terça-feira, 1 de junho de 2010

QUANDO EU MORRER

No dia da minha morte, não quero choro nem velas. Quero amigos. Os poucos que me restaram. A maioria, a vida os transformou em meros conhecidos. Alguns se tornaram conhecidos distantes. Não valiam a pena.
         No dia da minha morte, não quero elogios e nem frases pomposas, exaltando as qualidades que não possuí em vida. Quero conversas prosaicas e algumas tiradas de humor. Anedotas sobre defuntos ficam terminantemente proibidas. Alguns já são ridículos o suficiente, para merecerem a graça de uma boa piada. Música é fundamental. Brega e rap estão vetados. Afinal, serei um morto orgulhoso do próprio bom gosto. Louvem-me as mulheres da minha vida. Deram-me prazer e desgosto na medida certa. Algumas foram boas para comigo, até onde os seus corações áridos podem sê-lo.
         Minha herança não atrairá por certo, as aves de rapina que existem em nós, porque não poderá ser contada em dólares, ouro e reais. A mais vil das mercadorias, deixei-a para que a juntassem os homens igualmente vis, que acreditam poder o metal amarelo, substituir o prazer inigualável do ler os bons livros, ouvir belas músicas e conversar a conversa inteligente.
         Deixo para os meus filhos e netos, a certeza de que conceitos como honra, dignidade, boas maneiras, ética e estética, continuarão a existir, mesmo quando já não mais existirem a "Urbi et Orbi".
         Para os meus amigos, deixo a saudade das horas vividas nos bares, quando tudo era poesia, apesar dos pesares.
         Ao descer à cova, não chorem por mim. Tive da vida tudo o que quis, ou que mereci. E não se pense que terei sido vencida pela Dama da Foice, pois a ela, já olhei nos olhos, e ela recuou. Não por algum poder extraordinário que possa eu possuir, mas pela vontade soberana do Altíssimo, o vencedor da morte. Quando eu transpuser os umbrais da eternidade, significará apenas que o meu General me deu uma ordem e eu, soldado disciplinado de D’us, obedeci.
         E quando chegar o momento de misturar  meus ossos aos que me antecederam, e aconchegar-me aos braços da Mãe Terra, quero que toquem para mim, o Prelúdio e Coro Nupcial, do terceiro ato da Ópera Lohengrin, de Wagner. Faz sentido. O meu casamento com a eternidade estará apenas começando.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Adoreiii!!!!
    Sabia que penso assim também?
    "Quando eu morrer
    não quero choro e
    nem velas quero
    uma fita amarela"
    Lembra dessa música?
    Pois é amigo,
    a melhor herança
    é a nossa dignidade,
    a qual fazemos questão
    de honrrar e passar
    para nossos herdeiros.
    E-mail: marlucy1959@hotmail.com
    Abraços amigo
    Lúcia

    ResponderExcluir