terça-feira, 29 de junho de 2010

ESTRELA DO ORIENTE

Em tempos passados, o maior tesouro de um povo que nos ensinou quase tudo o que sabemos, foi o maior dos livros de todos tempos, que atende pelo nome de Bíblia, também chamado Livro dos Livros. Foi nele que foram beber sua divina inspiração, todos os grandes poetas e sábios das religiões ocidentais, no qual aprenderam como emocionar os corações e arrebatar as almas com sobre humanas e misteriosas harmonias. Nele, aprendeu Petrarca a modular seus queixumes; nele, Dante Alighieri visualizou o Inferno com seus nove círculos. Sem ele, Milton não teria surpreendido a mulher em sua primeira fraqueza e nem o homem em sua primeira culpa. Sem esse livro magnífico, não teríamos surpreendido Deus em sua primeira ira e nem saberíamos a tragédia que representou para o homem a perda do Paraíso. Sem esse livro maravilhoso, na verdade uma coleção, uma biblioteca única, jamais poderíamos cantar o nosso canto de dor, a desventura e o triste destino dos homens.
Se não foi esse livro de toda a sabedoria que há, quem foi que pôs diante dos olhos dos nossos escritores místicos, os obscuros abismos do coração humano?  Fosse a Bíblia suprimida e todos os povos mergulhariam na idade das trevas, no mundo da sombra e da morte. Na Bíblia, essa fantástica estrela que nos foi apresentada e presenteada por um povo que atendia pelo nome de hebreu - "aquele que veio do ou-tro lado do rio", no caso o Eufrates - jamais teríamos acesso aos anais do céu, da terra e do gênero humano, pois nela, está contido o que foi, o que é e o que será.
Desde o Gênesis, que é um idílio, que é belo, que é uma alegoria poética de beleza ímpar como a primeira aurora até o Apocalipse de São João, que é um hino fúnebre, que transmite uma tristeza sem fim, como se ele fosse o último palpitar da natureza, que é como o último olhar de um moribundo. E entre um e outro, vemos passar diante de nossos olhos, sob o olhar de Deus, todas as gerações e todos os povos. Todos passamos, desde as tribos com seus patriarcas, as monarquias com seus reis, as repúblicas com seus magistrados. Passa a Babilônia com sua abominação, assim como passam Nínive com sua pompa; Mênfis com suas artes e heróis e Roma com seu poder e os despojos do mundo. Exceto Deus, todos passam. Passo eu, passam eles, passamos nós. Tudo passa, até mesmo o tempo, cuja função é apenas passar e tornar senecto tudo o que a ele pertence ou por ele é atingido. Mas Elohim não passará jamais, pois Ele é o que não teve início e não terá fim, o que já existia antes mesmo que o tempo existisse e existirá mesmo depois que que o último fiapo de luz da última estrela passar.
É nela, na Bíblia, que se predizem todas as catástrofes e se faz a contagem de todas as nossas dores. É por isso que as harpas bíblicas ressoam lugubremente, dando os tons de todas as lamentações. Quem se lamentará como se lamentava Jeremias em torno de Jerusalém abandonada por Deus e pelos homens?
Foi nesse livro prodigioso que o gênero humano começou a ler, há mais de trinta e três séculos, e lendo todos os dias e todas as horas, ainda não acabou essa leitura. Moisés (Moshe) nos apresenta, sem véus, o verdadeiro rosto de Deus. A águia de Homero não subiu além dos montes do Olímpo nem transpôs além dos horizontes gregos. A águia do Sinai galgou até o trono resplandecente de Deus, e teve sob as asas, todo o orbe e não se pode comparar a epopeia bíblica, onde tudo é local e universal. Tudo o mais é tão distante quanto Júpiter e Jeovah, entre o Olimpo e o Céu, entre a Grécia e o mundo.