terça-feira, 18 de maio de 2010

DE ANJOS E INVEJA

Para os antigos hebreus, anjo significava “mensageiro”. Essa tradução continua valendo, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. No original hebraico, anjo é grafado como “Malakh” e pode ser traduzido como mensageiros e não são todos iguais, segundo a própria Bíblia. Algumas vezes, adotam a forma humana, atuando como mensageiros de Deus, quase sempre para indicar uma missão especial e sagrada. No Novo Testamento anjo é “angelos” e tem o mesmo significado de alguém que porta ou traz uma mensagem. Quanto ao Anjo do Senhor, eventualmente pode ser confundido com o próprio Deus. Normalmente, esse é enviado para julgar e destruir (Ver 2 Samuel 24:16); para proteger e livrar (Salmos 34:7) e orientar e instruir segundo Mateus 2: 13, 19.
Convém não confundir anjos com arcanjos. Estes são uma nomeação especial para aqueles anjos que cumprem missão especial, como a comunicação feita a Maria, mãe de Jesus, que conceberia o filho de D’us.
Segundo Voltaire, o autor do verbete anjo na Enciclopédia Francesa diz que “todas as religiões admitiram a existência dos anjos, muito embora a razão natural não o demonstre”. O certo seria se dizer que muitas religiões e não todas reconheceram anjos. Uma antiga religião de raízes judaica e árabe, envolta em magia e superstições, assim como a dos druidas, a da China antiga, dos citas, dos antigos fenícios e dos antigos egípcios não admitiram os anjos.
Quanto aos brâmanes, orgulham-se de há 5.115 anos ter escrito sua primeira lei sagrada, intitulada Shasta. Só 1.500 anos depois escreveram sua segunda lei chamada Veidam, que significa a palavra de Deus. O Shasta afirma no seu capítulo primeiro que: “Deus é uno; criou o mundo; é uma esfera perfeita sem começo e nem fim. Ele conduz toda a criação por uma providência geral, resultante de um princípio determinado.
O segundo capítulo da Shasta diz que o E-terno, absorvido na contemplação de sua própria existência, resolveu na plenitude dos tempos comunicar sua glória e sua essência a seres capazes de sentir e compartilhar sua beatitude assim como servir sua glória. O E-terno quis e passaram a existir. Ele os formou de parte da sua essência, capazes de perfeição e imperfeição, segundo a Sua vontade.
Então está escrito que Ele primeiro criou Birma, Vitsnu e Sib. Em seguida, criou Mozazor e toda a multidão de anjos. Birma foi o príncipe do exército angélico e Vitsnu e Sib seus coadjutores. Eles adoraram o E-terno dispostos em torno de seu trono, cada um segundo sua importância. A harmonia reinou nos céus e Mozazor cantou o cântico de louvor e de adoração ao Criador. E o E-terno se alegrou com a Sua criação.
Mas, e tudo tem um mas, a harmonia que poderia ter durado “ad eternum” assim não aconteceu por causa da inveja. Lembram da serpente do Éden primevo dos hebreus? Pois é, ela, a inveja, se apossou do coração de Mozazor e de outros príncipes dos destacamentos angélicos. Entre esses estava Raabon, o primeiro em dignidade depois de Mozazor. Esquecidos da felicidade de sua criação e de seus deveres, tal qual Lúcifer, o mais belo entre as criaturas de Javeh, rejeitaram o poder de perfeição e adotaram o poder de imperfeição. Fizeram o mal diante do E-terno, desobedeceram suas ordens e disseram: “Nós queremos governar”. Através de promessas sedutoras, aliciaram um enorme número de anjos, e foi assim que surgiu a dor e a tristeza, e o mal proliferou por toda a Terra e por onde mais vá um só ser humano. Foi assim também, que o E-terno, cheio de ira, mandou Sib marchar contra eles, armado de onipotência e preci-pitá-lo do lugar eminente para o lugar das trevas, no Ondera, para ali serem punidos mil anos vezes mil anos.
Anjos como Gabriel, cujo nome significa “soldado de Deus”; Miguel, que é apontado como arcanjo e cujo nome significa “aquele que é parecido com Deus”, além de muitos outros, além de trazerem boas novas, também lutaram, por ordem do que tudo pode, e precipitaram Lúcifer e seus seguidores ao Hades, lugar destinado aos demônios.
Quanta dor, quanta mágoa, quanta raiva, quanto sofrimento, quantos males de todos os tipos e ordens são causados por esse pecado capital chamado inveja, tanto no reino dos céus quanto na Terra. e que é comum naqueles que pensam menos no que já têm e mais no que lhes falta.
Sejamos brâmanes, cristãos, judeus, muçulmanos ou pertençamos a qualquer outra religião, até mesmo entre os autodenominados ateus, tantos milênios depois, a inveja ainda do-mina os homens, esquecidos que só o amor constrói. Afinal de contas, foi o Mestre entre os mestres quem disse: “Amai-vos uma aos outros como Eu vos amei”. E mesmo assim, insistimos em não aprender nada da mensagem divina. Absolutamente nada.

ATRAVESSANDO O RUBICÃO

Nas próximas eleições, quando serão eleitos o presidente da República, governadores, dois terços do Senado e deputados federais, o Amapá viverá, com certeza, a mesma situação de César, em março do ano 49 a. C. quando resolveu atravessar o Rubicão, rio que separava a Gália Cisalpina (atual França), da península italiana. À época, César pronunciou a famosa frase "alia jacta est" (a sorte está lançada). Logo depois guardou sua espada com a qual lutara contra os gauleses chefiados por Vercigentorix, no buraco de uma árvore, a qual só foi encontrada dezenas de anos depois, por um centurião romano chamado Lancirius Escudus, convocado às pressas pelo imperador Otavius, em março do ano 2 d. C. Esclareça-se que, Roma vivia sua fase republicana, e era impensável a possibilidade de um general e suas legiões, atravessarem os portões de Roma.
Na época, os patrícios (cidadãos romanos pertencentes à elite), tinham ojeriza a ditadores, imperadores e outras formas de autoritarismo.
Mas, o que têm em comum, o Amapá, César e o Rubicão, perguntarão perplexos, meus minguados seis leitores? Simples. O ex-senador João Capiberibe, cassado por compra de votos em 28 de abril de 2004 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), terá, ele também, que atravessar o seu próprio Rubicão. Sabe-se que o Amapá está farto do autoritarismo que viveu ao longo de sua história, salvo as exceções de sempre, desde seu primeiro governador, o então capitão Janary Gentil Nunes. E Capiberibe, muito embora afirme o contrário, tem perfil autoritário, sim, de modo que vai lançar-se ao Senado, na esperança de que possa se vingar de Gilvam Borges. Se conseguir seu intento, claro.
Outra pergunta ainda sem resposta: estará ele disposto a, tal qual César, a guardar sua espada e entrar com o espírito desarmado na luta política? Só o tempo responderá a esta indagação. Uma coisa, porém é certa: quem já perdeu mais de uma vez para o mesmo adversário (Waldez Góes), corre o risco de perder outra vez. Outra coisa é certa. Oligarquias são uma tradição planetária. Ainda em 2009, um jornal britânico censurava o Brasil por causa de sua tradição oligarca. Que autoridade têm eles para criticar quem quer que seja, uma vez que, além de imperialistas, alíás tal qual os franceses e outros europeus, uma vez que a rainha Elizabeth II pertence a uma das mais tradicionais e oligarcas famílias da Grã-Bretanha? O ex-senador também pertence a essa mesma oligarquia que tanto critica, muito embora tenha sua esposa na Câmara Federal, um filho na Assembléia Legislativa do Estado do Amapá, sem esquecer a senhora sua irmã, a ex-deputada federal Raquel Capiberibe, hoje aposentada no cargo de Conselheira do Tribunal de Contas do Amapá, nomeada por ele quando governador.
Pensar é preciso. Ou não será preciso pensar? De tal modo que em outubro, pensemos 70 vezes sete, antes de escolhermos nossos candidatos, porque o preço pago pela omissão dos melhores, é sermos governados pelos piores.