quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Eu sei que vou te amar

Estava só. Absolutamente sozinho. Perdido, contemplava o espaço sem fim, e sentiu a sensação aterrorizante da sua pequenez diante do Universo. Fazia tão pouco tempo que descera das árvores. Olhou em volta e não viu ninguém. Nem podia. O Criador não fizera ainda, aquela que povoaria os seus sonhos de dúvidas, angústias, desejos, ânsias, paixões e amores.
No albor da humanidade, o homem só, ainda não conhecia o ciúme, o pior dos sentimentos, porque gera a vontade de matar. E quem tem vontade de matar, ainda que não o faça, é como se já o tivesse feito. Quem mata ou deseja fazê-lo, sente-se maior, mais poderoso. Uma pena, pois com isso decreta a própria morte. O poder é a morte em vida, pois corrompe, degrada, polui, conspurca, fere, destrói, queima. E depois que passa, deixa atrás de si apenas espectros de homens.
Mas o homem só, ainda não sabia disso. Não compreendia sequer quem era, e qual o objetivo da sua existência. E por isso, olhando tudo o que havia, criou para si uma idéia de perfeição, que compensasse o nada que era. Foi assim que nasceu aquela que o destruiria, mas que o faria, simultaneamente, compensar a si mesmo, fazendo-o sentir o maior dos sentimentos, que é a glória de amar.
E foi naquelas terras, que muito tempo depois seria chamada de ancestral de todos os homens, que nasceu a mais bela, a mais poderosa de todas as mulheres que o mundo jamais conhecera. Eva foi o seu nome e Adamat, a Terra, na língua do povo que o Todo-Poderoso, muito tempo depois chamaria de seu, prostrou-se a seus pés e adorou-a, como nenhum outro ser fez antes, e nem faria depois. Eva, a Imaculada, encantada por tanto amor, deixou-se amar, e foi assim que nasceram todos os outros homens.
Foi quando Adamat olhou pela segunda vez para o universo sem fim, e fez o seu canto de amor, sabendo que ainda choraria muito por ele, mas, afinal de contas, o que seria o amor se não fosse enfeitado por colares de lágrimas translúcidas?
E assim pensando, cantou para que todos os animais dos céus, das terras e das águas ouvissem o seu grito desesperado da ânsia de amar: “Quando o mundo for um deserto de homens e de idéias, nada estará perdido, porque ainda assim, eu sei que vou te amar.
Quando a saudade se apossar de mim, e todo o sofrimento que há, habitar o meu corpo cansado de tanto chorar por ti, ainda assim restará uma esperança, porque eu sei que sempre vou te amar.
Quando o teu olhar não mais me olhar, ainda assim será o meu raio de sol, porque eu sei que vou te amar.
Quando o Titanic do meu amor, bater no gelo negro da tua indiferença, afundarei, é verdade. Mas, mergulharei para sempre no mar do sofrimento sem fim, sabendo que um dia ressurgirei, porque comigo, mergulhará a certeza de que eu sempre vou te amar.
Quando a última estrela apagar e o universo inteiro mergulhar na idade das trevas, ainda assim restará um fiapo de luz que poderá, quem sabe, acendê-las todas novamente. Será o meu amor eterno, protestando contra a escuridão maior, que a falta de ti provoca. Mas, ainda que isso aconteça, sei de certeza, que eu sempre vou te amar.
Mas quando o momento do deitar eterno chegar, e o vento do tempo soprar sobre a poeira do que restou de mim, voarei em forma de pó aos campos da nossa África ancestral. Lá, misturado aos campos, às árvores, aos animais, às rochas, e às águas que deram origem à tua existência divina, tudo será diferente, exceto a mais absoluta certeza, que já existia antes mesmo que tu existisses, porque eu sei que sempre vou te amar”.