sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

ONDE ESTÁ A VERDADE?

“Quid est veritas?” (Onde está a verdade?). Esta pergunta foi formulada há 2000 anos por Pilatos a Cristo. A resposta mais convincente foi dada por Aristóteles, desde que Pilatos, ao formulá-la, parece ter-se desinteressado do assunto. Até hoje, o governador da Judéia só é lembrado por ter, simbolicamente, lavado as mãos, no que se tornaria o segundo maior acontecimento da humanidade no seu lado ocidental: a morte desse mesmo Cristo.
Aristóteles definiu a verdade como sendo “uma adequação ou coerência entre o que se diz e a coisa ou entre o que se diz e o ocorrido”. A verdade ou falsidade se prende apenas à verificabilidade, que não exige experimentação direta. Basta que se indique uma maneira fisicamente possível de testar.
Esse é o grande dilema com que a classe política depara. O eleitor, ao acreditar que há coerência no discurso político, é induzido a dispensar a verificabilidade, que nessa área, só é possível após a experimentação direta. Traduzindo: só é possível avaliar a veracidade ou a falsidade do enunciado político quando já é tarde demais.
É por isso, que o discurso político não pode e não deve ser analisado a partir da ótica maniqueísta falso-verdadeiro. Esse tipo de discurso deve ser tratado como hipótese, que é a afirmação de uma relação entre dois ou mais fatos, que deve ser verificada posteriormente.
Mas, voltando à pergunta inicial, onde está a verdade? A resposta não é simples. No governo ou na oposição, perguntaria o otimista? Em cima ou em baixo?, perguntaria o filósofo? Na lágrima sofrida de um rosto triste ou no riso debochado de um qualquer? Aqui na terra ou nos confins do Universo? Com o homem adúltero ou com o homem adulterado na sua essência? Com Deus ou com o Diabo? Dentro ou fora de nós? Nos bares ou nos lares? Estará por acaso a verdade, tal qual um deus onipresente, simultaneamente em todos os lugares?
Pensar é preciso. Ou não é preciso pensar? Dolorosa interrogação. Pensar, pensar profundamente, é antes de mais nada, um ato de dor. Ai dos que pensam, diria, lembrando César. Feliz de quem não tem sempre presente a angústia do ser e como tal, do pensar, e coloca todos os seus méritos e deméritos nas costas largas de Deus.
Fiz estas reflexões, pensando no imbróglio que coloca a ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira e a ministra-chefe da Casa Civil do Palácio do Planalto Dilma Roussef em lados opostos. Lina Vieira afirma e confirma que teve um encontro com Dilma Roussef, no Planalto, onde a ministra teria pedido à chefe da Receita Federal que apressasse as investigações sobre um dos filhos do senador José Sarney. Ela diz ainda que teria entendido a conversa como um pedido para que encerrasse - arquivasse talvez - a investigação. E a pergunta que se faz e que ninguém quer responder, a começar pelo presidente Lula é: Onde - ou com quem - está a verdade?
Solicitado para que cedesse as fitas das câmeras que registrariam a entrada e saída de pessoas, sejam comuns ou autoridades de qualquer naipe, o Palácio respondeu simplesmente que as fitas eram apagadas a cada 30 dias. Ora, foi divulgado que o contrato entre a empresa responsável por essas gravações reza que as fitas deveriam ser apagadas após seis meses depois das gravações e a pergunta que fica no ar é: Por que o governo apagou essas fitas depois de apenas 30 dias? Teria sido tão fácil encerrar esse caso, como afirmou querer o presidente Lula. Bastaria mostrar as fitas e provar que Lina Vieira estava mentindo. Ao não fazê-lo, expôs a ministra-chefe da Casa Civil à dúvida no que se refere à sua credibilidade, ao desgaste político e até mesmo ao ridículo.
Sabe-se que Dilma Roussef tem por hábito negar tudo o que a envolva de modo negativo. Será que os donos do poder têm que mentir sempre para governar e, principalmente se manterem no poder?
A respeito da mentira, o pensador francês Michel de Montaigne dizia que os mentirosos deveriam ser condenados à fogueira, porque se a mentira fosse apenas o contrário da verdade, seria possível tolerá-la. O problema é que a mentira tem mil faces e seu poder de destruição não conhece limites.
Para complicar ainda mais a situação de Dilma Roussef, há registros no sistema de segurança do Palácio do Planalto, da presença de Lina Vieira em 2008, conforme o que disse o líder do governo no Senado Romero Jucá. Ora, se há provas de que Lina Vieira estivera no Palácio do Planalto em outubro de 2008, por que não poderia ter estado em novembro e dezembro desse mesmo ano?
Uma das maiores características do presidente Lula, além de dizer bobagens, é não lembrar de nada, absolutamente nada ou dizer que não disse aquilo que disse. Nesses casos, a desculpa oficial é que a imprensa, como sempre, na opinião dos políticos, deturpou ou inventou o que disse. Pelo jeito, Dilma Roussef vai pelo mesmo caminho, o que significa, em tese, que tudo isso a torna forte candidata à sucessão de Lula. Um povo que elege e reelege um homem que sofre da amnésia mais profunda quando se trata de seus erros (ver escândalo do Mensalão) e que se orgulha de ser analfabeto, pode, perfeitamente eleger uma candidata sobre cuja cabeça está pendurada a espada de Dâmocles da mentira.