terça-feira, 29 de novembro de 2011

AVE, CÉSAR...

      Todos sabemos a situação caótica que vive a saúde pública brasileira, à exceção das ilhas de exceção que as há. No contexto Brasil, essa situação não parece tão grave nas demais unidades da Federação quanto no Estado do Amapá. Ao longo de quase 70 anos, Macapá, concentrando cerca de 2/3 da população total do estado possui apenas um Hospital Geral Estadual e um Pronto-Socorro Municipal construídos há décadas e sem condições mínimas de atender as dezenas de milhares de pessoas que as procuram todos os meses. Nos demais municípios, a situação é pior ainda. 
      Propostas as mais diversas já foram apresentadas para sanar ou minimizar a patamares aceitáveis essa tragédia, sem que governo algum desse mostras reais de querer, realmente, solucionar esses problemas dos quais decidem nossas vida. O resultado é dor, sofrimento e morte. Dor sofrimento e morte do nosso povo, dos nossos amigos, nossos parentes, nossa dor, nosso sofrimento e nossa morte. 
      Um exemplo, emblemático por si mesmo, chama a atenção de todos neste quadro em que o próprio Inferno parece ter toques de suavidade. Trata-se da tragédia que se abateu sobre o conhecido jornalista amapaense Carlos Bezerra. Após sofrer 15 anos de grave patologia hepática provocada por Hepatite ‘C’, conseguiu curar-se após transplante de fígado realizado em 20 de outubro de 2007, no Hospital Dom Vicente Scherer, pertencente à Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (RS). 
      Agora, mais uma vez, a mão do destino abateu-se sobre ele, que está novamente no Rio Grande do Sul, internado no mesmo hospital para tratamento de complicações renais provocadas por vários fatores, inclusive diabetes e hipertensão arterial. 
      E isso ocorre pela simples razão de que nesses quase 20 anos, a saúde pública amapaense conseguiu o impensável: regrediu. O que era ruim tornou-se péssimo. E nenhum discurso contrário pode mudar essa cruel, triste e deprimente realidade. 
      Dado o seu grave estado de saúde, o jornalista Carlos Bezerra é o retrato fiel do descaso com que o poder público do Estado e do Município trata o povo tucuju: sem piedade, sem compaixão, sem humanidade. 
      Nesse contexto, é bom que se ressalte a bravura, a lição de amor, o esforço ingente de inúmeros profissionais da saúde para amenizar tanto sofrimento. Entre eles, é necessário realçar o trabalho competente e abnegado dos Doutores amapaenses ANTÔNIO TELES, CLÁUDIO LEÃO, ABELARDO VAZ, PEDRO PAULO DIAS DE CARVALHO, BENEDITO DIAS, ANTÔNIO BOGÉA, ROCHA NETO, EDUARDO COSTA, GRAÇA CREÃO, SEBASTIÃO BALA ROCHA, JOÃO BOSCO PAPALÉO PAES, WILSON ALFAIA E e LUCIETE PINHEIRO DA COSTA (In Memorian), e dos excepcionalmente competentes e generosos médicos gaúchos do Grupo de Transplante Hepático da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre GUIDO CANTISANI, MARIA LÚCIA ZANOTELLI, AJACIO BRANDÃO, CLÁUDIO MARRONI, EDUARDO SCHLINDWEIN, IAN LEIPNITZ, TOMAZ GREZZANA, MÁRIO MEINE, GUILLERMO KISS, MARCOS MUCENIC e MARCUS OSÓRIO, além de outros profissionais da saúde desses dois estados tão distantes, e simultaneamente tão próximos no esforço de levar vida e conforto a quem sofre. 
      Carlos Bezerra está em Porto Alegre lutando mais uma vez por sua vida. Num certo sentido estamos todos lá, lutando por nossas vidas também, na medida em que quem nos garante que amanhã não será nossa vez de nos exilarmos nos campos do sul, porque o Amapá não nos amou como devia, não cuidou de seus filhos com o desvelo que toda boa mãe faria? 
      Pobre Amapá! Que futuro terás, na medida em que teu povo não tem futuro, porque não há futuro – pelo menos futuro feliz e saudável – quando teus filhos são obrigados a te deixar, porque nos teus braços morrerão por falta de atendimento médico de Primeiro-Mundo ou de Primeira Classe?
      E lembrando Cícero, o grande orador romano, perguntamos: Até quando, senhores da política, abusarão da nossa paciência? Ou teremos, tal qual antigos gladiadores, que vos saudar dizendo: Salve, maus governantes! Nós, os que vamos morrer, vos saudamos.