilos distribuídos em exatos 1,90 m, era o prazer do olhar das mulheres, fossem elas feias ou belas, casadas, solteiras, amigadas, amasiadas ou amancebadas, como si dizia antigamente, jovens, maduras ou avelhantadas. Todas, sem exceção, suspiravam languidamente quando ele, o Gostoso, passava por elas, com seu andar firme e rosto sério, quase severo.
João Gostoso não era o falso gostoso, aquele que se acha, no mínimo o máximo. Aquele que diz que “comeu” todas, quando na verdade “comeu” bem poucas ou nenhuma. Ele, o Gostoso não era assim, não. Como era homem honesto, mas não santo, levou – ou foi levado – pra cama por todas quantas quis ou pode. Mas, jamais propalou qualquer nome das muitas mulheres que lhe atravessaram a vida. E não foram poucas. Dezenas, centenas delas, mas nenhuma, a mulher-sonho que idealizou. Profissional competente, fez sucesso na carreira que escolheu. Em suma, era o tipo de homem que toda mãe sonhou para a própria filha.
Mas, e tudo tem um mas, João Gostoso era amazônida, e por isso, por causa de suas raízes caboclas, mesmo podendo viajar nos melhores aviões existentes – e de primeira classe – preferia viajar de barco, navio, canoa, batelão, piroga, qualquer tipo de embarcação. Se flutuasse e lhe proporcionasse um mínimo de conforto, era com ele mesmo. Tinha até mesmo uma lancha. Lancha, vírgula, aquilo era um belíssimo iate, quase uma pequeno transatlântico.
Um dia, decidiu viajar para uma cidade vizinha. Coisa pouca, em termos amazônicos. Não mais de 24 horas. E isso em comum barco a motor. Daqueles dos quais existem aos milhares na região dos mais belos rios e florestas do mundo. E de repente lhe deu saudades dos tempos de rapaz, quando singrava aqueles mares de água doce em pequena canoa a vela. E foi por isso que, ao decidir matar aquela saudade que lhe oprimia o peito e que o chamava de volta ao passado, que decidiu fazer aquela viagem em barco a motor.
Quem conhece, sabe que a baía do Marajó - aquela que banha a maior ilha fluvial do mundo, e que tem o mesmo nome, Marajó – não é lugar para brincadeira. Ninguém sabe, ao certo, quantas centenas de embarcações tiveram lá seu fim. Mas, o piloto daquele barco, não era homem de temer alguma coisa. Menos ainda, aquela baía assassina, que já navegara milhares de vezes. Mas, como todos sabemos, tudo na vida tem uma primeira vez. E daquela vez não foi diferente. Irritada porque Netuno dera-lhe ordem de se manter plácida, quando seu desejo era receber ventos fortes, encrespar-se e mostrar aos homens o quanto era poderosa, foi que se deu a tragédia. Desobedecendo as ordens recebidas, enfunou velas que por ali passavam, e fez pequenos barcos escalar montanhas d’água furiosas que bramiam como que açoitadas por Cérbero, o cão do Hades. A diferença, é que depois de fechadas as escotilhas, baixada a vela mestre e às vezes, até mesmo a bujarrona, é difícil uma canoa daquelas afundar. Só mesmo a sorte ou o destino podem fazê-lo. Mas, um barco a motor, este, naquele mar-oceano não tem a menor chance. E foi o que aconteceu. Se pelo menos o piloto tivesse conseguido vislumbrar a boca de entrada de um pequeno rio, de um igarapé, de um furo, de um paraná, ou até mesmo de um paraná-mirim onde pudesse aportar, tudo poderia ter sido evitado. Mas não foi o que aconteceu. Aquela frágil embarcação já estava com seu destino selado desde que recolhera âncoras e se pusera ao largo. Se pelo menos o piloto tivesse conseguido virar o timão, um pouco que fosse, para se posicionar adequadamente e pegar maré de popa, ainda haveria possibilidade de salvação. Mas não foi o que aconteceu. Ao tentar a manobra, uma onda de vante pegou o barco de lado e não deu outra. O barco virou e rapidamente afundou. A tripulação, acostumada àqueles acontecimentos, agarrou rapidamente as bóias de miriti e conseguiu se salvar. Até mesmo o piloto, em sua minúscula cabine de comando, conseguiu se evitar a morte. Só João Gostoso, o amante de barcos e das águas amazônicas não o conseguiu. O barco tornou-se seu túmulo, seu mausoléu de madeira.
Nesse dia houve banquete no fundo do rio. Afinal de contas, não é todo dia que peixes, camarões, caranguejos e todos os animais do fundo dos rios, baías e igarapés, têm a oportunidade de devorar um homem tão saboroso.
NÓS E O POVO HEBREU

Sei que é muita pretensão minha querer – e o que é pior – tentar escrever sobre a saga do povo que o próprio Deus chamou de seu e com o qual, nós, ocidentais no geral e brasileiros no particular, além dos médio-orientais, temos tudo a ver. No entanto, como ousadia é palavra que não está ausente do meu dicionário, vou pelo menos tentar falar sobre um povo, uma nação e uma religião que estão enraizados no mais profundo do nosso ser, senão, vejamos: Nossos nomes próprios são, em grande parte, nomes hebraicos. Exemplos: Gabriel, Rafael, Miguel, José, Maria (Miriã), Simão, Madalena (Maria Madalena ou Maria de Magdala, Magadã ou Magedan (cidade próxima da margem ocidental do Lago de Tiberíades. Atualmente a cidade de Migdal fica nas proximidades da antiga Magdala); Jair (natural de Gileade; Benjamin (filho caçula de Raquel e Jacó. Sua mãe, Raquel, chamou-o de Benoni (que significa “filho da minha dor”). Jacó, por sua vez o chamou de Benjamin (filho de minha mão direita. O nome também designa uma das 12 tribos de Israel. A propósito, o nome Israel, tão comum entre nós, significa “O que lutou com Deus” ou “Forte como Deus”. Anteriormente seu nome era Jacó (Jacob), aquele que trabalhou para Labão durante longos 14 anos por causa da bela Raquel, foi patriarca, filho de Isaque (Isaac) e Rebecca, neto de Abraão (Pai de multidões), o que antes foi Abrão (Pai do alto).
Fiquemos por aqui, apenas para citar alguns nomes. Nossas religiões têm tudo a ver com o povo hebreu. O nome foi aportuguesado do hebraico Ivrim ou Ibrim, para denominar os descendentes de Sem, filho de Noé. Muitos, porém, acreditam que hebreu, seria uma denominação advinda da expressão ever ha-nahar que significa “aquele que vem do outro lado do rio”, uma referência ao Rio Eufrates.
Foram eles, os hebreus, que primeiro tiveram a noção de um Deus único, ao contrário de todos os outros povos conhecidos à época, que tinham diversos deuses, incluindo gregos e romanos. Jesus (Yeshua, em aramaico), um judeu e também arameu, é o nosso referencial sobre tudo o que existe de bom em todo o Universo conhecido. O mesmo Deus de Abraão é o nosso Deus, que também atende pelos nomes de Javeh, Jeovah, Elohim, Adonai ou ainda pelo tetragrama YHWH (ou seja, o Impronunciável) e o príncipe maior da Igreja Católica é Petrus (Pedro, em grego, aquele que antes era Simão, o pescador). Aliás, é bom lembrar que, assim como as igrejas protestantes, as ortodoxas e outras variações do catolicismo, a maronita, são filhas diretas da Igreja Católica, esta também, é filha direta do judaísmo. Se bem observarmos, veremos que nossa cultura, além da influência helênica, claro, tem muito – ou quase tudo a ver com o grande povo judeu. Aliás, segundo Gräetz, os povos criadores da civilização humana foram exatamente gregos e hebreus. Os helenos foram protagonistas únicos na história dos povos conquistados. Depois de sucumbirem sob as falanges macedônicas e as legiões romanas, impuseram aos vencedores sua enorme cultura que ainda hoje é fonte de conhecimento entre nós. Quanto ao povo hebreu, ao contrário dos gregos, permaneceu vivo em meio a impérios. Só para que se tenha uma pálida ideia de sua determinação em sobreviver num mundo hostil desde sempre, somente Jerusalém (que já teve nomes como (Jebus (dos jebuseus), Salém, Urusalim, Siom, Cidade de Davi, Aelia Capitolina, El Kuds (Santa), Beit el-Makdes (Casa da Santidade), Bet há-Mikdash (Templo), tem conseguido ressurgir das cinzas como se fora uma Phoenix hebréia ao longo dos últimos quatro mil anos a 121 conflitos por seu controle. Ela foi destruída duas vezes, 23 vezes sitiada, 52 vezes atacada e 44 vezes capturada por tribos e exércitos de impérios.
E ainda hoje, rodeado por milhões de inimigos árabes (eles também semitas e ditos descendentes de Ismael), Israel continua a guerrear por uma simples razão: o direito de existir. Ainda que banhada em sangue, milhões de litros de sangue ao longo de sua história, Jerusalém continua sendo a cidade sagrada de três grandes religiões: judaísmo, cristianismo e islamismo. Além disso, ao que tudo indica, o passado, o presente e o futuro da humanidade passam por ali. E por toda Israel, evidentemente. Não à toa que judeus de todo o mundo continuam a dizer todo santo ano na época da Páscoa (Pessach, em hebraico, passagem, em português): “Ano que vem, em Jerusalém). Israel, é portanto, por tudo o que já nos ofereceu, por tudo o que nos oferece e por tudo o que ainda há de nos oferecer, a ponte entre as trevas e a luz.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

... E A MORTE CHOROU


O homem pregado na cruz olhou para o passado, e ficou sem entender o que havia acontecido. Tudo o que sempre quisera, era levar paz ao coração de uma humanidade tão atormentada, que de humana tinha bem pouco. Mas como era de seu feitio a perdoou uma vez mais. Lembrou-se do pai, um carpinteiro tão devotado à esposa, que acreditara sem duvidar por um instante que fosse, naquela estranha história de concepção sem pecado. Se outrens não entenderam, ele entendeu porque era da sua natureza a compreensão absoluta de tudo o que há. Lembrou dias felizes, quando esculpia pássaros de barro, dava-lhes um sopro e se divertia vendo-os criar vida e voar em direção ao azul do céu de Israel, terra tão bela e tão conturbada, que não conheceria paz até o final dos tempos, porque assim estava escrito que seria. Pobre Israel! E derramou uma lágrima solitária pelo rosto vincado de dor. Lembrou seu breve tempo de contador de parábolas, e seu coração encheu-se de conforto, achando que aqueles ensinamentos seriam transmitidos geração após geração, até a consumação dos séculos. Lembrou de fatos que jamais seriam esquecidos. A viagem para o Egito, feita em lombo de burro, era um verdadeiro épico. Principalmente se levado em conta, que seu séquito era composto apenas de uma mulher de simplicidade extrema e seu marido. Gostava mesmo, era de lembrar seu nascimento. Aquela cena do presépio, pressentia, ficaria gravada na mente dos homens de boa vontade para todo o sempre. Mas houvera os tropeços e os enganos. Judas tinha sido o maior deles. Como pudera confiar naquele homem, indagava-se desde o momento em que fora preso?
A dor nas pernas quebradas doía demais. Sabia que não suportaria por muito tempo aquele sofrimento. Aqueles romanos sabiam como inflingir dor a alguém. De repente, deu um grito exasperado. Que necessidade tinha aquele soldado, de furar-lhe o ventre? Mereceriam esses seres de carbono, continuar sua miserável existência?, refletiu por um átimo de tempo, para arrepender-se em seguida. Como pudera pensar desse modo, logo Ele, que fora enviado para salvar os pecadores do mundo? Mas eram tão cruéis, esses homens que o Pai enviara para a dura missão de salvá-los. Às 15h não mais suportou tanto sofrer. Levantou os olhos para o alto e bradou: “Elli, Elli, lema sabachtani? O rosto pendeu sobre o peito, arfou um pouco mais e expirou, pondo fim à sua permanência na Terra dos Homens.
Nas fímbrias do Universo, bem dentro do lado obscuro do espaço sem fim, uma figura sombria encolhia-se numa das dobras do tempo. Estava triste. Mais que isso, estava amargurada. Começara sua existência no mesmo momento em que fora criado o primeiro vivente. Desde então matara sem cessar. Era a sua função. Por isso, o estereótipo que fizeram de si: uma Dama sombria, portando sempre a foice com que cortava o liame que prendia os seres à vida. Mas até ela, achara injusta a morte do Homem que acabara de matar. E por não suportar a missão de que a haviam encarregado, e à qual não poderia fugir, a Morte encolheu-se um pouco mais sobre si mesma, pôs as mãos descarnadas sobre o rosto descarnado também, e pela primeira vez em toda a sua existência, chorou como nenhum ser chorara antes e nem choraria depois.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

MULHERES INSPIRADORAS


Que o mundo é feio e mau, nenhuma dúvida. Por outro lado, que a vida é bela, também nenhuma dúvida. E por que isso acontece? Simplesmente porque o mundo é dual. O que seria do belo, se não fosse o feio? E do negro se o branco não existisse? Como seria o frio sem a noção do quente? É que o princípio das partidas dobradas explica tudo o que vemos, ouvimos e sentimos. É por isso que nos consola saber da existência de pessoas inspiradoras, que se contrapõem às pessoas depressivas, de mal com a vida e que, no geral, acabam trilhando o caminho do fracasso.
Foi por isso que li, com muita satisfação, a reportagem publicada na revista Cláudia de Outubro/2009, em que a deputada federal Fátima Pelaes (PMDB-AP), conta histórias de sua vida, história essa que faria com que qualquer outra pessoa, menos forte e menos decidida, não sobrevivesse a tanto sofrimento moral e material. Nascida e criada até os três anos de idade numa penitenciária, porque sua mãe, condenada à prisão por homicídio, lá deu a luz à pequena Fátima, e lá a criou durante três anos. Convenhamos que não é qualquer mortal comum que consegue virar o jogo da vida e se tornar uma pessoa de muito sucesso e respeito como o é a deputada Fátima Pelaes, de quem tenho o prazer de ter sua amizade. Esclareça-se, porém, que não é o sentimento de carinho que tenho por ela que me leva a enaltecer suas qualidades. O faço por uma simples questão de justiça. Eu, que lutei todas as batalhas da vida, sei o quanto é difícil, não só sobreviver e ultrapassar todos os empecilhos que a vida coloca em todos os caminhos trilhados pelos humanos, esses estranhos animais feitos à base de carbono. É por isso que realço o valor dessa mulher inspiradora que, tendo tudo para que a derrota fosse o seu prêmio, brinda a todos nós com o seu sucesso, mostrando que tudo é possível, quando a força de vontade é maior que o desânimo que muitas vezes nos é colocado à porta.
Fátima Pelaes, que está em seu quarto mandato como deputada federal, é considerada como uma das parlamentares mais sérias da Câmara Federal, responsável por leis como a que determina eu as unidades prisionais tenham um berçário decente par amamentação e uma creche para que os filhos permaneçam com suas mães, na prisão, até os sete anos de idade. Ela também relatou a CPI sobre o extermínio de crianças e adolescentes; presidiu a CPI que investigou a mortalidade materna no país e criou a lei que estendeu a licença-maternidade para mães adotivas. Atualmente, tem convocado audiências públicas para discutir o aumento da pedofilia no Brasil.
Outra mulher inspiradora é a também deputada federal Dalva Figueiredo (PT-AP). De simples professora amapaense, título o mais honroso de quantos possam existir, porém mal remunerado, através da capacidade política foi vice-governadora e governadora do Estado do Amapá. Além disso, elegeu-se deputada federal e tem, à sua frente, uma bela estrada a ser trilhada no campo da política.
É de mulheres assim, vitoriosas, cheias de garra que o Amapá precisa. Não se precisa, também, de homens assim?, perguntarão meus seis leitores. É claro que precisamos, sim. A diferença é que, enquanto a Câmara Federal, de um total de 513 parlamentares, tem apenas 45 mulheres, contra 468 homens, ou seja, menos de 10% do total. Se as mulheres são maioria no Brasil, por que têm que ser tão poucas no parlamento?
Que fique e prolifere o exemplo dessas duas mulheres que, oriundas de uma vida pobre e cheia de dificuldades, são espelhos onde devemos nos mirar e andar, sempre para a frente e para o alto.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

DALVA FIGUEIREDO DEFENDE REDUÇÃO DE PREÇOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL AMAZÔNICA

A deputada federal Dalva Figueiredo (PT-AP), participou no último dia 21 de Outubro, da discussão na Comissão da Amazônia, a regionalização da tabela de custos do Sistema Nacional de Preços e Índices para Construção Civil (SINAPI), durante a audiência pública Preços e a Constante Paralisação das Obras Públicas Contratadas junto a Caixa Econômica Federal na Região Norte.
Segundo a deputada petista, os parlamentares se comprometem com os municípios levando expectativas e liberação de recursos, mas na hora da execução, há problemas por causa dos custos. “O que pretendemos é uma tabela que reflita a realidade, que seja feita dentro de padrões técnicos. ´´E necessário que a Caixa ou outro órgão responsável encontre uma alternativa para fazer essa adequação e resolver o problema”, afirmou Dalva Figueiredo.
A postura da deputada na firme defesa dos interesses amazônicos é de fundamental importância, porque todos sabemos que a região jamais teve o tratamento diferenciado que merece. No caso específico do Amapá, é público e notório que nossas dificuldades são maiores, em função do isolamento geográfico que sofremos em relação aos centros do poder.
A deputada também afirmou que, de sua parte, não descansará até conseguir esse objetivo. Até porque, com mais facilidades, a construção civil pode fazer baixar, e muito, o nível de desemprego entre nós, porque ela é o setor econômico que mais absorve mão de obra, diminuindo, portanto, o nosso ainda alto nível de desemprego.
BATRACOMIOMÁQUIA


Batracomiomáquia. Calma. Antes que comecem a me apedrejar por causa desse palavrão, é necessário que fique bem claro que o nome não é criação minha. É de Homero. Sim, aquele poeta grego que poucos conhecem, autor de a Ilíada, obra que bem menos conhecem. Homero é personagem sobre cuja vida pouco se sabe, uma vez que foi cercada de lendas. Diz-se que seu nascimento ocorreu em Esmirna, cidade da Ásia Menor, no entanto, outras seis reclamam esse privilégio. Seu nome, segundo diversas etimologias, significa “refém”, por ter sido soldado em sua juventude e ter sido prisioneiro e retido como garantia de guerra. O “Cego”, como o chamavam, tornou-se mendigo e sobrevivia andando de cidade em cidade cantando como jogral. Porém, uma das curiosidades desse autor de uma das mais clássicas obras literárias que o mundo já conheceu, é que tinha o seu lado humorístico bem acentuado. Por isso, talvez, tenha escrito essa pequena obra intitulada “Batracomáquia”, que fala de uma guerra entre ratos e rãs.
Longe de mim a ideia que a obra tenha qualquer semelhança com a guerra que travam, desde sempre, os ratos e os batráquios da política, particularmente aquela travada entre o “Sapo Barbudo”, criação imortal de Leonel Brizola e outros ratos de seu tempo. De certo, o que temos é que um dia, um rato, submergindo sua barba à beira de um lago, viu uma rã tagarela que morava no lago.
Inchabochechas – Quem és tu, estranho. Dize-mo a verdade, e em troca dar-te-ei tanta hospitalidade que, possivelmente, minha casa nunca mais queiras deixar. Eu sou Inchabochechas, e no lago me honram como perpétuo caudilho das rãs. Meu pai chamava-se Lodoso e minha mãe Rainha das Águas. Noto que és formoso e forte, mais ainda que outros; e deves ser portador de certo e valoroso combatente nas batalhas. Mas, dize-me rápido, tua linhagem.
Furtamigalhas – Por que me perguntas minha linhagem, se ela é conhecida de todos os homens e deuses. Eu me chamo Furtamigalhas e sou filho


do poderoso Róipão e tenho por mãe Lambetentes, filha do rei Róipresunto. Mas, como poderemos ser amigos, se temos naturezas muito diferentes? Tua vida está na água e eu costumo roer o que os homens possuem. Nada se me escapa. Nem o pão guardado em cestos ou a torta recheada de gergelim; não dispenso presunto, queijo, doces de leite e nem nada que produzam os cozinheiros para os festins dos mortais. Nunca fugi da gritaria das mais horrendas batalhas, mas me junto aos combatentes mais avançados, porque sei que lá terei muitas recompensas. Meu único temor diz respeito aos gaviões e doninhas. Com relação a esta, nem na minha toca estou seguro. Odeio, porém, couves, abóboras e verdes acelgas.
Inchabochechas – Noto que muito te envaideces das coisas do ventre. Quanto a nós, rãs, temos coisas admiráveis de se ver, tanto na água como na terra. Se tens dúvidas sobre o que digo, é fácil comprovar-te. Sobe às minhas costas e te mostrarei meu palácio. O resultado é que, em aparecendo uma Hidra, a rã merguhou no lago, esquecendo Furtamigalhas que morreu afogado.
Por causa desse acontecimento é que foi deflagrada a guerra entre ratos e rãs. Quanto aos deuses, convocados por Zeus, decidiram que o melhor era não se meter numa briga que não era deles pois, como sempre acontece, poderiam ter sérios prejuízos se não adotassem a neutralidade. E assim fizeram.
Entretanto, um destemido guerreiro roedor chamado Roubaparte, pediu o comando do exército de roedores e partindo para o ataque, certo de que destruiria o exército de batráquios. E assim teria feito não fosse a ajuda que as rãs receberam de Cronion, pai dos deuses e dos homens. Foi por isso que Zeus, compadecendo-se das rãs, enviou-lhes como auxiliares, animais de garras curvas, andar oblíquo, pés torcidos e bocas como tesouras, de pele crustácea, de consistência óssea, de costas largas e reluzentes e oito pés chamados caranguejos. Lançados ao combate, cortaram com suas largas tesouras as caudas, os pés e as mãos dos ratos que, percebendo a extensão da tragédia que se abatera sobre eles, fugiram espavoridos para que não fossem dizimados.
Segundo conta a história, o combate durou apenas um dia, terminando com a vitória das rãs.
Quanto a um certo país onde vivia a donzela Iracema, aquela que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, a guerra continua. E tudo indica que, ao contrário do que ocorreu na famosa batalha chamada Batracomiomáquia, a guerra entre ratos e rãs, que terminou com a vitória das rãs, pelo andar da carruagem, deve terminar com a esmagadora vitória do Sapo Barbudo. As eleições estão às portas. 2010 vem aí. E até onde sei, Zeus não está em aí para nosotros.

domingo, 1 de novembro de 2009

O PÊNDULO


Pra dizer a verdade, jamais entendi montanhistas. Rapel, muito menos. Aliás, desconfio que não entendo quase nada de tudo o que há. Mas, o que sei que menos entendo é de montanhismo. Aqui pra nós, qual a graça de se fazer um esforço ingente para escalar milhares de metros céu acima, tendo que carregar às costas, pesos que creio, devem pesar não menos de uma tonelada. Como se isso não bastasse, cada metro acima, mais rarefeito o ar e mais baixa a temperatura. Frio lembra a morte. Não existem cadáveres quentes. Exceto os que morreram minutos atrás. A vida, ao contrário, é quente. E é movimento, também. Acredito que enquanto um só astro girar ao redor de si mesm, a vida existirá no universo. Acredito, também, que talvez o apocalipse seja a imobilidade total e absoluta. Significa dizer que um só raio de quantos sóis existam não brilharão; um só pulmão em todas as galáxias não respirarão; pernas não darão um passo sequer; rosas não se abrirão e belas mulheres não seduzirão homens tão frágeis diante de seu poder.
Desse ponto de vista, poderia eu até entender o montanhista. Escalar qualquer coisa significa movimento. O problema é que não existem montanhas horizontais. Toda montanha é vertical. Faz parte do seu destino.
Certa ocasião, quando andava eu perdido no Cáucaso Central, conheci um montanhista. Esse homem era diferente de todos quantos conheci. Era apaixonado por pêndulos. Pêndulos, dirão meus seis leitores? Pêndulos, sim senhor. Principalmente relógios pendulares. Ele próprio, sonhava ser um pêndulo. Pêndulo humano, claro. Por isso, não esquecia de pedir toda santa noite ao Eterno que, dentro do possível, o transformasse num pêndulo. Aquels movimento lateral ou mesmo frontal do vai e vem o encantava. Seria a glória.
Um dia tomou uma decisão. Escalaria a montanha mais alta e mais difícil de quantas existissem. Tomado de furioso entusiasmo, gastou uma pequena fortuna comprando cordas e cordeletes, cadeirinha, mosquetão e malha rápida, polia, estribos, capacete, luvas e peitoral, enfim, toda a parafernália que constitui o equipamento de qualquer bom montanhista que tem como desejo escalar uma difícil montanha. Daquelas com milhares de metros de altura, onde o vento sopra de modo perpétuo, não a brisa de praias calientes, não o vento que provoca tempestades de areia no Saara ou no Zogbi. Não, não é desse vento que falo. Falo do vento polar, do vento mais gelado que a própria morte, do vento cortante, congelante, daqueles que provocam a sensação de que um milhão de agulhas perfuram o corpo do infeliz submetido a tal fenômeno da natureza.
Por isso não entendo montanhistas. Se pelo menos eles chegassem lá, no topo da montanha e fizessem uma declaração de amor à mulher amada; se plantassem ao menos uma árvore... Já pensaram como seria o mundo se todos os cumes de todos os morros, de todas as serras, de todas as montanhas fossem arborizados? Seria uma espécie de Floresta Amazônica mundial, se contrapondo ao azul do céu. Mas não fazem nada, os montanhistas. Passam alguns minutos lá e descem. Simplesmente isso. E qual a grande vantagem? Nenhuma, é a resposta. Não que haja necessidade de se levar vantagem em tudo. Afinal de contas a Lei de Gerson já perdeu a validade de há muito.
O problema com o montanhista que queria ser pêndulo, é que não sabia que subir e fácil. Difícil, mesmo, é descer. Qualquer descuido pode ser fatal.
E não deu outra. Ao tentar sair de uma escarpa onde o vento soprava enfurecidamente, escorregou no gelo eterno. As cordas deslizaram dezenas de metros e o seguraram. O detalhe é que, da distância em que estava da encosta, nem ele e nem ninguém poderia salvá-lo. Finalmente tivera seu desejo realizado: tornara-se um pêndulo. Um pêndulo humano, é verdade mas, mesmo assim um pêndulo.
Dizem que ainda está por lá, coitado. Tão novo, tão pendurado, tão pendular... Nunca mais voltei ao Cáucaso. Tenho montanhas diferentes para escalar. As montanhas da vida com seus vales profundo e abismos mais profundos ainda. A diferença de outros escaladores é que, no meu caso meus equipamentos são outros. Ainda preciso estudar muito e aprender muito mais. Ainda sou um simples analfabeto da vida. Preciso, também sofrer muito mais do que já sofri. Estão pensando que ser alpinista na vida é fácil?Até porque não fui sábio o bastante para aprender pelo amor. Resultado: Tive que aprender pela dor. E o meu caminho ainda é tão, longo, tão árduo, tão alto...
- Moral da história: Muito cuidado com o que você pede a Deus. Ele pode atendê-lo.