sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A PRIMEIRA PEDRA

Quando os escribas e fariseus trouxeram à presença de Jesus uma mulher surpreendida em adultério e querendo castigá-la condenando-a à morte por apedrejamento, conforme mandava a lei da época. O Rabi, que escrevia alguma coisa com o dedo sobre a terra, perguntaram-lhe o que diria sobre o fato. Ele, que estava inclinado, levantou-se respondendo-lhes de maneira simples e direta: “Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra.” E tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. Assim está escrito no Evangelho de João, 8:3-11. É claro que no fundo, o que desejavam era acusá-lo de desejar o mal de alguém. Mas o Rabi estava acima e além dessas coisas odiosas, típicas do ser humano. E eles, ouvindo a resposta do Filho do Homem e acusados pela própria consciência foram-se retirando um a um a começar pelos mais velhos.E então, erguendo-se e vendo que apenas a mulher ainda estava ali perguntou-lhe: “Onde estão os teus acusadores, ninguém te condenou?” Ao que ela respondeu: “Ninguém, Senhor.” E então disse-lhe Jesus: “Nem Eu tampouco te condeno; vai e não peques mais.” O Amapá está de luto moral. Dirigentes políticos, agentes públicos e empresários estão sendo acusados por instituições respeitáveis como a Polícia Federal e o Suerior Tribunal de Justiça de diversas irregularidades na administração da coisa pública. Culpados ou não, neste primeiro momento não nos cabe julgá-los e muito menos condená-los à execração pública ou à morte política. Primeiro porque somente após o julgamento e a condenação pelas instâncias judiciárias adequadas é que poderão ser chamados, realmente, de culpados. Segundo, porque muitos dos opositores aos atuais detidos têm ou tiveram suas próprias culpas no cartório, como se dizia antigamente, portanto não podem posar de seres de pureza angelical. E, finalmente, atire a primeira pedra quem jamais pecou.
É claro que a notícia é terrível. O Amapá ostenta no seu currículo a sina de ser o segundo em toda a história da República a aparecer no noticiário nacional com notícias negativas desse porte. Fomos o segundo estado federado a ter um senador cassado, no caso por compra de votos. O primeiro foi um senador carioca cassado por falta de decoro parlamentar. A acusação: foi fotografado vestindo smoking, meias, sapatos e cueca “samba canção”. Detalhe: estava dentro do seu apartamento, vestindo-se para ir ao Senado, então no Rio de Janeiro, ao tempo em que a Cidade Maravilhosa era ainda a capital da República. O que ocorreu foi que um fotógrafo da antiga revista O Cruzeiro, amigo do senador, fotografou-o e publicou a foto.
Agora, o Amapá é o segundo estado da federação a ter um governador preso, acusado de irregularidades diversas. O primeiro, como todos sabem, foi o ex-govermador de Brasília, José Roberto Arruda. Que D'us Onipotente tenha piedade de nós, porque se assim não for, estaremos irremediavelmente perdidos, na medida em que, pelo andar da carruagem, chegará ao ponto de nem ao bispo podermos recorrer.De qualquer modo, sem amenizar a culpa de quem quer que seja, atire a primeira pedra aquele que nunca pecou.