quarta-feira, 9 de junho de 2010

PAZ E GUERRA


    Desde sempre, o que mais se fala quando o assunto é política, seja ela interna ou externa, é de guerra e paz. Mas, o que é a paz? As respostas, além de serem muitas, têm os mais diversos tipos, senão vejamos: para o prussiano conde Carl Von Clausewitz, que lutou contra Napoleão na Rússia e em Waterloo e ajudou a reorganizar o Exército da Prússia, sendo também, o autor do clássico Da Guerra, talvez o maior tratado militar de todos os tempos, guerra era “a continuação da política por outros meios”. Disse mais, ainda. Disse que “o conquistador é sempre amante da paz. Preferia, sem dúvida subjugar nosso país sem ter de combater”. O conde prussiano também dizia que, “a guerra é um ato de força, e não há limite para a aplicação dessa força.” Aliás, antes dele, Heráclito já dizia que “a luta é a regra do mundo e a guerra é a geratriz comum e a senhora de todas as coisas”.
  É verdade. Para conferir, basta que se pense no número de mortos da Segunda Guerra Mundial, que envolveu 61 países (apenas os beligerantes); onde 1,7 bilhão de pessoas, ou seja, ¾ da população mundial, à época, dela participaram. Quanto ao número de mortos, foi o maior em toda a história dos conflitos humanos: 75 milhões de pessoas. Desse total, cerca de 47 milhões foram civis, dos quais, 20 milhões morreram de fome, de doenças ou os dois juntos. Entre os militares, o número de mortos em combate foi de 25 milhões, além dos 4 milhões de soldados que padeceram em campos de concentração. Do total, os aliados perderam 14 milhões de soldados e as tropas do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) contaram 11 milhões de mortos. Isso, em resumo, mostra a tragédia desse imenso conflito, muito embora para Josef Stalin, o ditador russo, isso fosse apenas uma estatística. Foi ele que disse que “a morte de uma pessoa é uma tragédia. A morte de milhões de pessoas é apenas uma estatística.”
   Se esse foi o último grande conflito da humanidade, não podemos esquecer guerras como as do Vietnam, da Coréia, que oficialmente ainda não terminou; do Iraque (americanos), do Afeganistão (russos), e outras menos votadas como as africanas e asiáticas. Se incluirmos nesses números os mortos que devastam países como o Brasil, onde apenas nos últimos mil dias morreram assassinadas 20 mil pessoas, e isso somente na cidade do Rio de Janeiro, o número ficará além da nossa imaginação.  No entanto, insistimos em dizer que vivemos em paz.
   Paz, como já dissemos, existe de todos os tipos. Que paz é essa na qual pensamos viver: a paz dos cemitérios? A Pax Romana ou, no nosso tempo, a Pax Americana (houve também uma Pax Soviética, uma Pax Otomana, uma Pax Chinesa)? Todas elas foram o resultado de uma conquista e de uma pressão militar contínua que ajudou a manter uma certa ordem. Se, por um lado reduziu o grau de conflito no coração do império, por outro lado produziu várias guerras pequenas, mas sangrentas, na periferia. Isso, claro, agradou aos que estavam no centro da questão; mas aqueles que estavam nas periferias da vida tiveram de lidar com a violência, como o Brasil lida, diariamente, em todos os estados, em todas as cidades e em todas as ruas com a sua própria violência. E isso será paz?
   Eu, que sempre vivi a minha própria guerra, guerra pela vida, guerra pelo pão (que o Diabo amassou) de cada dia, guerra contra a guerra, guerra pelo direito de ir e vir – e ficar parado; guerra pela livre expressão de pensamento, guerra contra aqueles que acham que podem ser nossos donos, que podem nos escravizar, guerra pelo direito à vida, à liberdade, à saúde e à segurança, além da guerra contra os que acham que podem impor suas verdades a nosotros, que antes e além de qualquer coisa, nascemos para ser livres, anseio pela paz, mas não a paz da morte, a não ser que morrer seja apenas uma viagem para os Campos Elísios. Se assim for, então que venha, e venha rápido porque lá, nos Champs Elisées não haverá dor, não haverá frio, não haverá fome, não haverá saudade, principalmente isso, saudade de um tempo em que eu não sabia que o futuro existia, e muito menos que o passado podia doer tanto.