sexta-feira, 4 de setembro de 2009

DA HORTA DE BETERRABAS


É claro que todos nós já o ouvimos. Também é claro que todos - ou quase - conhecemos o nome do maior gênio da música clássica que o mundo já conheceu, o alemão nascido em Bonn, em 1870. É claro, evidentemente, que estou falando de Ludwig van Beethoven, de cuja mente prodigiosa fluíam peças para todos os instrumentos e combinações de instrumentos e maravilhas como a famosa “Sonata de Kreutzer” para violino, a “Sonata ao Luar” e a “Patética”, as suas duas primeiras sinfonia, os seus três primeiros concertos para piano, serenatas e quarteto de cordas.
A simplicidade e a alegria de viver de Beethoven eram tão grandes, que certa vez anotou em um de seus manuscritos a frase: “Para ser tocado do coração para o coração.” Foi Beethoven que libertou a música de seus grilhões. Mas, ao contrário do que se possa pensar, o grande compositor não foi um menino-prodígio. Sua maior característica era, como compositor, conhecer todas as regras e violá-las todas.
Poucos de nós sabemos também, que Beethoven descendia de uma família flamenga, ou seja, oriunda dos Países Baixos, conhecidos hoje como Bélgica e Holanda e que aos 16 anos viajou para Viena para conhecer seu ídolo, Mozart. Mas lá, pouco se demorou, porque teve que retornar à sua casa, por causa de grave doença e posterior morte de sua mãe. Em novembro de 1792, vai a Viena e continua seus estudos com Franz Josef Haydn. A partir de 1795, quando seus dois irmãos menores passaram a morar definitivamente com ele, Beethoven não abandona mais Viena, onde realiza toda a sua obra.
Mas o destino, sempre ele, interveio de maneira trágica no destino do gênio alemão, e o que começou como um simples zumbido, depois, com o agravamento do problema, notou que os sons mais altos o incomodavam e os mais suaves lhe escapavam. Era o princípio da surdez total que o dominaria tempos depois. No processo, Beethoven que era um homem alegre, recolheu-se ao seu próprio mundo, sendo acusado de ser taciturno, esquivo e misantropo. É que tinha vergonha de dizer: “Fale mais alto, grite, eu sou surdo”. No entanto, durante todo esse tempo, naquela cabeça sombria e exaltada, a música trovejava, elevando-se a alturas nunca alcançadas.
Quando compôs a “Eróica”, a primeira grande sinfonia moderna, iniciava um período de onze anos de criação que nenhum outro compositor superou antes ou depois. Suas sonatas para piano “Waldstein” e “Appassionata” fazem sucesso há quase duzentos anos, provando que tinha razão ao dizer que compunha para o futuro. Seu problema foi que quando essas composições repercutiram, críticos assustados predisseram que tal música tinha um estilo “brutal”, incompreensível e que seria impossível de ser executada. Como se viu depois, estavam todos errados.
Também são composições imortais o festivo Quarto Concerto para Piano e o Quinto, chamado Imperador. Entre as sinfonias de números Quatro a Oito pertencem a esse decênio de prodigalidade musical. No caso da Quinta Sinfonia, que começa com notas que foram chamadas de “o destino batendo à porta”, uma poderosa convocação que tem repercutido pelo mundo. Essas três batidas breves e uma mais longa lembram o “ponto-ponto-ponto-traço” do código Morse, representando a letra “V”. Na segunda Guerra Mundial, os aliados usaram esses sinais para o V da vitória. Entre 1817 e 1823, compôs duas obras fantásticas: Missa Solene e a Nona e última sinfonia, executadas pela primeira vez em 1824.
Ludwig van Beethoven, cujo van Beethoven significava apenas “da horta de beterrabas” transpôs o umbral da morte em 26 de março de 1827, enquanto fora, um relâmpago iluminou seu quarto seguido do forte ribombar de trovão, Beethoven abriu os olhos, levantou o punho cerrado e dormiu para todo o sempre.

Um comentário:

  1. Apenas fantástico. Ele e todos os outros que fazem parte dessa elite possam na eternidade tocarem suas sinfonias para o
    Senhor dos Mundos descansar dos infortúnios diários que povoam o Universo que a ELE casbe resolver. Que a paz através da música possa penetrar no coração humano fazendo-nos crer que tudo é possível conquistar. Silvia Monteiro.

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