quarta-feira, 20 de outubro de 2010

ESTRELA DO ORIENTE

Em tempos passados, o maior tesouro de um povo que nos ensinou quase tudo o que sabemos, foi o maior dos livros de todos tempos, que atende pelo nome de Bíblia, também chamado Livro dos Livros. Foi nele que foram beber sua divina inspiração, todos os grandes poetas e sábios das religiões ocidentais, no qual aprenderam como emocionar os corações e arrebatar as almas com sobre humanas e misteriosas harmonias. Nele, aprendeu Petrarca a modular seus queixumes; nele, Dante Alighieri visualizou o Inferno com seus nove círculos. Sem ele, Milton não teria surpreendido a mulher em sua primeira fraqueza e nem o homem em sua primeira culpa. Sem esse livro magnífico, não teríamos surpreendido D’us em sua primeira ira e nem saberíamos a tragédia que representou para o homem a perda do Paraíso. Sem esse livro maravilhoso, na verdade uma coleção, uma biblioteca única, jamais poderíamos cantar o nosso canto de dor, a desventura e o triste destino dos homens.
Se não foi esse livro de toda a sabedoria que há, quem foi que pôs diante dos olhos dos nossos escritores místicos os obscuros abismos do coração humano?  Fosse a Bíblia suprimida e todos os povos mergulhariam na idade das trevas, no mundo da sombra e da morte. Na Bíblia, essa fantástica estrela que nos foi apresentada e presenteada por um povo que atendia pelo nome de hebreu - “aquele que veio do outro lado do rio”, no caso o Eufrates - jamais teríamos acesso aos anais do céu, da terra e do gênero humano, pois nela, está contido o que foi, o que é e o que será.
Desde o Gênesis, que é um idílio, que é belo, que é uma alegoria poética de beleza ímpar como a primeira aurora até o Apocalipse de São João, que é um hino fúnebre, que transmite uma tristeza sem fim, como se ele fosse o último palpitar da natureza, que é como o último olhar de um moribundo. E entre um e outro, vemos passar diante de nossos olhos, sob o olhar de D’us, todas as gerações e todos os povos. Todos passamos, desde as tribos com seus patriarcas, as monarquias com seus reis, as repúblicas com seus magistrados. Passa a Babilônia com sua abominação, assim como passam Nínive com sua pompa;Mênfis com suas artes e heróis e Roma com seu poder e os despojos do mundo. Exceto D’us, todos passam. Passo eu, passam eles, passamos nós. Tudo passa, até mesmo o tempo, cuja função é apenas passar e tornar senecto tudo o que a ele pertence ou por ele é atingido. Mas Elohim não passará jamais, pois Ele é o que não teve início e não terá fim, o que já existia antes mesmo que o tempo existisse e existirá mesmo depois que que o último fiapo de luz da última estrela passar.
É nela, na Bíblia, que se predizem todas as catástrofes e se faz a contagem de todas as nossas dores. É por isso que as harpas bíblicas ressoam lugubremente, dando os tons de todas as lamentações. Quem se lamentará como se lamentava Jeremias em torno de Jerusalém abandonada por D’us e pelos homens?
Foi nesse livro prodigioso que o gênero humano começou a ler, há mais de trinta e três séculos, e lendo todos os dias e todas as horas, ainda não acabou essa leitura. Moisés (Moshe) nos apresenta, sem véus, o verdadeiro rosto de D’us. A águia de Homero não subiu além dos montes do Olímpo nem transpôs além dos horizontes gregos. A águia do Sinai galgou até o trono resplandecente de D’us, e teve sob as asas, todo o orbe e não se pode comparar a epopeia bíblica, onde tudo é local e universal. Tudo o mais é tão distante quanto Júpiter e Jeovah, entre o Olimpo e o Céu, entre a Grécia e o mundo.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

'"CUMA É O NOME DELE?"

Mais uma vez sou obrigado a começar um texto com a pergunta: “Quid est veritas?” (Onde está a verdade?). Esta pergunta foi formulada há 2000 anos por Pilatos a Cristo. A resposta mais convincente foi dada por Aristóteles, desde que Pilatos, ao formulá-la, parece ter-se desinteressado do assunto. Até hoje, o governador da Judeia só é lembrado por ter, simbolicamente, lavado as mãos, no que se tornaria o segundo maior acontecimento da humanidade no seu lado ocidental: a morte desse mesmo Cristo.

Aristóteles definiu a verdade como sendo “uma adequação ou coerência entre o que se diz e a coisa ou entre o que se diz e o ocorrido”. A verdade ou falsidade se prende apenas à verificabilidade, que não exige experimentação direta. Basta que se indique uma maneira fisicamente possível de testar.
Mas, voltando à pergunta inicial, onde está a verdade? Fiz estas reflexões, pensando na disputa eleitoral que opõe Lucas Barreto e Camilo Capiberibe. Ambos prometem mudar tudo o que aí que está, Acontece que, se todos temos nossos pecadilhos varridos para debaixo do tapete das nossas consciências, no meio político pecadilhos bem poderiam ser chamados de “pecadilhões”. Além disso, todos prometem fazer tudo e mais alguma coisa, para que vivamos no paraíso celeste posto na terra tucuju. Só ainda não disseram onde vão buscar os recursos necessários paea que assim seja.
Em tamanho bem maior, Dilma Rousseff jura de mãos postas e pés juntos que nem sabe quem é dona Erenice Guerra, Filhos & Cia. Também jura que não sabe quem é um dos coordenadores da campanha dela, que atende pelo nome de José Dirceu, aquele do Mensalão do PT. No contra ataque, José Serra jura por todos os juros que nem tem ideia de quem é Paulo Preto. Depois, recuperando a memória, disse conhecer o senhor “Quatro Milhões Paulo Pretinho da Silva”.
Dona Dilma, ex-ateia, agora se diz ecumênica. Dá até a impressão que religião e caça ao voto tem tudo a ver. José Serra, o paulista, jura que olhará com benevolência todo o Brasil. Até mesmo o desco-nhecido Amapá. Me engana que eu gosto.
De verdade, o que temos, é que todo político que se preza tem por hábito dizer que não disse o que disse. Quando muito, admite que imprensa distorceu palavras dele, ainda que repetidas “ipsi literis”.
A mentira campeia pelos campos, pelas águas e pelos céus do Brasil, e contra seu poder, o da verdade é pequeno demais. A respeito da mentira, o pensador francês Michel de Montaigne dizia que os mentirosos deveriam ser condenados à fogueira, porque se a mentira fosse apenas o contrário da verdade, seria possível tolerá-la. O problema é que a mentira tem mil faces e seu poder de destruição não conhece limites.
A propósito, se o próximo governador for eleito pelo PSB “y compañeros”, nome dele será Camilo ou João?

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

FRASE PERIGOSA

Nunca antes na história deste país, tivemos um presidente com tanta capacidade de dizer bobagens como o senhor Lula. Sabe-se que nada é mais irritante que a burrice, e que a única coisa que não tem li-mites no universo é a estupidez humana. E a última bobagem escarrada por “El señor Pre-sidente”, na cara de todos os brasileiros foi: “A polícia bate em quem tem que bater.” A frase, absolutamente infeliz, mostra a cara de alguém que, na verdade, não tem a menor ideia do que é a verdadeira democracia. Na contrapartida, tem embutido no âmago do seu ser, o espírito negro da ditadura, o que é natural em pessoas que têm como ídolos, reles ditadores como o venezuelano Hugo Chávez, o cubano Fidel Castro, o iraniano Ahmadinejad, o líbio Muammar el Kadaffi e outros menos votados. Outro indício desse amor excessivo pelo poder perpétuo, foi quando, na mesma ocasião em que disse a frase perigosa sobre como a polícia deve agir, disse também “Estou pensando em colar a faixa (presidencial) na minha barriga com aquela cola que não sai e sair correndo. “O poviléu riu e a imprensa bajulativa bateu palmas para mais essa frase perigosa, na medida em que mostra que sua ânsia de poder é maior do que se pensa e pretende ser eterna.
O presidente nacional da OAB, Ophir Ca-valcante, ficou “perplexo” com a declaraçãodefendendo que “polícia bate em que tem que bater”. Cavalcante ironizou o primarismo de Lula: “Ele parece ter vocação para comandar o Bope”, disse, numa referencia à tropa de choque da Polícia MiIitar conhecida pela atitude violenta no combate ao crime. Quanto à turma dos chamados Direitos Humanos, calada estava e calada ficou.
O presidente poderia ter ido mais longe. Poderia ter dito que “Torturadores só torturam aqueles que merecem ser torturados”, ou “Pais só espancam crianças que precisam ser espancadas”. Indo mais longe ainda, poderia ter dito que “Homens só batem em mulheres que precisam apanhar” ou mesmo, “Mulheres só “corneiam” homens que merecem ser “corneados”. 
E pensar que, pelo andar da carruagem política, é possível que chegue o dia em que terei saudades desse deficiente cultural. Enfim, esse é o preço que tenho que pagar por viver em um país em que o senhor pre-sidente diz, sorridente, que se orgulha do fato de que só tem um diploma - o de presidente. E a plateia, imbecilizada, aplaude de pé.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

CÍRIO CABANO

Este texto não é meu. É de autoria de André Costa Nunes (andré@terradomeio.com.br) , blog (www.terradomeio.com.br), escritor paraoera da melhor qualidade. Foi meu amigo e irmão de alma Rui Guilherme Vasconcellos de Souza Filho que mo enviou e sou-lhe grato por isso. É um texto tão bonito que, ainda que sem a permissão do autor, decidi colocá-lo neste blog para que outros, paraenses ou não, possam apreciar sua beleza.


“Paraense, ateu. Filosoficamente, materialista. Devoto de Nossa Senhora de Nazaré. Este último atributo, no mês de outubro, transcende os demais. É inerente ao ser paraense.
Durante algum tempo, no auge do obscurantismo ideológico da juventude, ainda tentei renegar, mas romântico inveterado, há muito deixei de remar contra a maré. Mergulhei de cabeça no paraensismo, o que não existe sem açaí, tacacá, Ver-o-Peso, marés, rios e ilhas. Canoas e torso nu. Sem camisa. Sem a devoção à Virgem de Nazaré.
E isso tudo, à imagem do próprio Rio Amazonas, como em um caudal, deságua em Belém, no segundo domingo de outubro. A colossal procissão do Círio, com milhares – fala-se até em milhões – de romeiros, diz que, começa na catedral da Sé e termina cinco ou seis quilômetros depois na Basílica de Nazaré, mas um olhar atento vai além. Vê que a romaria começa em cada furo, rio, igarapé, ilha ou beiradão.
Canoas, ubás, caxiris, barcos, a motor, vela ou remo. Começa nas palafitas e barrancos. Nos quintais das cidades, no porco cevado, no patarrão, no ralar da mandioca, no tipiti, e no moer da folha de maniva. Matéria prima para o almoço do Círio. Maniçoba e pato no tucupi. Farto e generoso. Para a família, para os amigos, e para quem mais chegar.
Começa no vestido de chita com babados, decote comportado e comprimento a baixo dos joelhos. Calça e camisa de manga comprida, novas, as únicas mudas de roupa compradas no ano, mas estreadas no Dia da Festa. Sapatos, sandálias, baixas ou de salto, tênis? Nenhum.
Acompanhar o Círio de Nazaré se vai descalço. Naturalmente.
Começa com banho-de-cheiro. Vinde-cá, priprioca, patichouli, orisa, pau-cheiroso, chama, pau-rosa, catinga-de-mulata.
E se vem de todos os cantos do Estado Pará que em outubro se transmuda para além das fronteiras geopolíticas. Invade o Maranhão, o Amazonas, o Amapá. É como se fosse o Estado de Nossa Senhora de Nazaré. Esse é o núcleo central tangido pelas águas, senhora de todos os destinos.
Essa é a procissão cabana de antes da estrada, do asfalto, do ônibus, do avião, do arranha-céu, do apartamento, do estacionamento proibido.
Essa nova tribo do fast food também é bem-vinda. Por adesão, é claro, afinal, no manto da Virgem e no coração cabano há sempre espaço de sobra. Apenas há que aderir ao espírito secular do Círio. Ficar “mundiado” pelo bom e pelo bem. Sentir-se igual. Caminhar descalço.
É por tudo isso, pelo peso dessa enorme bagagem da cultura paraense, que, todos os anos, quando passa a berlinda da santa, este velho comunista se emociona e chora.














sexta-feira, 1 de outubro de 2010

SOBRE O LIVRO DA SABEDORIA

O Livro da Sabedoria, também chamado Sabedoria de Salomão, é um dos livros deuterocanônicos da Bíblia. Possui 19 capítulos e é, normalmente, atribuído ao rei israelita Salomão, considerado o mais sábio dos homens. Entretanto, os grandes historiadores bíblicos afirmam que o livro, na verdade, foi escrito por um judeu não palestino e sim um judeu natural de Alexandria importante centro político e cultural grego. Sabe-se que gregos e hebreus tiveram convivência tão grande, que o alfabeto grego, na verdade, é uma adaptação do alfabeto hebraico, o “AlefBeyt”, cabendo aos helenos a criação das vogais, uma vez que na língua hebraica não existem vogais. Na verdade, à época em que foi escrito, segunda metade do século I d.C., havia o costume entre escritores, de colocar como autores de suas obras, nomes de personagens muito conhecidos, para que o texto pudesse ser apreciado pelos sábios da época.

Sabedoria é um livro do Velho Testamento existente na versão grega Septuaginta (a Bíblia dos Setenta, na verdade, 72 sábios que a traduziram do hebraico para o grego). Essas versões são, geralmente, católicas romanas e ortodoxas, e não constam em versões da Bíblia protestante, por ser considerado falso.
Os primeiros cinco capítulos do livro, exortam o leitor à justiça e o amor, a procurar D'us para que possam adquirir sabedoria e imortalidade. Ao longo dos primeiros dez capítulos, a sabedoria é personificada como uma mulher. Curiosamente, o livro termina de forma abrupta, gerando a interpretação de que, possivelmente, ou a inspiração do autor acabou, ou a conclusão do livro teria sido perdida.
Chama a atenção o fato de que o livro parece ser destinado aos reis. E ensina que, o estado de espírito dos ímpios é contrário ao destino do homem imortal, pois D'us quer que sejamos sábios, e portanto, livres. Livres do cárcere do pecado, evidentemente. Tanto é assim que, fossem os príncipes sábios, e o ser humano seria muito mais feliz. Sabe-se que Salomão implorou a D'us por sabedoria, e não por pedras preciosas, prata e ouro.
Uma coisa é certa, pela beleza e sabedoria do livro, sua autoria é irrelevante, uma vez que nos conduz para os braços da reflexão e do amor integral a D'us. E quem O ama, jamais será encontrado pela Dama da Foice, uma vez que o paraíso celeste é destinado a todos aqueles que aprendem que ser, é muito melhor que ter, e que a “virtú” liberta, enquanto o pecado aprisiona, mata e destrói. Tanto as nossas vidas como a daqueles que amamaos.