quarta-feira, 28 de julho de 2010

UM HOMEM CHAMADO JOSÉ

Perdido na imensidão do cosmos, um planeta revoluteava em giros tristes e solitários. Ficara assim desde que a solidão o tornou diferente dos demais planetas e das super novas, estrelas cheias de brilho, luz e vigor, que caminham pelo negror do Universo, acreditando que suas luzes durarão para sempre.
Aquele triste planeta, além de não ter luz própria, perdera o pouco que refletia, quando seu guia, o Sol, desabou para dentro de si mesmo, cansado por quatro bilhões de anos de fulgor constante. Quatro bilhões de anos é tempo demais, até mesmo para uma estrela que um dia pensou ser eterna. Ainda bem que pensou errado. A eternidade é cansativa demais.
Mas, aquele planeta já tivera seus momentos de beleza sideral. Consta que selenitas encantados, encantavam suas encantadoras mulheres, cantando melodias tiradas de muito além das nossas limitadas sete notas musicais. Nesses momentos, a Via Láctea quedava-se, muda de prazer, nas noites de Terra cheia.
Dizem também, que num certo sentido, o planeta já tivera uma espécie de luz própria. Fora há muito tempo. Um tempo tão distante, que quase se perdera na história do tempo. Essa luz resultara de uma prosaica história de amor. Não o amor paixão, o amor erótico, o amor cama, o amor frenesi, o amor loucura, o amor orgasmo. Esse não. Esse era o amor diferente. Um amor feito de calma, de ternura, de bem querer, de amizade. Um amor de pureza. Esta é a história de amor de um homem chamado José.
José foi para aquele planeta, o símbolo da humildade e da submissão a uma vontade superior, que não entendia, mas perante a qual se curvava, porque sabia que seu destino estava traçado nas estrelas, muito antes sequer da possibilidade de existirem. Tanto ele quanto as estrelas.
Herdeiro de Davi em linha direta, não conhecia o orgulho ou a ambição. Era, antes de mais nada, um homem simples. Um puro de coração. Talvez tenha sofrido silenciosamente diante da dúvida que um dia, o demônio do ciúme tentou destilar em seu coração. Mas foi só um segundo. Como duvidar da mulher que amara sobre todas as coisas, e que fora escolhida para um destino maior que o seu?
Os anos passaram, José envelheceu e morreu poucos anos depois de seu filho, condenado à morte aos 33 anos. Seu coração sangrou tanto, que por um momento pensou não resistir a tanta dor. Mas crente na recompensa do amor, não vacilou. Acreditou e amou Maria até o final dos tempos que ainda não chegaram.
Uma história antiga, que só os privilegiados selenitas encantados conhecem com detalhes, diz que, se por ventura, em algum lugar, alguém conseguir ver dois cometas brilhantes, lado a lado, verá também as figuras de um homem e uma mulher, de mãos dadas, passeando pelo infinito, enquanto seu filho, Jesus, cuida da administração do Universo.

UM ASSALTO DIFERENTE

A manchete estava lá, na tela do computador. A internet tem dessas vantagens, para quem é bisbilhoteiro profissional, também conhecido na roda dos que se levam demasiadamente a sério como jornalistas. “Gangue de palhaços assalta bar no Reino Unido”, dizia o título da matéria. A fonte era mais que fidedigna: - a própria Reuters, em Londres, dava detalhes do assunto.
“A polícia da cidade de Manchester, no norte da Inglaterra, buscava informações que a levasse a uma gangue de palhaços que assaltou um bar do município.”
Três homens vestidos com fantasias de palhaços, algemaram um gerente e o ameaçaram com uma arma e uma faca antes de escapar com “uma pequena quantidade de dinheiro”. “Essa é uma equipe altamente organizada, que obviamente gastou um bom tempo planejando o assalto”, disse em um comunicado o detetive Darren Shenton. “A gangue fugiu em uma van, e escapou de uma perseguição policial, mesmo se envolvendo em três acidentes no caminho.”
É verdade, no Brasil somos diferentes. Para um assalto bem sucedido, primeiro é preciso se eleger para um cargo qualquer. Depois, é necessário que o cofre seja bem gordo. Mais ou menos no modelito ‘porquinho’ da vovó. É fundamental que o acusado de praticar o furto, desvio, estelionato ou que outro nome se queira dar, alegue inocência até à morte. Se, além de jurar inocência e for acusado depois de cumprido o mandato, é conveniente que diga ser um reles desempregado. É preciso que se leve o eleitor, digo, o leitor às lágrimas. Quem sabe, uma peninha aqui, um pingo de piedade acolá, não se dá um novo cargo eletivo ao acusado? No Brasil, afinal de contas, tudo é possível.
A propósito, mais uma diferença importante entre o povo tupiniquim e os bretões: lá, os palhaços são assaltantes. Aqui, assaltados.