quarta-feira, 30 de junho de 2010

FALANDO DE NÚMEROS

   Números são coisas que fogem à minha compreensão. Dizem os especialistas, que o Universo seria governado por  números. O número um representa a unidade máxima de tudo o que há. Seria o número de Deus, o primeiro e único, segundo todas as religiões, presentes ou passadas. Até mesmo entre as mais primitivas, que tinham deuses como Gilgamesh ou Tupã.  
   O número dois, dizem, é muito bom. Representa o Alfa e o Ômega, ou seja, o próprio Deus, segundo Ele mesmo em o Apocalipse (1, 8). Mas é, também, o Pai e o Filho, o Bem e o Mal, o Homem e a Mulher, o Macro e o Micro, o Céu e o Inferno, enfim, o princípio das partidas dobradas.
   O três é número quase perfeito, dizem os grandes mestres do ocultismo. Três, são o Pai, a Mãe e o Filho, ou seja, uma síntese de tudo o que é vivo.
   O quatro é número riquíssimo.  Quatro são as estações do ano,  os evangelhos e os evangelistas. Zola escreveu sobre eles e Dürer os pintou. Brahms compôs o que chamou de "Quatro canções sérias". Cícero escreveu quatro discursos contra Catilina. Quatro são os Cavaleiros do Apocalipse e Confúcio escreveu "Os quatro livros", que foram a base de todo conceito filosófico confucionista. Quatro rodas tem o carro, e quadriga é o carro puxado por quatro cavalos. Com o mês de Junho, vêm as fogueiras, os balões, munguzás, mingau de milho, pamonha e canjica. Vêm bandeirinhas, fogos e fogueiras. Tempo de arranjar compadres. E comadres também. Tempo bom é junho, mês de quadrilha. Eu disse quadrilha? Disse. Lá está o quatro de novo. Quadrilha, em mês de junho é coisa séria. Tão séria que o forró tem sua linguagem francesa. O problema é o nome. Segundo mestre Aurélio, quadrilha é contradança de salão, de origem francesa, muito em voga no século XIX, e de caráter alegre e movimentado, no qual tomam parte diversos pares. Mas é também bando de ladrões, assaltantes ou malfeitores. Quando deriva, o quatro é uma riqueza só. Quatralvo é o cavalo malhado de branco até os joelhos. Quatríduo é o espaço de quatro dias e quatrilhão é número além de nossa imaginação. É a vigésima quarta potência de dez.
   Vamos mudar de número. Tentemos dizer alguma coisa sobre o cinco. Segundo Kosminsky, cinco é número que não existe. Por exemplo, são necessárias quatro cores para que se pinte um mapa plano. Não se precisa de uma quinta, para que as cores nunca se encontrem. Ainda segundo o mesmo Kosminsky, ao tempo em que Plutão ainda era considerado um planeta, o quinto planeta, o gigantesco Saturno, não seria exatamente um planeta, mas sim, apenas um aglomerado de pó, inclusive sua superfície e seus famosos anéis.
   Os números, realmente, parecem guiar o destino dos homens, dos planetas, do Universo, enfim. Alguns, têm significado místico, afirmam os esotéricos. O sete, dizem, seria o número perfeito. Sete são as notas musicais; sete, as maravilhas do mundo antigo e do moderno, tambéme, e sete são as colinas de Roma. No Apocalipse, segundo a Bíblia, Cristo está no meio de sete lâmpadas (1, 13), e tem na Sua mão direita as sete estrelas (1, 16), símbolos das sete igrejas que estão na Ásia, e que personificam a totalidade da igreja (Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia, Laodiceia). Um bom violão de sete cordas, faz a delícia de quem ouve sete notas bem tocadas. Uma das maravilhas brasileiras é o Parque Nacional Sete Cidades. Sete são as artes e sete foram os discursos pronunciados por Cícero contra Verres. Ésquilo escreveu Sete contra Tebas, sete são os pecados mortais, assim como sete são os pecados veniais. Sete são os anões da Branca de Neve e sete vezes setenta os Anões do Orçamento. O Rio Grande do Sul possui as ruínas dos Sete Povos Orientais. No Paraná, perdemos o salto de Sete Quedas, e sete são os sacramentos da Igreja Católica. Haydn compôs As Sete Palavras de Cristo na Cruz.
   Quando ao oito e o nove, falaremos deles em outra ocasião. Este texto se alonga, e preciso terminá-lo. Quanto ao zero, bem, este número precisa de um verdadeiro compêndio e faltam-me agora, tempo, talento e competência para falar dele. Apenas para não deixar de citá-lo, sabe-se que ele, em princípio, não vale nada, exceto ele mesmo. Em alguns casos, dependendo de sua quantidade, vale muito, vale fortunas. O problema é quando colocado à esquerda de qualquer número, vale menos que ele mesmo, como é o caso de algumas pessoas ditas inúteis e outras que são, como se dizia em latim, maledictas.

terça-feira, 29 de junho de 2010

ESTRELA DO ORIENTE

Em tempos passados, o maior tesouro de um povo que nos ensinou quase tudo o que sabemos, foi o maior dos livros de todos tempos, que atende pelo nome de Bíblia, também chamado Livro dos Livros. Foi nele que foram beber sua divina inspiração, todos os grandes poetas e sábios das religiões ocidentais, no qual aprenderam como emocionar os corações e arrebatar as almas com sobre humanas e misteriosas harmonias. Nele, aprendeu Petrarca a modular seus queixumes; nele, Dante Alighieri visualizou o Inferno com seus nove círculos. Sem ele, Milton não teria surpreendido a mulher em sua primeira fraqueza e nem o homem em sua primeira culpa. Sem esse livro magnífico, não teríamos surpreendido Deus em sua primeira ira e nem saberíamos a tragédia que representou para o homem a perda do Paraíso. Sem esse livro maravilhoso, na verdade uma coleção, uma biblioteca única, jamais poderíamos cantar o nosso canto de dor, a desventura e o triste destino dos homens.
Se não foi esse livro de toda a sabedoria que há, quem foi que pôs diante dos olhos dos nossos escritores místicos, os obscuros abismos do coração humano?  Fosse a Bíblia suprimida e todos os povos mergulhariam na idade das trevas, no mundo da sombra e da morte. Na Bíblia, essa fantástica estrela que nos foi apresentada e presenteada por um povo que atendia pelo nome de hebreu - "aquele que veio do ou-tro lado do rio", no caso o Eufrates - jamais teríamos acesso aos anais do céu, da terra e do gênero humano, pois nela, está contido o que foi, o que é e o que será.
Desde o Gênesis, que é um idílio, que é belo, que é uma alegoria poética de beleza ímpar como a primeira aurora até o Apocalipse de São João, que é um hino fúnebre, que transmite uma tristeza sem fim, como se ele fosse o último palpitar da natureza, que é como o último olhar de um moribundo. E entre um e outro, vemos passar diante de nossos olhos, sob o olhar de Deus, todas as gerações e todos os povos. Todos passamos, desde as tribos com seus patriarcas, as monarquias com seus reis, as repúblicas com seus magistrados. Passa a Babilônia com sua abominação, assim como passam Nínive com sua pompa; Mênfis com suas artes e heróis e Roma com seu poder e os despojos do mundo. Exceto Deus, todos passam. Passo eu, passam eles, passamos nós. Tudo passa, até mesmo o tempo, cuja função é apenas passar e tornar senecto tudo o que a ele pertence ou por ele é atingido. Mas Elohim não passará jamais, pois Ele é o que não teve início e não terá fim, o que já existia antes mesmo que o tempo existisse e existirá mesmo depois que que o último fiapo de luz da última estrela passar.
É nela, na Bíblia, que se predizem todas as catástrofes e se faz a contagem de todas as nossas dores. É por isso que as harpas bíblicas ressoam lugubremente, dando os tons de todas as lamentações. Quem se lamentará como se lamentava Jeremias em torno de Jerusalém abandonada por Deus e pelos homens?
Foi nesse livro prodigioso que o gênero humano começou a ler, há mais de trinta e três séculos, e lendo todos os dias e todas as horas, ainda não acabou essa leitura. Moisés (Moshe) nos apresenta, sem véus, o verdadeiro rosto de Deus. A águia de Homero não subiu além dos montes do Olímpo nem transpôs além dos horizontes gregos. A águia do Sinai galgou até o trono resplandecente de Deus, e teve sob as asas, todo o orbe e não se pode comparar a epopeia bíblica, onde tudo é local e universal. Tudo o mais é tão distante quanto Júpiter e Jeovah, entre o Olimpo e o Céu, entre a Grécia e o mundo.

sábado, 26 de junho de 2010

TOMA E LÊ

   Em Milão, num dia qualquer de agosto de 386 da era cristã, um homem de 32 anos de idade chorava nos jardins de sua residência. Deprimido e angustiado, estava à procura de uma resposta definitiva que lhe desse sentido para a vida. Nesse momento, ouviu uma voz de criança a cantar como se fosse um refrão: “Toma e lê, toma e lê”. Levantou-se bruscamente, conteve a torrente de lágrimas, olhou em torno para descobrir de onde vinha o canto, mas não viu mais do que um livro sobre uma pequena mesa. Abriu e leu a página caída por acaso sob seus olhos: “Não caminheis em glutonarias e embriaguez, não nos prazeres impuros do leito e em leviandades, não em contendas e emulações, mas revesti-vos de Nosso Senhor Jesus Cristo e não cuideis da carne com demasiados desejos”.
   Foi assim que ocorreu a conversão ao catolicismo, pelas palavras de Paulo de Tarso, de Aurelius Augustinus, nascido em Tagaste, na província romana da Numídia, na África, posteriormente conhecido apenas como Santo Agostinho, um dos maiores doutores que a Igreja já possuiu em todos os tempos.
   Quem nos conta que assim foi, é José Américo Motta Pessanha, no Prefácio das “Confissões”, obra absolutamente indispensável, independentemente da religião professada pelo leitor.
   Lembrei dessa passagem da vida de Agostinho, por causa da nossa pobreza mental e intelectual. Como pretendemos ser um povo evoluído, se somos um povo que não lê - e o que é pior: não gosta de ler?
   Quem não lê, é um deficiente intelectual. Jamais um bom profissional, porque lhe faltará melhor visão e compreensão do mundo, indispensável para que se aprimore no trabalho que escolheu.
   Somos um país de analfabetos. Pior que isso. Somos um país repleto de autodidatas do analfabetismo. Analfabetos por conta própria, analfabetos com diploma. Muitas vezes pós-graduados e cheios de empáfia, mas totalmente vazios do verdadeiro conhecimento.
   Nosso povo não tem dinheiro para comprar livros e jornais, dizem os defensores dos preguiçosos mentais. Na realidade, isto é apenas meia-verdade, o que quer que isso signifique. A verdade ou é ou não é. Meia, jamais.
   Temos dinheiro para beber, para comprar carros, ir a festas, comprar presentes, penduricalhos doirados e badulaques. Mas não temos dinheiro para comprar um reles jornal.
   Toma e lê, ouviu Santo Agostinho. A frase, deveríamos ouvi-la nós todos. Se é que queremos, de verdade, chegar ao que se convencionou chamar de Primeiro-Mundo.
   Antes, porém, que se viva no país dos sonhos, temos que fazer uma revolução em nossos hábitos culturais. Precisamos voltar às origens, quando cultura implicava uma série de atividades ligadas à música, à pintura, à escultura e outras artes. Mas implicava, principalmente, no saudável hábito de ler.
   Tomemos pois o que nos cair às mãos e leiamos. Nossos valores, com certeza mudarão. Quem sabe aprenderemos até o que significa a palavra ética, que nestes tempos de analfabetismo explícito, desapareceu do dicionário dos nossos usos e costumes.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

SOBRE A VIOLÊNCIA

Segundo o Ministério da Justiça, o Brasil chegou ao final de 2008, com o  inacreditá-vel número de um milhão de homicídios praticados desde 1978, ou seja, um milhão de pessoas foram assassinadas sobre o solo da pátria amada nada gentil. O número é comparável ao da guerra civil que assolou a Angola durante 27 anos. Ou seja, esmiuçando-se esses números, descobre-se que, na média, mata-se mais de 33 mil pessoas a cada ano ou pouco mais de 90 seres humanos todos os dias. Mas não se pense que esse é o único sangue derramado nas ruas, avenidas e campos do Brasil: há os feridos a facadas, tiros porretadas e pauladas, além de outro tanto de vítimas causadas por motoristas embriagados, imprudentes ou sem a formação adequada para conduzir um veículo auto motor.  
   Dizer que a culpa de tanto sangue derramado é da chamada desigualdade social, é apenas mais uma desculpa sem nenhuma base sólida. Fosse isso verdade, e não teríamos uma quantidade cada vez mais crescente de jovens de classe media alta cometendo os mais violentos crimes todos os dias e se tornando transgressores das regras sociais, sendo manchete nas páginas de jornais de todo o país. E a pergunta que se faz necessária é: Se esses jovens, geralmente com formação superior nunca sofreram privações, sempre tiveram de tudo e não viveram em ambientes violentos, por que cometem tantos delitos?
Violência, segundo a definição clássica,  é um comportamento que causa dano a outra pessoa, ser vivo ou objeto. Nega-se autonomia, integridade física ou psicológica e mesmo a vida de outro. É o uso excessivo de força, além do necessário ou esperado, é a aplicação de força, vigor, contra qualquer coisa ou ente.
As estatísticas mostram que a cada 7 horas uma pessoa é vítima de acidente com arma de fogo no Brasil;
- um cidadão armado tem 57% mais chance de ser assassinado do que os que andam desarmados;
- as armas de fogo provocam um custo ao SUS de mais de 200 milhões de reais;
- no Brasil, por ano, morrem cerca de 25 mil pessoas vítimas do trânsito e 45 mil morrem de armas de fogo;
- em São Paulo, quase 60% dos homicídios são cometidos por pessoas sem histórico criminal e por motivos fúteis.
Existem os mais diversos tipos de violência, que vão desde  a violência física até a violência nos esportes, passando pela psicológica, política, cultural, verbal, contra a mulher, contra a criança e o adolescente e até mesmo o velho, além da violência que se vê na literatura, cinema e televisão. É o culto à violência, e não a paz.
As estatísticas também mostram que os homens são mais violentos em praticamente todas as culturas; homens matam homens de 20 a 40 vezes mais que mulheres matam mulheres, especialmente homens jovens entre 15 e 30 anos de idade.
E pensar que esse horror que destrói, mata, fere, faz sofrer, deixa marcas indeléveis nos que sobrevivem à violência, só acontece porque não aprendemos, ainda a mensagem que um homem extraordinário nos deixou há 2000 anos e que dizia: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei". E a pergunta final é: aprenderemos algum dia?

UM DIA DE VIDA

Que fazer se nos resta apenas um dia de vida? Vinte e quatro horas. Nenhum minuto ou segundo a mais. Um dia inteiro, com nascer e pôr do Sol incluídos. Anoitecer e amanhecer. Um ciclo completo. Que fazer? Sentar na beira da cama e chorar? Lamentar o tempo desperdiçado? Amaldiçoar a vingança não executada ou o bem não praticado? Lamentar a vida não vivida, os amores perdidos, a mulher não amada, o amor não correspondido, a cerveja não bebida, a vida vivida, ferida ou parida?
Luz e sangue. A opressão no peito, a procura pelo ar que não mais existe. Um hausto de ar, mais um, mais luz, Goethe. Os valores não valem mais nada. Moral, ética, dólar, cotação da bolsa, estética. A morte é a falta de estética da vida.
Lutei tanto, sofri tanto, amei tanto, e não senti no entanto, o tanto de prazer que me daria um dia. Um dia a mais. Só unzinho. Por todos os deuses, eu mereço. Mas, o que há? Perdi o dom da fala ou os deuses ficaram surdos? Ou terão sido sempre surdos? Angústia hamletiana, que só faria sentido se houvesse resposta. Mas não há respostas. Só perguntas. O tempo passou e com ele a vida. E eu não percebi.
É essa a tragédia. Todos nós temos o nosso último dia de vida. E tal qual a vida toda, não temos a mínima ideia do que fazer com ele.



PEQUENOS TEXTOS SURREALISTAS

O GOL
 
O silêncio no campo era total. Não se ouvia o zumbir de um inseto. O juiz marcara penâlti. O jogo era decisivo, e a torcida quase agonizava de tanta tensão. O apito soa. O chute é disparado e o corpo do jogador descreve um suave arco, enquanto entra, fazendo com que milhares gritem seu grito orgásmico. É gol. No campo, as bolas comemoram, enquanto das arquibancadas, cabeças rolam, e invadem o campo, para a confraternização na vitória da bola sobre o homem.  

UMA CRUZ TRISTE DEMAIS
 
Lá estava o corpo estendido no chão. Ao lado, carpinteiros rústicos, trabalhavam uma cruz, ela, rústica também. Depois, conscienciosamente, pregaram o corpo na cruz e a ergueram.
Ao fundo, nuvens plúmbeas e negras, colidiam indignadas, cheias da cólera divina, provocando comoção cósmica.
Enquanto isso, a cruz de madeira, entristecida, derramava lágrimas de sangue, enquanto maldizia o lenhador que a abatera, para submetê-la a tão triste e indigno destino.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

ATENÇÃO


Neste próximo sábado, 26, às 21:00 horas, será realizado no ESPAÇO ANTONIA MARIA, à Rua Rio Vila Nova, nº15 - continuação da Rua Pedro Baião, entre São José e Beira Rio - Tel: 9133 9575, o sorteio de um jantar com direito a acompanhante, prometido neste blog, a todos os que o acessassem e comentassem o artigo lido. 

O sorteio refere-se apenas àqueles que fizeram seus comentários no mês de Maio deste ano. O sorteio de Junho será divulgado após o início de Julho. 

Todos os que desejarem, podem presenciar o sorteio. O escolhido será divulgado no blog e dele terá conhecimento por e-mail ou fone, se for o caso.

Grato a todos,

CARLOS BEZERRA

terça-feira, 22 de junho de 2010

A DESCOBERTA

Este texto não é meu. Foi-me contado em sonhos. Meu mérito, presumindo-se que tenha algum, foi simplesmente o de transcrevê-lo.
"Sonhei que eras a brisa suave que varre o planeta. Quando te encontrei, supus ter visto um novo sol com o brilho fantástico de um milhão de sóis. Pensei que eras a água do mar, as estrelas do céu, o perfume da rosa, o carinho de quem passeia de mãos dadas pela beira do rio em tardes crepusculares, que cedem seu espaço para que a noite cálida nos aqueça o coração e nos traga em seu bojo o repouso do guerreiro e o sono dos justos.
Mas não foi só o que pensei. Pensei que eras a Justiça Divina, te vi negro como um zulu e elegante como a mulher masai; pensei que eras a velha Mãe África e a Antárdida ainda por ser descoberta. Imaginei fosses Netuno ou sereia encantada a dominar os mares, os rios, os lagos, os igarapés, os paranás, os furos e os igarapés mirins. Mas só pude te conhecer quando senti na Tua face poderosa, o imenso amor que tinhas para dar a todos os que te descobriram. És luz, és verdade. Mas de um outro tipo. És luz que não faz sombras. És amor, és dor, és humildade e piedade acrescida de doses imensas de generosidade. És o Inominado, o que não tem nome, e se o tiver, não pode ser escrito ou pronunciado. És a revolução na vida dos que Te encontram. És Pai, Mãe e Irmão. És amigo e consolador dos aflitos, dos que gemem sob a miséria do abandono terrestre. És a cura, o vencedor da Morte e soberano de tudo o que há, pois és D’us Todo Poderoso, Criador do Céu e da Terra, capaz de sacrificar o próprio e único Filho por amor a nosotros. Contigo perdi o medo, encontrei a coragem, deixei de temer a Morte, pois sei, a sorte está comigo se me amparas como mãe que, poderosa, ampara o filho querido.
Furacão dos mares, tufão da vida, ciclone de amor, nunca mais me deixes tão só, como sozinho percorri a estrada da vida, quando vagava, perdido, no Vale da Sombra da Morte, de onde saí para nunca mais voltar".

segunda-feira, 21 de junho de 2010

NÓS E O POVO HEBREU

Sei que é muita pretensão minha querer – e o que é pior, tentar – escrever sobre a saga do povo que o próprio Deus chamou de seu, e com o qual nós, ocidentais no geral e brasileiros no particular, além dos médio-orientais, temos tudo a ver. No entanto, como ousadia é palavra que não está ausente do meu dicionário, vou pelo menos tentar falar sobre um povo, uma nação e uma religião que estão enraizados no mais profundo do nosso ser, senão, vejamos: Nossos nomes próprios são, em grande parte, nomes hebraicos. Exemplos: Gabriel, Rafael, Miguel, José, Maria (Miriã), Simão, Madalena (Maria Madalena ou Maria de Magdala, Magadã ou Magedan (cidade próxima da margem ocidental do Lago de Tiberíades. Atualmente a cidade de Migdal fica nas proximidades da antiga Magdala); Jair (natural de Gileade; Benjamin (filho caçula de Raquel e Jacó. Sua mãe, Raquel, chamou-o de Benoni (que significa "filho da minha dor"). Jacó, por sua vez o chamou de Benjamin (filho de minha mão direita. O nome também designa uma das 12 tribos de Israel. A propósito, o nome Israel, tão comum entre nós, significa "O que lutou com Deus" ou "Forte como Deus". Anteriormente seu nome era Jacó (Jacob), aquele que trabalhou para Labão durante longos 14 anos por causa da bela Raquel, foi patriarca, filho de Isaque (Isaac) e Rebecca, neto de Abraão (Pai de multidões), o que antes foi Abrão (Pai do alto).
Fiquemos por aqui, apenas para citar alguns nomes. Nossas religiões têm tudo a ver com o povo hebreu. O nome foi aportuguesado do hebraico Ivrim ou Ibrim, para denominar os descendentes de Sem, filho de Noé. Muitos, porém, acreditam que hebreu, seria uma denominação advinda da expressão ever ha-nahar , que significa "aquele que vem do outro lado do rio", uma referência ao Rio Eufrates.
Foram eles, os hebreus, que primeiro tiveram a noção de um Deus único, ao contrário de todos os outros povos conhecidos à época, que tinham diversos deuses, incluindo gregos e romanos. Jesus (Yeshua, em aramaico), um judeu e também arameu, é o nosso referencial sobre tudo o que existe de bom em todo o Universo conhecido. O mesmo D’us de Abraão é o nosso D’us, que também atende pelos nomes de Javeh, Jeovah, Elohim, Adonai ou ainda pelo tetragrama YHWH (ou seja, o Impronunciável) e o príncipe maior da Igreja Católica é Petrus (Pedro, em grego, aquele que antes era Simão, o pescador). Aliás, é bom lembrar que assim como as igrejas protestantes, as ortodoxas e outras variações do catolicismo são filhas diretas da Igreja Católica, esta, também é filha direta do judaísmo. Se bem observarmos, veremos que nossa cultura, além da influência helênica, claro, tem muito - ou quase tudo a ver com o grande povo judeu. Aliás, segundo Gräetz, os povos criadores da civilização humana foram exatamente gregos e hebreus. Os helenos foram protagonistas únicos na história dos povos conquistados. Depois de sucumbirem sob as falanges macedônicas e as legiões romanas, impuseram aos vencedores sua enorme cultura que ainda hoje é fonte de conhecimento entre nós. Quanto ao povo hebreu, ao contrário dos gregos, permaneceu vivo em meio a impérios.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

PATER NOSTER

Poucas orações são tão fascinantes quanto o Pai Nosso (Pater Noster, em Latim). Senão, vejamos o que diz a Bíblia, no Evangelho segundo Mateus:
Pai Nosso que estais nos Céus,
santificado seja o Vosso Nome,
vinde a nós o Vosso Reino,
seja feita a Vossa vontade
assim na Terra como no Céu.
O pão nosso de cada dia nos dai hoje,
perdoai-nos as nossas ofensas
assim como nós perdoamos
a quem nos tem ofendido,
e não nos deixeis cair em tentação,
mas livrai-nos do Mal. Amém.
Os discípulos de Jesus, querendo aprender a rezar bem, pediram e foram atendidos. O Mestre ensinou-lhes o Pai Nosso, uma oração cristã insubstituível e, segundo ensinam os doutores da Igreja, "a síntese de todo o Evangelho".
Uma das principais características do Pai Nosso, haja vista que suas "sete petições a Deus Pai", divididas em duas partes, uma, teologal, que fala de Sua glória e santificação e do amor a Ele, enquanto a segunda, composta por quatro partes, apresenta o Pai da misericórdia, a quem pedimos que nos perdoe, nos alimente, nos livre das tentações e nos defenda do Maligno.
Ao rezar a oração do Senhor, estamos absolutamente confiantes no fato de sermos filhos de Deus, e também de sermos, amados e atendidos por Ele.
De certo, o que temos, é que a partir desta magnífica oração, o crente passa a ter certeza de que:
Primeiro: Que é filho de Deus, ao dizer: Pai Nosso que estás nos Céus;
Segundo: Não há a menor dúvida sobre Sua santidade e o respeito que se deve ter a Ele, ao dizer: Santificado seja o Vosso nome.
Terceiro: Pede (e acredita que será atendido) ao expimir o desejo: Vinde a nós o Vosso Reino, deixando subtendido que, se o Reino de Deus não vier até o pedinte, que este consiga entrar no Reino dos Céus .
Quarto: Mais uma vez, a submissão total: Seja feita a Vossa vontade.
Quinto: Assim na Terra como no Céu. Ou seja, o que prevalece é a vontade de Deus, onde quer que seja.
Sexto: Sem alimento, impossível viver, por isso o crente clama: O pão nosso de cada dia nos dai hoje. Note-se que o cristão não pede o alimento de ama-nhã. A cada dia o seu próprio mal.
Sétimo: Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. Note-se o pedido de perdão por seus pecados, entretanto, condicionado ao perdão que o próprio crente concede aos seus ofensores, o que mostra a total submissão ao Todo-Poderoso.
Oitavo: Aqui, o cristão suplica: e não nos deixeis cair em tentação,
mas livrai-nos do Mal.
E como disse antes, Amém, ou seja, Assim seja, como acrescentaram os católicos. Ao refletirmo sobre a magnificência desta oração aparentemente tão simples, mas tão complexa, que na realidade, se resume aos dois maiores mandamentos: Um, da Lei Mosaica. Amai a Deus sobre todas as coisas. Segundo: Este, instituído pelo próprio Yeshuah (Jesus): Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei.
Magnífico, pra dizer o mínimo.

terça-feira, 15 de junho de 2010

O TEMPORA! O MORES!

Há mais de 2000 anos, foi o cônsul e também pensador romano, Marcus Tullius Cicero, tido como o maior orador de todos os tempos, quem disse a frase “O tempora! O! mores!” (Ó tempos! Ó costumes!), bradando no Senado contra o ge-neral conjurador Lucius Sergius Catilina, que ameaçava Roma, o coração do Império, com suas legiões. E na esteira da frase imortal completava: “Quousque tandem, abutere, Catilina, patientia nostra...?”, ou seja, “Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência...?
Essa é a pergunta que fazemos nós, por causa desses estranhos tempos e costumes que vivemos. Até quando os fichas sujas da política abusarão da nossa paciência? Até quando, nós, o povo brasileiro, venderemos a nossa dignidade por causa de meia dúzia de telhas, uma carrada de terra, uma receita atendida ou um prato de comida, dados como esmola, a cidadãos que só querem trabalhar com dignidade? Convém não esquecer que, como dizia o cantor e compositor nordestino Luiz Gonzaga, “mas doutor uma esmola, para um homem que é são, ou lhe mata de vergonha, ou vicia o cidadão...”
Até quando, receberemos por favor, aquilo que nos é de direito? Até quando, a ignomínia prevalecerá em nosso meio, permitindo que o Erário continue sendo saqueado desde sempre?
Por isso, é mais que boa, é excelente a notícia de que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), enfim, colocou rédeas curtas nos canditados a cargos eletivos que possuem fichas sujas. Esperamos, do fundo do coração, que essa Lei da Ficha Limpa valha, realmente, para as eleições deste ano. Enquanto vivermos só de promessas de que, no futuro, de preferência o mais longínquo possível, as coisas mudarão para melhor, jamais chegaremos a lugar algum. A moralidade pública exige que a ética na política seja restaurada, já, e para sempre, para que nossos filhos e os filhos de nossos filhos jamais precisem baixar a cabeça, envergonhados, porque elegeram, e o que é pior, reelegeram, aqueles cujo destino mais adequado seria o cesto de lixo da história.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

MENÊ, TEQUEL E PERÊS

A campanha eleitoral para as eleições de 2010 já está nas ruas de todo o país. Naturalmente que aqui no Amapá também, muito embora, todos os políticos envolvidos neguem veementemente, de mãos postas e pés juntos, o certo é que todos eles só pensam naquilo.
Isto posto, é necessário que comecem a pensar com frieza, calculadamente e de modo inteligente o que vão fazer. Certas alianças que hoje são tidas como certas, de repente, é como se nunca tivessem existido. Adversários ferrenhos de outrora, sem mais e nem menos vão jurar que são amigos desde criancinhas, e outros, por sua vez, que eram unha e cutícula, casa e botão vão deixar até mesmo de se cumprimentar, como se jamais houvessem sequer visto um ao outro. Dito isso, é preciso que tomem as cautelas apropriadas, para não serem apanhados de calças curtas, quando pensavam estar usando "black tie."
Uma antiga história hebraica conta que Daniel, cujo nome significa "Deus é meu juiz", um dos quatro Profetas Maiores, autor do Livro ou Profecias de Daniel e que por ser nobre, foi levado por Nabucodonosor para "o cativeiro da Babilônia", comprovou ali sua fidelidade a D’us. Um episódio em que faz uma profecia para o reino de Baltazar, quando aparecem, misteriosamente, três palavras indecifráveis na parede do palácio real, no qual estava acontecendo uma festa. A frase era a seguinte: "menê, tequel e perês", mantendo o significado de "contado, pesado e separado." Tais palavras foram interpretadas por Daniel como: D’us "contou" os anos de teu reinado (menê), e nele está pondo um fim; foste "pesado" na balança, e considerado em falta (tequel); teu reino vai ser ser dividido e entregue aos medos e persas (perês ou plural parsim) . Na mesma noite houve a invasão do medo Dario, que se tornou rei.
Do mesmo modo, todos os candidatos vão ser contados, pesados e separados, ou seja, vão ser "menê, tequel e perês” pelos eleitores. E quem quiser, não acredite, mas nossa vida, independentemente do façamos ou deixemos de fazer, é contada (nosso tempo de vida); pesada (o peso de nossas ações, boas ou más) e separada deste corpo que nos aprisiona para que possamos nos dirigir ao Hades (Inferno) ou ao Shiquinah (o lugar da Presença Divina, em hebraico), também conhecido entre nós como Céus ou Campos Elísios.
E se isso é verdade na vida diária de cada um, muito mais verdadeira é, quando aplicada no terreno movediço da política.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

A VISÃO, O OLHO E A CEGUEIRA

Visão, olho e cegueira, são coisas inerentes à vida animal. E à vida celestial também. Convém não esquecer que aquele que tudo pode, tudo vê, também.
Mas tenho lá minhas dúvidas. Se tudo vê, imagino que preferiria não ver. O panorama terrestre visto do Olimpo, não é cenário dos mais agradáveis de ser apreciado. Mas tem que ver. É obrigado a isso pela força do Seu destino. Deuses que nada vêem não costumam ser respeitados pelos mortais comuns, que fazem questão de ver milagres, demonstrações de força, efeitos pirotécnicos e outros que tais.
Lobsang Rampa escreveu A Terceira Visão. Não por querer ver demais, evidentemente. Supunha que o homem tivesse um olho místico ainda a ser desenvolvido.
Olhos, os temos de vários tipos. Olho de porco é olho de quem não encara ninguém. Olha sempre de soslaio. Diziam os antigos, não é olho de gente confiável. Olho de boi é um bom olho. Vale uma fortuna. Para quem entende de filatelia, claro. Olho do Céu é olho bom para se olhar. É montanha situada na Província de Hanngchow, na China. Um prazer para o olhar.
Visão é diferente. Na maioria das vezes, é apenas a capacidade de se ver. Mas é algo mais também. É ver além do que existe para ser visto.
Visões especiais são as visões celestiais, como as visões de Santa Tereza, as visões de São Bernardo, as visões da gruta da Iria, as visões dos profetas, as visões do Paraíso, as visões de Deus. Mas, junto com o olho e a visão, vem a cegueira da morte. A morte nos cega para a vida, assim como a miséria nos cega para a vida com qualidade. A cegueira nos impede de ver as cores, as coisas, os animais da terra, da água e dos céus. Impede-nos de ver o rosto dos amigos queridos, aqueles de verdade e o da mulher amada, que todos as temos.
Mas, como tudo na vida, a cegueira tem o seu lado bom, porque nos impede a visão do lado sujo da vida. Impede-nos de ver lixo nas ruas, nos bares, nos lares e nas repartições públicas. Nesses lugares costumam reproduzir-se sem cessar, o pior de todos os lixos, aquele que não se biodegrada, mas degrada a nós todos que estamos do lado de cá do balcão: o lixo humano, que este, é preferível não vê-lo.
O lixo humano está presente nos seres destituídos de compaixão para com o próximo; está junto dos que têm ódio no coração; faz parte dos que falam a língua bifurcada da serpente, dos mentirosos, dos mistificadores, dos aduladores, dos falsificadores. O lixo humano está presente na estrutura mental de todo aquele que acha que roubar é normal, que vilipendiar é correto, que desrespeitar a vida faz de cada um, um ser mais forte que o outro.
No mundo da política, pelo visto, temos feito a opção preferencial por não ver nada, daí os espécimes que elegemos a cada quatro anos.
Dizem que em terra de cego, quem tem um olho é rei. Errado. Em terra de cego, quem tem um olho, é caolho, mesmo.

LEIS QUE FIZERAM HISTÓRIA

Questão de ordem - Leis que fizeram história
O Brasil talvez seja o país que mais legisla em todo o mundo. Até aí nada demais. É até bom que todo cidadão possua limites para determinadas ações que podem, eventualmente ou por vontade própria, causar dano a si mesmo ou a outrens. Também é ótimo que instituições, tanto as de direito público quanto as de direito privado, sejam devidamente regulamentadas por si e pelo poder público, no caso, o Poder Legislativo. Mais que isso, é excelente que empresas privadas, estatais ou mistas, sejam adequadamente reguladas, tanto por suas próprias entidades de classe quanto pelo Legislativo, seja ele municipal, estadual ou federal. Todo esse aparato regulatório deve ter por finalidade o benefício, o bem estar e a proteção, seja da sociedade como um todo, seja do cidadão, aí colocado como simples consumidor na sua individualidade.
O problema das leis brasileiras é, como disse o próprio senhor presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que existem leis que "pegam"e leis que não "pegam". Vejam a que ponto chegamos neste país mais que surreal. Somos o único país em todo o planeta onde as leis não existem para ser cumpridas. Cada um pode decidir se vai ou não cumprir determinada lei. Se a maioria decidir não cumprir o que está determinado no texto legal, a coisa fica por isso mesmo, porque, afinal de contas, vai se fazer o quê, se a lei não pegou mesmo.
Menos mal que temos leis, códigos e revisões constitucionais que marcaram a história da Justiça e do Judiciário no Brasil.
Apenas para citar algumas, podemos lembrar da nossa primeira Constituição, no caso a de 1824. Essa, foi a mais duradoura que o país já teve. Ficou em vigor por 65 anos, até 1889. Considerada extremamente liberal para a época, institui um quarto poder, o Moderador. A Constituição de 1891 marcou porque estabeleceu o modelo de República Fede-rativa e presidencial, que vigora até hoje. É essa Constituição que atribui ao Supremo Tribunal Federal o papel que lhe cabe atualmente.
O Código Civil de 1916 substitui a legislação portuguesa vigente até então em matérias de direito de família, direito das obrigações, direito dos contratos, responsabilidade ci-vil e direito das heranças.
A primeira edição do Código Penal brasileiro, em 1940, teve como principais pontos, a consideração da personalidade do criminoso e da responsabilidade objetiva.
A Consolidação das Leis do Trabalho, a famosa CLT, instituída sob o governo de Getúlio Vargas, instituiu as normas que regulam as relações de individuais e coletivas de traba-lho, em grande parte válidas até hoje,
Temos, enfim, muitas outras leis que fizeram história no Brasil, como a Constituição de 1934, a Lei de Falência de 1945, o Estatuto da Terra, 1964; a Lei do Divórcio, de 1977; a modificação do Código Penal, de 1984; a nova Constituição de 1988, que vige até hoje; o Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990; o Código de Defesa do Consumidor, de 1990; a Lê dos Juizados Especiais, de 1995; a Lei do Direito Auytoral, de 1998; a Lei do rito sumaríssimo trabalhista, em 2002; O Novo Código Civil de 2002; a Emenda Constitucional número 45, de 2004; e, finalmente, a Nova Lei de Falências, 2005. Como se vê, leis não nos faltam. O que precisamos, é aprender a cumpri-las, até porque leis não existem para nenhuma outra finalidade, a não ser isso: serem cumpridas.
Talvez, a maior demonstração de cumprimento da lei, ainda que injusta, foi a que decretou a morte do maior filósofo de todos os tempos: Sócrates. Ele poderia ter fugido ao cruel destino, mas preferiu ingerir cicuta a deixar de cumprir a lei.
Enquanto não aprendermos esse princípio básico de cidadania, jamais teremos, realmente, um Estado Democrático de Direito. Tenho dito. E escrito.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

PAZ E GUERRA


    Desde sempre, o que mais se fala quando o assunto é política, seja ela interna ou externa, é de guerra e paz. Mas, o que é a paz? As respostas, além de serem muitas, têm os mais diversos tipos, senão vejamos: para o prussiano conde Carl Von Clausewitz, que lutou contra Napoleão na Rússia e em Waterloo e ajudou a reorganizar o Exército da Prússia, sendo também, o autor do clássico Da Guerra, talvez o maior tratado militar de todos os tempos, guerra era “a continuação da política por outros meios”. Disse mais, ainda. Disse que “o conquistador é sempre amante da paz. Preferia, sem dúvida subjugar nosso país sem ter de combater”. O conde prussiano também dizia que, “a guerra é um ato de força, e não há limite para a aplicação dessa força.” Aliás, antes dele, Heráclito já dizia que “a luta é a regra do mundo e a guerra é a geratriz comum e a senhora de todas as coisas”.
  É verdade. Para conferir, basta que se pense no número de mortos da Segunda Guerra Mundial, que envolveu 61 países (apenas os beligerantes); onde 1,7 bilhão de pessoas, ou seja, ¾ da população mundial, à época, dela participaram. Quanto ao número de mortos, foi o maior em toda a história dos conflitos humanos: 75 milhões de pessoas. Desse total, cerca de 47 milhões foram civis, dos quais, 20 milhões morreram de fome, de doenças ou os dois juntos. Entre os militares, o número de mortos em combate foi de 25 milhões, além dos 4 milhões de soldados que padeceram em campos de concentração. Do total, os aliados perderam 14 milhões de soldados e as tropas do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) contaram 11 milhões de mortos. Isso, em resumo, mostra a tragédia desse imenso conflito, muito embora para Josef Stalin, o ditador russo, isso fosse apenas uma estatística. Foi ele que disse que “a morte de uma pessoa é uma tragédia. A morte de milhões de pessoas é apenas uma estatística.”
   Se esse foi o último grande conflito da humanidade, não podemos esquecer guerras como as do Vietnam, da Coréia, que oficialmente ainda não terminou; do Iraque (americanos), do Afeganistão (russos), e outras menos votadas como as africanas e asiáticas. Se incluirmos nesses números os mortos que devastam países como o Brasil, onde apenas nos últimos mil dias morreram assassinadas 20 mil pessoas, e isso somente na cidade do Rio de Janeiro, o número ficará além da nossa imaginação.  No entanto, insistimos em dizer que vivemos em paz.
   Paz, como já dissemos, existe de todos os tipos. Que paz é essa na qual pensamos viver: a paz dos cemitérios? A Pax Romana ou, no nosso tempo, a Pax Americana (houve também uma Pax Soviética, uma Pax Otomana, uma Pax Chinesa)? Todas elas foram o resultado de uma conquista e de uma pressão militar contínua que ajudou a manter uma certa ordem. Se, por um lado reduziu o grau de conflito no coração do império, por outro lado produziu várias guerras pequenas, mas sangrentas, na periferia. Isso, claro, agradou aos que estavam no centro da questão; mas aqueles que estavam nas periferias da vida tiveram de lidar com a violência, como o Brasil lida, diariamente, em todos os estados, em todas as cidades e em todas as ruas com a sua própria violência. E isso será paz?
   Eu, que sempre vivi a minha própria guerra, guerra pela vida, guerra pelo pão (que o Diabo amassou) de cada dia, guerra contra a guerra, guerra pelo direito de ir e vir – e ficar parado; guerra pela livre expressão de pensamento, guerra contra aqueles que acham que podem ser nossos donos, que podem nos escravizar, guerra pelo direito à vida, à liberdade, à saúde e à segurança, além da guerra contra os que acham que podem impor suas verdades a nosotros, que antes e além de qualquer coisa, nascemos para ser livres, anseio pela paz, mas não a paz da morte, a não ser que morrer seja apenas uma viagem para os Campos Elísios. Se assim for, então que venha, e venha rápido porque lá, nos Champs Elisées não haverá dor, não haverá frio, não haverá fome, não haverá saudade, principalmente isso, saudade de um tempo em que eu não sabia que o futuro existia, e muito menos que o passado podia doer tanto.

terça-feira, 8 de junho de 2010

BATRACOMIOMÁQUIA

Batracomiomáquia. Calma. Antes que comecem a me apedrejar por causa desse palavrão, é necessário que fique bem claro que o nome não é criação minha. É de Homero, aquele poeta grego que poucos conhecem, autor de a Ilíada, obra que bem menos conhecem. Porém, uma das curiosidades desse autor de uma das mais clássicas obras literárias que o mundo já conheceu, é que tinha um lado humorístico bem acentuado. Por isso, talvez, tenha escrito essa pequena obra intitulada "Batracomáquia", que fala de uma guerra entre ratos e rãs. 
   Longe de mim a ideia que a obra tenha qualquer semelhança com a guerra que travam, desde sempre, os ratos e os batráquios da política, particularmente aquela travada entre o "Sapo Barbudo", criação imortal de Leonel Brizola e outros ratos de seu tempo.
   De certo, o que temos é que um dia, um rato, submergindo sua barba à beira de um lago, viu uma rã tagarela que morava no lago.
Inchabochechas - Quem és tu, estranho. Dize-mo a verdade, e em troca dar-te-ei tanta hospitalidade que, possivelmente, minha casa nunca mais queiras deixar. Eu sou Inchabochechas, e no lago me honram como perpétuo caudilho das rãs. Meu pai chamava-se Lodoso e minha mãe Rainha das Águas. Noto que és formoso e forte, mais ainda que outros; e deves ser portador de certo e valoroso combatente nas batalhas. Mas, dize-me rápido, tua linhagem.
Furtamigalhas - Por que me perguntas minha linhagem, se ela é conhecida de todos os homens e deuses. Eu me chamo Furtamigalhas e sou filho do poderoso Róipão e tenho por mãe Lambedentes, filha do rei Róipresunto. Mas, como poderemos ser amigos, se temos naturezas  iferentes? Tua vida está na água e eu costumo roer o que os homens possuem. Nada se me escapa. Nem o pão guardado em cestos ou a torta recheada de gergelim; não dispenso presunto, queijo, doces de leite e nem nada que produzam os cozinheiros para os festins dos mortais. Nunca fugi da gritaria das mais horrendas batalhas, mas me junto aos combatentes mais avançados, porque sei que lá terei muitas recompensas. Meu único temor diz respeito aos gaviões e doninhas. Com relação a esta, nem na minha toca estou seguro. Odeio, porém, couves, abóboras e verdes acelgas.
Inchabochechas - Noto que muito te envaideces das coisas do ventre. Quanto a nós, rãs, temos coisas admiráveis de se ver, tanto na água como na terra. Se tens dúvidas sobre o que digo, é fácil comprovar-te. Sobe às minhas costas e te mostrarei meu palácio. O resultado é que, em aparecendo uma Hidra, a rã merguhou no lago, esquecendo Furtamigalhas que morreu afogado.
      Por causa desse acontecimento é que foi deflagrada a guerra entre ratos e rãs. Quanto aos deuses, convocados por Zeus, decidiram que o melhor era não se meter numa briga que não era deles pois, como sempre acontece, poderiam ter sérios prejuízos se não adotassem a neutralidade. E assim fizeram.
      Entretanto, um destemido guerreiro roedor chamado Roubaparte, pediu o comando do exército de roedores e partindo para o ataque, certo de que destruiria o exército de batráquios. E assim teria feito não fosse a ajuda que as rãs receberam de Cronion, pai dos deuses e dos homens. Foi por isso que Zeus, compadecendo-se das rãs, enviou-lhes como auxiliares, animais de garras curvas, andar oblíquo, pés torcidos e bocas como tesouras, de pele crustácea, de consistência óssea, de costas largas e reluzentes e oito pés chamados caranguejos. Lançados ao combate, cortaram com suas largas tesouras as caudas, os pés e as mãos dos ratos que, percebendo a extensão da tragédia que se abatera sobre eles, fugiram espavoridos para que não fossem dizimados.
      Segundo conta a história, o combate durou apenas um dia, terminando com a vitória das rãs.
      Quanto a um certo país onde vivia a donzela Iracema, aquela que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, a guerra continua. E tudo indica que, ao contrário do que ocorreu na famosa batalha chamada Batracomiomáquia, a guerra entre ratos e rãs, que terminou com a vitória das rãs, pelo andar da carruagem, deve terminar com a esmagadora vitória do Sapo Barbudo. As eleições estão às portas. Outubro vem aí. E até onde sei, Zeus não está em aí para nosotros.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O MEDROSO

Era um medroso nato. Literalmente, nascera com medo de tudo o que há. E essa foi a sua tragédia. Neste mundo cão não há espaço para os fracos, os covardes, os ineptos, os lentos, os ineficientes, os deficientes, exceto se o deficiente for um leão, que este sim, atemoriza a todos até mesmo quando combalido pela doença ou pelas feridas recebidas em uma vida de lutas pela sobrevivência. Leões atemorizam até mesmo depois de mortos. Poucos são os homens-leões. A maioria, apenas ratos, hienas ou vacas de presépio. Aquele homem medroso era uma espécie de rato, daqueles que fogem para seus tugúrios ao menor ruído, que se refugiam, tal qual todo covarde que se preza, no mundo das sombras.
O homem medroso tinha medo de tudo. Medo da luz, medo da escuridão, medo de ficar sozinho e medo de multidões, medo de beber e medo de comer. Tudo podia fazer-lhe mal, angustiava-se. Não suportava a ideia de casar. O que não poderia acontecer-lhe se casasse com uma mulher má. Daquelas que botam azeite quente no ouvido do marido quando ele se entrega aos braços de Morfeu? Não. Mulheres na sua vida pacata e segura, nem pensar.
Mas o destino, ah!, o destino. Talvez nem tenha sido o destino. Quem sabe um demônio? Demônios, como se sabe, têm por diversão predileta, pregar peças em pobres e desavisados humanos. Principalmente dos que tem medo de tudo. E foi por isso que, desavisado, apaixonou-se por uma bela mulher. Daquelas que prometem tudo e realizam muito mais. Daquelas que fazem Messalina parecer anjo de candura e inocência. Só podia ser coisa do "dêmo", diziam, benzendo-se, as velhas beatas e fofoqueiras da pequena cidade em que vivia o homem medroso.
Foi por isso que o homem que sentia medo de tudo decidiu que era tempo de se ir deste maldito planeta onde tudo o atemorizava. Menos mal que, cônscio de seus deveres, não planejou uma morte rápida. Daquelas tipo tiro na cabeça. Sua fiel empregada doméstica não merecia a tarefa imunda de juntar-lhe os miolos e lavar lençóis, paredes e o piso que ficariam impregnados com parte de seus miolos, ossos, cabelos e sangue. Muito sangue. Preferiu uma morte lenta. Por estranho que pareça, isso não o atemorizou. Sentiu-se até mesmo tranquilo e esboçou um sorriso. Ninguém sentiria sua falta Não tinha, mesmo, nenhuma importância para ninguém. Preparou a cama. Era preciso partir com dignidade, uma vez que vivera a vida de maneira indigna. Não é digno o homem que treme diante de outro homem. E como ele temera e tremera diante dos homens, da vida, de tudo...
Sentou-se à beira da cama recoberta de alvos lençóis, pegou a afiada navalha que comprara para aquele fim e, num rápido golpe viu o sangue, o seu sangue, manchar de rubro a água tépida que colocara na bacia ao seu lado. Não gritou. Sequer gemeu. Sentiu frio. Sabia que o frio antecede a morte. Deu, outra vez, um pálido sorriso e sentiu a escuridão que se aproximava veloz, de seus olhos, de seu cérebro, deletando-o definitivamente da vida e o mandando de volta para o reino do negror absoluto que havia antes de ser gerado num ventre de mulher.
Pobre homem medroso. Merece ele todas as nossas lágrimas, toda a nossa piedade, porque morreu sem saber que ela, a morena dos lábios com sabor de mel de abelha, morreu de velhice, esperando por ele de braços abertos. Morreu sem saber que, para ela, era ele o seu sonho, sua quimera, seu elo perdido, que nunca faria aliança com ela, como é o destino dos homens. Menos dos homens covardes como ele.

sábado, 5 de junho de 2010

A CANÇÃO DE CRISTO

Há muitos anos escrevi um texto intitulado “Falando de música”. Nele, citava, entre outros, o ainda desconhecido Martinho Lutero. E esse mesmo Lutero, tão condenado pela Igreja Católica dizia que “a música é o bálsamo mais eficaz para acalmar, alegrar e vivificar o coração daquele que está triste, daquele que sofre. A música torna os homens mais doces, mais benévolos, mais modestos e mais sensatos. Os que sabem cantar, não se entregam nem à tristeza nem ao desgosto. Eles são alegres e afastam a preocupação com o auxílio de suas canções”.
Antes de entrar no assunto que me levou a escrever estas mal traçadas linhas, como se dizia antigamente, devo esclarecer que tenho uma relação pessoal de muito respeito e afeto, adoração, mesmo, poderia dizer, com o homem chamado Jesus (Ieshua, na sua língua natal, o aramaico). E essa relação tem já muitas décadas de existência. Décadas, para falar apenas em termos de tempo terrestre, pois Ele me contou, em sonho sonhado antes que tudo acontecesse, que já me conhecia desde o tempo em que eu não existia. E por conhecê-lo tão bem – desculpem a falta de modéstia e o excesso de pretensão – é que ouso afirmar que Jesus, o Cristo, gostava de cantar. E de sorrir. Como não sorrir e não cantar, se era um homem bom na sua mais refinada essência, no mais profundo do seu ser? É claro que teve seus momentos de amargura, também. Quem não o teria, sabendo o destino que o aguardava?
Mas, o que queremos abordar aqui, é o Jesus cantor, o maior e o melhor de quantos poderiam existir. Nas noites da minha solidão, gosto de ouvi-lo, voz poderosa e, simultaneamente maviosa, enchendo todo o Universo com o seu esplendor, cantando o seu cântico sobre os próprios desejos. Sabe-se que entre os povos do Oriente, os cantos, as danças e as luzes eram elementos essenciais para as cerimônias das festas religiosas. Quem leu sabe que os antigos egípcios faziam a volta de seus templos dançando e cantando. Os hebreus tinham, eles também, o mesmo costume. É bom lembrar que Davi¹ dançava e cantava diante da Arca².
Na Bíblia, quem nos fala que Jesus cantava é o próprio Mateus, o evangelista, (XXVI, 30). Diz ele que o Mestre e os apóstolos entoaram um cântico após a celebração do último Pessach³ d’Ele com seus discípulos.
Muito embora não conste dos livros sagrados, foram encontradas partes da letra desse cântico entoado por Jesus e seus discípulos após a Páscoa - depois da qual seria traído por Judas Iscariotes, o traidor. Fragmentos desse texto foram encontrados na 237a carta de Agostinho(4), dito santo pelos católicos, ao bispo de Ceretius. A seguir, está o cântico que é encontrado em partes no próprio Agostinho:

“Quero desligar e ser desligado.
Quero salvar e quero ser salvo.
Quero gerar e quero ser gerado.
Quero cantar, dancem todos de alegria.
Quero chorar, batam em todos com dor.
Quero ornar e quero ser ornado.
Sou a lâmpada para você que me vêem.
Sou a porta para que nela batam.
Vocês que vêem o que faço, não digam o que faço.
Representei tudo isso nestas palavras, mas não fui em absoluto representado.”

Agostinho não afirma que esse hino foi cantado, mas não reprova suas palavras. Na verdade, ele só condena os priscilianistas (5), que incluíam esse hino em seu Evangelho.
De certo o que temos, é que qualquer que tenha sido a discussão que se formou em torno desse cântico, era ele utilizado em todas as cerimônias religiosas. Como se sabe, todas esas cerimônias têm alguma semelhança e alguma diferença, mas o importante é a adoração de Deus, independentemente do nome que receba e em qual região do globo se situe.
Dizem os crentes que, infelizes daqueles que não O adoram, porque estariam eles trilhando o caminho do erro e por isso estão à sombra da morte. Porém, é preciso que se pense que, quanto maior for sua infelicidade, mas devemos lamentá-los e suportá-los. Como diria o próprio Yeshuah, eles não sabem o que fazem e, menos ainda, porque o fazem.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

NERVOS DE AÇO NÃO DOEM

Esta é uma história simples. Fala de um homem comum que as agruras da vida enrigeceram até transformá-lo em pedra bruta e coração tão frio e gélido como o mármore de Carrara. E endurecido, passou a tratar a tudo e todos como se nada fossem porque nada lhe importava. Afinal de contas, por que valorizar o que não merece valor?, dizia, às vezes, referindo-se às emoções que não sentia.
E assim viveu - ou pensou viver - por um tempo longo demais. Frio, não sentiu o amor das mulheres que pontilharam sua vida. Por desprezar tudo e todos, foi desprezado por tudo e por todos. Nunca, em toda a sua vida bruta, soube o que era o cantar de um passarinho pousado na janela de seu quarto numa bela manhã de verão; nunca percebeu que havia flores no mundo e que o desabrochar das flores era o espetáculo máximo da natureza; nunca teve olhos, por vítreos que eram, para ver o nascer do sol ou o ocaso que trazia em seu bojo a escuridão da noite; nunca viu o brilho das estrelas e nem sentiu o perfume de uma rosa negra; não sentiu o grito de dor dos que esmagava à sua passagem e nem sentiu a angústia dessa mesma dor porque tinha nervos de aço, e nervos de aço não doem. Enfim, como disse um poeta cheio de dor, "quem passou pela vida em brancas nuvens / e em plácido repouso adormeceu / quem não sentiu o frio da desgraça /quem passou pela vida e não sofreu / não foi homem / foi espectro de homem / só passou pela vida /mas não viveu.
Mas Deus, na sua infinita crueldade, resolveu tornar sensível o homem de mármore. Por isso deu-lhe sentimentos que não conhecia e o fez conhecer a mais bela de todas as mulheres que um dia povoaram a Terra. E então, o mármore, e não o Verbo, se fez carne. E por ser carne, sentiu dor, sentiu alegria, sentiu preocupação, sentiu amor e sentiu paixão.
Por isso morreu. Não por ser carne, mas por sentir. E como sentia, sentiu que a mulher que lhe despertou tantas emoções dissolveu-se à sua frente como se fora uma estátua de sal sob a chuva da vida. E ele, não suportando a ideia do viver sozinho com tantos sentimentos a repartir, liquefez-se e vazou a essência de si por todos os poros, escorrendo lentamente em direção ao rio mar, onde misturado  a outras águas, desapareceu para todo o sempre, para nunca mais voltar.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

A REPÚBLICA PROVISÓRIA

Não conheço o permanente. Só conheço o provisório. Talvez, dado o meu desconhecimento sobre quase tudo o que há, venha eu a fazer afirmação tão peremptória.
Permanente, quando muito, é o tempo. Mas ninguém sabe o que é o tempo. Exceto que passa. E continuará passando "per omnia secula seculorum".
O espaço, este não é permanente nem provisório. É limitado. Talvez seja limitado pela barreira do tempo. Provisórios, conheço muitos. Provisório é o amor eterno. Provisória é a mulher amada. Principalmente a amada amante de que nos fala Roberto Carlos.
Provisório é o fogo eterno da paixão, é a eterna maldição. Provisório é o amor, a carícia e o prazer. O ódio, não. Ódio que se preze, tem que ser permanente. Permanente é ou deve ser a idiotia. Idiotas não podem dar-se ao luxo de serem provisórios. Não existem idiotas provisórios. Todo idiota é permanente. E irritante.
Provisória é a roupa que usamos, o carro que compramos, a coroa que ostentamos, o cetro que empunhamos. Provisória é a pose, a arrogância, o orgulho. A sabedoria não. Esta é definitiva. Tão definitiva quanto as frases lapidares.
Provisória é a vida. A morte, ao contrário, é definitiva. Total e irremediavelmente. Provisórios são os políticos e os discursos. As promessas, não. Pela sua própria estrutura, são definitivas.
Provisórias são as medidas. Mas, pouco provisórias. Tanto que acabam se tornando definitivas.
Aliás, o provisório, diz-se, nasceu na Bahia de Todos os Santos, deuses e orixás. Saravá!
Roberto Campos conta-nos, em deliciosa crônica, que o líder da Sabinada, revolução que pretendia tornar a Bahia independente e republicana, o que era de hostilidade ímpar ao Império brasileiro, teve como seu herói maior, Sabino, ou melhor, o Dr. Francisco Sabino Alves da Rocha Vieira.
Como se sabe, a revolução foi sufocada em quatro meses de luta e Sabino, condenado ao enforcamento. Comutada a pena, foi degredado para o estado de Goiás e depois para o Mato Grosso. Mas isso já é outra história. O que nos interessa, na realidade, é que a República Bahiana acabou declarando que: "A separação da província em Estado independente era até a maioridade de Sua Majestade, o Imperador Se-nhor Dom Pedro II".
Coube ao Brasil, mais especificamente aos baianos, inventarem a república provisória. Como se vê, "há mais coisas provisórias entre o Céu e a Terra do que imagina a tua vã filosofia", poderia ter dito o príncipe Hamlet.

terça-feira, 1 de junho de 2010

QUANDO EU MORRER

No dia da minha morte, não quero choro nem velas. Quero amigos. Os poucos que me restaram. A maioria, a vida os transformou em meros conhecidos. Alguns se tornaram conhecidos distantes. Não valiam a pena.
         No dia da minha morte, não quero elogios e nem frases pomposas, exaltando as qualidades que não possuí em vida. Quero conversas prosaicas e algumas tiradas de humor. Anedotas sobre defuntos ficam terminantemente proibidas. Alguns já são ridículos o suficiente, para merecerem a graça de uma boa piada. Música é fundamental. Brega e rap estão vetados. Afinal, serei um morto orgulhoso do próprio bom gosto. Louvem-me as mulheres da minha vida. Deram-me prazer e desgosto na medida certa. Algumas foram boas para comigo, até onde os seus corações áridos podem sê-lo.
         Minha herança não atrairá por certo, as aves de rapina que existem em nós, porque não poderá ser contada em dólares, ouro e reais. A mais vil das mercadorias, deixei-a para que a juntassem os homens igualmente vis, que acreditam poder o metal amarelo, substituir o prazer inigualável do ler os bons livros, ouvir belas músicas e conversar a conversa inteligente.
         Deixo para os meus filhos e netos, a certeza de que conceitos como honra, dignidade, boas maneiras, ética e estética, continuarão a existir, mesmo quando já não mais existirem a "Urbi et Orbi".
         Para os meus amigos, deixo a saudade das horas vividas nos bares, quando tudo era poesia, apesar dos pesares.
         Ao descer à cova, não chorem por mim. Tive da vida tudo o que quis, ou que mereci. E não se pense que terei sido vencida pela Dama da Foice, pois a ela, já olhei nos olhos, e ela recuou. Não por algum poder extraordinário que possa eu possuir, mas pela vontade soberana do Altíssimo, o vencedor da morte. Quando eu transpuser os umbrais da eternidade, significará apenas que o meu General me deu uma ordem e eu, soldado disciplinado de D’us, obedeci.
         E quando chegar o momento de misturar  meus ossos aos que me antecederam, e aconchegar-me aos braços da Mãe Terra, quero que toquem para mim, o Prelúdio e Coro Nupcial, do terceiro ato da Ópera Lohengrin, de Wagner. Faz sentido. O meu casamento com a eternidade estará apenas começando.

... e PENSAM QUE SÃO NORMAIS

Têm a mente suja, o espírito pequeno, o pensamento burguês e o cérebro diminuto. E pensam que são normais.
Não nos atendem com a cortesia necessária. Não nos dão as informações que precisamos. Não cumprem de maneira eficiente, as funções que ocupam e que deveriam gerar benefícios para o Estado. E pensam que são normais.
São donos de arrogância infinita e sofrem de ausência de neurônios próxima do zero. E pensam que são normais. Entram nos seus carros cintilantes e se acreditam senhores com direito de vida e morte sobre os demais, porque seus salários, absolutamente não condizentes com sua capacidade mental e intelectual assim permite, por decisão do seu amo e senhor. E pensam que são normais.
Dizem-se defensores de seu povo, mas sua visão sectária e limitada do mundo, sua falta de educação e cultura os faz agir contra os interesses do povo a que dizem pertencer. E pensam que são normais.
Enchem as igrejas, cabeça baixa, ar compungido, a certeza de que são donos da verdade e que podem enganar Deus. São víboras, falam a língua bifurcada da serpente. E pensam que são normais.
Moram em palácios e mansões. Vivem à custa do Erário. Sua profissão é o exercício da arte de enganar, de mentir. São falsos profetas. Posam de deuses, mas são pobres diabos, cuja única finalidade é infernizar nossas vidas. E pensam que são normais.
Não costumam produzir nada. Não mostram serviço. E quando o fazem, querem aplausos, como se não estivessem apenas cumprindo as suas obrigações. E acham que são normais.
Vivem no lixo moral. São menos que nada, mas acreditam tudo ser, ou ter, esquecidos que não são nada e não têm nada. As próprias roupas que vestem não são suas. São emprestadas pela vida. O tempo tudo transformará em pó, mas não sabem disso. E pensam que são normais.
Acreditam ser valentes. Não o são. Arrotam valentia, porque acreditam que o poder tudo pode. Um erro primário. E ainda pensam que são normais.