terça-feira, 8 de setembro de 2009

É dando que se recebe?


Midas, rei semi-lendário da antiga Frígia, era conhecido pela extrema riqueza. A ele atribui-se a lenda de que, qualquer coisa que tocasse viraria ouro instantaneamente, tendo sido esta a sua perdição, pois não podia tocar nem alimentos e nem seres queridos.
Certos políticos têm, tal qual Midas, o poder, não de transformar o que tocam em ouro, mas sim a triste capacidade de conspuscar, poluir, corromper o que tocam.
Francisco de Assis, após ter tido uma visão de Cristo, converteu-se e passou a viver como eremita, em constante oração. Suas composições mais famosas são “O Cântico do Irmão Sol” e a belíssima peça conhecida como “A oração de São Francisco”. Nesta, um de seus trechos diz: “... pois é dando que se recebe”.
Foi o bastante. O ex-deputado Roberto Cardoso Alves, passou a usar a expressão para mostrar a ligação incestuosa que há gerações une o governo e maus empresários ou políticos dessa estirpe. Entrou para o dicionário das nossas frases infelizes. Aviltou, emporcalhou, sujou o que era uma bela passagem de uma das mais belas orações que se conhece.
Em nome da vontade de garantir a reeleição e de aprovar o que bem quer como bem deseja, o governo federal e muitos governos estaduais ressuscitaram essa prática, se é que ela algum dia morreu, de verdade.
Tudo indica que ao invés de morrer, a prática do “é dando que se recebe” esteve apenas em curto período de hibernação após o período Collor. Não estava morta. Quando muito, estava em estado cataléptico para, tal qual uma Fênix maléfica, ressurgir das cinzas, aguardando a hora precisa de atacar novamente.
Gordas fatias dos partidos políticos, deixam de lado o pudor que nunca tiveram e negociam no sentido mais sujo que a palavra negociar pode ter, e se lançam tal qual abutres sobre cargos e verbas, para o exercício da política menor. Os partidos dão votos e recebem as benesses do poder. É a osmose do imoral com o desonesto.
É verdade que é dando que se recebe. Mas é dando trabalho, justiça, exemplos de dignidade, de competência profissional e vidas dedicadas ao bem comum. Receber votos é - ou deveria ser - mera consequência.

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