sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O INFERNO DE DANTE

Todos já lemos ou ouvimos algo sobre a Comédia, de Dante Alighieri. Ler, mesmo, essa obra magnífica, em poucos o fizeram. Queiramos ou não, só os muito letrados já gozaram das delícias dessa obra monumental. E eu não estou entre eles. 
A prudência ensina que a documentação sobre a vida do grande bardo italiano é bastante escassa e pouco se sabe, de verdade, sobre  sua educação, família e opiniões.
A causa desse desconhecimento é o fato de que Dante passou boa parte de sua vida como exilado, em condições precárias e quase na indigência. Nossa proposição neste pequeno ensaio, é falar da parte mais importante da Divina Comédia, o Inferno. O qualificativo foi colocado por Boccaccio, a partir de sua biografia, escrita por este outro gênio da literatura italiana.
A Divina Comédia é uma obra construída segundo uma rígida simetria. São três partes: “Inferno”, “Purgatório” e “Paraíso”. Destas duas últimas, falaremos em outra ocasião. Por ora, vamos nos ater ao “Inferno”.
Dante, perdido numa selva escura, encontra o poeta latino Virgílio, cujo espírito foi enviado por Beatriz (Musa do poeta) para buscá-lo. O trajeto de Dante e Virgilio se inicia pelo Inferno, parte primeira de sua obra. A entrada do Inferno é situada em Jerusalém - onde Lúcifer teria batido ao cair do céu. O Inferno, segundo Dante, é composto por diversos círculos, que vão se estreitando até o centro da Terra. Cada círculo corresponde a um tipo de pecado, sendo que o primeiro é o Limbo, onde, na teologia cristã estão as almas dos que não pude-ram escolher Cristo porque nasceram antes de seu advento, ou porque morreram antes do batismo. A partir daí, começa o inferno propriamente dito -  os círculos podem estar agrupados  ou ter subdivisões.
Temos então que: No primeiro círculo ou Limbo, estão os ignaros e os virtuosos anteriores a Cristo, além das crianças não batizadas. No segundo círculo, estão os luxuriosos; no terceiro, os gulosos; no quarto, os avarentos e pródigos; no quinto, os iracundos, soberbos e preguiçosos. Todos esse pecadores estão agrupados no grupo dos Incontinentes. Os hereges têm um círculo exclusivo, o sexto. No sétimo círculo do inferno de Dante, estão os violentos contra o próximo (homicidas, tiranos, predadores), os violentos contra si próprios (suicidas e perdulários), os violentos contra Deus, a natureza e a arte (blasfemos, sodomitas e usurários). No oitavo círculo, estão os sedutores e alcoviteiros, os aduladores, os simoníacos, os adivinhos, astrólogos, bruxas e prevaricadores; os hipócritas e os ladrões (coitados da maioria dos políticos brasileiros), os conselheiros de fraudes, os semeadores de escândalos e cismas, os falsários de metais, de moedas, de pessoas e de palavras.    Finalmente, no nono e último círculo do inferno estão os traidores dos parentes, os traidores da pátria, os traidores dos hóspedes e os traidores dos benfeitores.
Convém saber que o nono círculo do inferno, tem quatro zonas concêntricas (Caina, Antenora, Tolomeia e Judeca) no fundo das quais há um rio gelado (Cocito) e Dite, a cidade de gelo na qual está imerso Lucifer.
Não à toa, é Dante quem diz: "Deixai toda esperança, vós que entrais (no Inferno). Em sua odisseia infernal, Dante encontra personagens históricos, figuras da mitologia antiga e do ima-ginário cristão como Virgilio (autor de Eneida), Homero (Ilíada e Odisséia), Ovídio (autor romano das Metamorfoses), Francesca Rimini (cujo ruidoso caso de adultério com Paolo Malatesta é recapitulado na Comédia), Ugolino della Gherardesca (acusado de traição pelo arcebispo de Pisa, foi preso com dois filhos e dois netos, onde teria comido seus cadáveres, numa torre onde todos morreram de fome), o papa Nicolau III, além de Ulisses e Lúcifer, que no último canto dilacera três dos maiores pecadores que o mundo já conheceu, ainda segundo Dante: Judas, o traidor de Cristo; Brutus e Cássio, assassinos de Julio César.
Talvez, quem melhor se manifestou sobre a Divina Comédia tenha sido o escritor Giovanni Papini (1881-1956), autor de obras sobre Deus e o Diabo. Disse ele: “É muito simples. É só pegar a sabedoria oriental, o logos grego, a charitas cristã, a civilita romana, Aristóteles, os árabes, os judeus, o Velho e o Novo Testamento, as tradições muçulmanas, os conhecimentos científicos da Idade Média, ...”.