quinta-feira, 20 de maio de 2010

QUOUSQUE TANDEM...?

Marco Túlio Cícero, filósofo, político retórico e, acima de tudo, orador; dito o maior de todos os tempos; nasceu perto de Arpinum, em 106 a. C. No ano 67 a. C., escreveu suas célebres verrinas, contra Verres, o dilapidador do Erário Público.
Entre seus outros méritos, incluem-se os famosos pronunciamentos intitulados Catilinárias que ainda hoje empolgam os ânimos de quem ama a Oratória. Assim foram chamados os discursos que pronunciou contra Catilina, general romano conjurador. Por causa disso, foi chamado de "Pai da Pátria". Sua obra é vasta. Escreveu, entre outras, além das Catilinárias, Pro Quinctiano, e depois, as Filípicas, contra Marco Antonio e sua esposa Fúlvia. Escreveu ainda: De Inventione, De Oratore, De Legibus, De Natura Deorum, Paradoxa, De Fato, De Oficiis, De Senectute, etc.
Mas, voltando às Catilinárias, seu primeiro discurso contra Catilina começava assim: "Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra (Até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência).
Hoje, mais vez, é necessário que digamos à classe política, salvo as exceções que sempre as há: "Até quando, senhores da política, abusarão da nossa paciência? Até quando, tal qual um bandos de Verres, continuarão dilapidando o Erário Público? Até quando continuará a sucessão de escândalos que abalam, sucessivamente, todos os poderes da República independentemente de seus escalões? Até quando seremos obrigados a cheirar o odor fétido da corrupção mais deslavada que emana dos porões da política e das instituições ditas públicas? Quando será que o artigo 5° da Constituição será respeitado na sua integralidade, quando afirma que "todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza." Ou será que esse artigo constitucional vale só para nós, o povo, e não para os senhores que nos dirigem encastelados em seus feudos?
Como dizia Cícero há mais de 2000 anos: "Até que ponto, senhores, se arrojarão em suas desenfreadas audácias? Será que não vos abalam o temor do povo e o concurso de todos os bons cidadãos"? Não percebem os senhores que seus planos estão descobertos e que suas maquinações não prosperarão, porque o povo está cansado de tudo isso?
Enquanto houver os que vos defendem, porque são da mesma laia, do mesmo grupo e da mesma corja, os senhores viverão como nababos, como sobas, como marajás, aumentando a seu próprio critério, seus enormes e imerecidos salários e outras vantagens. Mas saibam que muitos olhos os vigiam e muitos ouvidos prestarão a atenção em suas atitudes e em suas palavras, e por causa disso, não está longe o dia em que os senhores serão deletados do reino da política, através da única arma capaz de realizar esse sonho do povo brasileiro: o voto.
A coisa é tão grave e tão antiga, que podemos flagrar o profeta Habacuc em pleno diálogo com o Todo Poderoso, segundo o Antigo Testamento, perguntando ao Senhor dos Exércitos: "Até quando Senhor, clamarei por Vós sem que me escuteis"? Por que me mostrais o espetáculo da ini-quidade, e contemplai Vós mesmo esta desgraça? Diante de mim só vejo opressão e violência, nada mais que discórdias e contendas. Por isso, a lei perde sua força e não se acha mais a justiça. Por que o ímpio prevalece sobre o justo e o direito sai falseado".
Tanto tempo depois, pouco ou nada mudou. E por causa disso, pergunto ao nosso todo poderoso senhor do Planalto Central: - Até quando a violência, o crime, o assalto ao Erário, a servidão humana de milhões de brasileiros continuarão em curva ascendente, sem que haja a firme decisão política de acabar com ela ou reduzi-la a patamares mínimos? Até quando a classe política continuará vendendo a ilusão de que o povo governa, de que é o poder, de que nada é mais admirável que a "democracia à brasileira"?
Até quando ainda teremos que suportar o mar de lama que ciclicamente cobre o país, desde os tempos de Getúlio; além de termos que aguentar a presença dos ratos, catitas e ratazanas que infestam tantos gabinetes oficiais?
E tal qual o profeta, pergunto: Por que, Senhor, o ímpio prevalece sobre o justo e o direito sai falseado?
Até que tenhamos respostas convincentes, não seremos apenas um país de Terceiro Mundo. Seremos, antes de mais nada, cidadãos de terceira classe.

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