quarta-feira, 24 de novembro de 2010

D'US E O TEMPO


Diz a Bíblia, que Deus já existia antes mesmo do início dos tempos. O início dos tempos é um dos grandes mistérios com os quais o homem já defrontou. Primeiro, porque se o tempo é infinito não terá fim. Por conseguinte, não pode ter tido início. Se não teve início, como D’us poderia existir antes do que não teve início? Dúvida para dilacerar qualquer crente que não seja completamente crente. Mas este tem seu próprio contraditório: como duvidar, se o seu princípio filosófico é montado, não em cima do conhecimento, que só vem a partir da dúvida, mas em cima da fé. E como é difícil crer. Só os que não crêem podem entender do que falo.
É mais fácil e mais confortável, mas de imprudência a toda prova, crer na ilusão da mulher amada, do que acreditar no que já era antes de ser; no que tem 72 nomes e cujo nome verdadeiro é YHWH, ou seja, o Impronunciável. Sem contar, naturalmente, com o grego Theós, o catalão Déu, o espanhol Dios, o aragonês Ridiós, o francês Dieu, o bretão Doue, o italiano Dio, o inglês God, o alemão Gott, o dinamarquês Gud, o norueguês Herregud ou Herre Gud, o sueco Herregud ou Gud, simplesmente. Os muçulmanos, árabes ou não, dizem Allah. Mas dizem, também, que o Altíssimo teria cem nomes, dos quais o último seria Impronunciável. Finalmente, temos o esperanto Mia Dio (Meu Deus), isto sem contar com o eslavo Bog, o sânscrito Ishvara, El no judaísmo, onde antes pontificou Elohim, substituído por Javeh e Jeovah, e onde aparece também, o tetragrama YHWH, que se acredita referir-se à origem henoteística; o hindu Krishna-Vasudeva na Bhagavata ou, posteriormente, Vixnu e Hari, ou recentemente Shakti.
Mas, a partir do momento em que passamos a nos referir a nós mesmos com o sentido do existir próprio, momento esse que não sabemos precisar quando ocorreu pois já existíamos antes, ainda que sem a consciência do existir, é que tentamos administrar o tempo, o precioso e pequeno tempo da nossa existência. E como é difícil fazê-lo.
Determinamos então que há um tempo para tudo. Um tempo para nascer, um tempo para viver e um tempo para morrer. Neste meio tempo, temos de arranjar tempo para outras coisas, que no nosso entender, deverão preencher o tempo vazio das nossas vazias existências. Passamos a exigir, criar ou ter um tempo para trabalhar, um tempo para comer, um tempo para dormir. Um tempo para dançar, para sorrir.
Mas temos que ter também, um tempo para sofrer, um tempo para derramar toda a lágrima que há. Um tempo para a vingança. Mas não há tempo para o perdão. Perdoai-me pelo amor de D'us, deveríamos bradar aos céus todo santo dia, se é que algum dia é santo, se é que alguma coisa é santa. Um tempo para se arrepender. Mas não há tempo para o arrependimento. Temos que ter tempo para tudo, mas não há tempo para nada.
A maré do tempo virou, É tempo de partir para o outro lado do tempo. Mas se tempo houver, cante. Cante com toda a alma, com todo o coração, com toda a devoção, como cantou Davi, como cantou Salomão, como eu cantava quando tempo havia para cantar. Como cantava Vinícius. São demais os perigos desta vida...

FAÇA A SUA PARTE

Muito se tem falado da violência em todos os campos da sociedade brasileira. Violência, sabe-se, é um produto natural, na medida em que a própria vida é, por si só, um ato de violência. Apenas como exemplo, para que qualquer forma de vida viva, é necessário que uma outra forma de vida qualquer morra. É a cadeia alimentar sem a qual a própria vida não existiria. Mas, considerações filosóficas à parte, do que queremos realmente falar, não é sequer da violência que se institucionalizou há poucas décadas neste país, outrora um dos mais pacíficos do mundo. O quê fizemos das nossas próprias vida? O que fizemos e continuamos a fa-zer das vidas de nossos filhos e da vida dos filhos de nossos filhos? Como foi que permitimos que, nos últimos trinta anos, assassinássemos e fôssemos assassinados em número superior a um milhão de vidas humanas?
Que papel estamos representando na educação dos nossos jovens? Que papel representamos, realmente, nas nossas escolas? Alunos e professores, são aliados ou adversários? E qual o papel do educador social na prevenção da violência? A triste verdade é que não temos respostas para todas essas perguntas.
A violência protagonizada pelos jovens nas escolas é uma realidade inegável. A sociedade terá que se organizar e insurgir-se ativamente contra esse fenómeno, sob pena de desaparecermos, mergulhados num verdadeiro banho de sangue. Sabemos que, pelas mais diversas razões, a família, como a conhecíamos, destitui-se da sua função educativa.
E tanto isso é verdade que, será que poderíamos, todos, responder a algumas perguntas bem simples? Uma: Qual a última vez que você, pai, mãe ou chefe de família, fez uma refeição com seus filhos, inte-ressando-se pelo que eles fazem, participando mais ativamente da vida dele? Qual a última vez que sua família se reuniu e rezou unida, pedindo misericórdia ou proteção a Deus Todo-Poderoso? Qual a ultima vez que você foi à escola e perguntou a quantas andava o comportamento de seu filho?
Talvez a solução tenha seu princípio por aí porque, se continuarmos assistindo o triste espetáculo de alunos agredindo verbal ou fisicamente seus professores, sem que a punição exemplar venha a galope; se continuarmos assistindo, impassíveis, a agressão de estudantes contra estudantes; se continuarmos assistindo com deboche e um certo sorriso nos lábios, o quanto seu fi-lho é macho, então, lamentamos informar, nem o próprio Deus nos salvará, porque está escrito: “Faz da parte, que Eu te ajudarei.” E é isso que não estamos fazendo.