quinta-feira, 20 de maio de 2010

A FORÇA DO MAL

Quando Deus se arrependeu de ter criado o homem, pois todos os pensamentos e desejos humanos tendiam para o mal, Seu coração sofreu amargamente. E disse então: “Eliminarei da face da Terra o homem que Eu criei, e juntamente com o homem, os animais domésticos, os répteis e as aves dos céus, pois estou arrependido de tê-los feito.
Pobre Deus, não sabia que os filhos de Caim sobreviveriam através dos filhos de Noé. Maledictum. Vivemos sob este signo. Nossa maldição é não conseguirmos ser a imagem de Deus, não uma imagem de barro, pedra ou carne, mas na Sua vocação de dominar e transformar o mundo, porque mesmo vivendo sob os ensinamentos de Cristo, Buda, Brahma ou Tupã, não conseguimos reprimir essa onda de mal que brota do nosso interior como erva venenosa, como planta espinhosa, sempre pronta a derramar o sangue de quem a toca.
O problema parece estar na existência, mitológica, é claro, da árvore do Bem e do Mal. Ao comermos o fruto proibido nossos olhos se abriram e isso nos envergonhou. Pelo visto, não o suficiente, dado o mal excessivo que continuamos a praticar.
A corrupção avança desde os albores da humanidade. Primeiro foi a revolta de Adão contra Deus, depois, o homem revoltou-se contra o homem, finalmente, os filhos de Deus, vendo que as filhas do homem eram belas, escolheram entre elas, as que bem quiseram e as tomaram para si. Eram as forças do mal saindo de sua esfera para misturar-se com os mortais. É quando aparece o caos, é a desordem cósmica.
E a evolução da corrupção continua. Agora, é a desordem social, econômica, moral, racial e política que infelicita o homem. Deus tentou lavar a desordem com o Dilúvio. Nós, estamos treinando arduamente, testando o fogo nuclear que, quem sabe, nos consumirá a todos.
Pobre Deus, repito. No início da Criação, não sabia que as coisas vivas , feitas para o bem, gerariam subprodutos  microcóspicos que O vingariam mais que mil dilúvios. Esses vírus estão à solta e em volta de todos. Todo o cuidado é pouco. Mas, tal qual os habitantes de Sodoma e Gomorra, não nos apercebemos de nada. Nossa maldade inata transformou, degradou a natureza, e esta não perdoa nada.
A Terra existirá, mesmo quando não mais existir o homem. Convém não esquecer que toda a carne segue a senda da corrupção. Aí está a parcela expressiva da classe política, que não me deixa mentir.

QUOUSQUE TANDEM...?

Marco Túlio Cícero, filósofo, político retórico e, acima de tudo, orador; dito o maior de todos os tempos; nasceu perto de Arpinum, em 106 a. C. No ano 67 a. C., escreveu suas célebres verrinas, contra Verres, o dilapidador do Erário Público.
Entre seus outros méritos, incluem-se os famosos pronunciamentos intitulados Catilinárias que ainda hoje empolgam os ânimos de quem ama a Oratória. Assim foram chamados os discursos que pronunciou contra Catilina, general romano conjurador. Por causa disso, foi chamado de "Pai da Pátria". Sua obra é vasta. Escreveu, entre outras, além das Catilinárias, Pro Quinctiano, e depois, as Filípicas, contra Marco Antonio e sua esposa Fúlvia. Escreveu ainda: De Inventione, De Oratore, De Legibus, De Natura Deorum, Paradoxa, De Fato, De Oficiis, De Senectute, etc.
Mas, voltando às Catilinárias, seu primeiro discurso contra Catilina começava assim: "Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra (Até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência).
Hoje, mais vez, é necessário que digamos à classe política, salvo as exceções que sempre as há: "Até quando, senhores da política, abusarão da nossa paciência? Até quando, tal qual um bandos de Verres, continuarão dilapidando o Erário Público? Até quando continuará a sucessão de escândalos que abalam, sucessivamente, todos os poderes da República independentemente de seus escalões? Até quando seremos obrigados a cheirar o odor fétido da corrupção mais deslavada que emana dos porões da política e das instituições ditas públicas? Quando será que o artigo 5° da Constituição será respeitado na sua integralidade, quando afirma que "todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza." Ou será que esse artigo constitucional vale só para nós, o povo, e não para os senhores que nos dirigem encastelados em seus feudos?
Como dizia Cícero há mais de 2000 anos: "Até que ponto, senhores, se arrojarão em suas desenfreadas audácias? Será que não vos abalam o temor do povo e o concurso de todos os bons cidadãos"? Não percebem os senhores que seus planos estão descobertos e que suas maquinações não prosperarão, porque o povo está cansado de tudo isso?
Enquanto houver os que vos defendem, porque são da mesma laia, do mesmo grupo e da mesma corja, os senhores viverão como nababos, como sobas, como marajás, aumentando a seu próprio critério, seus enormes e imerecidos salários e outras vantagens. Mas saibam que muitos olhos os vigiam e muitos ouvidos prestarão a atenção em suas atitudes e em suas palavras, e por causa disso, não está longe o dia em que os senhores serão deletados do reino da política, através da única arma capaz de realizar esse sonho do povo brasileiro: o voto.
A coisa é tão grave e tão antiga, que podemos flagrar o profeta Habacuc em pleno diálogo com o Todo Poderoso, segundo o Antigo Testamento, perguntando ao Senhor dos Exércitos: "Até quando Senhor, clamarei por Vós sem que me escuteis"? Por que me mostrais o espetáculo da ini-quidade, e contemplai Vós mesmo esta desgraça? Diante de mim só vejo opressão e violência, nada mais que discórdias e contendas. Por isso, a lei perde sua força e não se acha mais a justiça. Por que o ímpio prevalece sobre o justo e o direito sai falseado".
Tanto tempo depois, pouco ou nada mudou. E por causa disso, pergunto ao nosso todo poderoso senhor do Planalto Central: - Até quando a violência, o crime, o assalto ao Erário, a servidão humana de milhões de brasileiros continuarão em curva ascendente, sem que haja a firme decisão política de acabar com ela ou reduzi-la a patamares mínimos? Até quando a classe política continuará vendendo a ilusão de que o povo governa, de que é o poder, de que nada é mais admirável que a "democracia à brasileira"?
Até quando ainda teremos que suportar o mar de lama que ciclicamente cobre o país, desde os tempos de Getúlio; além de termos que aguentar a presença dos ratos, catitas e ratazanas que infestam tantos gabinetes oficiais?
E tal qual o profeta, pergunto: Por que, Senhor, o ímpio prevalece sobre o justo e o direito sai falseado?
Até que tenhamos respostas convincentes, não seremos apenas um país de Terceiro Mundo. Seremos, antes de mais nada, cidadãos de terceira classe.