Juro que eu não sabia. Não sabia que viver podia doer tanto. Sabia que
doía, que era antes de mais nada um ato de dor. Mas não sabia que a dor podia
ser tão grande, tão imensa, tão sem tamanho.
Vida, o que és tu? Se provocas prazer, é tão somente porque sabes
provocar dor, muita dor. Mais esta que aquela. A vida bem poderia ser resumida
num grande, num imenso grito de dor ecoando pelo universo sem fim.
Morrer-viver. Binômio sem solução e sem explicação. Vim do nada e volto para
o nada. Se assim for, pra quê? A salvação existe e a vida é eterna, dizem os
crentes. Mas sua única base de apoio é a fé. Nada mais. E D’us sabe, como é
difícil crer. Só os que não crêem sabem do que falo.
Mas, voltando à dor, sempre ela, está presente em tudo. E é causada pela
violência. O problema é que ela, a violência, está presente em tudo. Se viver é
um ato de violência contra a morte, esta é a violência máxima contra a vida. Um
simples espermatozóide só engravida um óvulo para formar um ovo que se
multiplicará de forma geométrica de modo violento. Não pede licença pra entrar.
Entra arrebentando tudo para conseguir seu desejo que é fecundar.
O bebê que nasce é expelido de forma violenta do útero materno, onde
vivia em paz, numa agradável temperatura, flutuando e sendo alimentado sem ter
que plantar o pão de cada dia com o suor do próprio rosto. Bebês uterinos estão
no paraíso e não têm consciência disso. Um dia, são expulsos de forma violenta
desse mar de calmaria para um mundo de um frio atroz, debaixo de pancada para
que possa respirar, e apanhando – ou batendo – viverá o resto de sua existência
miserável. E a dor lá, sempre onipresente como uma parte desse D’us invisível
que dizem, domina tudo o que há.
Depois vem o crescimento, as sucessivas separações que são, elas também
um ato de dor. Vem a saudade da casa da mamãe, do primeiro e do ultimo amor, do
melhor amigo, da terra natal e de filhos que partiram para nunca mais voltar. E
com a saudade vem essa dor insidiosa provocada pela vontade de voltar.
Lágrimas. É nela que a saudade se banha no chuveiro da dor. E no fim, só o
deitar eterno, a volta ao pó, deixando para trás, presume-se, um enorme rastro
de dor.
Juro. Eu não sabia que viver doía tanto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário