sábado, 21 de novembro de 2009

A TAVERNA DO APAGÃO
Miguezim de Princesa
I
Na taverna brasileira,
O chefe-mor do pifão
Tomou a décima lapada
Misturada com limão,
Sentiu o mundo rodando,
Os olhos lacrimejando
E aí veio o apagão.

II
Mergulhou na escuridão,
Caído ao pé de uma escada:
Uma cuia com farofa,
Lingüiça e carne torrada,
Uma 51 secou,
No outro dia acordou
Sem se lembrar de mais nada.

III
Isso foi curto-circuito
Ou um fulminante raio?
A culpa foi da costela
E do malpassado paio,
Que era meio falsificado
E foi trazido importado
Do governo paraguaio.

IV
E durante o coma etílico,
Que alguns chamam “água dura”,
Sobreveio um pesadelo
De matar a criatura:
Monstros feios de doer
Assumiriam o poder
De mandar na rua escura.

V
Amigos de muito tempo,
Da cachaça e do gamão,
Isolavam o chefe-mor,
Que perdia a proteção
E terminava lascado,
Completamente enredado
Em um tal de mensalão.

VI
Acabavam as mordomias
(Não se tinha nem mais cuscuz),
Veio um satanás de rabo,
Dependurado numa cruz,
Com alicate afiado,
Cortou fio desencapado
E a rua ficou sem luz.

VII
Na rua ninguém se entendia,
Era uma grande confusão,
Direita virava esquerda
E naquela escuridão,
Onde ninguém enxergava,
O esperto aproveitava
Para enfiar mais a mão.

VIII
Viva a privatização
De toda a rede elétrica!
- gritava um líder de turma,
Da forma mais apoplética,
Com os 10 por cento da feira
E acampado na beira
De uma usina hidrelétrica.

IX
O delegado famoso
Aparecia no terreiro,
Com a foice e o martelo
E a mídia do estrangeiro,
Fazendo investigação
Pra saber do apagão
Segurando um candeeiro.

X
A miss paz e amor
Começou uma confusão:
- Meus filhos, que diacho é isso,
Tiraram a luz do salão! -.
E aí ficou rodando,
Sacudindo e pinotando,
Com um cacete na mão.

XI
Aproveitando o escuro,
A súcia se empanturrou:
Secou todas as garrafas
E nenhuma dose restou;
O chefe, todo suado,
Tremendo, desesperado,
Deu um grito e se acordou.

XII
E quando alguém lhe pergunta
Sobre toda a trapalhada,
Orgias e coisas que as trevas
Espalharam na Esplanada,
O chefe-mor simplesmente
Olha e responde pra gente:
- Eu não me lembro de nada.

PS: Este poema não é meu, é de meu querido amigo Miguezim de Princeza. Achei-o ótimo, porque reflete com ironia fina e humor sutil, um certo governante que também atende pelo nome de Apagado da Silva.

Carlos Bezerra

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