sexta-feira, 14 de maio de 2010

AS NOVAS SODOMA E GOMORRA

Conta-nos a Bíblia no Gênesis, capítulo 18, versículos 18 e 19, o seguinte: "Pois que Abraão deve tornar-se uma nação grande e poderosa, e todos os povos da terra serão benditos nele. Eu o escolhi para que ele ordene aos seus filhos e à sua casa depois dele, que guardem o caminho do Senhor, praticando a justiça e a retidão para que o Senhor cumpra em seu favor as promessas que lhe fez." E no versículo 20 do mesmo capítulo está escrito que: "É imenso o clamor que se eleva de Sodoma (Sodom, em hebraico), que assim como Gomorra, segundo a tradição, permaneciam nas vizinhanças do Mar Morto e perto do Jordão)" e o seu pecado é muito grande. Eu (o Senhor) vou descer para ver se as suas obras correspondem realmente ao clamor que chegou até mim; se assim não for, eu o saberei.
Nelas, assim como em Adama e Seboim, havia o predomínio da mais completa desordem, corrupção e iniquidade, tendo sido todas destruídas pelo "fogo dos céus". Castigadas com uma intensa chuva de enxofre e de fogo, só alguns de seus habitantes se salvaram: Ló, o sobrinho de Abraão e sua família. Sua mulher, apesar de ter sido avisada para não olhar para trás enquanto fugiam, desobedeceu a recomendação, transformando-se em uma estátua de sal. A cidade de Sodoma é conhecida nos textos proféticos de Ezequiel e do Apocalipse por sua violência contra a justiça.
Diz-nos a Bíblia, ainda, que Abraão, tentando salvar as cidades e seus habitantes, argumentou diante de Deus dizendo: "Fareis perecer o justo com o ímpio? Talvez haja cinquenta justos na cidade; fa-lo-eis perecer? Não perdoareis antes a cidade, em atenção aos cinquenta justos que nela se poderiam encontrar? Não, vós não poderíeis agir assim, matando o justo com o ímpio, e tratando o justo como o ímpio! Longe de vós tal pensamento! Não exerceria o juiz de toda a terra a justiça?" E o Senhor disse: "Se eu encontrar em Sodoma cinquenta justos, perdoarei toda a cidade em atenção a eles."
Mas Abraão, sabendo que contra os deuses toda a cautela é pouca, insistiu: "Não leveis a mal se ainda ouso falar ao meu Senhor, embora seja eu pó e cinza. Se porventura faltarem cinco aos cinquenta justos, fareis perecer toda a cidade por causa desses cinco? E Deus, enchendo-se de paciência que normalmente os deuses não têem, respondeu: "Não a destruirei se nela eu encontrar quarenta e cinco justos." E Abraão, o insistente, ousou falar: "Rogo-vos, Senhor, que não vos irriteis se insisto ainda! Talez só se encontrem trinta! E o Senhor, excepcionalmente paciente, disse: "Se eu encontrar trinta, não o farei." Abraão, entretanto, continuou: "Desculpai se ouso ainda falar ao meu Senhor: pode ser que só se encontrem vinte." - E Deus, já perdendo a paciência, respondeu: "Em atenção aos vinte, não a destruirei. E Abraão, ultrapassando todos os limites, ousou replicar: "Que o Senhor não se irrite se falo ainda uma última vez: "Que será se lá forem achados apenas dez? E Deus, porque conhece os homens mais que eles mesmos, disse: "Não a destruirei se por causa desses dez." O Senhor retirou-se, depois de ter falado a Abraão e este voltou para a sua casa.
Como se sabe, Sodoma e Gomorra foram destruídas, porque lá, Deus não encontrou nenhum justo, além de Ló (Lot, filho de Harã), sobrinho de Abraão, neto de Taré (Tera) e sua família.
Eu, que não sou nenhum Abraão, ouso perguntar ao Senhor dos Exércitos: "Destruireis a nova Sodoma chamada na língua tupiniquim de Brasília, capital do Brasil, também chamado pelo maléfico nome de Gomorra, por causa da perversão dos valores morais que um dia já tivemos? E se achares, sem o exagero de Abraão, apenas dez justos, ainda assim farás perecer toda uma nação que está se afogando no uso e abuso do poder, onde os escândalos não mais são anuais, mas diários; onde o assalto aos cofres púbicos e privados é praticado diuturnamente, onde a prostituição, as drogas, a violência institucionalizada ou não, é constante nos lares e nos bares, nas avenidas, nas ruas, nas esquinas, nas praças, nos becos e vielas deste imenso país, onde tudo parece ser absolutamente comum, a ponto de fazer Sodoma e Gomorra, as originais, parecerem lugares habitados por anjos de candura e inocência absolutas? E se faltarem dois justo, destruirás estas novas Sodoma e Gomorra por causa desses dois?
Até agora não ouvi nenhuma resposta dada pelo Todo-Poderoso. É bem verdade que, tal qual Abraão, sou apenas pó e cinza e não tenho merecimento nenhum para que Javeh se digne ao menos olhar para a minha minúscula pessoa, muito embora, igual aos árabes, acredite que uma formiga preta, sobre uma mesa de mármore negra, dentro da noite escura, Deus a veja, é possível que eu seja menor que um átomo dessa mesma formiga e por isso não ouça respostas ao meu clamor.
E tal qual um novo Cícero, ouso perguntar: "Quousque tandem abutere, Lula, patientia nostra" ("Até quando, Lula, abusarás da nossa paciência?") E a única resposta que ouço é o silêncio tumular, por parte daqueles que tinham a obrigação, não só de nos responder, mas acabar com o atual estado de falta de vergonha patogênica que exibimos no olhar, e na cabeça baixa à qual nos habituamos, cada vez que nos dirigimos ao patíbulo das urnas eleitorais.
E a pergunta que fica sem resposta é "Quousque tandem...?" "Quousque tandem...?" ...

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